Energia livre de Helmholtz
Na termodinâmica, a energia livre de Helmholtz é uma grandeza que mensura a parcela de energia interna de um sistema possível de ser utilizada na forma de trabalho. É particularmente útil na compreensão e descrição de processos isotérmicos: à temperatura constante a variação da energia livre de Helmholtz encontra-se diretamente associada ao trabalho total [1] realizado pelo sistema sobre sua vizinhança, ou seja, é a energia útil que sobra para uso depois que o sistema utilizou parte da energia interna para expandir as fronteiras do sistema (-PdV) e redistribuir as moléculas nos diferentes níveis quânticos de energia (TdS) para processos à temperatura e volume constante)
Dada a segunda lei da termodinâmica, o conceito deriva da verificação que nem toda a energia interna de um sistema é passível de produzir trabalho visto que uma parcela desta energia encontra-se diretamente associada à entropia do sistema. Sendo a parcela de energia associada à entropia determinável pelo produto da entropia S do sistema pela sua temperatura , tem-se que a energia livre de Helmholtz é corretamente definida pela expressão:
Mensura-se com a energia livre de Helmholtz a totalidade da parcela de energia interna passível de implicar trabalho, quer esta parcela de energia venha a implicar trabalho "útil" - o movimento desejado nas máquinas térmicas, a exemplo - quer esta venha a implicar trabalho associado à variação de volume do sistema frente à pressão ambiente - como aquele relacionado à expansão dos gases de descarga expelidos pelos automóveis, a exemplo. Diferenciadas as duas formas de trabalho, se o interesse recair na energia total disponível para execução de trabalho "útil" é aconselhado o uso não da energia livre de Helmholtz e sim da energia livre de Gibbs.
Quando expressa em função das grandezas Temperatura , número de elementos , e volume - para o caso de sistemas termodinâmicos mais simples - a Energia Livre de Helmholtz é, assim como o são as respectivas Transformadas de Legendre, a saber a Entalpia , a Energia livre de Gibbs e a Energia interna , uma equação fundamental para os sistemas termodinâmicos, sendo então possível, a partir desta e do formalismo matemático inerente à termodinâmica, obter-se qualquer informação física relevante para o sistema a qual esta encontre-se vinculada.[2]
De forma semelhante ao que ocorre para a energia interna e todos os demais potenciais termodinâmicos associados, são de importância e relevância prática e mesmo teórica não os valores absolutos da energia livre de Helmholtz mas sim as variações desta energia, correspondendo tal variação conforme esperado à diferença entre as energias livres de Helmholtz associada aos estado final "f" e inicial "i" respectivamente.
Definição
editarA energia livre de Helmholtz é definida como[3]
onde:
- é a energia livre de Helmholtz (SI: joules, CGS: ergs);
- é a energia interna do sistema (SI: joules, CGS: ergs);
- é a temperatura absoluta a qual ocorrem os process (em kelvins);
- é a entropia (SI: joules por kelvin, CGS: ergs por kelvin).
Uma vez conhecida a equação fundamental para a energia interna do sistema, , relação esta que elucida o vínculo existente entre a energia interna e a entropia do sistema, espera-se pela lógica ser possível determinar a partir dela a energia livre de Helmholtz. A ferramenta matemática necessária a tal tarefa resume-se em uma transformada de Legendre adequada. Em acordo com o estabelecido pela Transformada de Legendre aplicada à energia interna , visto que a energia livre de Helmholtz deve figurar, entre outras se houver, em função das grandezas extensivas volume , quantidade de matéria , e da grandeza intensiva temperatura absoluta , deve-se substituir a extensiva a grandeza extensiva - a entropia - que figura em pela correspondente grandeza conjugada , o que pode ser feito uma vez estabelecido que:[4]
- .
A tabela abaixo fornece a sequência de passos associados à transformada de Legendre adequada à situação que, uma vez conhecida a energia interna , implicam a determinação da energia livre de Helmholtz - ou vice-versa.
Determinar e |
---|
Eliminação de U e S fornece: |
Energia Livre de Helmholtz F |
Determinar e |
---|
Eliminação de T e F fornece: |
Energia Interna U |
- Exemplo
A equação fundamental para a energia livre de Helmholtz para um gás ideal (monoatômico) é, e a menos de constante(s) acompanhando a grandeza com unidade(s) definida(s) de forma a tornar correta a análise dimensional:[5]
Esta equação pode ser obtida a partir da definição de Energia Livre de Helmholtz acima quando aplicada à equação fundamental para a energia interna (vide tabela), que a título ilustrativo é, novamente a menos das constantes para ajuste de unidades:
Para detalhes quanto aos cálculos associados indica-se a leitura do artigo transformada de Legendre conforme disponibilizado nesta presente enciclopédia visto que no mesmo apresenta-se o pertinente problema anterior como exemplo.
Referências
- ↑ inclui-se no trabalho total não apenas o trabalho útil, facilmente determinável pelas variações de energia cinética que induz, mas também o trabalho associado à expansão de volume do sistema contra a pressão imposta pela vizinhança - necessário à mudança de estado.
- ↑ Em acordo com Callen, Herbert B. - Thermodynamics and An Introduction to Thermostatics - John Wiley & Sons - ISBN 0-471-86256-8
- ↑ Levine, Ira. N. (1978). "Physical Chemistry" McGraw Hill: University of Brooklyn
- ↑ Callen, Herbert B. - Thermodynamics and an Introduction to Thermostatics - John Wiley & Sons - 1985 - ISBN 0-471-86256-8
- ↑ A saber, o expoente em funções exponenciais e o argumento em logaritmos devem ser adimensionais. Para maiores detalhes, consulte a versão anglófona do artigo Gases ideais.
- ↑ Ambas as equações em acordo com Salinas, Silvio R. A. - Introdução à Física Estatística - EdUSP - 1999 - ISBN 85-314-0386-3.