Estação Ferroviária de Cabeço de Vide-Vaiamonte
A Estação Ferroviária de Cabeço de Vide-Vaiamonte, originalmente denominada de Cabeço de Vide, é uma interface encerrada do Ramal de Portalegre, que servia a localidade de Cabeço de Vide, no concelho de Fronteira, em Portugal. Entrou ao serviço em 20 de Janeiro de 1937.[1]
Cabeço de Vide | |
---|---|
Linha(s): | R. Portalegre (PK 224,717) |
Coordenadas: | 39° 08′ 08,92″ N, 7° 34′ 35,92″ O |
Município: | Fronteira |
Serviços: | Sem serviços |
Inauguração: | 20 de Janeiro de 1937 |
Encerramento: | 2 de Janeiro de 1990 |
História
editarPlaneamento
editarEm 1898, quando se realizaram os estudos para a elaboração do Plano da Rede ao Sul do Tejo, foi proposta uma linha entre Estremoz e Portalegre, que passaria por Sousel, Cano, Fronteira e Cabeço de Vide.[2][3][4]
Porém, quando o Plano da Rede foi decretado, em 27 de Novembro de 1902,[5] não contava com esta linha, que só seria adicionada ao Plano em 1903, com o traçado modificado, mas mantendo a passagem por Cabeço de Vide.[3][6][7][8][5] Desta forma, a linha foi a concurso em 23 de Setembro de 1903,[8][9] tendo a obra sido entregue ao empresário José Pedro de Mattos.[9] No entanto, devido a várias complicações de ordem financeira e política, o concessionário não conseguiu levar a cabo este empreendimento.[3] Desta forma, a construção da linha passou para a gestão dos Caminhos de Ferro do Estado, tendo o primeiro lanço, entre Estremoz e Sousel, entrado ao serviço em 23 de Agosto de 1925.[3][10]
Construção e abertura ao serviço
editarEm 11 de Maio de 1927, os Caminhos de Ferro do Estado foram integrados na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.[11] Em 1 de Janeiro de 1932, a Gazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que a Linha de Portalegre estava quase construída até Fronteira, e que estava planeada a sua futura passagem por Cabeço de Vide.[12] Em Janeiro de 1933, já estava em construção o lanço até Cabeço de Vide,[13] tendo a Comissão Administrativa do Fundo Especial de Caminhos de Ferro aprovado, nesse ano, o financiamento para a instalação da linha telefónica entre Sousel e Cabeço de Vide.[14]
Em 6 de Janeiro de 1937, o Ministro das Obras Públicas ordenou a formação de uma comissão, de forma a averiguar se o troço entre Sousel e Cabeço de Vide estava em condições de entrar ao serviço.[15] Neste mês, o edifício da estação já estava concluído, estando decorado de azulejos e contando com acesso por via rodoviária.[16] Este lanço foi aberto à exploração em 20 de Janeiro do mesmo ano,[3][17] tendo a cerimónia de inauguração sido realizada na estação de Cabeço de Vide.[16]
Um despacho da Direcção Geral de Caminhos de Ferro, publicado no Diário do Governo n.º 258, II Série, de 4 de Novembro de 1937, aprovou o auto de recepção definitiva da empreitada n.º 15 da Linha de Portalegre, que se referia à construção do lanço entre Fronteira e Cabeço de Vide.[18] A empreitada incluiu a construção da estação de Cabeço de Vide, que era composta por um cais coberto e outro descoberto, uma plataforma, um pátio de mercadorias, uma curraleta, um curral, vedações, plantações, o edifício da estação e o recinto de acesso, o alpendre sobre a plataforma, uma casa de habitação para funcionários anexa ao edifício de passageiros, uma retrete para os passageiros e a respectiva canalização, um pavilhão com seis moradias para alojamento do pessoal com a respectiva fossa, uma casa de guarda e de partido, uma fossa para as retretes dos passageiros e a casa anexa à estação, um poço, um reservatório de cimento armado com capacidade para 30 m³, uma casa para abrigar o motor, e um cinzeiro para as locomotivas.[18]
Abertura do troço até Portalegre
editarEm 1938, já estava em construção o lanço de Cabeço de Vide a Portalegre,[19] embora em 1 de Novembro de 1948 a Gazeta dos Caminhos de Ferro tivesse reportado que as obras de assentamento de via se tinham iniciado recentemente, e que estava prevista a inauguração daquele troço para Janeiro do ano seguinte.[20] Com efeito, o troço de Cabeço de Vide a Portalegre entrou ao serviço em 21 de Janeiro de 1949.[21] Para a inauguração, foi organizado um comboio especial do Barreiro até Portalegre, transportando o ministro das Comunicações e outros altos funcionários do governo e da Companhia dos Caminhos de Ferro portugueses, que parou em Cabeço de Vide para a cerimónia do corte da fita.[22] A estação foi decorada para este evento, tendo sido ornamentada com bandeiras e ramos de verdura, e ao longo dos dois lados da via férrea estavam centenas de operários em fila, que tinham trabalhado na construção da linha.[22] Devido à inauguração do novo lanço, foram modificados os horários da linha, tendo os comboios 871 e 872 e a automotora 1873 sido prolongados de Cabeço de Vide até Portalegre.[23]
Encerramento
editarO lanço entre Estremoz e Portalegre foi encerrado pela operadora Caminhos de Ferro Portugueses em 2 de Janeiro de 1990.[24]
Ver também
editarReferências
- ↑ MARTINS et al, 1996:259
- ↑ «Aviz a Coruche» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (369). 1 de Maio de 1903. p. 144-145. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b c d e SOUSA, José Fernando de (1 de Fevereiro de 1937). «Abertura do novo troço da Linha de Portalegre» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1179). p. 75-77. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ SOUSA, José Fernando de (1 de Dezembro de 1902). «A rêde ferro-viaria ao Sul do Tejo» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (359). p. 354-357. Consultado em 18 de Junho de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (371). 1 de Junho de 1903. p. 178-190. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Linhas do Valle do Sorraia» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (370). 16 de Maio de 1903. p. 1641-65. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ SOUSA, José Fernando de (16 de Dezembro de 1926). «A revisão do plano ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (359). p. 361-362. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (375). 1 de Agosto de 1903. p. 263-274. Consultado em 10 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 16 (382). 16 de Novembro de 1903. p. 377-378. Consultado em 10 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (16 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1684). p. 91-95. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ REIS et al, 2006:63
- ↑ «Efemérides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1238). 16 de Julho de 1939. p. 345. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ SOUSA, José Fernando de (1 de Janeiro de 1934). «Os Caminhos de Ferro em 1933» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1105). p. 5-8. Consultado em 18 de Junho de 2013
- ↑ «Direcção Geral de Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1090). 16 de Maio de 1933. p. 320. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Parte oficial» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1179). 1 de Fevereiro de 1937. p. 91-93. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Caminho de Ferro em Fronteira e Cabeço de Vide» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1178). 16 de Janeiro de 1937. p. 70. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 71 (1686). p. 133-140. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Parte Oficial» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1198). 16 de Novembro de 1937. p. 543-546. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Direcção Geral de Caminhos de Ferro: Relatório de 1938» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1245). 1 de Novembro de 1939. p. 379-480. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1461). 1 de Novembro de 1948. p. 616. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 69 (1652). 16 de Outubro de 1956. p. 528-530. Consultado em 18 de Junho de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Novos melhoramentos ferroviários» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 61 (1467). 1 de Fevereiro de 1949. p. 123-129. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Linhas portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 61 (1466). 16 de Janeiro de 1949. p. 116. Consultado em 18 de Julho de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «CP encerra nove troços ferroviários». Diário de Lisboa. Ano 69 (23150). Lisboa: Renascença Gráfica. 3 de Janeiro de 1990. p. 17. Consultado em 14 de Março de 2021 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares
Bibliografia
editar- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas*REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
Ligações externas
editar- «Página com fotografias da Estação de Cabeço de Vide, no sítio electrónico Railfaneurope» (em inglês)
- «Página sobre a Estação de Cabeço de Vide, no sítio electrónico Wikimapia»
- Estação Ferroviária de Cabeço de Vide na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural