Estação Ferroviária de Porto-Boavista
A Estação Ferroviária de Porto-Boavista, mais conhecida por Boavista, e originalmente denominada apenas Porto,[1] foi uma interface das linhas de Guimarães e do Porto à Póvoa e Famalicão (via estreita), que servia a cidade do Porto, em Portugal. Entrou ao serviço em 1 de Outubro de 1875,[2] tendo sido a primeira estação ferroviária construída dentro dos limites do município do Porto.[3] Foi abandonada em 2001, na sequência da integração das ferrovias que servia na rede do Metro do Porto.[4]
Porto-Boavista | |||
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a estação da Boavista, em 2009 | |||
Linha(s): |
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Altitude: | 90 m (a.n.m) | ||
Coordenadas: | 41°9′32.6″N × 8°37′45.78″W (=+41.15906;−8.62938) | ||
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Município: | Porto | ||
Serviços: | sem serviços | ||
Inauguração: | 1 de outubro de 1875 (há 149 anos) | ||
Encerramento: | 28 de abril de 2001 (há 23 anos) |
História
editarPlaneamento, construção e inauguração
editarEm 1873, foi autorizada a construção de uma linha férrea em bitola de 900 mm entre o Porto e a Póvoa de Varzim, devendo a estação do Porto ser situado na Boa Vista, embora fosse então uma área situada fora da cidade do Porto, e portanto pouco adequada para o terminal de uma linha de tipologia suburbana.[5]
O primeiro troço da Linha da Póvoa, desde a Boavista até à Póvoa de Varzim, entrou ao serviço em 1 de Outubro de 1875, pela Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa e Famalicão.[6] Esta foi a primeira linha de via estreita no país, tendo a Boavista sido a primeira gare ferroviária na cidade do Porto.[3]
Em 1909, a Companhia foi autorizada a duplicar a via entre a Boavista e a Senhora da Hora.[7]
Em 14 de Janeiro de 1927, foi formada a Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, a partir da fusão da Companhia da Póvoa com a Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães.[8] Em 1930, a via férrea foi adaptada para bitola métrica pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal.[3]
Declínio
editarApesar de ser uma das principais estações no Porto, encontrava-se demasiado longe do centro da cidade, pelo que começou a ser planeada a instalação de uma nova interface na zona da Trindade, mais próxima do centro.[9] Assim, em Janeiro de 1933, já se encontrava em construção o ramal de acesso à futura estação da Trindade, que se iniciava na bifurcação da Boavista, e a via entre a Boavista e a Senhora da Hora já tinha sido duplicada, de forma a conter o tráfego neste troço.[10] Em 30 de Outubro de 1938, foi inaugurada a Estação Ferroviária de Porto-Trindade, substituindo a Boavista como estação terminal,[6] ficando esta agora do lado sul da via Hora-Trindade,[11] constituindo topologicamente um curto ramal que se bifurca do lado direito (sentido ascendente, à Trindade).[12]
Mesmo após a abertura até à Trindade, a gare da Boavista continuou a ter serviço de passageiross; com efeito, nos primeiros meses de serviço da nova estação, a grande maioria dos utentes continuou a utilizar a Boavista, em protesto contra as novas tarifas introduzidas pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal.[13] Porém, em 1939 a estação da Boavista já era usada praticamente apenas por comboios de mercadorias, tendo os serviços de passageiros sido passados para o Apeadeiro de Avenida de França, a curta distância.[14]
Em 1947, a locomotiva experimental Lydya, a primeira locomotiva a gasóleo em Portugal, foi transportada da Linha do Tua até à estação da Boavista, onde foi depois abatida.[15]
Encerramento e degradação
editarEm 28 de Abril de 2001, foi encerrado o lanço da Linha da Póvoa entre a Trindade e a Senhora da Hora, para se iniciarem as obras de instalação do Metro do Porto no antigo canal da linha.[4]
No final da década de 2010, a fachada fronteira à Praça da Boavista tinha já alguns «vãos selados» (janelas e portas fechadas com tijolo), encontrando-se devoluto o edifício de passageiros e o terreno anexo.[16] A 25 de novembro de 2019, a Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade uma recomendação ao Governo para reverter o contrato-promessa de compra e venda do terreno da antiga estação da Boavista, onde o El Corte Inglés tem intenção de construir um grande armazém comercial, um hotel, e um edifício de habitação, comércio, e serviços.[16] Em junho de 2020, um grupo de cidadãos pediu à Câmara Municipal do Porto a classificação municipal da antiga estação ferroviária da Boavista, depois de a Direção-Geral do Património Cultural ter arquivado, sem deferimento, um pedido idêntico a nível nacional.[16]
Na madrugada de 11 de dezembro de 2020, deflagrou um incêndio no edifício de passageiros da estação da Boavista, destruindo o pouco recheio que aí permanecia mas não se registando vítimas.[16] Ainda que segundo a P.S.P. não houvesse, «à partida,» suspeitas de crime, a I.P., proprietária da infraestrutura, apresentou uma denúncia contra desconhecidos, para apurar as causas do incêndio; um movimento de cidadãos que promove o plano de transformar os terrenos da antiga estação num jardim público afirmou em comunicado que há motivo para suspeitar de fogo posto.[16]
Demolição
editarEm 8 de fevereiro de 2022, um despacho publicado em Diário da República permite de que a antiga estação seja demolida no âmbito da desafetação do domínio público de vários edifícios da Infraestruturas de Portugal para ser construído um El Corte Inglés[17].
Em julho de 2022 a Câmara aprovou o pedido de licenciamento submetido pelo El Corte Inglés. A loja só começará a ser construída depois de concluídas as obras da linha Rosa (no final de 2024). Foi esse o compromisso assumido com a Metro do Porto[18].
Ver também
editarReferências
- ↑ Horário de 1876, onde esta gare aparece referida apenas como Porto.
- ↑ MARTINS et al, 1996:247
- ↑ a b c REIS et al, 2006:28
- ↑ a b SIZA, Rita (29 de Abril de 2001). «Fim de semana complicado na Estação de Senhora da Hora». Público. Ano 12 (4058). Lisboa: Público - Comunicação Social, S. A. p. 54
- ↑ SOUSA, José Fernando de (1 de Julho de 1940). «As estações de Caminho de Ferro no Porto» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 52 (1261). p. 425-427. Consultado em 4 de Agosto de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 69 (1652). 16 de Outubro de 1956. p. 528-530. Consultado em 23 de Julho de 2013 – via Hemeroteca Digital e Lisboa
- ↑ «Efemérides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1229). 1 de Março de 1939. p. 158-159. Consultado em 2 de Julho de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 71 (1686). p. 133-140. Consultado em 4 de Agosto de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Na construção da nova estação da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal vão ser empregados materiaes e mão de obra portugueses» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1083). 1 de Fevereiro de 1933. p. 81-84. Consultado em 12 de Outubro de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Linhas Portuguêsas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1082). 16 de Janeiro de 1933. p. 22. Consultado em 12 de Outubro de 2010 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
- ↑ Diagrama (não oficial) desta estação na década de 1980
- ↑ «Transportes Colectivos no Porto» (PDF). Ano 51 (1226). 16 de Janeiro de 1939. p. 69-71. Consultado em 2 de Julho de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «O que se fez em caminhos de ferro no ano de 1939» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 52 (1249). 1 de Janeiro de 1940. p. 35-40. Consultado em 26 de Março de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ MARTINS et al, 1996:98
- ↑ a b c d e ZAP (11 de dezembro de 2020). «Antiga estação da Boavista ardeu. El Cortes Inglés tinha intenções de construir no local»
- ↑ «"Contra a vontade da população". Demolição da estação da Boavista no Porto mostra "desrespeito" da câmara e do governo»
- ↑ «El Corte Inglés já tem luz verde e avança na Boavista»
Bibliografia
editar- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X