Eu, Tituba: bruxa negra de Salem
Eu, Tituba: bruxa negra de Salem (traduzido do título Moi, Tituba, sorcière… noire de Salem) é um livro de romance da escritora guadalupense Maryse Condé. Reconta de forma ficcional a história do julgamento das bruxas de Salém, em especial, de Tituba.[1] Inscreve o protagonismo de uma mulher negra, em diáspora e que carrega as marcas da escravidão e da resistência quilombola, no rol de releituras sobre esse episódio de caça às bruxas. É um romance histórico sobre a“"bruxa negr”" de Salém.[2]
Eu, Tituba: bruxa negra de Salem | |
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Autor | Maryse Condé |
Data de publicação | 1986, 1992 |
OCLC | 246551217 |
A obra ganhou o Grande Prêmio da França de literatura feminina no ano de 1986.[3] Ganhou também o Grande Prêmio dos Jovens leitores, da França, em 1994.[1] Foi publicada pela primeira vez na língua portuguesa no ano de 1997 e reeditada pela última vez no ano de 2019.[1]
Descrição
editarO romance de Maryse Condé é uma obra de ficção, embora relacionada à história real dos julgamentos das chamadas bruxas de Salem.[4] O livro é narrado em primeira pessoa por Tituba, uma das mulheres envolvidas nos julgamentos.[5] A narrativa se passa no final do século XVII, sendo ambientada, principalmente, na província estadunidense de Massachusetts, em Salém e Boston. Se passa também no caribe, em Barbados e na Inglaterra.[6]
A obra traça uma relação de intertextualidade com o livro A Letra Escarlate (1850) de Nathaniel Hawthorne,[7] bem como, faz uma releitura da peça As Bruxas de Salem (1953) de Arthur Miller.[8] O objetivo da autora era preencher as lacunas deixadas nas narrativas desses autores. O romance de Maryse Condé inscreveu nessa história o protagonismo de Tituba, uma mulher negra.[5][7][8]
A primeira edição em inglês, de 1992, inclui um prefácio da ativista Angela Davis, que chama o livro de "romance histórico sobre a bruxa negra de Salém”.[2]
Trama
editarNo romance, Tituba é mestiça, nascida em Barbados, filha de uma jovem africana escravizada que foi estuprada por um marinheiro inglês. A mãe de Tituba foi enforcada após se defender de outro abuso sexual, perpetrado por um escravista branco. Tituba é expulsa da plantação e se torna uma quilombola liberta, afastada da sociedade ao seu entorno. Ela cresceu junto a Mama Yaya, uma velha mística e herborista, que ensinou a Tituba sobre métodos tradicionais de cura.[1]
Uma vez adulta, Tibuba casa-se com um homem escravizado mestiço, John Indian. Posteriormente, eles são vendidos a Samuel Parris, um pastor puritano, personagem histórico, conhecido por realizar os Julgamentos das Bruxas de Salém. Parris leva Tituba e John Indian para Boston, depois para Salem, onde Tituba é acusada de bruxaria e presa. Tituba é encarcerada junto a uma mulher grávida, chamada Hester Prynne (sendo também personagem do romance A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne). Confessando-se, Tituba sobrevive aos julgamentos e depois é vendida a um comerciante judeu, Benjamin Cohen d'Azevedo, para cuidar de seus 9 filhos. Permanece aí até que puritanos ateiam fogo na casa de Benjamin, matando todas as crianças. Ele, então, decide libertá-la e mandá-la de volta a Barbados. Chegando lá, Tituba junta-se um grupo de quilombolas. Passa a se relacionar amorosamente com o líder do grupo, Christopher, que sonha com a imortalidade.[1]
Mais adiante da narrativa, ela volta para a cabana onde morava com Mama Yaya e passa a trabalhar como fitoterapeuta para os escravos da região. Estes trazem para ela um jovem à beira da morte, Iphigene. Tituba o cura e, logo em seguida, Iphigene planeja uma revolta contra os donos das plantações. Na noite anterior à revolta, ele e Tituba são presos e seus seguidores, enforcados. Tituba e Iphigene se juntam, então, ao reino espiritual, incitando revoltas futuras sempre que possível.[1]
Prêmios
editarRecepção
editarA obra foi lida como uma crítica e apropriação da versão histórica branca e masculina dos Julgamentos de Salém do século XVII.[9]
Quando foi publicado em inglês, recebeu excelentes críticas. O Boston Sunday Globe disse: “Impressionante… A subversão imaginativa de Maryse Condé dos registros históricos, forma uma crítica da sociedade americana contemporânea e seu racismo e sexismo arraigados”.[10]
No Brasil, a obra recebeu no ano de 2019 uma reedição. Na ocasião, a escritora brasileira Conceição Evaristo afirmou: “Para saber de Tituba… é preciso acompanhar quem sabe lidar com a alquimia das palavras. Maryse Condé tem as fórmulas, as poções mágicas da escrita”.[1]
Referências
- ↑ a b c d e f g h Condé, Maryse (2019). Eu, Tituba: bruxa negra de Salem. Editora Record.
- ↑ a b Condé, Maryse (1992). I, Tituba, Black Witch of Salem. New York: Caraf Books. pp. Forward: x. ISBN 0-345-38420-2
- ↑ a b ««Maryse CONDE: une écrivaine atypique, entre impertinence et quête de vérité», par M. Amadou Bal BA». Ferloo (em francês). 10 de agosto de 2017. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Romance de Maryse Condé faz releitura da perseguição às bruxas de Salem - Aliás». Estadão. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b LEAL, Lana Kaíne (2017). 'DE LA BARBARDE À L’AMÉRIQUE ET RETOUR': memória, resistência e construções identitárias em diáspora no romance 'Moi, Tituba sorcière..., de Maryse Condé'. Dissertação de mestrado em Letras da UFPI.
- ↑ «Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem – Maryse Condé – Impressões de Maria». Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b O'Regan, Derek (2006). Postcolonial echoes and evocations: the intertextual appeal of Maryse Condé (Vol. 46). Bern: Peter Lang. ISBN 3039105787
- ↑ a b CORRÊA, Lilian Cristina (2008). "Mulher-feiticeira, o duplo e outros mitos em 'Eu, Tituba, feiticeira... Negra de Salem', de Maryse Condé". In: XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interações, Convergências.
- ↑ «Fiction Book Review: I, Tituba, Black Witch of Salem by Maryse Conde, Author, Richard Philcox, Translator, Angela Yvonne Davis, Foreword by University of Virginia Press $19.95 (227p) ISBN 978-0-8139-1398-8». PublishersWeekly.com (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Review: 'I, Tituba, Black Witch of Salem' ", Boston Sunday Globe, at Goodreads, accessed 27 April 2016