Nota: Para gênero de planta, veja Ferula.

Férula papal (do latim Ferula pontificalis: bastão pontifical) é uma insígnia papal, em forma de bastão alto encimado pela cruz.[1] Rower[quem?] (1947) define como um bastão, à guisa de cetro, que desde a Idade Média era colocado na mão do papa depois de sua eleição para significar o seu poder espiritual e temporal.[2][3][4]

Bento XVI com a férula criada por Lello Scorzellina
Papa João Paulo II com a férula criada por Lello Scorzellina.
Papa Silvestre I portando a férula, com cruz papal.
Papa Alexandre I
Cruz papal

A férula papal é similar ao báculo usado pelos bispos, diferencia-se pela parte superior em cruz, no lugar da voluta. Não há registros do uso do báculo pelos papas, pelo fato de sua voluta significar limitação de poder, o que não se aplica ao soberano pontífice.[5] Não há, nos monumentos em Roma, registro iconográfico do uso do báculo pelos papas, indicando que o mesmo não fazia parte das insígnias papais. Ademais, Inocêncio III, no século XIII, escreve em seu De sacro altaris mysterio[6]: “Romanus Pontifex pastorali virga non utitur” ("O Pontífice Romano não usa bastão pastoral").[1]

Idade Média

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Desde a Alta Idade Média, se não antes, os papas fizeram uso da ferula pontificalis como insígnia de seu poder temporal. A forma não é bem conhecida; era, provavelmente uma vara encimada pela cruz. Na Idade Média, o papa, após sua eleição, ao tomar posse na Basílica de Latrão,[7] recebia a férula como "signum regiminis et correctionis", ou seja, como símbolo de governo que inclui a punição e a penitência. A apresentação da férula era um ato importante; mas não possuía o mesmo significado que a imposição do pálio na coroação do papa.[1] Na verdade, não era mais observada pelo menos desde o início do século XVI.

Paulo VI

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Depois de sua eleição em 1963, Paulo VI encomendou ao escultor napolitano Lello Scorzelli um bastão pastoral para as celebrações litúrgicas solenes. Esta obra, em prata, tomou da férula tradicional a forma da cruz, acrescentando-lhe o crucificado. Paulo VI usou essa insígnia, pela primeira vez, por ocasião do encerramento do Concílio Vaticano II, em 8 de dezembro de 1965. Mais tarde, ele a usou de forma análoga ao báculo episcopal. Paulo VI e João Paulo II usaram em certas ocasiões a cruz tríplice, com três travessas de comprimentos diferentes, chamada de cruz papal.[1]

Bento XVI

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O papa Bento XVI usou inicialmente a férula criada pelo artista plástico Lello Scorzelli, adotada pelos papas Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II. No Domingo de Ramos de 2008, Bento XVI passou a usar a férula de Pio IX, que já havia sido utilizada por João XXIII em várias cerimônias litúrgicas durante o Concílio Vaticano II.[1]

No Advento de 2009, Bento XVI passou a usar a férula que lhe foi oferecida pelo Circolo San Pietro, semelhante à férula de Pio IX.[1][8]

Na parte anterior da férula de Bento XVI apresentam-se o cordeiro pascal e os símbolos dos quatro evangelistas. Há também o motivo da rede, nos braços da cruz, aludindo a São Pedro. No verso, encontram-se gravados o monograma de Cristo, e nas extremidades, quatro Padres da Igreja, dois do Ocidente e dois do Oriente: Agostinho e Ambrósio, Atanásio e João Crisóstomo. Na parte alta da haste, por baixo da cruz, está impresso o brasão do Papa Bento XVI.[9]

Uso litúrgico da férula

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Os momentos litúrgicos da Missa nos quais o Papa porta, na mão esquerda, a férula são:

  • Procissão de entrada.
  • Proclamação do Evangelho.
  • Homilia.
  • Eventuais ritos sacramentais.
  • Procissão de saída.

Referências

  1. a b c d e f «La ferula» (em italiano). Roma: Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. 2013. Consultado em 2 de fevereiro de 2014. Arquivado do original em 21 de março de 2010 
  2. Rower, Basílio. Dicionário litúrgico. Petrópolis: Vozes. p. 106. 236 páginas 
  3. Enciclopédia universal ilustrada europeo-americana. etimologias sanscrito, hebreo, griego, latin, arabe, lenguas indigenas americanas, etc., versiones de la mayoria de las voces en frances, italiano, ingles, aleman, portugues, catalan, esperanto (em espanhol). 23. Madrid: Espasa-Calpe. 1907–1930. p. 1109-1110 
  4. Du Cange, Charles du Fresne (1883–1887). Glossarium mediae et infimae latinitatis (em latim). 3. Niort: Léopold Favre. p. 450 
  5. Cf. São Tomás de Aquino: “Romanus pontifex non utitur baculo … etiam in signum quod non habet coarctatam potestatem, quod curvatio baculi significat” (Super Sent., lib. 4 d. 24 q. 3 a. 3 ad 8)
  6. Innocentius PP. III (1550). De sacro altaris mysterio (em latim). Antuerpiae: I. Steelsus. 263 páginas 
  7. Oppenheim, Filippo (1948–1954). Enciclopedia Cattolica (em italiano). 5. Vaticano: Ente per L'Enciclopedia Cattolica e per il Libro Cattolico. p. 1210 
  8. Melloni, Alberto. «E desaparece a férula conciliar: um símbolo desejado por Paulo VI e detestado pelos tradicionalistas». Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Consultado em 2 de fevereiro de 2014 
  9. «A férula do Santo Padre Bento XVI». Roma: Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. C. 2009. Consultado em 2 de fevereiro de 2014. Arquivado do original em 15 de março de 2012