Fases da Lua
As fases da Lua referem-se à mudança aparente da porção visível iluminada do satélite devido a sua variação da posição em relação à Terra e ao Sol. O ciclo completo, denominado lunação, leva pouco mais de 29 dias para se completar, período no qual a Lua passa da fase nova, quando a sua porção iluminada visível passa a aumentar gradualmente até que, duas semanas depois ocorra a lua cheia e, cerca de duas semanas depois, volta a diminuir e o satélite entra novamente na fase nova.
Eventualmente, ocorre o perfeito alinhamento entre o Sol, a Terra e a Lua, o que dá origem a eclipses. Um eclipse solar acontece quando a Lua passa em frente ao disco solar, podendo ocorrer somente durante a lua nova, enquanto que um eclipse lunar ocorre no momento em que a Lua passa através da sombra da Terra, o que pode ocorrer somente na lua cheia. Esta transição entre fases foi na antiguidade utilizada para contagem do tempo, de forma que muitos calendários lunares foram criados tendo como base o ciclo lunar.
Considerações iniciais
editarPelo fato de que a Lua completa uma órbita ao redor da Terra a cada 27,3 dias, período que constitui o mês sideral, sua posição muda continuamente. Além disso, nosso satélite natural não possui luz própria, de forma que sua porção brilhante deve-se ao reflexo da luz solar. A qualquer momento, metade da superfície lunar está iluminada pelo Sol, por ser um corpo aproximadamente esférico, mas a fração iluminada que pode ser observada da Terra sofre variações contínuas.[1]
Entretanto, o período que a Lua gasta para passar pela mesma fase é de 29,5 dias, conhecido como mês sinódico, que possui o mesmo período de uma lunação. Isto é atribuído ao fato de que, ao mesmo tempo em que a Lua move-se ao redor da Terra, ambos giram ao redor do Sol. Uma vez que as fases são determinadas pela posição desses três astros, a mudança de posição faz com que a Lua tenha que executar pouco mais que uma revolução para atingir a mesma posição em relação ao planeta e ao Sol.[2]
Conforme executa sua órbita, a Lua move-se em média 13° para leste na esfera celeste a cada intervalo de um dia. Isto implica que, a partir da lua nova, o satélite ficará cada vez mais distante do Sol, se tornando mais proeminente até a lua cheia, quando fica do lado oposto ao Sol. Posteriormente, a Lua aparentemente aproxima-se do Sol, até que ocorra uma lua nova. A posição e o horário no qual a Lua nasce no horizonte leste varia continuamente devido, sobretudo, à inclinação da órbita lunar, que é de mais de 5° em relação ao equador terrestre que, por sua vez, está inclinado mais de 23° em relação à eclíptica.[3]
Fases
editarAo executar sua trajetória, ocorre a gradual mudança de fases, dividida em quatro etapas principais. Durante a lua nova, nosso satélite natural encontra-se com sua face não iluminada totalmente voltada para Terra, de forma que se torna impossível sua observação. Cerca de quinze horas depois já é possível, mas extremamente difícil, avistar um pequeno fio da superfície lunar iluminado. Conforme os dias transcorrem, a porção iluminada aumenta permitindo, ainda, a visualização da sombra em muitas crateras e cadeias montanhosas. Quando é pequena a fração iluminada, é possível observar um fraco brilho proveniente da face escura da Lua. Esta luminosidade é a luz cinérea, resultado da luz solar refletida pela Terra que atinge a superfície lunar e retorna como um fraco brilho.[4][5][6]
Cerca de uma semana após a lua nova, metade do disco lunar encontra-se iluminado, caracterizando o quarto crescente. Neste período, o satélite é visível ao entardecer. Conforme a Lua executa sua órbita, aumenta a porção iluminada, de forma que a sombra projetada de várias crateras em sua região sul ficam evidentes por meio de telescópios. Duas semanas após a lua nova, todo o disco parece iluminado, caracterizando, portanto, a lua cheia. O satélite, por estar em posição oposta ao Sol, surge no horizonte leste quase que ao mesmo tempo do pôr-do-sol.[4][5][6]
Quando a lua cheia acontece próximo ao perigeu (o ponto mais próximo da órbita lunar), ocorre uma superlua, na qual seu diâmetro angular e seu brilho são maiores em comparação à media.[4][5][6] Em função do acidentado relevo lunar, a região do terminador (a transição entre a parte visível e escura da Lua) possui brilho menor, devido às sombras projetadas por montanhas e crateras. Desta forma, o brilho do quarto crescente não é a metade do da lua cheia, mas somente um décimo deste. Além disso, as características lunares fazem com que o quarto crescente seja ligeiramente mais brilhante que o quarto minguante.[7]
Então o disco lunar volta a apresentar redução da área iluminada dia após dia, até que, sete dias após a lua cheia, acontece o quarto minguante, em que o disco está novamente iluminado pela metade. A Lua, então, passa a ser visível somente no período da madrugada. Por fim, sua porção visível diminui até se tornar nula, retornando, portanto, a fase nova.[4][5][6]
Nome | Hemisfério Norte |
Hemisfério Sul |
Porção visível da Lua[carece de fontes] | Período visível |
---|---|---|---|---|
Lua nova (plena ou no ápice) | Norte e Sul: 0,0-1,9% |
Não visível | ||
Lua crescente ou crescente côncava (Lua em crescimento até Quarto Crescente) |
Norte: 2,0-39,9% (direita) Sul: 2,0-39,9% (esquerda) |
À tarde e pouco após o pôr-do-sol | ||
Quarto crescente (pleno ou no ápice) | Norte: 40,0-59,9% (direita) Sul: 40,0-59,9% (esquerda) |
À tarde e na primeira metade da noite | ||
Lua crescente convexa ou crescente gibosa (Lua em crescimento até Lua Cheia) |
Norte: 60,0-97,9% (direita) Sul: 60,0-97,9% (esquerda) |
Fim da tarde, grande parte da noite | ||
Lua cheia (plena ou no ápice) | Norte e Sul: 98,0-100% |
Toda a noite | ||
Lua minguante convexa ou minguante gibosa (Lua em decrescimento até Quarto Minguante) |
Norte: 97,9-60,0% (esquerda) Sul: 97,9-60,0% (direita) |
Grande parte da noite, começo da manhã | ||
Quarto minguante (pleno ou no ápice) | Norte: 59,9-40,0% (esquerda) Sul: 59,9-40,0% (direita) |
Madrugada e de manhã | ||
Lua minguante ou minguante côncava (Lua em decrescimento até Lua Nova) |
Norte: 39,9-2,0% (esquerda) Sul: 39,9-2,0% (direita) |
Fim da madrugada e de manhã |
Eclipses
editarA Lua passa sempre entre a Terra e o Sol e posteriormente atrás da Terra ao executar sua órbita. Contudo, eclipses não são eventos frequentes. Isto acontece pelo fato de que a órbita lunar está inclinada pouco mais de 5° em relação ao plano de rotação da Terra, de forma que os astros na maioria das vezes não se alinham da forma necessária para a ocorrência do fenômeno. Este alinhamento, também chamado sigízia ocorre somente quando a Lua encontra-se próximo do nodo lunar durante a fase nova ou cheia.[8][9]
Desta forma, durante a fase nova, pode ocorrer um eclipse solar, no qual a Lua passa exatamente em frente ao disco solar e projeta uma sombra na superfície terrestre. Quando observa-se o disco completamente coberto ocorre um eclipse total, enquanto que se somente uma parte do disco for bloqueada ocorre um eclipse parcial. Existe ainda o eclipse anular, em que o tamanho aparente da Lua é menor do que o disco solar. Por outro lado, durante a lua cheia, a Lua pode penetrar na sombra da Terra, de forma que ocorre um eclipse lunar. A Lua então, durante a totalidade do eclipse, adquire uma coloração avermelhada em função da luz espalhada pela atmosfera terrestre.[9]
Influência cultural
editarA mudança de fases da Lua, cujo ciclo leva entre 29 e 30 dias é um dos eventos regulares mais evidentes que permitem a marcação do tempo. Possivelmente, desde o paleolítico, comunidades humanas utilizavam a época da lua cheia, em função de sua luminosidade, para realizar caçadas noturnas. Grupos de pescadores utilizavam as marés como época determinante para boa pesca. Desta forma, o ciclo lunar adquiriu significado importante no que se refere à marcação de intervalos de tempo, além de suas fases marcarem períodos de festas e rituais.[10]
Calendários lunares foram largamente utilizados no mundo antigo, tanto pelos babilônicos quanto para os egípcios.[11] O mês de aproximadamente 30 dias é uma aproximação do ciclo lunar. Em alguns países islâmicos, contudo, ainda utiliza-se oficialmente o calendário islâmico, cujo ano possui doze meses. Entretanto, cada um dos meses possui exatamente um ciclo lunar, que se inicia quando o crescente lunar é avistado logo após a lua nova. Como consequência, o ano islâmico é onze dias menor que o ano trópico, utilizado no calendário gregoriano. [12]
A maior parte das lendas mitológicas das civilizações incluem referências ao satélite natural terrestre. Na mitologia grega existem três deusas associadas à Lua: Ártemis associada ao quarto crescente, Selene ligada à lua cheia e Hécate para as fases minguante e nova. Para os romanos, a Lua era associada à Diana, protetora da caça e da noite. Já na mitologia tupi-guarani a Lua era representada pela deusa Jaci. Mesmo nas culturas onde o satélite não possui personalidade divina, a Lua exerceu influência sobre suas crenças, com base no seu ciclo de contínua renovação. Mesmo em culturas em que a Lua não é representada por divindades personificadas, suas fases são associadas a ciclos de fartura e miséria, vida, morte e renascimento.[13]
Segundo a cultura popular, as fases do satélite possuem influência, por exemplo, na época do plantio e da colheita, no crescimento dos cabelos e na gestação e no parto. Esta última crença é motivada pelo fato de que a duração do ciclo lunar é semelhante ao do ciclo menstrual feminino. Contudo, não existem evidências científicas que apoiem essas superstições. A Lua também tem participação em várias lendas folclóricas, dentre elas uma das mais famosas é a do lobisomem, um homem que, em noites de lua cheia, se transforma em lobo e sai à caça de carne humana.[13]
Ver também
editarReferências
- ↑ Kutner 2003, p. 435
- ↑ Naylor 2002, p. 200
- ↑ Naylor 2002, p. 204-205
- ↑ a b c d Kutner 2003, p. 435
- ↑ a b c d Lynch 2007, p. 107
- ↑ a b c d Buick 2011, p. 60-69
- ↑ Joe Rao (18 de março de 2011). «10 Things You Didn't Know About the Moon». Space.com. Consultado em 17 de fevereiro de 2014. Cópia arquivada em 10 de Janeiro de 2014
- ↑ Buick 2011, p. 60-67
- ↑ a b Naylor 2002, p. 219-220
- ↑ Ruglles 2005, p. 235-236
- ↑ Kelley 2009, p. 97
- ↑ Islamic City. «The Islamic Calendar» (em inglês). Consultado em 17 de fevereiro de 2014. Cópia arquivada em 11 de Janeiro de 2014
- ↑ a b Thereza Venturoli (agosto de 1994). «Sob o domínio da Lua: os mitos deste satélite». Revista Superinteressante. Consultado em 11 de janeiro de 2014. Cópia arquivada em 11 de Janeiro de 2014
Bibliografia
editar- Buick, Tony; Philip Pugh (2011). How to Photograph the Moon and Planets with Your Digital Camera (em inglês) 2 ed. [S.l.]: Springer. 366 páginas. ISBN 978-1-4419-5827-3. doi:10.1007/978-1-4419-5828-0
- Kelley, David H.; A.F. Aveni,Eugene F. Milone (2011). Exploring Ancient Skies. A Survey of Ancient and Cultural Astronomy (em inglês) 2 ed. [S.l.]: Springer. 639 páginas. ISBN 978-1-4419-7624-6
- Kutner, Marc L. (2003). Astronomy. A Physical Perspective (em inglês) 2 ed. [S.l.]: Cambridge University Press. 582 páginas. ISBN 0-521-82196-7
- Lynch, Mike (2007). Texas Starwatch. The Essential Guide to Our Night Sky (em inglês). [S.l.]: Voyageur Press. 160 páginas. ISBN 978-0-7603-2843-9
- Naylor, John (2002). Out of the Blue. A 24-Hour Skywatcher's Guide (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. 360 páginas. ISBN 0-521-80925-8
- Ruggles, Clive L. N. (2005). Ancient Astronomy. An Encyclopedia of Cosmologies and Myth (em inglês). [S.l.]: ABC-CLIO. 518 páginas. ISBN 1-85109-477-6
Ligações externas
editar- «Zênite». Descrição das fases da Lua