Fazenda Jacobina
A Fazenda Jacobina, antigo Engenho da Jacobina, localiza-se à margem esquerda do rio Paraguai, a uma distância de 25 km da antiga Vila Maria do Paraguai, atual Cáceres, na então Província do Mato Grosso, no Brasil.[1][2]
Fazenda Jacobina | |
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Tipo | fazenda, quinta |
Geografia | |
Coordenadas | |
Localização | Cáceres - Brasil |
Patrimônio | bem tombado pela SMCET |
Denominação
editarO nome não está vinculado a nenhuma espécie de alusão ao termo Jacobinismo, vinculado ao grupo laicista e de esquerda no processo da Revolução Francesa.[3][4]
A origem do nome é atribuída, por meio de uma lenda, ao casal de índios Jacob e Bina.[5][6] Nessa lenda, diz-se que nas terras de Jacobina vivia um casal de índios, de cujos nomes Jacob e Bina. Assim, pela junção dos nomes forma-se a palavra "Jacobina". Essa nomeação está relacionada aos primeiros habitantes da região e, evocados pelo discurso dos portugueses, mantém-se na história de institucionalização dessa fazenda.[6]
História
editarOrigem e desenvolvimento
editarEste latifúndio, estabelecido em 1769 pelo português Leonardo Soares de Sousa, logo se tornou um importante estabelecimento produtor de charque e de açúcar, que abastecia não só os grandes centros brasileiros como São Paulo e Rio de Janeiro, mas que também exportava para a Europa.[7] Em 1772, a fazenda foi requerida pela Coroa Portuguesa.[8] A partir desse ato, deu-se origem à ata de fundação de Vila Maria, em 6 de outubro de 1778, povoamento que viria a formar a atual cidade de Cáceres.[9] Foi grande centro agropecuário, sendo considerada, em 1827, como a fazenda mais próspera da Província de Mato Grosso, com 60.000 cabeças de gado.[1]
Foram inúmeros os hóspedes da fazenda, entre eles estava o viajante e autor francês francês Hercules Florence, em 1827.[1][7] De acordo com Florence, que integrou a expedição Langsdorff ao interior do país entre os anos de 1825 e 1829, no livro intitulado Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas está registrada a surpresa do autor com a opulência existente na fazenda.[1][10] O viajante francês Hércules Florence registrou em seu Diário:[7]
Em 1827, a Jacobina era a mais rica fazenda da Província. Tinha 60 mil cabeças de gado, 200 escravos e igual número de alforriados
As roças abrangiam canaviais, plantações de mandioca, feijão, cereais e café para abastecimento dos núcleos adjacentes. Possuía também engenho movido por força hidráulica.
O fundador não teve descendência masculina, tendo a filha dele, Maria Josefa de Jesus Leite se casado com João Pereira Leite.[11] Ainda segundo as notas do viajante francês, João Pereira Leite orgulhava-se de ter “tantas terras quantas o rei de Portugal”. João e Josefa tiveram dez filhos, sendo sete homens e três mulheres.[12] Após sua morte, sua esposa juntamente com filhos administrou a fazenda. Seu segundo filho, que recebeu o mesmo nome que o pai, tornou o braço direito da mãe na expansão dos negócios da família.[7]
As instalações da fazenda compreendiam um sobrado com uma grande varanda com parapeito ao longo da fachada da casa, casas cobertas de telhas, uma capela dedicada a Santo Antônio, grandes armazéns, quatro engenhos de açúcar, dois tocados à água e dois por bois, uma olaria, uma máquina de socar milho e ranchos. A propriedade contava também com horta e pomar e criação aves domésticas.[12] Segundo a tradição oral da família Pereira Leite, o sobrado foi construído por trabalhadores portugueses que retornavam das obras da sede administrativa da capitania do Mato Grosso em Vila Bela da Santíssima Trindade.[13] Segundo o “Diário da Diligência do Reconhecimento do rio Paraguai”, de autoria de Ricardo Franco de Almeida Serra, em 1786 as obras de construção ainda não estavam concluídas.[13]
Declínio e atualidade
editarComo a maioria dos latifúndios brasileiros da época, era utilizada mão-de-obra escrava; cerca de 200 escravos residiam na fazenda.[7] Seu declínio inicia-se no final do século XIX, após a abolição da escravatura. Além disso, a ascensão dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e as leis trabalhistas implementadas no governo Vargas na década de 1930 também contribuiriam com esse processo.[1] Por sua importância histórica e cultural, o antigo casarão, um sobrado colonial feito com taipa de pilão,[14] encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2010, enquanto a área da fazenda vem sendo ocupada por tanques de piscicultura.[1][15] Atualmente, a fazenda pertence à família Lara e é um dos maiores atrativos históricos do município.[1] O casarão foi transformado em empreendimento turístico, com restaurante com comidas típicas, piscinas e passeios,[2] além de ser usada como local para realização de atividades educacionais para estudantes da região.[14]
A Jacobina e a Sabinada
editarO Dr. Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, principal líder da revolução baiana conhecida com Sabinada, após ser detido (1838), foi julgado e condenado à prisão, pena comutada por degredo no Forte do Príncipe da Beira.[16][17] Quando a caminho de Vila Bela da Santíssima Trindade, adoeceu na vizinhança da Fazenda Jacobina, onde encontrou abrigo e proteção por parte do major João Carlos Pereira Leite, então senhor da Jacobina. Nesta fazenda Sabino permaneceu exercendo a sua profissão de médico, atendendo a enfermos de toda a Província, até à sua morte, no Natal de 1846, nela tendo sido sepultado.[7]
Ver também
editarBibliografia
editar- D'ALLINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá.[18]
- FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas.[10]
- MENDONÇA, Estevão. Datas Mato-grossenses.[19]
- MESQUITA, José de. Genealogia Mato-grossense.[20]
- PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. Vila Maria dos meus Maiores.[21]
- FONSECA, Dayz Peixoto. O Viajante Hércules Florence - águas, guanás e guaranás.[22]
Referências
- ↑ a b c d e f g «Cáceres – Fazenda Jacobina». iPatrimônio. Consultado em 15 de maio de 2015
- ↑ a b «Fazenda Jacobina é opção de lazer para hoje em Cáceres». Jornal Oeste. 15 de novembro de 2018. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «JACOBINISMO» (PDF). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Vovelle, Michel (agosto de 1989). «A Revolução Francesa e seu eco». Estudos Avançados (6): 25–45. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141989000200003. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Silva, Edson (2017). «História, literatura e cidade: a visão literária de Humberto Soares e Silva sobre a "origem" de Jacobina1 (1969)» (PDF). Contemporâneos. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b Silva, Leila. «O processo de nomeação das fazendas-engenhos de Cáceres -MT» (PDF). Ave Palavra (Universidade do Estado de Mato Grosso). Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b c d e f Mirella Duarte (7 de setembro de 2018). «Jacobina, a fazenda mais rica da província tinha mais de 200 escravos». RD News. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Almeida, Leandro de; Oliveira, Milton César Neres de (28 de setembro de 2020). «A influência do trabalho escravo nos engenhos e nas fazendas de cana de açúcar no estado de Mato Grosso no século (XVIII e XIX)». Revista Campo do Saber (2). ISSN 2447-5017. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «História». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 15 de maio de 2015
- ↑ a b Florence, Hercules (1941). Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. [S.l.]: Edições Melhoramentos
- ↑ «Fazenda Jacobina em Cáceres é tombada pelo Governo do Estado». 19 de junho de 2007. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b Neuza Zattar (13 de dezembro de 2019). «Maria Josephfa de Jesus Leite - A Nhanhá da Jacobina». Zaki News. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b Luciano Pereira da Silva. «Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural no Contexto do "Plano de Ação para as Cidades Históricas", Cáceres - Mato Grosso». História e Cultura. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b «Alunos do Núcleo Clarinópolis fazem aula de campo na Fazenda Jacobina». Associação Mato-Grossense dos Municípios. 25 de agosto de 2019. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ «Cáceres, na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, é novo patrimônio cultural brasileiro». Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 9 de dezembro de 2010. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Tem início a revolta da Sabinada, na Bahia». History. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Sabinada». Portal São Francisco. 22 de dezembro de 2015. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá (vol. 69)». Livraria do Senado Federal do Brasil. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Mendoça, Estevão. «Datas mato-grossenses». Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «IBGE | Biblioteca | Detalhes | Genealogia dos municípios de Mato Grosso / Pe. José de Moura e Silva. -». Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Silva, Giuslane Francisca da (2017). «Histórias e memórias da cidade: lembranças de viveres urbanos, Cáceres/MT (primeira metade do século XX)». Oficina do Historiador (1): 144–162. ISSN 2178-3748. doi:10.15448/2178-3748.2017.1.22037. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Fonseca, Dayz Peixoto (2008). O viajante Hércules Florence: águas, guanás e guaranás. [S.l.]: Pontes