Fazenda Serra Negra

patrimônio cultural e histórico do Piauí

A Fazenda Serra Negra é uma propriedade rural histórica tombada pelo FUNDAC (Fundação Cultural do Piauí), por causa de sua importância cultural. Está localizada no limite entre Aroazes e Santa Cruz dos Milagres, no estado do Piauí.[1]

Fazenda Serra Negra
Tipo quinta
Geografia
Coordenadas 6° 0' 43.222" S 41° 45' 23.836" O
Mapa
Localização Aroazes - Brasil
Patrimônio bem tombado pela FUNDAC-PI, Património de Influência Portuguesa (base de dados)

Histórico

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Era a mais importante de três fazendas existentes na região da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, criada em 31 de março de 1739, pelo bispo do Maranhão D. Manoel da Cruz, e com sede no povoado da Missão dos Aroazes. Na fazenda estabeleceram-se os primeiros Pereira da Silva, oriundos de Lisboa. [2][3]

Tem seu nome atribuída a Luís Carlos Abreu de Bacelar, conhecido como Serra Negra, filho do capitão-mor Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar e irmão de José de Abreu Bacelar. Não é provado, mas existe uma lenda ainda contada na região que uma escrava foi cortada por um serrote, e desse acontecimento derivou o termo serra negra. Era um temido proprietário de terras conhecido por sua crueldade com seus escravos.[4][5][3]

Atualmente, a propriedade faz parte de um latifúndio do grupo empresarial cearense chamado Esperança Agropecuária Ltda, que possui cerca de 198.000 hectares de terras distribuídas entre toda a região e tendo como principal atividade econômica a pecuária, produção de caju e mel.[4]

As lendas da Fazenda Serra Negra

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A Fazenda não só testemunhou as lendas aterrorizantes que embalam a imaginação de sua população.[6] Um profundo sentimento de fé é externado pelos habitantes que gravitam em seu território e à sua volta. Na capela de Sant’Ana, comemora-se festivamente a data a de 27 de julho, com práticas religiosas e profanas, ocasião em que se transforma em importante centro religioso da região.[7]

Uma das lendas diz que uma escrava teria desagradado o Serra Negra e por isso, ele mandou jogá-la em um curral com onças. Extraordinariamente, a escrava não foi devorada pelos animais porque ela teria feito uma prece a Nossa Senhora de Santana para salvá-la. O fazendeiro, então, tornou-a padroeira da fazenda chegando a importar de Portugal uma imagem da santa que atualmente está em uma capela dentro do casarão.[4]

Outra lenda também relacionada a uma escrava, é que o fazendeiro Luís Bacelar a tinha serrado viva por ter auxiliado a esposa dele a simular uma tuberculose e assim retornado à casa dos pais.[8]

Com relação à sua morte, existe a lenda que enquanto era realizado o cortejo fúnebre, o corpo de Luís Bacelar foi roubado.

A demonização do proprietário da Fazenda Serra Negra

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Era suspeito de ser um dos mandantes do assassinato de Antonio Pereira Nunes, tesoureiro geral das fazendas dos defuntos e ausentes de Oeiras do Piauí de 1792 a 1794, mas o processo de investigação não seguiu adiante.[9]

Casou-se com D. Luzia Perpétua Carneiro Souto Maior em 1802, casamento foi feito por procuração, sem a presença do noivo como constam em documentos da época. Reforçando a lenda da escrava que auxiliou a ama a retornar à casa dos pais, documentos atestam a solicitação de divórcio permanente feito por D. Luzia Perpétua Carneiro Souto Maior ao Bispado do Maranhão em 1810. Nos autos consta como justificativa que ele a maltratava além de ser infiel. Porém o pedido não foi aceito.[9]

Com relação ao seu falecimento, não há registros de sepultura ou atestado de óbito de Luis Carlos Bacelar, o que parece estranho uma vez que existe do inventário.[9]

Arquitetura

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A sede é um exemplo da arquitetura rural piauiense, com seus muros de pedras, e apresenta quatorze cômodos, vinte e cinco janelas largas, um oratório e paredes em pedra com largura de 80 cm. Possui também uma cobertura bastante característica da região com peças em carnaúba (caibros e linhas), e telhas largas, típicas da época, com planta de cobertura em quatro águas. É uma construção de 438 metros quadrados e ainda existem ruínas de currais de pedra próximas à casa.[3][7][10]

Tem também uma senzala com troncos, que possuía correntes e argolas, peças que foram enviadas para o Museu do Piauí, em Teresina.[10]

Revitalização / Sítio Arqueológico

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Apesar de seu tombamento, a Fazenda Serra Negra encontrava-se em estados precários em 2018, quando Ministério Público do Estado do Piauí e o Ministério Público Federal moveram uma ação em conjunto para que a área fosse revitalizada. A Fundação Cultural Piauí já tinha levantado o valor histórico da casa sede da Fazenda, comprovando com documentos pesquisados e também com as informações passadas de geração em geração na região. Durante a investigação ministerial, também foi descoberto que no entorno da construção existem sítios arqueológicos da época da colonização, início do povoamento e independência do Piauí. Também está localizado na propriedade rural o patrimônio pré-histórico do Sítio Arqueológico Letreiro da Pedra Furada.[11][12]

O processo da arqueologia histórica deve ocorrer antes da restauração, uma vez que a área a ser escavada é maior que a própria fazenda e faz parte da responsabilidade da União. O IPHAN ficará responsável pelo levantamento e prospecção arqueológico na sede da antiga Fazenda Serra Negra e ao seu redor. A empresa proprietária do imóvel, o grupo Edson Queiroz, deverá encarregar-se da recuperação do imóvel.[13]

Referências

  1. 180graus.com. «Antiga Fazenda Serra Negra guarda muito da história do PI». 180graus.com. Consultado em 25 de abril de 2021 
  2. «IBGE | Biblioteca | Detalhes | Aroazes». biblioteca.ibge.gov.br. Consultado em 25 de abril de 2021 
  3. a b c Piauí, Coordenação de Patrimônio Cultural do (29 de junho de 2012). «Fazenda Serra Negra: Síntese Histórica». PATRIMÔNIO CULTURAL DO PIAUÍ. Consultado em 27 de abril de 2021 
  4. a b c «A misteriosa fazenda Serra Negra em Aroazes – Portal Piracuruca - Desvendando o Piauí». Portal Piracuruca. 2 de julho de 2014. Consultado em 25 de abril de 2021 
  5. V1, Portal. «Casarão histórico da Fazenda Serra Negra corre risco de desabar». Portal V1. Consultado em 25 de abril de 2021 
  6. Brandão, Carlos Augusto Pires; Miranda, Lossian Barbosa Bacelar. Demonização e Mitificação de Luís Carlos da Serra Negra (PDF). Teresina: UFPI 
  7. a b «Aroazes - Fazenda Serra Negra -ipatrimônio». Consultado em 25 de abril de 2021 
  8. «SERRA NEGRA». Causos Assustadores do Piauí. 21 de maio de 2017. Consultado em 27 de abril de 2021 
  9. a b c Brandão, Carlos Augusto Pires (2012). «Demonização e Mitificação de Luís Carlos da Serra Negra» (PDF). Universidade Federal do Piauí. Consultado em 27 de abril de 2021 
  10. a b «Em Aroazes, casarão do século 18 tem grande importância histórica». Programão. Consultado em 27 de abril de 2021 
  11. Viagora. «MP-PI e MPF querem revitalização urgente de fazenda em Aroazes». Viagora. Consultado em 27 de abril de 2021 
  12. Piauí, Coordenação de Patrimônio Cultural do (29 de junho de 2012). «Fazenda Serra Negra: um patrimônio cultural do Piauí». PATRIMÔNIO CULTURAL DO PIAUÍ. Consultado em 27 de abril de 2021 
  13. «MPPI e MPF ingressam com ação conjunta para urgente revitalização da histórica Fazenda Serra Negra, em Aroazes». Consultado em 27 de abril de 2021