Fernando Costa (músico)

Fernando Costa nasceu na cidade de Lisboa em Novembro de 1896. Aos sete anos de idade iniciou os seus estudos musicais nesta cidade no Coro da Sé Patriarcal. Datam desta data algumas das suas primeiras memórias (autênticos repositórios de uma época):

"Velava com os outros meninos do Coro da Sé, no turno entre as 0 e as 4 da madrugada o Rei e o Príncipe Real assassinados...ajoelhei-me junto às duas urnas e...adormeci profundamente, encostado ao espaldar do genuflexório" (Fevereiro de 1908).

A primeira apresentação pública de Fernando Costa, ainda em criança, teve lugar no Teatro de S. Carlos. cantando o apontamento Vi la tromba il cavalin!..da ópera Bohéme de Puccini.

Aos 11 anos iniciou o estudo do violoncelo, instrumento que abraçaria por toda a vida, iniciando tempos mais tarde a profissão, integrando pequenos grupos que actuavam em cafés e clubes da capital (como era uso na época) e, mais tarde, as principais orquestras portuguesas. Estudou violoncelo com Cunha e Silva, João Passos e Mestre David de Sousa, insigne violoncelista e chefe de orquestra, de quem foi aluno dilecto. Igualmente, foi seu Mestre de composição António Eduardo da Costa Ferreira que lhe proporcionou excelentes ensinamentos e lhe incutiu o gosto, que nunca abandonou pela composição.

Adriano Coelho, dono do Casino de Sintra e grande melómano, reconhecendo-lhe o talento, ofereceu-lhe uma bola de estudo para aperfeiçoamento em Paris. Aqui estudou sob a orientação de Joseph Salmon, que o aceitou como aluno a conselho da grande violoncelista Guilhermina Suggia. Nesta cidade, apresentou-se na Salle Pleyel, acompanhado pelo príncipe dos acompanhadores, Eugène Wagner, com grande sucesso do público e da crítica especializada.

De regresso a Portugal, afirmou-se o violoncelista, tornando-se uma referência entre os seus pares, sendo considerado o solista por excelência nas principais Orquestras de Lisboa.

É sintomático o êxito da sua interpretação de D. Quixote de Richard Strauss (obra que estudou empenhadamente, e sobre a qual escreveu um pequeno, mas interessante estudo temático - literário, encontrado no seu espólio. De registar, igualmente, a interpretação do Concerto em lá menor de Schumann, sob a direcção de Pedro de Freitas Branco, à frente da Orquestra Sinfónica Nacional, agrupamento do qual foi 1º violoncelo - solista durante 22 anos.

A convite de Vianna da Motta, colaborou com o grande pianista e com o violinista Paulo Manso no Trio que promoveu em Lisboa, no Salão Nobre do Conservatório, a primeira execução integral para instrumentos de arco e piano de Beethoven no 1º centenário da morte do compositor.

Em 1953, sua mulher, a pedagoga e violoncelista Adriana de Vecchi, criou aquela que viria a ser uma das Escolas de Música de referência do meio musical português: a Fundação Musical dos Amigos das Crianças.

Fernando Costa tornar-se-á o seu principal apoio criando a Orquestra Juvenil de Instrumentos de Arco, agrupamento que acompanhou com mestria e dedicação até ao seu desaparecimento.

São de sua autoria algumas transcrições para orquestra de cordas (ex. "Danças Populares Romenas" de Bela Bartok), além das suas composições destinadas aos seus alunos, tais como o Quarteto Miniatura para 2 violinos, viola e violoncelo.

Mestre de Música de Câmara, Fernando Costa marcou gerações de músicos que desempenharam lugares de relevo na música em Portugal e no estrangeiro.


Leonardo de Barros, 1998 in

Quarteto Miniatura para 2 violinos, viola e violoncelo - Fernando Costa

Real Musical (Madrid)