Filosofia clandestina
Filosofia clandestina denomina um gênero de textos filosóficos produzidos e circulados anonimamento, ou sob pseudônimos, e frequentemente em forma manuscrita, principalmente no século XVII e XVIII, de teor predominantemente materialista, anticlerical e libertino.[1] Não obstante, a literatura clandestina em geral não se limita ao materialismo, compreendendo publicações de tendências religiosas heterodoxas, como o jansenismo, quietismo, judaismo e ocultismo, ou mesmo simples narrativas pornográficas e satíricas.[2] O corpus clandestino inclui pelo menos 290 textos preservados em bibliotecas europeias e norte-americanas,[3] cujos textos variam entre panfletos de algumas poucas páginas, até tratados com mil páginas.[4]
A emergência dessa tradição clandestina respondia às demandas de expressão de um pensamento heterodoxo diante de uma situação de controle e censura de textos por variados mecanismos religiosos e políticos, significando também uma crescente autonomia intelectual de sujeitos à margem dos espaços dominantes da universidade e da Igreja, ou que circulavam discretamente esses meios, enquanto desenvolviam suas ideias de maneira paralela e parcialmente secreta. De fato, muitos autores desses manuscritos eram figuras estabelecidas da política e do clero, que mantinham um vida dupla filosófica, desde príncipes como Eugénio de Saboia, à clérigos como Jean Meslier.[5]
A pesquisa acadêmica tem reconhecido gradativamente a importância desses textos no pensamento do principais filósofos do Iluminismo e da filosofia do século XVIII, que inclusive iniciaram um campanha para a impressão desses manuscritos na segunda metade do século, frequentemente recorrentes à impressão em países estrangeiros e mantendo uma circulação clandestina.[6] A qualidade argumentativa desses textos variava entre peças mais propagandísticas, e obras de sofisticação filosófica que antecipam ideias atribuidas à momentos posteriores.[4]
Textos notáveis
editarTheophrastus redivivus
editarOutros
editar- L’examen important de Milord Bolingbroke
- Colloquium Heptaplomeres, posteriormente atribuido à Jean Bodin.
- Symbolum sapientiae
- L’Art de ne rien croire
- Doutes des Pyrrhoniens
- L’Esprit de Spinosa
- Traité des trois imposteurs, teve uma primeira versão impressa publicada na Holanda em 1719.[11]
- L'Amê matérielle
Referências
editar- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. X.
- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. XI.
- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. 3.
- ↑ a b Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. 7.
- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. 4.
- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. 6.
- ↑ Hecht, Jennifer Michael (2004). Doubt: A History. HarperOne. pp. 325, ISBN 0-06-009795-7.
- ↑ Hall, H. Gaston (1982). A Critical Bibliography of French Literature; Volume III A: The Seventeenth Century Supplement. Syracuse University Press. pp. 369, ISBN 0-8156-2275-9.
- ↑ Craig, Edward (1998). Routledge Encyclopedia of Philosophy. Routledge. pp. 375, ISBN 0-415-07310-3.
- ↑ Hunter, Michael. Wootton, David (1992). Atheism from the Reformation to the Enlightenment. Oxford University Press. pp. 33, ISBN 0-19-822736-1.
- ↑ Paganini, Jacob & Laursen 2020, p. 5.
Bibliografia
editar- Paganini, Gianni; Jacob, Margaret C.; Laursen, John Christian, eds. (2020). Clandestine Philosophy - New Studies on Subversive Manuscripts in Early Modern Europe, 1620−1823. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-4875-3054-9
- Seguin, Maria Susana (2021). «La littérature philosophique clandestine et l'imposture: introduction». La Lettre clandestine (em francês)
- Seguin, Maria-Susana (2016). «Quelques réflexions sur les auteurs de littérature philosophique clandestine» (em francês)