Francisco Coelho Maduro Dias
Francisco Coelho Maduro Dias CvSE (Angra do Heroísmo, 12 de Fevereiro de 1904 — Angra do Heroísmo, 21 de Dezembro de 1986) foi um poeta, pintor, escultor, desenhador, professor, cenógrafo e homem do teatro. Fez parte dos membros fundadores e colaboradores do Instituto Histórico da Ilha Terceira (em 1942) e do Rádio Clube de Angra (em 1946), tendo um papel relevante no panorama cultural açoriano da primeira metade do século XX.
Francisco Coelho Maduro Dias | |
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Nascimento | 12 de fevereiro de 1904 Angra do Heroísmo |
Morte | 21 de dezembro de 1986 (82 anos) Angra do Heroísmo |
Nacionalidade | português |
Filho(a)(s) | Francisco dos Reis Maduro-Dias |
Ocupação | poeta, pintor, escultor, desenhador, cenógrafo e homem do teatro |
Principais trabalhos | Empedrado da Praça Velha (1930), Medalha da Sociedade Afonso Chaves (1934), Busto do Prior do Crato (1941), Baixo relevo de Marcelo Pamplona (1970) |
Biografia
editarNascido em Angra do Heroísmo, em 1904, desde cedo foi colaborador assíduo nos jornais, publicando, com 17 anos (1921), o seu primeiro livro de poemas.
Enquanto estudava Belas-Artes em Lisboa (c. 1927), teve oportunidade de contactar com artistas de renome: Armando de Lucena (seu mestre), Abel Manta, Jorge Barradas, Diogo de Macedo, Rui Gameiro, entre outros.
Ainda em Lisboa, colaborou no Pavilhão Português para a Exposição de Sevilha, onde colheu "proveitosos conhecimentos através dos quais beberia os princípios da forma em que assentariam as suas futuras criações estéticas"[1].
O empedrado da Praça Velha é, provavelmente, um dos trabalhos mais marcantes da sua vida. Nessa altura, estava a regressar dos estudos em Lisboa e imediatamente fez por se ligar a todas as manifestações artísticas. Terminado em 1930 e inspirado no desenho de uma manta regional terceirense, a solução artística desse empedrado, "dado o arrojo da concepção modernista, seria motivo de acesas polémicas"[1].
Uma das amizades que teve oportunidade de fazer ao longo da sua vida foi com António Dacosta. Ambos tiveram a oportunidade de criar retratos um do outro, como é o caso do Retrato de Maduro Dias documentado pela Fundação Calouste Gulbenkian[2].
Desde o regresso de Lisboa que a sua presença artística ecléctica e organização de exposições foram marcando a Ilha Terceira. Alguns exemplos dessas intervenções são: a encenação da opereta Água Corrente (estreia em 1928); a organização da exposição, em 1934, no Palácio do Governo Civil (actual Palácio dos Capitães-Generais) e da Exposição do Esforço do Emigrante Açoriano, em 1940, na Junta Geral de Angra do Heroísmo; o Cruzeiro alusivo à Restauração de 1640 (1940), no Pico Matias Simão; livros de poemas como Melodia Íntima e Poemas de Eiramá (1985); quadros como Sonho do Infante; capas de livros; e trabalhos de ornamentação nas Sanjoaninas.
Desde 1961 até c. 1985, "foi convidado a desenvolver ensino artístico no destacamento americano da Base das Lajes (Clube de Oficiais, onde se realizaram várias exposições), o que denota a sua vocação para um certo magistério artístico que nunca o abandonou"[3].
Morre na sua cidade natal, em 1986, e Augusto Gomes, em artigo biográfico na revista Ilha Terceira desse mês de Dezembro, recorda-o assim: "Como prosador, Maduro Dias deu-nos as mais belas páginas da literatura açórica, numa realização estética, das mais seguras e acabadas, tal como nas outras manifestações artísticas em que se entregava de alma e coração"[1].
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Francisco Coelho Maduro Dias a fumar no Jardim Duque da Terceira.
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Empedrado artístico da Praça Velha de Angra do Heroísmo.
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Quinta do Espírito Santo (residência de Verão).
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Planta do Empedrado da Praça Velha (1929).
Condecorações e Prémios
editarFeito Cavaleiro da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (14 de Junho de 1950).[4] [5]
Prémio literário, na modalidade prosa, nos Jogos Florais (1925).[1]
Violeta de Oiro nos Jogos Florais realizados pela Emissora Nacional (1939).[1]
Medalha de Honra do Município (2004).[6]
Obras e Intervenções Artísticas
editar- Flores e Bandarilhas (1926)
- O Maior Amor de Luís Ribeiro e Casas Baratas (1927), de Frederico Lopes
- Frei Thomaz (1927)
- Água Corrente (1928)
- Glória ao Divino (1959)
- Rosas e Espinhos (1960)
- Espinhos de Ouro (1962)
- D. Beltrão de Figueiroa (1967)
- O Primeiro Beijo (1971)
- "Maduro Dias mantém-se como director artístico do grupo teatral da Recreio dos Artistas"
Esculturas e Monumentos
editar- Medalha da Sociedade Afonso Chaves (1934), colecção particular
- Memória alusiva da Restauração de 1640, Praia da Vitória (adro da Matriz)
- Cruzeiro alusivo à Restauração de 1640 (8 de Dezembro de 1940), Altares (Pico Matias Simão)
- Monumento a Francisco Ferreira Drummond (14 de Outubro de 1951), Vila de S. Sebastião (Largo do Rossio)
- Memorial a Marcelo Pamplona (1970), antiga Praça de São João e retirado após o Sismo de 1980
Eventos culturais à sua responsabilidade
editar- Exposição (1934), Palácio do Governo Civil (actual Palácio dos Capitães-Generais)
- Exposição do Esforço do Emigrante Açoriano (1940), Junta Geral de Angra do Heroísmo
(entre outros locais e eventos, como: Orfeão de Angra; Serões no Tennis Club; Salão Caridade; Centenário Garreteano; Recreio dos Artistas; Mocidade Portuguesa; Rádio Clube de Angra)
Intervenções urbanas
editar- Empedrado da Praça Velha (1930)
- Projecto de urbanização do Largo Prior do Crato e execução do respectivo busto (1941)
Obras publicadas
editar- Quadras para o Povo (1921) Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade
- Redondilhas aos Soldados Desconhecidos (1921) Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade
- Em Nome de Deus Começo… (1929) Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade
- Dez Sonetilhos de Enlevo (1941) Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade
- Sonetos de Esperança e de Sonho (1941) Angra do Heroísmo, Livraria Editora Andrade
- Vejo Sempre Mar em Roda (1963) Angra do Heroísmo, ed. do autor
- Melodia Íntima e Poemas de Eiramá (1985) Colecção Gaivota n.º 45, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura
- Gente do Monte (1928), colecção particular
- O Castelo de São João Baptista visto do Caminho de São Diogo (1938), Angra Garden Hotel
- Monte Brasil (1948), Salão do navio homónimo (actualmente de paradeiro desconhecido)
- O Sonho do Infante (1949), Salão Nobre dos Paços da Junta Geral (actual Secretaria Regional da Educação e Cultura)
- Luís Ribeiro (1955-1957, retrato a óleo), Museu de Angra do Heroísmo
- Painéis da Pediatria do Hospital Regional de Angra do Heroísmo (1961), 5º Piso
- Infante D. Henrique (1962, retrato a óleo), Palácio dos Capitães-Generais
(entre outros, sobretudo em colecções particulares fora de Portugal)
Bibliografia
editar- F. Pamplona. Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses ou que trabalharam em Portugal (v. III). Porto: Ed. Civilização, 1987.
- Rui Galvão de Carvalho (ed.). Antologia Poética dos Açores. Ponta Delgada: Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1979.
Referências
- ↑ a b c d e Gomes, Augusto (1986). «Mestre Maduro Dias». Ilha Terceira (86)
- ↑ «Retrato de Maduro Dias». Fundação Calouste Gulbenkian. Consultado em 26 de março de 2020
- ↑ «Francisco Coelho Maduro Dias». Enciclopédia Açoriana. Consultado em 20 de agosto de 2017
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca por "Francisco Coelho Maduro Dias". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 20 de agosto de 2017
- ↑ a b c Helena Ormonde (Maio de 2004). «Mestre Maduro Dias, 1904-1986 - Apontamentos sobre a Vida, a Obra e a Época.» (PDF). Nota para a imprensa a propósito da realização das actividades comemorativas do centenário de Mestre Maduro Dias, no Museu de Angra do Heroísmo. A data indicada "6 de Julho de 1950" refere-se à publicação do Diário Insular. Instituto Histórico da Ilha Terceira. Consultado em 9 de julho de 2013. Arquivado do original (PDF) em 29 de outubro de 2013
- ↑ «Condecorações Municipais». Consultado em 20 de agosto de 2017