Garxaspe (em grego: گرشاسپ; romaniz.: Garšasp; em ávaro: Kərəsāspa) foi, na mitologia persa, o último da dinastia pisdadiana da Pérsia, de acordo com a Xanamé de Ferdusi, cujas origens remontam ao herói registrado no Avestá.

Iluminura no Xanamé jainista (Índia, c. 1425-1450) retratando Garxaspe matando o dragão

Garxaspe porta o epíteto avéstico naire.manah de *narya-manah, "que tem uma mente máscula/heroica". Garxaspe / Carxaspe (Garšāsp / Karšāsp) é a forma em persa novo do avéstico Carasaspa (Kərəsāspa), "aquele com cavalos escassos". Em persa médio, foi registrado como Carsaspe (klsʾsp), Garsaspe (glsʾsp) e Garxaspe (glyšʾsp) e em árabe como Carxasfe (Karšāsf). A mudança de Carsaspe para Garxaspe provavelmente foi influenciada por Garxa (Gar-šāh), "rei da(s) montanha(s)", um epiteto de Gaiomarte, cuja estória por vezes se mistura com a de Garxaspe. Por fim, esse herói por vezes foi mencionado como Same (Sā(h)m) ou Samã (Sā(h)mān) Carsaspe.{[1]

Descrição

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O Avestá descreve Garxaspe como o homem mais forte além de Zaratustra, o que provavelmente explica o porquê de Zadesprã medi-lo pelo tamanho do profeta, enquanto os textos pálavis alegam que ele tem muita força. Em Iasna 9.10, é dito que ele tem cabelo gaēsu (avéstico) / gēswar (pálavi), cujo significado é incerto. Mavindade sugeriu que o termo está associado ao fato de Garxaspe ter origem árabe (Tazigue), mas Maguxaspe afirmou que os turcos também possuem gēs, o que deve significar "tranças". Garxaspe carregava uma clava, com a qual realizou seus feitos, variadamente referida como arm-zadār ("braço esmagador"), gāw-sār ("cabeça de boi") e gad ī pērōzgar ("clava vitoriosa").[1]

Feitos

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No Avestá, Garxaspe tinha um irmão chamado Uruacxaia (Uruuāxšaiia), que foi morto por Hitaspa (Hitāspa), a quem Garxaspe matou e arrastou em sua carruagem. A ele são atribuídos vários feitos heroicos. Iaste 19 alega que seus feitos foram possíveis quando obteve o khvaranah, que havia deixado (Ima) pela terceira vez. Por conseguinte, de acordo com o Dencarde, sua força superior veio da "palavra" que recebeu como parte do segundo ramo ou função (pēšag) do dēn (e seu xwarrah), os guerreiros (artēštārīh), como parte do xwarrah de Jã.[1] Segundo as fontes, Garxaspe matou a serpente Zaaque; o dragão gigante de três chifres, que devorava homens e cavalos, nas costas do qual cozinhou sua refeição do meio-dia; e o gigante Gandarava, que habitava o mar Vourucaxa (Vourukaṣ̌a), que com suas mandíbulas devastou a terra e, segundo o Rivāyat pálavi, arrastou Garxaspe ao oceano, onde lutaram até que Garxaspe agarrou sua pele abaixo de seus pés e a puxou e o amarrou nela. O Rivāyat pálavi e os textos persas zoroastristas afirma que ele matou os gigantes salteadores de estrada e essa afirmação está associado ao Iaste 13.136, onde o fravaxi de Garxaspe é invocado para resistir ao exército inimigo e vários tipos de ladrões (gaδa) e o mal que eles causam. Por último, Garxaspe pacificou o vento veloz, que havia sido enganado pelos deves (dēws) para ir atrás dele, e o persuadiu a sustentar o céu e a terra.[1]

O Videvedade (1.9) menciona que Garxaspe foi o primeiro praticante do "desejo da bruxa" (parīg-kāmagīh) ou "adoração de ídolos" (uzdēs-paristagīh), uma espécie de culto desenvolvido em torno da figura da bruxa Cnataiti (Xnąθaitī). Na Criação Original, diz que o "desejo da bruxa" é a mesma adoração de Same aos deves, embora outra autoridade diga que se referia ao pecado de não amarrar o custi (wišād-dwārišnīh). No Rivāyat pálavi e nos textos persas zoroastristas, a Garxaspe se atribui o assassinato do Fogo, filho de Ormasde (Aúra-Masda), que o puniu. No Rivāyat, Ormasde pergunta a Zaratustra qual alma (ruwān) parece melhor para ele, e Zaratustra respondeu que era a de Garxaspe. Ormasde invocou sua alma do inferno e a mostrou a Zaratustra, que ficou assustado com sua ferocidade. Por causa de todo o mal que experimentou no inferno, Garxaspe teria dito que gostaria de ter sido um herbede (hērbed), ou seja, um sacerdote, com um patrono rico (tuwān). Ormasde expressou seu descontentamento, culpando-o pela morte do Fogo, mas Garxaspe implorou que lhe fosse concedido o paraíso em decorrência de seus bons feitos que impediram a ascensão de Arimã sobre a criação de Ormasde. Por fim, Carxaspe argumentou que ele era necessário para sua função escatológica, mas Ormasde ressaltou que, enquanto as pessoas continuarem pecando, o fim não chegará, e elas terão que sofrer enquanto isso. O Fogo acusou Garxaspe e se recusou a lhe dar acesso ao paraíso, mas Goxurum intercedeu e se recusou a deixá-lo retornar ao inferno por causa das coisas boas que ele fez. Zaratustra prometeu cuidar do Fogo e Ormasde explicou-lhe que estava ciente da necessidade dos feitos de Garxaspe. No Dencarde (9.15.4), Ormasde é persuadido a deixar Garxaspe a adentrar hamistagã.[1] No Ṣad dar-e Bondaheš, alega-se que Garxaspe cometeu pecado contra Ardivaiste, o amarspande protegendo o fogo, e especifica-se que o pecado foi extinguir o fogo. Nesse relato, Zaratustra também promete cuidar do fogo e Ardivaiste perdoou a alma de Garxaspe.

Referências

  1. a b c d e Skjærvø, Prods Oktor (2011). «Karsāsp». Enciclopédia Irânica Vol. XV, Fasc. 6. Nova Iorque: Columbia University Press 
 
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