Governança de TI na Administração Pública
A governança de TI na Administração Pública refere-se ao conjunto de práticas, políticas e estruturas que asseguram o alinhamento estratégico da tecnologia da informação com os objetivos das organizações governamentais. Esse conceito é fundamentado no framework COBIT, que define governança de TI como um meio para criar valor, gerenciar riscos e garantir o retorno dos investimentos em tecnologia.[1]
No setor público, a governança de TI desempenha um papel essencial ao promover eficiência, transparência e prestação de contas, aspectos enfatizados em estratégias como a Estratégia de Governança Digital (EGD) do governo brasileiro.[2]
Contexto e Importância
editarCom a crescente demanda por modernização administrativa e transformação digital, a governança de TI tornou-se uma prioridade estratégica para governos ao redor do mundo. Documentos como o relatório da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OECD destacam que a governança digital não se limita apenas à adoção de novas tecnologias, mas também envolve o fortalecimento de políticas que integram processos organizacionais, ampliam a interoperabilidade e melhoram a prestação de serviços públicos digitais.[3]
Princípios da Governança de TI no Setor Público
editarA governança de TI no setor público baseia-se em princípios fundamentais que orientam a gestão e o uso estratégico da tecnologia da informação nas organizações governamentais. Esses princípios são essenciais para garantir a eficiência, a transparência e a responsabilidade no uso dos recursos tecnológicos e para alinhar a TI aos objetivos organizacionais.
Transparência
editarA transparência assegura que as políticas, decisões e o desempenho relacionados à TI sejam claros e acessíveis aos stakeholders. No setor público, esse princípio é crucial para permitir que a sociedade acompanhe e avalie as ações governamentais.
Responsabilidade
editarA responsabilidade garante que gestores e profissionais de TI assumam as consequências de suas decisões e ações. No setor público, isso inclui o cumprimento de normas legais e a entrega de valor por meio de projetos e serviços de TI.
Equidade
editarA equidade refere-se ao tratamento justo e imparcial de todos os envolvidos, garantindo que os benefícios da TI sejam distribuídos de forma equilibrada, sem privilégios indevidos.
Prestação de Contas (Accountability)
editarA prestação de contas é essencial para assegurar que os recursos públicos sejam utilizados de maneira eficaz. Esse princípio envolve a definição de indicadores de desempenho, relatórios regulares e auditorias independentes para monitorar a governança de TI.
Alinhamento Estratégico
editarO alinhamento estratégico assegura que as iniciativas de TI estejam em conformidade com os objetivos da organização. No setor público, isso implica o uso da TI para atingir metas como eficiência operacional, inclusão digital e melhoria dos serviços públicos.
Esses princípios estão em conformidade com frameworks como o COBIT e as diretrizes da ISO/IEC 38500, que estabelecem boas práticas para a governança de TI.[1][4]
Boas Práticas
editarOs investimentos em Tecnologia da Informação (TI) têm reflexo positivo no desempenho das organizações, no entanto, a TI, por si só, não garante um bom retorno. É necessária a utilização de artefatos para estruturar o setor e assegurar o alinhamento estratégico com a organização. A Governança de TI reúne mecanismos que permitem aos executivos exercer a liderança sobre as estruturas organizacionais e processos que garantem que a TI trabalhe de acordo com os objetivos e estratégias definidos pela organização. Contribui para esta finalidade a adoção de boas práticas de Governança de TI. Dentre estas podemos destacar:
Orçamento de TI:
De uma maneira geral, as boas práticas de Governança de TI nos levam a utilizar o conceito de Orçamento de TI, com as seguintes características:
- Possuir orçamento de investimentos e de custeio;
- Elaborar, discutir e aprovar com as áreas de negócio o orçamento de TI;
- Definir e priorizar os projetos de TI, de acordo com a estratégia de negócio;
- Garantir que o orçamento atenda a todas as áreas da entidade;
- Estimar custos de manutenção e renovação do parque tecnológico;
- Acompanhamento efetivo da realização do orçamento.
Comitê de TI:
De uma maneira geral, as boas práticas de Governança de TI nos levam a utilizar o conceito de Comitê de TI, com as seguintes características:
- Criar um comitê de TI com a participação dos executivos das áreas de negócio para garantir que os projetos e orçamento de TI estejam alinhados à estratégia de negócio da entidade;
- O comitê de TI deve atuar como facilitador nas tomadas de decisão, das priorizações e na utilização dos recursos;
- O comitê deve reunir-se, periodicamente, para acompanhamento dos principais projetos de TI e repriorização das demandas e dos projetos.
Processos de TI:
Para uma boa Governança de TI, é fundamental que a área de Tecnologia da Informação possua processos implementados com base em modelos de referência de mercado, tais como: COBIT, ITIL (Information Technology Infrastructure Library) e outros.
Avaliação de Performance de TI:
- Possuir acordos de níveis de serviços com as áreas de negócio e fornecedores;
- Possuir ferramentas, processos e indicadores de desempenho para mensurar os níveis dos atendimentos, serviços e entregas de TI;
- Projetos importantes e críticos deverão ter um PMO ou gerente de projeto para garantir sua correta implementação.
Definição de prioridades:
É preciso que seja desenvolvido um plano estratégico que especifique as prioridades e metas da instituição. Feito isso, as ações de TI têm mais chances de colaborar com a boa execução dos objetivos.
Promover a integração entre os setores da instituição:
É recomendável que os diversos setores internos das instituições estejam interligados de alguma forma. Uma boa comunicação entre as seções que constituem a organização facilita o atingimento das metas traçadas minimizando a ocorrência de desvios e a perda do foco principal.
Uma boa governança de TI corrobora com essa integração, gerando o alinhamento entre todos os setores da empresa.
Criação de canais de comunicação:
Uma boa comunicação é fundamental para manter clara a relação entre setores da organização. A criação desses canais facilita o diálogo entre os departamentos.
A partir de um canal centralizado de comunicação, as normas de governança de TI serão de conhecimento geral.
Formação de equipes compactas:
Uma Gestão de equipe enxuta facilita o desenvolvimento de uma boa Governança de TI, já que evita a perda de foco durante as reuniões e facilita a atribuição de responsabilidades para cada membro.
Escolha do modelo mais adequado para a organização:
O modelo de governança de TI precisa ser determinado a partir da organização. O modelo que funciona bem para uma instituição de grande porte não necessariamente será o mais indicado para uma organização de pequeno ou médio porte. É importante identificar o que melhor se encaixa ao tamanho da organização e, claro, cumpri-lo, para que todos os setores se alinhem à estratégia desta.
Frameworks
editarAlguns dos frameworks que podemos citar no contexto da Governança de TI na Administração Pública são:
Desafios e Oportunidades
editarA Governança de Tecnologia da Informação (TI) na administração pública enfrenta uma série de desafios que incluem a necessidade de alinhar os objetivos de TI aos objetivos estratégicos das instituições, a gestão de recursos limitados e a garantia de transparência e conformidade com regulamentações. No entanto, essas dificuldades também abrem espaço para oportunidades significativas que podem contribuir para a melhoria dos serviços públicos.
Entre os principais desafios, destaca-se a necessidade de gerenciar sistemas legados que muitas vezes não atendem às demandas atuais de eficiência e integração. Conforme o artigo, desafios da integração de sistemas legados [7] , sistemas legados são aqueles que, embora ainda em uso, foram desenvolvidos com tecnologias antigas e as vezes sem documentação, o que pode dificultar o gerenciamento e manutenção por parte dos servidores/colaboradores. Além disso, a escassez de profissionais qualificados e o uso inadequado de recursos financeiros também são fatores críticos.
Por outro lado, as oportunidades derivadas dos desafios apresentados pela transformação digital emergem como um caminho para a inovação. Essas iniciativas oferecem aos governos a possibilidade de utilizar tecnologias emergentes para atender de maneira mais eficiente às crescentes demandas da sociedade.
Tendências Futuras
editarExistem diferentes tendências futuras (as quais já são questões atuais) relacionadas à Governança de TI na Administração Pública, como o uso de Inteligência Artificial, a Transformação Digital envolvida nas atividades governamentais, a Governança de Dados necessária nos processos, a adoção de Computação em Nuvem, dentre outras.
- Inteligência Artificial: Conforme o artigo Big data, algoritmos e inteligência artificial na administração pública: reflexões para a sua utilização em um ambiente democrático[8] existem potencialidades no uso de Inteligência Artificial pelo poder público como, por exemplo, na formulação de políticas públicas; por outro lado, há preocupações quanto a processos decisórios automatizados, sua falta de transparência e seus vieses discriminatórios.
- Transformação Digital: "Pesquisa sobre Governo Eletrônico 2020, publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) colocou o Brasil como o 20º, entre 193 países, com melhor oferta de serviços públicos digitais."[9], conforme publicado no site oficial do governo brasileiro, o qual também destacou que, considerando as Américas, o Brasil ficou atrás apenas dos Estados Unidos. Com isso, observa-se que a transformação digital no Brasil já está em andamento e relativamente bem posicionada, considerando tanto o cenário mundial como o continental.
- Governança de Dados: O governo brasileiro conta com algumas soluções para apoiar a Governança de Dados por seus órgãos, como, por exemplo, trilhas com diferentes conteúdos sobre o assuntos; fórum para troca de conhecimentos e experiências; Comitê Central de Governança de Dados para decidir sobre orientações e diretrizes; capacitação através de cursos; dentre outras[10].
- Computação em Nuvem: O governo brasileiro tem diferentes iniciativas para adoção de computação em nuvem, inclusive fornecendo, através de empresas públicas, serviços em nuvem, possibilitando ambientes de nuvem híbridos[11].
Referências
- ↑ a b c ISACA. (2019). COBIT 2019 Framework: Introduction and Methodology. Disponível em: https://www.isaca.org/resources/cobit
- ↑ Brasil. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. (2016). Estratégia de Governança Digital (EGD). Disponível em: https://www.gov.br/governanca-digital
- ↑ OECD. (2018). Digital Government Strategies for Transforming Public Services in the Welfare Areas. Disponível em: https://www.oecd.org/digital/
- ↑ ISO/IEC 38500. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/ISO/IEC_38500
- ↑ «Um guia sobre a ITIL e o lugar que ela ocupa no ITSM moderno». Atlassian. Consultado em 25 de janeiro de 2025
- ↑ Piikkila, Jessica. «O que é Scaled Agile Framework? (SAFe)». Atlassian. Consultado em 25 de janeiro de 2025
- ↑ luppy, carolyne (20 de outubro de 2024). «Desafios na Integração de Sistemas - Gestão de Sistemas de Informação». Passei Direto. Consultado em 5 de janeiro de 2025
- ↑ Araujo, Valter Shuenquener de; Zullo, Bruno Almeida; Torres, Maurílio (1 de setembro de 2020). «Big data, algoritmos e inteligência artificial na administração pública: reflexões para a sua utilização em um ambiente democrático». A&C - Revista de Direito Administrativo & Constitucional (80). 241 páginas. ISSN 1516-3210. doi:10.21056/aec.v20i80.1219. Consultado em 4 de janeiro de 2025
- ↑ «Governo eletrônico: ONU classifica Brasil entre os 20 países com melhor oferta de serviços públicos digitais». gov.br. Consultado em 4 de janeiro de 2025
- ↑ «Governança de Dados». gov.br. Consultado em 4 de janeiro de 2025
- ↑ «Adoção de serviços de computação em nuvem no âmbito da Administração Pública federal». gov.br. Consultado em 5 de janeiro de 2025