Grande Prêmio da África do Sul de 1982
Resultados do Grande Prêmio da África do Sul de Fórmula 1 realizado em Kyalami em 23 de janeiro de 1982. Primeira etapa do campeonato, foi a última vez que uma prova da categoria aconteceu em janeiro.[2] A vitória coube ao francês Alain Prost, da Renault.[3] Em segundo lugar chegou Carlos Reutemann, da Williams-Ford, (no último pódio argentino até os dias atuais, marca ainda vigente em 2024) enquanto René Arnoux, também da Renault, chegou em terceiro.[1]
Grande Prêmio da África do Sul de Fórmula 1 de 1982 | |||
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![]() 16º GP da África do Sul em Kyalami | |||
Detalhes da corrida | |||
Categoria | Fórmula 1 | ||
Data | 23 de janeiro de 1982 | ||
Nome oficial | XXVIII South African Grand Prix[1] | ||
Local | Kyalami, Midrand, Província de Gauteng, África do Sul | ||
Total | 77 voltas / 316.008 km | ||
Condições do tempo | Seco | ||
Pole | |||
Piloto |
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Tempo | 1.06:351 | ||
Volta mais rápida | |||
Piloto |
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Tempo | 1:08.278 (na volta 49) | ||
Pódio | |||
Primeiro |
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Segundo |
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Terceiro |
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Resumo
editarO retorno de Niki Lauda
editarEsta prova marcou o retorno da categoria ao continente africano após a exclusão da edição anterior do campeonato de 1981 por conta da guerra entre a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (FISA) e a Associação dos Construtores da Fórmula 1 (FOCA) pelo controle da categoria.[4] Não obstante o passado rumoroso, a abertura da temporada de 1982 esteve sob ameaça quando Jean-Marie Balestre coagiu os pilotos a assinarem um novo e desvantajoso contrato relativo à outorga da superlicença, manobra que tensionou o ambiente e fomentou uma greve de pilotos sob a liderança de Didier Pironi, presidente da Grand Prix Drivers' Association, e de Niki Lauda, bicampeão mundial que retomou sua carreira após abandonar as pistas nos treinos oficiais para o Grande Prêmio do Canadá de 1979.[5][6][7]
Balestre e os grevistas
editarNa quarta-feira anterior à corrida sul-africana os pilotos de Fórmula 1 foram instados a assinar um novo contrato acerca da superlicença, documento que os habilita a participar do campeonato,[8] porém o que seria apenas uma formalidade ganhou contornos abusivos quando os signatários perceberam o conteúdo leonino de algumas cláusulas, a saber: organizadores, equipes e autoridades ligadas ao automobilismo estariam livres de quaisquer responsabilidade em caso de acidentes, proibição da rescisão contratual e cassação da superlicença mediante críticas às todo-poderosas FISA e FOCA.[5] Aturdidos, os pilotos ouviram de Jean-Marie Balestre que os termos não mudariam. Criado o impasse, eles embarcaram num ônibus rumo ao Sunnyside Hotel, a 30Km de Kyalami, e lá foram entretidos por brincadeiras de Gilles Villeneuve e também por apresentações de Elio de Angelis ao piano.[9][10] Em determinado momento cogitou-se substituir os corredores rebeldes por outros favoráveis aos termos de Balestre e mesmo adiar o evento para 30 de janeiro, mas a enrascada cessou apenas quando a FISA garantiu que não puniria os amotinados e adiou a discussão sobre as cláusulas da cizânia, aliás redigidas por Max Mosley, assistente de Bernie Ecclestone.[11]
De volta à pista, os carros turbocomprimidos conquistaram a seis melhores posições no grid com René Arnoux à frente de Nelson Piquet.[12] No dia seguinte, Arnoux ponteou por treze voltas até que Alain Prost, seu companheiro na Renault, tomou-lhe o primeiro lugar. A essa altura o brasileiro Nelson Piquet, décimo colocado após uma largada ruim, já abandonara a prova ao bater sua Brabham num guard rail na terceira volta e para facilitar ainda mais a vida dos franceses, a Ferrari viu estourar o motor de Gilles Villeneuve e Didier Pironi foi obrigado a trocar pneus caindo do terceiro para o décimo primeiro lugar, embora tenha ascendido ao segundo posto antes de abandonar a seis voltas do fim. Na volta 41 Arnoux voltou a liderar quando Prost teve um pneu furado, mas após uma recuperação meritória derrotou seu colega de equipe no sexagésimo quarto giro quando reassumiu a dianteira para não mais perdê-la. Vencedor da etapa inaugural, Alain Prost assumiu pela primeira vez a liderança do mundial de Fórmula 1 tendo ao seu lado Carlos Reutemann, da Williams, naquele que seria o último pódio argentino na história,[13][nota 1] com René Arnoux em terceiro vindo a seguir o quarto lugar de Niki Lauda, o quinto de Keke Rosberg e o sexto de John Watson.[14][nota 2]
Enquanto os pilotos celebravam seus resultados uma atitude traiçoeira de Jean-Marie Balestre cassou a licença dos pilotos grevistas por conta da insurreição de quinta-feira por conta dos prejuízos causados à imagem da Fórmula 1 e aos organizadores da prova, além de estipular uma multa entre cinco e dez mil dólares aos vinte e nove grevistas e a possibilidade de suspendê-los de duas a cinco corridas nos próximos dois anos caso voltem a apoiar um novo boicote.[15][nota 3] O ambiente conflituoso e a inexistência de garantias financeiras levou ao cancelamento do Grande Prêmio da Argentina marcado para 7 de março.[16]
Transmissão para o Brasil
editarEsta edição do Grande Prêmio da África do Sul marcou a estreia de Galvão Bueno como narrador da Fórmula 1 pela Rede Globo.[17] Também na corrida sul-africana, ele iniciou a parceria com o comentarista Reginaldo Leme, algo que durou, salvo algumas mudanças de escala, até a despedida de Leme no Grande Prêmio do Brasil de 2019, pois na corrida seguinte, o Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2019, Bueno encerrou sua participação como narrador de Fórmula 1, afinal, no ano seguinte, o mesmo foi afastado das transmissões por integrar o grupo de risco da Pandemia de COVID-19. Entre 2021 e 2024, a categoria foi ao ar pela Rede Bandeirantes e dentre seus contratados estava Reginaldo Leme.[18][19][20][nota 4][nota 5]
Classificação da prova
editarPos. | Nº | Piloto | Construtor | Voltas | Tempo/Diferença | Grid | Pontos |
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1 | 15 | Alain Prost | Renault | 77 | 1:32:08.401 | 5 | 9 |
2 | 5 | Carlos Reutemann | Williams-Ford | 77 | + 14.946 | 8 | 6 |
3 | 16 | René Arnoux | Renault | 77 | + 27.900 | 1 | 4 |
4 | 8 | Niki Lauda | McLaren-Ford | 77 | + 32.113 | 13 | 3 |
5 | 6 | Keke Rosberg | Williams-Ford | 77 | + 43.139 | 7 | 2 |
6 | 7 | John Watson | McLaren-Ford | 77 | + 50.993 | 9 | 1 |
7 | 3 | Michele Alboreto | Tyrrell-Ford | 76 | + 1 volta | 10 | |
8 | 11 | Elio de Angelis | Lotus-Ford | 76 | + 1 volta | 15 | |
9 | 10 | Eliseo Salazar | ATS-Ford | 75 | + 2 voltas | 12 | |
10 | 9 | Manfred Winkelhock | ATS-Ford | 75 | + 2 voltas | 20 | |
11 | 23 | Bruno Giacomelli | Alfa Romeo | 74 | + 3 voltas | 19 | |
12 | 17 | Jochen Mass | March-Ford | 74 | + 3 voltas | 22 | |
13 | 22 | Andrea de Cesaris | Alfa Romeo | 73 | + 4 voltas | 16 | |
14 | 33 | Derek Daly | Theodore-Ford | 73 | + 4 voltas | 24 | |
15 | 18 | Raul Boesel | March-Ford | 72 | + 5 voltas | 21 | |
16 | 4 | Slim Borgudd | Tyrrell-Ford | 72 | + 5 voltas | 23 | |
17 | 20 | Chico Serra | Fittipaldi-Ford | 72 | + 5 voltas | 25 | |
18 | 28 | Didier Pironi | Ferrari | 71 | + 6 voltas | 6 | |
Ret | 26 | Jacques Laffite | Ligier-Matra | 54 | Sistema de combustível | 11 | |
Ret | 35 | Derek Warwick | Toleman-Hart | 43 | Acidente | 14 | |
Ret | 2 | Riccardo Patrese | Brabham-BMW | 18 | Turbo | 4 | |
Ret | 25 | Eddie Cheever | Ligier-Matra | 11 | Sistema de combustível | 17 | |
Ret | 27 | Gilles Villeneuve | Ferrari | 6 | Turbo | 3 | |
Ret | 1 | Nelson Piquet | Brabham-BMW | 3 | Acidente | 2 | |
Ret | 12 | Nigel Mansell | Lotus-Ford | 0 | Pane elétrica | 18 | |
Ret | 31 | Jean-Pierre Jarier | Osella-Ford | 0 | Colisão | 26 | |
DNQ | 30 | Mauro Baldi | Arrows-Ford | ||||
DNQ | 32 | Riccardo Paletti | Osella-Ford | ||||
DNQ | 29 | Brian Henton | Arrows-Ford | ||||
DNQ | 36 | Teo Fabi | Toleman-Hart | ||||
DNQ | 14 | Roberto Guerrero | Ensign-Ford | ||||
Fontes:[2][nota 6] |
Tabela do campeonato após a corrida
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.
Notas
- ↑ O segundo lugar de Carlos Reutemann em terras sul-africanas foi também a última pontuação argentina na Fórmula 1 até o Grande Prêmio do Azerbaijão de 2024, quando Franco Colapinto ficou em nono lugar com a Williams.
- ↑ Conforme os resultados acima expostos nenhum dos estreantes (Raul Boesel, Mauro Baldi, Riccardo Paletti, Teo Fabi e Roberto Guerrero) pontuou.
- ↑ Jochen Mass e Teo Fabi não foram punidos pela FISA, mas comprometeram-se a apoiar seu colegas.
- ↑ Galvão Bueno já havia narrado a Fórmula 1 pela Rádio Gazeta em 1975 e pela Rede Bandeirantes em 1980.
- ↑ Desconsiderando eventuais ausências de Galvão Bueno ou Reginaldo Leme das transmissões "em dupla", o referido narrador não transmitiu o campeonato de 1992 quando estava sob contrato com a Rede OM, antecessora da CNT.
- ↑ Voltas na liderança: René Arnoux 40 voltas (1-13; 41-67), Alain Prost 37 voltas (14-40; 68-77).
Referências
- ↑ a b c d «1982 South African GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 10 de julho de 2018
- ↑ a b «1982 South African Grand Prix - race result». Consultado em 10 de julho de 2018
- ↑ Fred Sabino (24 de fevereiro de 2020). «Alain Prost faz 65 anos; relembre dez atuações marcantes do rival de Ayrton Senna e Nelson Piquet». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 24 de fevereiro de 2020
- ↑ «1981 South African Grand Prix: The one that didn't count (forix.autosport.com)». Consultado em 21 de junho de 2018
- ↑ a b Redação (22 de janeiro de 1982). «Protesto de pilotos ameaça abertura da Fórmula 1. Primeiro Caderno – Esportes, p. 25». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 10 de julho de 2018
- ↑ Redação (29 de setembro de 1979). «Niki Lauda encerra a carreira e Piquet é o primeiro na Brabham. Matutina – Esportes, p. 30». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 10 de julho de 2018
- ↑ Redação (13 de novembro de 1981). «Niki Lauda retorna em 82 pela McLaren e diz que não é por problema financeiro. Primeiro Caderno – Esportes, p. 22». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 10 de julho de 2018
- ↑ Fred Sabino (29 de fevereiro de 2020). «Circuitos Clássicos #2: Kyalami teve corridas emocionantes, bi de Piquet e acidentes fatais». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 29 de fevereiro de 2020
- ↑ «Na Garagem: Prost vence GP da greve dos pilotos na África do Sul em 1982 (grandepremio.com)». Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Fred Sabino (26 de março de 2018). «Elio de Angelis, o "Príncipe Negro" que deixou saudade na Fórmula 1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Redação (29 de janeiro de 1982). «Balestre admite mudar contrato. Primeiro Caderno – Esportes, p. 25». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Redação (23 de janeiro de 1982). «Acordo garante GP e Piquet larga na primeira fila. Primeiro Caderno – Esportes, p. 19». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Redação (15 de setembro de 2024). «Em dia de calouros, Colapinto é 1º argentino a pontuar na F1 desde 1982». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 15 de setembro de 2024
- ↑ Redação (24 de janeiro de 1982). «Um mau começo de temporada para Piquet. Terceiro Caderno – Esportes, p. 29». acervo.folha.com.br. Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Redação (24 de janeiro de 1982). «Prost vence e Fisa suspende os pilotos. Geral, p. 40». acervo.estadao.com.br. O Estado de S. Paulo. Consultado em 11 de julho de 2018
- ↑ Redação (4 de fevereiro de 1982). «Crise na F-1 faz Argentina suspender seu GP. Primeiro Caderno – Esportes, p. 27». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 29 de junho de 2020
- ↑ Fred Sabino (21 de julho de 2020). «Nos 70 anos de Galvão Bueno, veja curiosidades da trajetória do narrador na Fórmula 1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 22 de março de 2021
- ↑ Fred Sabino (7 de maio de 2018). «Há 40 anos, Reginaldo Leme estreava como comentarista de Fórmula 1 da Globo». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 23 de março de 2021
- ↑ Redação (9 de fevereiro de 2021). «Grupo Bandeirantes confirma transmissão exclusiva da Fórmula 1 até 2022». band.com. Grupo Bandeirantes. Consultado em 18 de setembro de 2024
- ↑ Redação (14 de junho de 2022). «Band renova compromisso e transmite a Fórmula 1 no Brasil até 2025». band.com. Grupo Bandeirantes. Consultado em 18 de setembro de 2024
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