Grande Prêmio da Itália de 1988
Resultados do Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1 realizado em Monza em 11 de setembro de 1988. Décima segunda etapa do campeonato, nele o vencedor foi o austríaco Gerhard Berger, que subiu ao pódio junto a Michele Alboreto numa dobradinha da Ferrari, com Eddie Cheever em terceiro pela Arrows-Megatron.[2][3][4]
Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1 de 1988 | |||
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53º GP da Itália realizado em Monza | |||
Detalhes da corrida | |||
Categoria | Fórmula 1 | ||
Data | 11 de setembro de 1988 | ||
Nome oficial | LIX Coca-Cola Gran Premio d'Italia[1][nota 1] | ||
Local | Autódromo Nacional de Monza, Monza, Monza e Brianza, Lombardia, Itália | ||
Percurso | 5.800 km | ||
Total | 51 voltas / 295.800 km | ||
Condições do tempo | Quente, ensolarado | ||
Pole | |||
Piloto |
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Tempo | 1:25.974 | ||
Volta mais rápida | |||
Piloto |
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Tempo | 1:29.070 (na volta 44) | ||
Pódio | |||
Primeiro |
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Segundo |
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Terceiro |
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Resumo
editarFIAT compra a Ferrari
editarDias antes do Grande Prêmio da Itália, a FIAT confirmou a aquisição dos 40% da Ferrari pertencentes ao falecido Enzo Ferrari a um custo de US$ 13,5 milhões conforme os termos acordo celebrado em 1969 entre o comendador e a empresa de Gianni Agnelli, elevando para 90% o controle acionário externo sobre a tradicional fábrica de carros desportivos de luxo, assumindo também as operações da Scuderia Ferrari, a mais longeva e conhecida equipe de Fórmula 1. O restante das ações foi destinada a Piero Ferrari, filho de Enzo Ferrari.[5]
Esqueçam o que ele disse
editarQuando Ayrton Senna venceu o Grande Prêmio da Bélgica, Alain Prost declarou publicamente que seu companheiro de equipe e rival na McLaren tornou-se ali, "com muito merecimento",[6] o campeão mundial de 1988, mas quem estranhou a capitulação do francês estava certo, pois ao chegar na Itália o discurso do bicampeão mudou da água para o vinhoː "Vai ser difícil tirar a vantagem do Ayrton, mas vou brigar até o fim pelo campeonato".[7] Vencedor em Monza pela Renault em 1981 e pela McLaren em 1985,[8][9] Prost precisará repetir tal façanha para manter-se vivo na disputa, pois neste momento sua desvantagem em relação a Senna é de três pontos e três vitórias na classificação geral.
No quesito retrospecto, a vantagem de Alain Prost é inquestionável, e o próprio Ayrton Senna não esconde o seu objetivoː "Sempre corri bem aqui em Monza e nunca venci. Acho que já é hora disso acontecer".[10] Declarações à parte, o passado não favorece o brasileiroː em 1984 ele não correu porque a Toleman o suspendeu por quebra de contrato,[11] e embora tenha sido o terceiro colocado no ano seguinte após sair na pole,[9] uma avaria mecânica o fez parar vinte metros depois da largada em 1986.[12] Sua única chance de vitória no Grande Prêmio da Itália foi em 1987 quando, sem nenhum pit stop, liderava a corrida em sua Lotus com Nelson Piquet à distância, mesmo a Williams tendo pneus novos, mas ao aproximar-se da Ligier do retardatário Piercarlo Ghinzani o carro de Senna tocou a sujeira pouco antes da Parabólica, saiu da pista, levantou poeira e perdeu a liderança para Piquet a oito voltas do fim. Senna ainda descontou a diferença, mas seu compatriota venceu com um segundo e oito de vantagem.[13]
Nigel Mansell, o ausente
editarDebilitado pelo sarampo na etapa húngara, Nigel Mansell desenvolveu uma catapora como infecção secundária e por isso Martin Brundle o substituiu no Grande Prêmio da Bélgica.[14] Entretanto, Brundle correria pela Jaguar no Mundial de Resistência de 1988[15] (onde foi campeão, frise-se), e assim a Williams cogitou o nome de Roberto Moreno, piloto de testes da Ferrari. Mas como os patrocinadores da equipe italiana concorriam com os de Frank Williams,[16] o dirigente britânico inscreveu o francês Jean-Louis Schlesser, agraciado com a superlicença da FISA na quinta-feira anterior à corrida e cuja experiência na Fórmula 1 resumia-se a malsucedidos treinos de classificação ao volante da RAM para a Corrida dos Campeões e para o Grande Prêmio da França em 1983.[17][18] Algum tempo depois, o time de Grove confirmou a renovação do contrato de Riccardo Patrese, que faria dupla com Thierry Boutsen por dois anos.[19]
Dobradinha da Ferrari na Itália
editarApenas seis voltas no treino de sexta-feira foram o bastante para Ayrton Senna marcar o melhor tempo nos treinos, mesmo que por um décimo de segundo sobre Alain Prost. Confiante, o brasileiro trocou o bólido titular pelo reserva no decorrer da sessão, na qual o grid provisório foi simétricoː A McLaren na primeira fila com Senna e Prost, a Ferrari vindo a seguir com Michele Alboreto e Gerhard Berger enquanto a Arrows provou o quanto o motor BMW M12 (o mesmo utilizado pela Brabham no bicampeonato de Nelson Piquet em 1983) é forteː rebatizado como Megatron, o propulsor colocou Eddie Cheever e Derek Warwick na terceira fila, uma posição adiante da Lotus de Piquet e duas na frente de Alessandro Nanini, cuja Benetton foi a melhor máquina dentre as de motor aspirado.[20] Automobilismo à parte, a Honda informou que seu motor aspirado será exclusivo da McLaren em 1989 e com isso a Lotus utilizará os motores Judd, mantendo por mais um ano o patrocínio da Reynolds.[21]
No dia seguinte, Gerhard Berger tomou o terceiro lugar de Michele Alboreto. Com Eddie Cheever e Derek Warwick nos mesmos lugares de antes, Nelson Piquet sobreviveu ao avanço da Benetton, mas viu Thierry Boutsen desbancar Alessandro Nanini.[15] Melhor do fim de semana, Ayrton Senna marcou a primeira pole da McLaren em Monza desde James Hunt em 1977[22] deixando Alain Prost em segundo lugar e ainda quebrou o recorde de pole positions num mesmo campeonato, com dez, superando Ronnie Peterson, Niki Lauda e Nelson Piquet.[23]
Embora Alain Prost tenha largado melhor, foi superado por Ayrton Senna antes da primeira curva e logo o brasileiro ostentava uma diferença superior a três segundos sobre o rival, acossado pela Ferrari de Gerhard Berger.[4] Conforme a prova seguiu, a diferença entre Senna e Prost aumentou enquanto o francês deixou Berger para trás. Durante 34 voltas as cinco primeiras posições quedaram inalteradasː Senna, Prost, Berger, Alboreto e Cheever, enquanto o sexto lugar esteve por muito tempo nas mãos de Thierry Boutsen, até que Derek Warwick o superou.[24] Previsível e modorrenta, a corrida mudou quando o motor de Alain Prost começou a falhar e fazer barulho, obrigando-o a parar nos boxes. Durante anos atribuíram o defeito a um tipo "mais pobre" de mistura entre ar e gasolina utilizado pela McLaren afim de evitar o consumo excessivo de combustível,[4] entretanto a quebra do motor foi causada por uma falha mecânica.[25] Nesse momento, vinte e cinco segundos separavam Ayrton Senna e Gerhard Berger, o novo vice-líder.[26]
Em 2016, Neil Trundle, mecânico-chefe da McLaren naquela época, declarouː “Nós tiramos a tampa do motor e lá estava: uma das velas tinha caído de um plugue. Um superaquecimento foi a provável causa, por isso instruímos Ayrton pelo rádio a ir mais devagar para manter as velas mais frias porque o grau errado de encaixe tinha sido usado no carro dele também”.[25] A necessidade de poupar combustível também influenciou a condução de Senna a partir dali devido ao seu ritmo forte no começo da prova visando distanciar-se de Alain Prost. Alheio a desses detalhes, Gerhard Berger acelerouː na volta 46 sua desvantagem em relação ao líder era de dez segundos, caindo pela metade na volta 49, quando o brasileiro alcançou o retardatário Jean-Louis Schlesser. Segundo a Folha de S.Paulo,[27] "Ao entrar na variante, Schlesser travou os freios e perdeu a tangência da curva. Seu Williams subiu na zebra desgarrando para fora da pista. Senna, imprudente, aproveitou o descuido do francês para fazer a ultrapassagem por dentro. No meio da curva Ayrton retomou a trajetória normal, fechada. Nessa hora Schlesser recuperou o controle e voltou para o asfalto. O toque dos dois foi inevitável. A batida jogou o McLaren para o alto e fez com que Senna rodasse".[27] Neste momento os tiffosi foram ao delírio antevendo uma vitória da Ferrari com Gerhard Berger em primeiro e Michele Alboreto em segundo, e assim aconteceu após 51 voltas.[4][28]
Celebrando a memória do comendador Enzo Ferrari diante de uma multidão em êxtase, os pilotos da Ferrari deram à equipe sua décima vitória em Monza,[28] sendo a primeira dobradinha no circuito desde Jody Scheckter e Gilles Villeneuve em 1979 e o primeiro triunfo ferrarista em solo italiano desde o Grande Prêmio de San Marino de 1983.[29][30] Mais de meio minuto depois dos bólidos vermelhos, a Arrows cruzou a linha de chegada com Eddie Cheever e Derek Warwick em terceiro e quarto lugares (o norte-americano não subia ao pódio desde o Grande Prêmio da Itália de 1983 e o motor Megatron jamais voltaria a esse local), enquanto Ivan Capelli levou a March ao quinto posto e a sexta posição da Benetton de Thierry Boutsen marcou os 300 Grandes Prêmios da Ford na Fórmula 1.[15]
A apoteose da Ferrari em Monza interrompeu uma sequência de onze vitórias consecutivas da McLaren, impedindo o time britânico de (em tese) vencer as dezesseis corridas previstas para 1988, embora o time de Ron Dennis tenha firmado um recorde ainda vigente na Fórmula 1.[31][32][nota 2] Entretanto, o júbilo do cavallino rampante esteve sob risco nas duas horas seguintes ao fim da contenda, pois ao examinarem o carro de Berger, os comissários da FISA detectaram 151, 5 litros de combustível no tanque do austríaco, excedendo os 150 litros previstos no regulamento.[33] Novas medições foram feitas e a irregularidade persistia, diferença atribuída a uma superfície "ligeiramente inclinada"[34] onde realizaram a primeira aferição. Em seu veredicto, os fiscais, "para evitar qualquer mal entendido",[34] refizeram as medições em local plano e encontraram 149,5 litros de combustível no carro do vencedor, ratificando o resultado da pista.[34]
Senna errou mais uma vez
editarLamento e decepção foram a tônica nas palavras de Ayrton Senna após o incidente. Embora aparentemente tranquilo, permaneceu uma hora no motorhome da McLaren antes de falar com a imprensa. "Infelizmente cometi um erro",[18] admitiu ele em certo momento da entrevista. Senna relatou, inclusive, seu encontro com Jean-Louis Schlesser após o incidente. "Disse a ele que não guardaria rencor. Afinal todos somos feitos da mesma matéria humana, sujeitos a erros. Eu errei em Mônaco, por exemplo".[35] Ao sair do encontro com o brasileiro, Schlesser afirmou o seguinteː "Vim aqui por uma questão de gentileza. Não cometi um erro proposital. Meu carro teve um problema mecânicoː uma roda travou quando freei na primeira chicana. Entrei direto e havia muito espaço para Senna ultrapassar. Mas eu tinha de virar para a direita para voltar à pista e acho que Senna não levou isso em conta".[18]
Maurício Gugelmin estava próximo aos dois no momento do acidente e defendeu o risco assumido por Ayrton Senna, assim como Roberto Moreno, que assistiu a corrida pela televisão.[36] Entretanto, o ônus da experiência pesou contra o piloto da McLaren na opinião de Chico Landi. "Faltou cabeça ao Ayrton Senna",[37] afirmou o decano dos pilotos brasileiros. "Não passavam dois carros naquela curva. O que custava esperar um pouco?".[37] Inconformado, Wilson Fittipaldi Júnior temia pelo piorː "E se acontecer algo com o Ayrton? Ele pode perder o título mais ganho da história".[37] Quando Alain Prost abandonou a corrida na volta trinta e cinco, a diferença entre Senna e Berger era de 25 segundos, mas à medida que a corrida chegava ao fim, Senna reduziu o ritmo para evitar uma pane seca ou uma quebra.[4] Nesse interregno, Berger tomou a decisão inversa aproximando-se do brasileiro nas voltas quarenta e sete (6.132 segundos), quarenta e oito (5.049 segundos) e quarenta e nove (4.929 segundos) antes do malfafado encontro entre Senna e Schlesser a duas voltas para o fim da prova.[38]
Sentindo-se ameaçado, o piloto da McLaren expôs-se ao risco e sofreu o acidente que o tirou da prova, mas não o teria feito se soubesse a opinião de Berger sobre o ocorrido. "Preciso agradecer-lhe este favor, pois do contrário não creio que tivesse conseguido superar Senna, por mais depressa que estivesse me aproximando",[33] disse Berger ao comentar a afobação e o erro do líder do campeonato. O cenário para a decisão do campeonato mundial nas quatro provas restantes seria o seguinteː Ayrton Senna precisará de uma vitória e um quarto lugar para chegar ao título,[35] enquanto Alain Prost terá que vencer todas as corridas para assegurar o tricampeonato.[35] Quanto a Jean-Louis Schlesser, ele jamais retornou à Fórmula 1, mas venceu o Campeonato Mundial de Resistência pela Sauber em 1989 e 1990, honrando a memória de seu tio, Jo Schlesser, além de atuar na versão original do filme Taxi.[17]
Classificação
editarPré-classificação
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Treinos classificatórios
editarGrid de largada e classificação da prova
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Tabela do campeonato após a corrida
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas e a campeã mundial de construtores surge grafada em negrito. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.
Notas
- ↑ Em 1950 seria realizado o vigésimo "Grande Prêmio da Itália", mas o mesmo foi erroneamente creditado como o vigésimo primeiro e por esta razão a numeração oficial do evento contém uma prova a mais que as efetivamente realizadas.
- ↑ Ignorando os registros históricos, o jornal O Globo publicou, em 12 de setembro de 1988, que a Ferrari detinha o recorde de quatorze vitórias consecutivas na Fórmula 1. Segundo a matéria, a equipe carmesim atingiu este número entre 1952 e 1953, entretanto as 500 Milhas de Indianápolis fizeram parte do calendário da categoria entre 1950 e 1960. Neste período o máximo conquistado pela Ferrari foram sete vitórias consecutivas entre o Grande Prêmio da Bélgica de 1952 e Grande Prêmio da Argentina de 1953, recorde quebrado pelas oito vitórias da McLaren entre o Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1984 e Grande Prêmio do Brasil de 1985, sendo este o recorde superado em 1988.
- ↑ Voltas na liderança: Ayrton Senna 49 voltas (1-49), Gerhard Berger 2 voltas (50-51).
Referências
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- ↑ a b c d e «1988 Italian Grand Prix - race result». Consultado em 13 de setembro de 2018
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- ↑ Milton Coelho da Graça (12 de setembro de 1988). «Brasileiro contava com os 9 pontos. Matutina – Esportes, p. 10». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 10 de junho de 2022
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