Grupo de permutação primitivo
Em matemática, um grupo de permutação G que atua em um conjunto finito não vazio X é chamado de primitivo se G atuar transitivamente em X e as únicas partições que a ação de G preserva são as partições triviais em um único conjunto ou em conjuntos de um único |X|. Caso contrário, se G for transitivo e preservar uma partição não trivial, G será chamada de imprimitivo.
Embora os grupos de permutação primitivos sejam transitivos, nem todos os grupos de permutação transitivos são primitivos. O exemplo mais simples é o grupo de Klein agindo nos vértices de um quadrado, que preserva a partição em diagonais. Por outro lado, se um grupo de permutação preserva apenas partições triviais, ele é transitivo, exceto no caso do grupo trivial que atua em um conjunto de dois elementos. Isso ocorre porque, para uma ação não transitiva, ou as órbitas de G formam uma partição não trivial preservada por G ou a ação do grupo é trivial e, nesse caso, todas as partições não triviais de X (que existe para |X| ≥ 3) são preservadas por G.
Essa terminologia foi introduzida por Évariste Galois em sua última carta, na qual ele usou o termo francês équation primitive para uma equação cujo grupo de Galois é primitivo.[1]
Propriedades
editarNa mesma carta em que introduziu o termo “primitivo”, Galois apresentou o seguinte teorema:[2]
Se G for um grupo primitivo solucionável atuando em um conjunto finito X, então a ordem de X é uma potência de um número primo p. Além disso, X pode ser identificado com um espaço afim sobre o campo finito com p elementos, e G atua em X como um subgrupo do grupo afim.
Se o conjunto X no qual G atua for finito, sua cardinalidade será chamada de grau de G.
Um corolário desse resultado de Galois é que, se p for um número primo ímpar, então a ordem de um grupo transitivo solucionável de grau p é um divisor de De fato, todo grupo transitivo de grau primo é primitivo (já que o número de elementos de uma partição fixado por G deve ser um divisor de p) e é a cardinalidade do grupo afim de um espaço afim com elementos p.
Segue-se que, se p for um número primo maior que 3, o grupo simétrico e o grupo alternante de grau p não são solucionáveis, pois sua ordem é maior que O teorema de Abel-Ruffini resulta disso e do fato de que há polinômios com um grupo Galois simétrico.
Uma definição equivalente de primitividade se baseia no fato de que toda ação transitiva de um grupo G é isomórfica a uma ação decorrente da ação canônica de G no conjunto G/H de coclasses para H, um subgrupo de G. Uma ação de grupo é primitiva se for isomórfica a G/H para um subgrupo máximo H de G e imprimitiva caso contrário (ou seja, se houver um subgrupo próprio K de G do qual H seja um subgrupo próprio). Essas ações imprimitivas são exemplos de representações induzidas.
Os números de grupos primitivos de pequeno grau foram declarados por Robert Carmichael em 1937:
Grau | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 | 17 | 18 | 19 | 20 | 21 | 22 | 23 | 24 | |
Número | 1 | 2 | 2 | 5 | 4 | 7 | 7 | 11 | 9 | 8 | 6 | 9 | 4 | 6 | 22 | 10 | 4 | 8 | 4 | 9 | 4 | 7 | 5 | (sequência A000019 na OEIS) |
Há um grande número de grupos primitivos de grau 16. Como Carmichael observa, todos esses grupos, exceto o grupo simétrico e alternado, são subgrupos do grupo afim no espaço de 4 dimensões sobre o campo finito de 2 elementos.
Exemplos
editar- Considerando o grupo simétrico agindo no conjunto e a permutação
Ambos e o grupo gerado pelo são primitivos.
- Agora considere o grupo simétrico agindo no conjunto e a permutação
O grupo gerado por , pois a partição onde e é preservado sob , isto é, e .
- Todo grupo transitivo de grau primo é primitivo
- O grupo simétrico agindo no conjunto é primitivo para cada n e o grupo altenante agindo no set é primitivo para todo n > 2.
Referências
- ↑ «La lettre testament | Bicentenaire Galois» (em francês). Consultado em 1 de junho de 2024
- ↑ Galois usou uma terminologia diferente, porque a maior parte da terminologia nesta declaração foi introduzida posteriormente, em parte para esclarecer os conceitos introduzidos por Galois.
- Roney-Dougal, Colva M. The primitive permutation groups of degree less than 2500, Journal of Algebra 292 (2005), no. 1, 154–183.
- The GAP Data Library "Primitive Permutation Groups".
- Carmichael, Robert D., Introduction to the Theory of Groups of Finite Order. Ginn, Boston, 1937. Reprinted by Dover Publications, New York, 1956.
- Todd Rowland. «Primitive Group Action». MathWorld (em inglês)