Gruta de Ibne Ammar
A Gruta de Ibne Ammar fica junto ao rio Arade,[1] no concelho de Lagoa, Algarve, em Portugal. É a maior gruta em Portugal a sul do Tejo.[2] A gruta é ou foi também conhecida pelas designações de "Cavernas da Mexilhoeirinha", "Furnas dos Mouros", "Gruta do Algar", "Gruta da Mexilheirinha", "Gruta de D. Afonso Henriques" e "Furnas da Mexilhoeira da Carregação",[3] tendo a designação "Ibne Ammar" se generalizado a partir dos anos 70 do século XX, em homenagem a Abû Bacr Muhammad Ibn Ammâr, poeta e governador árabe que talvez tenha nascido em Estômbar, uma localidade ao pé das grutas[4] (as primeira referências a essa designação parecem vir do principio dos anos 60).[5]
Gruta de Ibne Ammar
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Tipo | Cársico |
Localização | Lagoa, Algarve, Portugal |
Coordenadas | |
Comprimento | 2 kms |
Localização
editarA gruta de Ibne Ammar fica no lado esquerdo do estuário do rio Arade,[2] no concelho de Lagoa, no Algarve, em Portugal, ao pé das localidades da Mexilhoeira da Carregação[3] e de Estombar.[4] As coordenadas da sua localização são N 37°09'23.1" W 8°29'59.2".[6]
Descrição
editarA gruta de Ibne Ammar é uma gruta cársica,[3] numa arriba calcária,[7] com um desenvolvimento horizontal de cerca de dois quilómetros. A sua atmosfera interior tem uma humidade de 100% e uma temperatura de 18ºC no solo e de 20,8ºC no ar. Na maior câmara da gruta há um lago anquialino e uma nascente,[2] sendo que parte da água do aquífero de Querença-Silves vai para o rio Arade através das condutas da gruta.[4]
Tem dois conjuntos de galerias, a 120 metros de distância um do outro, não sendo conhecida nenhuma passagem que permita a seres humanos passarem de uma para a outra. O conjunto mais a sul é composta por estreitas passagens labirinticas. O mais a norte é mais amplo, conduzindo a uma galeria principal, com uma altura de 8 metros e uma largura máxima de 17 metros; é nessa galeria que se encontra o lago, ao longo de 65 metros, que é alimentado tanto tanto pelas marés do estuário como pelo referido aquífero de Querença-Silves.[4]
Fauna
editarO sistema de grutas do Algarve é considerado um hotspot de biodiversidade, e sendo a gruta de Ibne Ammar uma das suas principais componentes, encontram-se lá várias espécies (algumas recentemente descobertas pela bióloga portuguesa Ana Sofia Reboleira): pseudoescorpiões como o pseudoescorpião gigante das grutas do Algarve (Titanobochica magna)[1] e o Lusoblothrus aenigmaticus (até agora só conhecido nesta gruta), a aranha Teloleptoneta synthetica, isópodes como o Cordioniscus lusitanicus e o Trogleluma machadoi, o dipluro Litocampa mendesi (também só conhecido nesta gruta), o peixinho-de-prata Squamatinia algharbica ou a centopeia Lithobius inermis.[8][2] Algumas dessas espécies apresentam características únicas: o S. algharbica é o maior inseto terrestre subterrâneo da Europa,[9] o L. aenigmaticus não tem parentes próximos em quase todo o Hemisfério Norte[10] e o T. magna é um dos maiores pseudoescorpiões do mundo[8] e foi considerado em 2013 como uma das novas espécies mais incríveis do planeta.[11]
Entre os vertebrados, a gruta é o habitat de morcegos como o Rhinolophus hipposideros, o R. mehelyi, o Myotis blythii, o M. escalerai, o morcego-de-peluche e possivelmente outras espécies dos géneros Myotis e Rhinolophus;[12] no teto por cima do lago interior há uma colónia de M. escalerai e R. mehelyi, cujo guano é largamente removido pela maré.[2]
Classificação
editarEm 2024 foi aberto um process do Património Cultural, I.P., sobre proposta da Direção Regional de Cultura do Algarve, para a classificação da Gruta de Ibne Ammar.[13][14]
Referências
- ↑ a b Campos, António Luis. «Por baixo do Algarve que conhecemos». National Geographic Portugal. Consultado em 28 de junho de 2021
- ↑ a b c d e Reboleira, A. S. P. S.; Zaragoza, J. A.; Gonçalves, F.; Oromi, P. (8 de novembro de 2012). «Lusoblothrus, a new syarinid pseudoscorpion genus (Arachnida) from Portugal, occupying an isolated position within the Holarctic fauna». Magnolia Press. Zootaxa (3544): 59. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/ZOOTAXA.3544.1.4. Consultado em 28 de junho de 2021
- ↑ a b c Boaventura et al. 2011, p. 256
- ↑ a b c d Regala et al. 2018, p. 90
- ↑ Francês, M. (1963). «As grutas de Ibn-Ammar em Estômbar constituirão uma atracção turística». Vila Real de Santo António. Jornal do Algarve. 7 (320): 1,7, referido em Regala et al. 2018, pp. 90, 127
- ↑ Maio, Daniela Filipa Silva (2018). Ocupação Paleolitica no Barlavento Algarvio: Modelos Preditivos com Recurso aos SIG (PDF) (Tese de Mestrado). Universidade do Algarve - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. p. 70. 138 páginas. Consultado em 30 de junho de 2021
- ↑ Maio 2018, p. 27
- ↑ a b Regala et al. 2018, pp. 95
- ↑ «Jovem bióloga portuguesa descobre maior insecto subterrâneo terrestre da Europa». Público. 10 de abril de 2012. Consultado em 17 de janeiro de 2019
- ↑ «É um pseudo-escorpião único e vive numa gruta do Algarve». Público. 22 de novembro de 2012. Consultado em 2 de julho de 2021
- ↑ «What on Earth?: 100 of Our Planet's Most Amazing New Species». 30 de Abril de 2013. Consultado em 30 de Abril de 2013
- ↑ Regala et al. 2018, pp. 96
- ↑ Eusébio, Jorge (9 de outubro de 2024). «Estas grutas têm um lago subterrâneo e morcegos. Aberto procedimento de classificação». Algarve Marafado. Consultado em 11 de outubro de 2024
- ↑ «Anúncio n.º 253/2024, de 8 de outubro». Diário da República. 8 de outubro de 2024. Consultado em 11 de outubro de 2024
Bibliografia
editar- Boaventura, Rui; Mataloto, Rui; Nakushina, Diana; Harpsöe, Carl; Harpsöe, Peter (7–9 de abril de 2011). Victor S. Gonçalves; Mariana Diniz; Ana Catarina Sousa, eds. A ocupação neolítica da gruta de Ibne Ammar (Lagoa, Algarve, Portugal) (PDF). 5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Consultado em 28 de junho de 2021
- Regala, Frederico Tátá; Bicho, Nuno; Carvalho, Fátima; Cascalheira, João; Gonçalves, Célia; Luís, Rui; Luís, Walter; Mergulho, Rui; Oliveira, Bruno; Pacheco, Paulo; Parreira, Rui; Paulo, Luis Meira; Pinto, Maria José; Regala, João Tátá; Santos, André; Veiga-Pires, Cristina (2018). «Na senda de Charles Bonnet Grutas clássicas do Algarve revisitadas - PARTE I» (PDF). Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente. Trogle (7): 36-105. Consultado em 29 de junho de 2021