Hipernatremia
Hipernatremia é uma concentração anormalmente alta de sódio no sangue.[1][2] A principal consequência desse quadro é a disfunção do sistema nervoso central, gerada pela desidratação celular, que pode levar à laceração, hemorragia subaracnóidea e subcortical, e trombose dos seios venosos.[1] Os sintomas são geralmente inespecíficos e incluem forte sensação de sede, fraqueza, náuseas, perda de apetite, agitação, delírio, espasmos musculares, estupor e coma.[3][4][5] Os níveis normais de sódio no soro são de 135-145 mEq/litro (135-145 mmol/L).[6] A hipernatremia é geralmente definida quando os níveis séricos de sódio são superiores a 145-150 mEq/L.[2][5] Sintomas graves normalmente só ocorrem quando os níveis estão acima de 160 mEq/L.[3]
Hipernatremia | |
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Sódio. | |
Especialidade | nefrologia, endocrinologia |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | E87.0 |
CID-9 | 276.0 |
CID-11 | 1211006442 |
DiseasesDB | 6266 |
MedlinePlus | 000639 |
eMedicine | emerg/263 |
MeSH | D006955 |
Leia o aviso médico |
O distúrbio é classificado como baixo, normal ou aumentado, a partir das causas e de acordo com o volume corporal total do paciente. A hipernatremia com baixo volume extracelular ocorre quando o paciente sofre perda de água pela transpiração, vômitos, diarreia, medicação diurética ou doença renal. A hipernatremia com volume extracelular normal pode ter como causas a febre, diminuição da sede, hiperventilação prolongada e diabetes insipidus, entre outras.[3][7] A hipernatremia com volume extracelular aumentado pode ocorrer devido a hiperaldosteronismo, pela administração intravenosa excessiva de cloreto de sódio 0.9% ou bicarbonato de sódio hipertônicos em procedimentos de reanimação, afogamentos em água salgada, soluções de hiperalimentação e diálise.[3][4][7] Pacientes com hipoproteinemia podem apresentar exames de dosagem de sódio falsamente elevados.[8] O histórico do paciente é capaz de determinar as causas do distúrbio, mas exames laboratoriais complementares, como a dosagem de sódio na urina, podem elucidar quadros de causa desconhecida.[3]
Se o quadro tem evolução de algumas horas, a correção rápida do desequilíbrio pode melhorar o prognóstico e evitar o risco de edema cerebral.[1] A via preferencial para correção é a oral, por meio de sondas nasogástricas ou enterais. Caso não seja possível, deve-se realizar a administração intravenosa de soluções hipotônicas, como glicose a 5%, salina a 0,2% e salina a 0,45%. Pacientes com diabetes insipidus central ou gestacional com quadro de hipernatremia podem receber desmopressina para controle da poliúria.[9] Em pacientes com diabetes insipidus nefrogênico, recomenda-se, se possível, a suspensão da medicação e a administração de diuréticos tiazídicos e/ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).[3] A hipernatremia afeta entre 0,3-1% das pessoas internadas em hospitais e acomete mais freqüentemente indivíduos muito jovens ou muito idosos e aqueles com problemas cognitivos.[10]
Causas
editarGeralmente é causada por falta de consumo de água gerando falta de água no sangue. Dentre as causas mais comuns estão[11][12]:
- Desidratação por sudorese, vômitos ou diarreia, causada por infecção gastrointestinal;
- Desidratação causada por falta de reposição de água, em locais quentes e secos;
- Consumo excessivo de fluídos hipertônicos como refrigerantes, molhos salgados (como molho de soja) ou água salgada.
- Urinar excessivamente (poliúria), possivelmente por falta de hormônio antidiurético como na diabetes insípido, por diabetes mellitus ou por excesso de diuréticos;
- Problemas urinários, como um tumor prostático que gere obstrução das vias urinárias;
- Golpe de calor(insolação);
- Hemorragia interna ou externa, como por fístula ou trauma físico;
- Consumo excessivo de bicarbonato de sódio;
- Síndrome de Conn (hiperaldosteronismo).
Prevalência
editarÉ mais comum em idosos, diabéticos, vítimas de queimaduras, pacientes em pós-operatório e em pacientes sofrendo com um estado alterado de consciência em que não podem buscar água.[13]
Sinais e sintomas
editarO efeito do excesso de sódio sobre o equilíbrio da osmose do plasma sanguíneo pode ser estimada pela seguinte fórmula:
Osmolalidade efetiva = 2 x sódio + glicose/18 + ureia/6 (normal = 270 a 290 mOsmL/kg)
Quando os níveis de sódio são maiores que 157 mEq/L, os primeiros sintomas são[14]:
- Muita sede (polidipsia);
- Retenção de urina (oligúria);
- Fraqueza;
- Letargia;
- Irritabilidade;
- Sensibilidade neuromuscular;
- Inchaço (edema).
Em níveis maiores que 180mEq/L, possíveis complicações neurológicas e musculares que incluem tremores, espasmos, rompimento de neurônios, déficits neurológicos, convulsão e coma, sendo frequentemente fatal.[15]
Tratamento
editarA primeira medida é beber água com baixos níveis de sódio ou administrar soro fisiológico intravenoso, geralmente sendo suficiente para equilibrar a osmolaridade do organismo. O soro deve ser administrado lentamente, pois os neurônios fizeram o possível para adaptarem ao excesso de sódio e precisam de tempo para bombear o excesso de sódio de volta a matriz celular. Não respeitar esse tempo de adaptação causa edema cerebral, convulsão e rompimento dos neurônios, sendo possivelmente fatal. Após administrar a água e soro deve-se diagnosticar e tratar a causa primária da hiperosmolaridade.[12]
Diuréticos de alça de Henle inibindo a reabsorção de sódio podem ser usados para aumentar a excreção de sódio na urina, caso não haja desidratação.
Referências
- ↑ a b c Vieira Neto, Moysés Neto 2003, p. 325-337.
- ↑ a b Muhsin, Mount 2016, p. 189-203.
- ↑ a b c d e f Reynolds et al 2006, p. 702-705.
- ↑ a b Lin et al 2005, p. 749-770.
- ↑ a b Marini, Wheeler 1999, p. 227.
- ↑ Kuruvilla 2007, p. 329.
- ↑ a b Howard, Berl 2012, p. 28-31.
- ↑ Greenbaum 2015, p. 348.
- ↑ Dutra et al 2012, p. 410-419.
- ↑ Lin, M; Liu, SJ; Lim, IT (agosto de 2005). «Disorders of water imbalance.». Emergency Medicine Clinics of North America. 23 (3): 749–70, ix. PMID 15982544. doi:10.1016/j.emc.2005.03.001
- ↑ http://www.jem-journal.com/article/S0736-4679%2813%2900202-3/abstract
- ↑ a b Abreu 2002, p. 100-110.
- ↑ Ofran, Y., Lavi, D., Opher, D., Weiss, T. A. and Elinav, E. (2004), Fatal voluntary salt intake resulting in the highest ever documented sodium plasma level in adults (255 mmol L−1): a disorder linked to female gender and psychiatric disorders. Journal of Internal Medicine, 256: 525–528. doi: 10.1111/j.1365-2796.2004.01411.x
- ↑ Reynolds, Rebecca; Padfield PL, Seckl JR (25 March 2006). "Disorders of sodium balance". BMJ 332 (7543): 702–705. doi:10.1136/bmj.332.7543.702. PMID 16565125. Retrieved 15 September 2013.
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 23 de agosto de 2014. Arquivado do original em 20 de outubro de 2013
Bibliografia
editar- Abreu, C.P (2002). «Hipernatremia: uma revisão» (PDF). Medicina Interna. 9 (2): 100-110. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Dutra, V.F.; Tallo, F.S.; Rodrigues, F.T.; Vendrame, L.S.; Lopes, R.D.; Lopes, A.C (2012). «Desequilíbrios hidroeletrolíticos na sala de emergência» (PDF). Revista Brasileira de Clínica Médica. 10 (5): 410-419. ISSN 1679-1010. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Greenbaum, L.A. (2015). «Capítulo 55: Electrolyte and acid-base disorders: subcapítulo 55.2: Regulation of osmolality and volume». In: Kliegman, R.M.; Stanton, B.F.; St. Geme III, J.W.; Schor, N.F.; Behrman, R.E. Nelson Textbook of Pediatrics (em inglês). volume 1 20ª ed. Filadélfia: Elsevier. p. 348. ISBN 978-1-4557-7566-8. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Howard, C.; Berl, T. (2012). «Capítulo 3: Distúrbios do balanço hídrico: hiponatremia e hipernatremia». In: Lerma, E.V.; Berns, J.S.; Nissenson, A.R. CURRENT: Nefrologia e Hipertensão 1ª ed. São Paulo: AMGH. pp. 28–31. ISBN 9788563308610. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Kuruvilla, J. (2008). «Capítulo 5: Surgical Components of Critical Care Nursing: Fluid and Electrolyte Imbalance». Essentials of Critical Care Nursing (em inglês) 1ª ed. Nova Délhi: Jaypee Brothers. p. 329. ISBN 81-8061-920-6. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Lin, M.; Liu, S.J.; Lim, I.T (agosto de 2005). «Disorders of water imbalance». Emergency Medicine Clinics of North America (em inglês). 23 (3): 749-770. ISSN 0733-8627. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Marini, J.J.; Wheeler, A.P. (1999). «Capítulo 13: Distúrbios hidroeletrolíticos». Terapia intensiva: o essencial 2ª ed. São Paulo: Manole. 227 páginas. ISBN 85-204-0807-9. Consultado em 14 de setembro de 2016
- Muhsin, S.A.; Mount, D.B (março de 2016). «Diagnosis and treatment of hypernatremia». Clinical Endocrinology & Metabolism (em inglês). 30 (2): 189-203. ISSN 1945-7197. Consultado em 12 de setembro de 2016
- Reynolds, R.M.; Padfield, P.L.; Seckl, J.R (março de 2006). «Disorders of sodium balance». The BMJ (em inglês). 332 (7543): 702-705. ISSN 1756-1833. Consultado em 12 de setembro de 2016
- Vieira Neto, O.M.; Moysés Neto, M (2003). «Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico» (PDF). Revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 36 (2/4): 325-337. ISSN 2176-7262. Consultado em 14 de setembro de 2016