História das Crianças no Brasil
História das crianças no Brasil é um livro que trata das particularidades das crianças comuns que fazem parte da História do Brasil desde antes do descobrimento. Organizado por Mary Lucy Murray Del Priore, professora e pesquisadora da USP, foi publicado inicialmente em 1991 pela Editora Contexto, segunda edição em 1999, agraciado com o Prêmio Casa Grande & Senzala da Fundação Joaquim Nabuco no ano de 2000.
Resumo
editarO livro tem como base a chamada Nova História, tendência iniciada na década de 1980 por historiadores que dirigiram suas pesquisas para dar voz aos silenciados: crianças, mulheres e vítimas de preconceito.
A autora cita ainda Gilberto Freire, que em seu livro Em Tempo Morto, Outros Tempos diz que desejou escrever um livro chamado A História do Menino Brasileiro, onde contaria a passagem da infância à vida adulta sem ter adolescência.
A obra é composta por uma Introdução e 9 capítulos, cujos títulos e autores são os seguintes:
- O Papel Branco, a Infancia e os Jesuítas na Colônia - Mary Del Priore
- O Senado da Camara e as Crianças Expostas - Laura de Mello e Souza
- Pedofilia e Pederastia no Brasil Antigo - Luiz Mott
- Abandono de Crianças Negras no Rio de Janeiro - Lana Lage da Gama Lima/Renato Pinto Venancio
- O Filho da Escrava - Kátia de Queirós Mattoso
- O óbvio e o Contraditório da Roda - Miriam Lifchitz Moreira Leite
- Infancia Operária e Acidente do Trabalho em São Paulo - Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura
- A Origem do Conceito Menor - Fernando Torres Londono
- O Menor no Brasil Republicano - Edson Passetti
Fases da infância
editarO livro relata que durante muito tempo o papel da criança na história foi negligenciado. Era incerta a sobrevivência, pela falta de cuidados e tecnologia e pelos altos índices de natalidade. A alta taxa de mortalidade aliada às crenças religiosas de que era mais um anjo no céu levava a que se considerassem as crianças como adultos de tamanho reduzido.
A verdade é que perder um filho pequeno nunca foi, para a família patriarcal, a mesma dor profunda que para uma família de hoje. O anjo ia para o céu. Para junto de Nosso Senhor, insaciável em cercar-se de anjos (Gilberto Freire, Casa-Grande & Senzala).
São revelas também duas outras características gerais da infância dessa época antiga: a alta taxa de ilegitimidade e o trabalho precoce. Divide ainda a população infantil segundo sua origem social, entre originários da elite, das famílias escravas e dos índios, as três classes mais representadas então.
As crianças da elite
editarDepois do descobrimento do Brasil, chegaram as primeiras famílias colonizadoras e com elas vieram as crianças portuguesas, de diferentes classes sociais: a classe mais alta, formada pelos nobres da corte e as famílias mais simples, mas que também possuíam algum poder social. Nessas classes, além da mãe, do pai e dos filhos, havia uma variedade de coadjuvantes como os professores particulares, as aias, as amas, as babás, as criadas etc.
Um dado marcante era que quanto mais alta fosse a classe social dos pais, mais distantes estavam eles dos filhos. A amamentação era considerada uma tarefa exaustiva para a mãe. Anúncios de oferecimento de amas-de-leite eram publicadas nos jornais, onde estavam incluídas outras informações, como a idade da ama e o período de lactação, ou seja, o tempo que ela poderia amamentar.
Programadas para manter a exclusão social, ao chegar a certa idade eram afastadas de mucamas e amigos de infância filhos de escravos e enviados a estudar fora.
Índios
editarAs crianças índias eram chamadas de "curumins" e, desde cedo, já ajudavam os pais no plantio, na colheita, na caça e pesca etc.
As mães indias tinham um cuidado especial com a higiene, banhando as crianças várias vezes ao dia. Nas aldeias e agrupamentos índigenas, antes do descobrimento do Brasil e do povoamento das terras brasileiras, as crianças já se divertiam e tinha um papel nas aldeias. Quando completavam quatro ou cinco anos aprendiam a caçar, a andar pela floresta, a pescar e a fazer seus próprios brinquedos.
Os meninos ficavam com as tarefas mais difíceis e de maior responsabilidade e as meninas aprendiam com as mães a tecer redes, limpar as ocas, a plantar e a colher, mas também aprendiam a sustentar a família, como os meninos.
Depois do descobrimento muitos índios foram escravizados; filhos de escravos eram vendidos ou iam trabalhar em casas de barões.
As crianças filhas de escravos negros
editarA partir dos sete anos, as crianças dos escravos já podiam ser separados dos pais e vendidas para trabalhar para outras famílias. Às vezes os nobres compravam os escravos crianças com a finalidade de proporcionar uma distração para os filhos, para serem companheiros nas brincadeiras. Maus tratos eram freqüentes.
As crianças costumavam acompanhar a mãe no trabalho no campo e já ajudavam a plantar e colher desde pequenas. Um dado pouco conhecido é que cerca de vinte por cento dos transportados em navios de tráfico eram crianças, preferidos por ocuparem menos espaço e comerem menos. Eram capturadas nas ruas da África ou ainda compradas aos pais por preço vil.
A Lei do Ventre Livre
editarA Lei do Ventre Livre foi uma lei assinada em 1871 e que tornou livres as crianças filhas de mães escravas, mais somente até a idade infantil terminar , pois quando elas eram jovens eram vendidas e compradas pelos donos de fazendas e pela família Real.
- "Art. 1° - Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data dessa lei serão consideradas de condições livre."
Vários artifícios na lei permitiam que os senhores não perdessem seus trabalhadores, aumentando o índice de mortalidade infantil, pois o descaso com os recém nascidos por parte dos senhores era grande.
Os Voluntários da Pátria
editarGrande parte do contingente forçado que lutou na Guerra do Paraguai eram crianças. A obtenção de voluntários consistia em fechar uma rua de movimento em uma determinada cidade e obrigar todos os aptos a se alistarem a ponta de baioneta. O fato de ser criança não era impedimento e muitas foram à guerra. Muitas crianças abandonadas que perambulavam pelas cidades também eram obrigadas por chefes de polícia a irem para a guerra. Por serem mais fáceis de repor, eram utilizadas em tarefas mais perigosas, como carregar pólvora e municiar canhões.
Conclusão
editarAtualmente, num contexto demográfico muito diferente, a criança passou a ser valorizada pela sociedade e os historiadores passaram a dedicar um novo olhar à questão, embora a falta de dados dificulte muito a pesquisa.