História de Ortigueira (Paraná)
A História de Ortigueira teve início quando os primitivos autóctones, indígenas da nação Tupi-Guarani, ocuparam os campos nativos do Segundo Planalto Paranaense. As terras de Ortigueira além de indígenas, tiveram a presença de jesuítas, bandeirantes, tropeiros, imigrantes e diversos exploradores, que contribuíram para o contexto histórico local e regional.[1][2][3]
Origens e antecedentes
editarO atual território de Ortigueira pertenceu ao extinto território da República do Guairá.[4] Portanto, na década de 1620 os jesuítas espanhóis fundaram mais de onze reduções no Guayrá, entre elas Nuestra Señora de la Encarnación,[4] no vale do rio Tibagi, na atual localidade de Natingui.[5][6][7] Logo, a partir de 1627, começaram os ataques bandeirantes em busca de indígenas fora das reduções[8] e os indígenas sobreviventes nas reduções restantes (Loreto e San Ignacio Mini), no final de 1631, protagonizaram o Êxodo Guairenho, afastando muitos nativos da região.[7][9]
Ocupação e colonização
editarA primeira denominação que se deu ao atual município de Ortigueira foi Queimadas. Tudo começou com Adolpho Alves de Souza, Domiciano Cordeiro dos Santos e Marcílio Rodrigues de Almeira no início do século XX.[1] Os três sertanejos procediam da região denominada Socavão, no município de Castro e procuravam um lugar para se estabelecerem. Em busca de solo fértil e farto, partiram sem destino definido rumo a Serra de Ortigueira, então município de Tibagi, e em mente tinham a esperança de encontrarem o local ideal para dar guarida às suas famílias.[1]
Passaram por Castro, Tibagi e depois entraram no sertão desconhecido, em região serrana da margem esquerda do Rio Tibagi. Instalaram-se num outeiro chamado Monjolinho e ali formaram um pequeno povoado.[1] Nesta época as cercanias eram habitadas por tribos indígenas, senhores da região desde tempos imemoriais. Sinal deste domínio é que ainda prevalece a presença de duas reservas indígenas neste território: Mococa (848 ha.) com 78 habitantes e Queimadas (3.081 ha.) com 336 remanescentes dos índios Caingangues.
Quando os forasteiros chegaram em um rio a que denominaram Formigas, os desbravadores se depararam com espesso taquaral, que lhes dificultava o acesso. Não titubearam e atearam fogo no tabocal, que seco, disse chamas numa área de aproximadamente 300 alqueires de terras.[1] Quando a queimada assentou cinzas, os desbravadores ali se estabeleceram e no dia 1º de setembro de 1905 deitaram as primeiras sementes de feijão no chão de terra fofa. O resultado da colheita foi espetacular, a fertilidade do solo era de longe, muito melhor que a esperada. Este fato, aliada à exuberância da paisagem, motivou nossos pioneiros a permanecerem ali.
Não demorou muito e o trio pioneiro disseminou aos quatro cantos os predicados do lugar. Logo outras famílias vieram se juntar a eles. Nasce então a Vila de Queimadas e a procura do lugar continuou. O ex-soldado Isidoro da Rocha Pinto se torna o primeiro professor da povoação. Em 9 de abril de 1916 chega o carioca Manuel Teixeira Guimarães, que não tardou a se casar com a moça do lugar; em seguida foi a vez de Salvador Donato se estabelecer, dando grande impulso ao progresso de Queimadas.[1] Prestou grande serviço espiritual ao povo de Queimadas o padre João Bragas.
Por volta de 1920 foi criada pela comunidade ucraniana a Colônia Caetê, a oeste da sede municipal.[2][10] Já ao sul da sede, foi formada a partir de 1932 a Colônia Augusta Vitória, com descendentes de alemães que vieram tanto de regiões do Paraná como de Santa Catarina.[10] O governo alemão, por meio do seu cônsul no Paraná, esteve diretamente envolvido na criação da colônia, incentivando a vinda de colonos devido a fatores políticos que ocorriam na Alemanha.[11][12]
No passado o garimpo foi a principal atividade econômica local.[3] Contudo, a prática garimpeira foi sendo substituída pela agricultura, pecuária e apicultura.[13][14] Outro ciclo econômico importante no passado foi o ciclo dos porcadeiros, que desenvolveram a suinocultura no município.[1] Os safristas ou "tropeiros de porcos" levavam os animais para centros urbanos como Guarapuava, Ponta Grossa e Jaguariaíva, onde produziam a gordura animal e depois revendiam para outros mercados consumidores, como São Paulo.[3][15] Deste ciclo econômico, o município preservou o hábito de consumo de carne suína, sendo o prato típico de Ortigueira a costelinha de porco no mel.[16][17] Atualmente, o município apresenta o maior rebanho bovino do Paraná.[3]
Emancipação e formação administrativa
editarEm 9 de abril de 1921 Queimadas é elevada à categoria de Distrito Judiciário no município de Tibagi. Nesta ocasião foi empossado como Sub-Delegado de polícia Francisco Barboza de Macedo e o primeiro Juiz de Paz foi Salvador Donato. O Cartório de Paz foi instalado em 9 de novembro de 1921, sendo primeiro Escrivão Tabelião o sr. Manuel Teixeira Guimarães.
O distrito policial de Lajeado Bonito foi criado pelo Decreto nº 1.579, de 4 de setembro de 1929.[18] Em 17 de março de 1928 foi criado pela Lei nº 2511 o Distrito de Monjolinho. Pela Lei nº 2713 de 20 de março de 1930 foi criado o distrito de Bela Vista. Em 21 de agosto de 1933 foi criado pela Lei nº 185 o distrito de Lajeado Bonito.[1] Pelo decreto-lei estadual n.º 199, de 30 de dezembro de 1943, o distrito de Queimadas passou a denominar-se Ortigueira. Sob o mesmo decreto o distrito de Bela Vista passou a denominar-se Natingui.[19] Em 14 de novembro de 1957 foi criado o Distrito do Barreiro.[10]
Em 15 de novembro de 1951, pela Lei Estadual nº 790, sancionada pelo governador Bento Munhoz da Rocha Netto, foi criado o município, com denominação alterada para Ortigueira, justa homenagem a Serra da Ortigueira e a Ortigueira na Espanha de onde saíram navegantes e desbravadores que denominaram a serra em homenagem a sua cidade natal em país distante. A instalação se deu em 14 de dezembro de 1952, sendo primeiro prefeito municipal Francisco Sady de Brito.[10]
Referências
- ↑ a b c d e f g h IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. «Ortigueira - História». Consultado em 29 de outubro de 2020
- ↑ a b (uma pesquisa do projeto TERNOPAR) / Maria del Carmen M.H. Calvante; Wladimir Cesar Fuscaldo; Angelo Spoladore (organizadores). (2010). «Turismo em pequenos municípios: Ortigueira - Paraná» (PDF). Midiograf. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 31 de outubro de 2020
- ↑ a b c d Governo do Paraná. «Lazer e diversão em meio a natureza exuberante». Viaje Paraná. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 18 de setembro de 2020
- ↑ a b Hellê Vellozo Fernandes (1973). «Monte Alegre Cidade-Papel». Klabin. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 12 de novembro de 2016
- ↑ Darcy Ribeiro; Carlos de Araújo Moreira (1992). «La fundación de Brasil: testimonios 1500-1700». Biblioteca Ayacucho. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019
- ↑ Saul Bogoni (2008). «O Discurso de Resistência e Revide em Conquista Espiritual (1639), de Antonio Ruiz de Montoya: Ação e Reação Jesuítica e Indígena na Colonização Ibérica da Região do Guairá - Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação (Mestrado) em Letras» (PDF). Universidade Estadual de Maringá. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 12 de novembro de 2016
- ↑ a b ASSUMPÇÃO, T. L. (1982). «História geral dos Jesuítas». Moraes. Livro
- ↑ CORTESÃO, Jaime (1951). «Jesuítas e Bandeirantes no Guaíra (1549-1640) (manuscritos da Coleção de Angelis)». Biblioteca Nacional. Livro. 1
- ↑ Domingos van Erven (2013). «O Paraná "Espanhol"». Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2020
- ↑ a b c d issuu.com (7 de novembro de 2019). «Edição 41 Ortigueira». Consultado em 29 de outubro de 2020
- ↑ Tatiana Colasante (2010). «A relação entre patrimônio histórico-cultural e memória no município de Ortigueira-PR e sua pontencialidade para o turismo.» (PDF). Universidade Estadual de Londrina. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 3 de novembro de 2020
- ↑ José Alves (2004). «A dinâmica agrária do município de Ortigueira (PR) e a reprodução social dos produtores familiares: uma análise das comunidades ruais de Pinhalzinho e Vila Rica.» (PDF). Universidade Estadual Paulista. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 3 de novembro de 2020
- ↑ «Ortigueira é 1º município do estado em produção de mel e 2º maior produtor do Brasil». Portal Ortigueira. 27 de outubro de 2011. Consultado em 29 de outubro de 2020
- ↑ «Indicações Geográficas do Paraná». Sebrae Paraná. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 1 de junho de 2020
- ↑ Nilson Cesar Fraga; Mateus Galvão Cavatorta; Cleverson Gonçalves (2017). «Tropeiros de porcos: a importância dos porcadeiros e da suinocultura na formação socioespacial de Pitanga (PR).». Revista Tamoios. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 1 de novembro de 2020
- ↑ Michele Pavoni (21 de abril de 2018). «Sabores dos Campos Gerais: receitas típicas para fazer em casa». Diário dos Campos. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2019
- ↑ «Sabor de Ortigueira é apresentado à AMCG Cultura». A Rede. 27 de abril de 2018. Consultado em 29 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2020
- ↑ Prefeitura Municipal de Tibagi (1934). «História de Tibagi». Consultado em 2 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 3 de novembro de 2020
- ↑ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. «Histórico de Tibagi» (PDF). Consultado em 2 de novembro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 3 de novembro de 2020