Igreja de Santa Cecília (Porto Alegre)

igreja em Porto Alegre, Brasil

A Igreja de Santa Cecília é um templo católico da cidade brasileira de Porto Alegre, sede de uma paróquia, localizado à rua Santa Cecília.

Igreja de Santa Cecília
Igreja de Santa Cecília (Porto Alegre)
Informações gerais
Construção 1943
Diocese Arquidiocese de Porto Alegre
Geografia
País Brasil
Localização Porto Alegre,  Brasil
Coordenadas 30° 02′ 32″ S, 51° 11′ 52″ O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

História

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A devoção a Santa Cecília, padroeira dos músicos, está presente na cidade desde suas origens,[1] mas uma paróquia especial só foi criada no século XX após a mobilização da comunidade. Em meados de 1941 uma comissão composta pelos párocos das igrejas Nossa Senhora da Piedade, São Sebastião e São Francisco, dirigiu um ofício ao arcebispo Dom João Becker propondo a formação de uma paróquia nova na confluência das três ditas paróquias, a fim de melhor atender às necessidades espirituais dos moradores desta região. O arcebispo concordou e em dezembro de 1942 o cônego Mathias Wagner foi incumbido de preparar a instalação. Em 21 de novembro de 1943 a paróquia foi fundada e a pedra fundamental da futura igreja foi benta pelo arcebispo. A cerimônia foi atendida por grande multidão.[2]

Não havendo ainda um templo, a primeira missa foi celebrada debaixo de uma árvore em 9 de janeiro de 1944.[3] Pouco depois foi erguida uma pequena capela provisória anexa à residência de João Francisco Franceschini,[4] e foi fundada uma escola vinculada à capela, o Instituto Santa Cecília, sendo principais colaboradores nesta etapa o deputado Albano Volkmer, Armando Martau e João Franceschini.[5]

Em 1949 iniciaram os planos para a construção da igreja definitiva, constituindo-se uma comissão de obras composta por Augusto Gavioli, presidente; Paulo Weber, 1º vice; Leônidas Marques, 2º vice; Hélio Rodrigues, 1º secretário, e Otacílio Guterres, 2º secretário. O Conselho Técnico de Construção tinha como presidente Ariovaldo Janson, e o Conselho Fiscal estava a cargo de Hugo Hoffmann, Caetano Meneghini e Âgelo Cauduro.[5] Em 22 de novembro de 1951 o arcebispo Dom Vicente Scherer benzeu a inclusão, na pedra fundamental da igreja, de um punhado de terra trazido da tumba de Santa Cecília em Roma.[4] As obras terminaram em 1952, sendo a igreja consagrada e inaugurada em 16 de novembro.[1] Em 1957 as colunas foram reformadas.[6] A torre sineira, no lado direito, só foi terminada em 2004.[1]

Antes mesmo de ser inaugurada a igreja definitiva a comunidade já desenvolvia variadas atividades. Em 1947 o então pároco Luiz de Nadal, uma figura de importância decisiva na organização e dinamização das atividades da paróquia,[7] junto com os sodalícios, estavam envolvidos em uma grande campanha para dar a todas as famílias católicas acesso a um jornal católico.[8] Em 1949 já era registrada a tradição das novenas em honra da padroeira, que atraíam grande número de devotos. No mesmo ano a igreja já dispunha de um coral estável, dirigido por Aracy Godoy Gavioli, e eram realizadas festividades sociais com atrações populares.[9][10] A seção paroquial da Juventude Católica organizava eventos teatrais e beneficentes em prol das obras de construção.[11]

 
Imagem de Santa Cecília no altar-mor

Em 1950 a paróquia já contava com cerca de 11 mil paroquianos.[3] A Rádio Difusora mantinha um programa diário transmitido a partir da igreja, para a reza do Angelus,[12] o pároco Nadal mantinha outros programas radiofônicos voltados para as crianças, estimulava grupos da Ação Católica, da Congregação Mariana Auxilium Cristianorum, da Legião Medianeira, e mantinha um Departamento de Ação Social, que dava aos paroquianos atendimento dentário e médico, assistência pré-natal, assistência infantil, distribuição de alimentos e mamadeiras, creche e atividades esportivas, além de supervisionar o funcionamento do Instituto Santa Cecília,[3] e preparar a construção da Casa da Criança.[13] Neste ano, para comemorar o aniversário de fundação da paróquia, foram organizados festejos populares, missa solene festiva, missas de ação de graças e um grande espetáculo artístico no Theatro São Pedro, com números de canto, dança e música instrumental.[2]

Em 1953 iniciaram os tríduos em louvor de Santo Antônio, que segundo a imprensa também tinham grande assistência.[14] Em 1953, sendo pároco o padre Augusto Dalvit, iniciou o movimento pela construção de um ginásio católico. Dalvit foi substituído pelo pároco Máximo Benvegau, que deu novo impulso ao movimento, recebendo a adesão de grande número de paroquianos, resultando na ampliação do prédio e mudança dos estatutos do Instituto Santa Cecília, então uma escola primária, para absorver as funções de ginásio.[15] O Instituto foi reinaugurado em 1958 e os novos cursos iniciariam em 1959, sob a direção do professor Agostinho Thiessen e aulas a cargo das Irmãs Vicentinas, recebendo alunos de ambos os sexos.[16]

Em 1954 foi fundado o grupo Bases Missionárias, destinado a estimular uma renovação nas atividades da igreja.[17] Em 1957 a Rádio Farroupilha transmitia da igreja os programas Clube do Guri e Domingo Alegre.[18] O 7º aniversário do falecimento de Teixeirinha em 1969 foi celebrado com culto na igreja, com a presença do superintendente dos Diários Associados e representantes de vários setores da sociedade,[19] e lá foi celebrada em 1992 a missa de 30º dia de falecimento do maestro da OSPA Arlindo Teixeira.[20]

O cultivo da música sempre fez parte das atividades da igreja. O órgão foi construído pelo Irmão Renato Koch.[21] Em 2020 o organista titular e regente de música sacra era Leandro Har Cardoso.[22] Muitos concertos já foram realizados em diferentes formatos. Em 1978 foi a sede de um festival de coros com a participação de grupos da capital, de Caxias do Sul, Pelotas, Passo Fundo e Santa Maria.[23] Em 1979 foi sede do concerto comemorativo do 25º aniversário do Centro Cultural 25 de Julho, a cargo do maestro Nestor Wennholz.[20] Em 2011 a OSPA realizou ali seu 26° Concerto da Temporada Oficial, em homenagem ao Dia do Músico. Na ocasião, a OSPA entregou pela primeira vez a Comenda Santa Cecília, criada para destacar pessoas e entidades que contribuíram para o engrandecimento da orquestra.[24] Ainda em 2011 o Coral da Universidade Federal do Rio Grande do Sul comemorou seus 50 anos com um recital na igreja.[25]

O edifício

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Interior

A fachada mostra linhas modernistas auteras, com alguns traços românicos, e é dominada por um grande arco redondo com um vitral em cruz grega em seu interior, representando Santa Cecília tocando harpa e rodeada de anjos. Lateralmente, janelas em arco também apresentam vitrais. A entrada se faz por um pequeno lance de escadas, e à esquerda, junto à base do edifício, uma inscrição gravada em pedra indica o local onde foi incorporada à construção uma porção de terra proveniente da tumba da Santa em Roma.[1]

O interior é amplo e despojado, dividido em três naves, separadas entre si por uma série de arcos apoiados sobre colunas. As naves laterais são estreitas e têm a função apenas de deambulatório, e mostram capelinhas com a Via Sacra. Existe um coro sobre a entrada, e à esquerda da entrada uma sala funciona como batistério. Junto ao altar-mor, à esquerda, está instalado um pequeno órgão de tubos. Nas paredes, tanto no nível térreo como no clerestório, pares de janelas decoradas com vitrais ilustram os Sacramentos, as invocações da Virgem Maria e cenas da vida de Jesus. Chamam a atenção os três grandes candelabros metálicos que pendem do teto, com rica decoração fitomórfica, projetados pelo Irmão Renato Koch.[1]

A capela-mor, ligeiramente elevada, está inclusa em um espaço absidal delimitado por um grande arco redondo guarnecido com peanhas onde estão instalados grandes anjos tocheiros. O retábulo de pedra ostenta imagens de Santo Antônio, São José e, ao centro, em um nicho, da Padroeira da igreja tocando harpa, em tamanho natural. Ladeando a capela-mor há nichos para imagens do Sagrado Coração de Maria, à esquerda, e de Sagrado Coração de Jesus, à direita.[1]

Ver também

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Commons
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Referências

  1. a b c d e f Flores, Moacyr. "História das Igrejas de Porto Alegre". In: Vargas, Élvio (ed.). Torres da Província: História e Iconografia das Igrejas de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura de Porto Alegre / Fumproarte, 2004, pp. 96-99
  2. a b "Vida Católica". Jornal do Dia, 21/11/1950
  3. a b c "A Paróquia de Santa Cecília". Jornal do Dia, 09/05/1950
  4. a b "Paróquia de Santa Cecília". Jornal do Dia, 22/11/1951
  5. a b "Paróquia de Santa Cecília". Jornal do Dia, 24/04/1949
  6. "Registro Social". Jornal do Dia, 10/10/1957
  7. "Monsenhor Luiz de Nadal". Correio Riograndense, 25/05/1955
  8. "Campanha dos 10.000". Jornal do Dia, 04/10/1947
  9. "Vida Católica". Jornal do Dia, 13/11/1949
  10. "Vida Católica". Jornal do Dia, 13/11/1952
  11. "Notas de Arte". Jornal do Dia, 11/12/1949
  12. "A Hora do Angelus". Jornal do Dia, 26/01/1950
  13. "Bailes e festas". Jornal do Dia, 25/11/1950
  14. "Vida Católica". Jornal do Dia, 12/05/1953
  15. "Movimento Pró-Ginásio Católico". Jornal do Dia, 20/12/1958
  16. "Ginásio Católico em Petrópolis". Jornal do Dia, 20/12/1958
  17. "Lançamento das Bases Missionárias na Paróquia de Santa Cecília". Jornal do Dia, 25/05/1954
  18. "Clube do Guri na Paróquia S. Cecília". Diário de Notícias, 22/02/1957
  19. "Ruy Teixeira foi recordado ontem". Diário de Notícias, 17/06/1969
  20. a b Boff, Angélica. "Coral 25 de Julho: Linha do Tempo". Expresso 25, mar/2017
  21. Kerr, Dorotéa Machado. Possíveis causas do declínio do Órgão no Brasil. Mestrado. UFRJ, 1985, p. 1077
  22. Alonso, Henrique. "Música e espiritualidade". Revista Rainha, 04/08/2020
  23. Teixeira, Lúcia Helena Pereira. Festivais de Coros do Rio Grande do Sul (1963-1978): práticas músico-educativas de coros, regentes e plateia. Doutorado. UFRGS, 2015, p. 216
  24. "Ospa terá concerto gratuito em homenagem ao Dia do Músico". Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 21/11/2011
  25. "Ex-aluno do Projeto Prelúdio rege Coral da UFRGS no seu 50º ano de atividades". Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Porto Alegre, 01/08/2011