Igreja do Recolhimento de Santa Maria Madalena (Vila do Porto)
A Igreja do Recolhimento de Santa Maria Madalena, também referida como Capela de Santa Maria Madalena ou Capela de Nossa Senhora das Dores, localiza-se na freguesia da Vila do Porto, concelho da Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, nos Açores.
História
editarO convento foi instituído em 3 de fevereiro de 1594, pelo padre Manuel Curvelo de Resende que, juntamente com seus irmãos e cunhados - João Tomé Velho e sua esposa, Camila de Resende, Nuno Curvelo e Catarina Fernandes, Maria de Sousa, viúva de Filipe Jácome, e Cristóvão Vaz Faleiro - decidiram instituir na vila um convento da Ordem das Clarissas, tendo como orago Santa Maria Madalena. Destinava-se a internar as filhas dos instituidores, sobrinhas do padre Resende.[1]
Nele destaca-se a capela, onde foi celebrada missa, pela primeira vez, em 18 de abril de 1600. Em 1604, no dia de Santa Maria Madalena, deram entrada no recolhimento as filhas dos fundadores.[2]
Em 15 de novembro de 1612, o padre Curvelo foi ao Continente para obter o Breve de Sua Santidade que permitiria ao convento tornar-se clausura das Clarissas. Contraiu peste entretanto, vindo a falecer em Almada, e deixando ao Convento em testamento os seus bens.[3]
Quando do ataque dos piratas da Barbária em junho de 1616, o primitivo convento foi também incendiado, ficando reduzido a um modesto oratório que durante muitos anos ficou a pertencer à Ordem de Santa Clara. Neste ataque terá se perdido o Breve Pontifício obtido pelo fundador.[4]
Em 1669, o capitão António Curvelo de Resende reedificou a igreja e o recolhimento, assim como a capela-mor e a sacristia e reivindicou as terras das courelas que haviam sido aforadas desde 1649. Na gestão deste padroeiro, o Recolhimento foi visitado pelo então bispo da Diocese de Angra, D. Frei Lourenço de Castro.[5]
Uma vez que era de natureza rudimentar, o bispo de Angra, por Alvará de 14 de maio de 1691, determinou a sua restauração e a execução do altar-mor.
Encontra-se referida por MONTE ALVERNE (1986) ao final do século XVII.[6]
Durante a gestão do padre António Curvelo Delgado, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, procedeu-se ao aumento do retábulo da capela-mor, fez-se um camarim para o Santíssimo Sacramento, uma escritura para terem sacrário no Recolhimento (datada de 2 de outubro de 1717), ergueu-se a torre sineira e obtiveram-se dois sinos para a mesma, bem como dois palratórios para, pelas suas grades, as recolhidas poderem ver as procissões.[5]
Na gestão de Inácio Manuel de Sousa de Resende, em 1801 foram destinados recursos para trabalhos de pintura e douramento do altar-mor e do de São João Nepomuceno. Estes, entretanto, apenas foram procedidos em 1841, procedendo-se ainda a pintura do restante da igreja.[7]
Em 1938 a instituição obteve estatutos aprovados pelo Governador Civil de Ponta Delgada, com o título de "Asilo de Santa Maria Magdalena" com os quais atualmente se rege.[8]
Do primitivo convento não nos resta nenhum elemento arquitectónico do século XVI. Chegou-nos, além da igreja, a torre da portaria, dado que o conjunto sofreu diversas alterações ao longo dos séculos. Era neste convento que se localizava outrora a "roda dos órfãos" ou "roda dos expostos".
Devassa dos Tabacos
editarSob o reinado de Maria I de Portugal, teve lugar uma devassa efetuada pelo Juiz Conservador dos Tabacos e Saboarias da Ilha de Santa Maria, em 1793, acerca do contrabando de tabaco que se praticava nos três Recolhimentos de Vila do Porto (Nossa Senhora da Conceição, Santo António e Santa Maria Madalena). A soberana ordenou aquele funcionário que admoestasse as regentes dos três Recolhimentos, advertindo-as que cada uma vigiasse e coibisse tal prática que classificava de "prejudicial" e "pecaminosa", sob pena de castigos.[9]
Padroado do Recolhimento de Santa Maria Madalena
editarAo longo da sua história, os padroeiros do Recolhimento foram:[10]
- Padre Manuel Curvelo de Resende (fundador);
- António Curvelo de Resende
- Padre João de Sousa de Resende
- Padre João de Sousa de Resende (sobrinho)
- Inácio de Sousa Resende (expulso por improbidade administrativa e substituído pelo)
- Capitão António Curvelo de Resende (que entretanto retornara de serviço no Estado do Maranhão)
- Padre António Curvelo Delgado
- Manuel de Sousa de Resende
- Manuel José Jácome
- Inácio Manuel de Sousa de Resende
- Antónia Isabel Cândida de Sousa (afastada por improbidade administrativa e substituída interinamente pelo Capitão Francisco Xavier da Câmara Puim)
- Francisco Afonso da Costa Chaves e Melo (que nomeou como procurador a Alexandre José de Barros, a quem se seguiu Joaquim Fernandes Monteiro Velho de Bettencourt e, posteriormente, António Lúcio Pinto)
- José Monteiro de Bettencourt
- Eugénio Muniz da Ponte
- José Urbano de Chaves Cabral
- Padre Joaquim de Chaves Cabral
Características
editarO interior da igreja apresenta nave única com capela-mor retangular, separada desta por um arco de volta perfeita em pedra em cujas ombreiras se salientam simulações de cunhais apilastrados, com bases comuns e capitéis. O extradorso do fecho do arco tem um brasão em pedra com um cálice em relevo.
Ao fundo da capela-mor da invocação de Santa Maria Madalena, encontra-se um retábulo colorido. O corpo da nave tem dois altares de canto, junto ao arco, do lado do Evangelho o de São João Nepomuceno e do lado da Epístola o de Nossa Senhora das Dores, e um púlpito em madeira (do lado do evangelho) com escadas e dossel no estilo rococó. No extremo oposto situam-se os coros (alto e baixo) separados da nave por uma malha em ripado de madeira formando uma espécie de trevo, singular por ser uma peça inteiriça, englobando os dois pavimentos. Existem dois altares no coro-baixo.
Na sacristia, com entrada pela capela-mor do lado do evangelho, encontram-se um arcaz em madeira e um lavabo, em pedra, com pia oval encimada por elementos decorativos com enrolamentos rematados por uma concha.
No corpo torreado existe uma inscrição que reza: "RECOLHIMENTO DE / SANTA MARIA MADALENA / FUNDADO EM 1594 / INSTITUIÇÃO PARTICULAR / DE SOLIDARIEDADE SOCIAL / FUNDADA EM 1937"
Referências
- ↑ Padroado de Santa Maria e seus Administradores. in Arquivo dos Açores, vol. XV, p. 163.
- ↑ Op. cit., p. 163.
- ↑ Op. cit., p. 163-164.
- ↑ Op. cit., p. 165.
- ↑ a b Op. cit., p. 168.
- ↑ Op. cit., cap. I.
- ↑ Op. cit., p. 173.
- ↑ Op. cit., p. 172.
- ↑ "Ordem sobre o contrabando de Tabaco feito nos Recolhimentos" in Arquivo dos Açores, vol. XV, p. 197.
- ↑ Op. cit., p. 163-172.
Bibliografia
editar- Arquivo dos Açores, vol. XV. Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1989. 496p.
- CARVALHO, Manuel Chaves. Igrejas e Ermidas de Santa Maria, em Verso. Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, 2001. 84p. fotos.
- FERREIRA, Adriano. Era uma vez... Santa Maria. Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, s.d.. 256p. fotos p/b cor.
- FERREIRA, Adriano. Recolhimento de Santa Maria Madalena (1594-2004). Vila do Porto (Açores): Nova Gráfica, Lda., 2004. 222p. fotos, genealogias.
- FIGUEIREDO, Jaime de. Ilha de Gonçalo Velho: da descoberta até ao Aeroporto (2ª ed.). Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, 1990. 160p. mapas, fotos, estatísticas.
- MONTE ALVERNE, Agostinho de (OFM). Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores (2ª ed.). Ponta Delgada (Açores): Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1986.
- MONTEREY, Guido de. Santa Maria e São Miguel (Açores): as duas ilhas do oriente. Porto: Ed. do Autor, 1981. 352p. fotos.
- Ficha A-25 do "Inventário do Património Histórico e Religioso para o Plano Director Municipal de Vila do Porto".
- Ficha 165/Santa Maria do "Levantamento do Património Arquitectónico da Vila do Porto", SREC/DRAC.
- "Recolhimento de Santa Maria Madalena - Breve Cronologia", Recolhimento de Santa Maria Madalena (folheto).
- "Recolhimento de Santa Maria Madalena - Perspectiva Histórica", Recolhimento de Santa Maria Madalena, Junho de 2000 (folheto).