Inácio José Filgueira

Inácio José Filgueira ou Filgueiras, também conhecido como Inácio Músico (Campos dos Goytacazes, ? — Porto Alegre, 12 de junho de 1834) foi um músico brasileiro.

A antiga Matriz em aquarela de 1852. Ao seu lado, o antigo Palácio de Barro.

Mulato, filho de escrava, sobre sua formação nada se sabe. Levado ao Rio Grande do Sul ainda criança, chegou em torno de 1777, tornando-se peão na fazenda do influente militar Rafael Pinto Bandeira em Rio Grande.[1]

Comprou sua alforria em 13 de maio de 1793 e dirigiu-se a Porto Alegre,[1] onde em abril de 1794 é mencionado comprando uma casa na Rua Formosa.[2] No mesmo ano batizou sua primeira filha, Sebastiana, que teve com Rosa Ferreira, também mulata forra, quando se atesta uma relação estreita com o governador da capitania, Sebastião da Câmara, que apadrinhou a criança. Entre 1798-99 atuou como fiscal das obras de reforma na casa do governador. Ganhou notoriedade ao assumir em torno de 1800 a importante posição de mestre-de-capela da Antiga Matriz de Porto Alegre.[1]

Em 1811 casou pela segunda vez, união que produziria mais sete filhos, dos quais cinco sobreviveram à infância. Teve um grande protetor no vigário da Matriz, o padre José Inácio dos Santos Pereira, que o conhecera já em Rio Grande, e que pode ter sido seu professor de música. Documentos escritos por Filgueira revelam uma caligrafia refinada e uma grande desenvoltura com a linguagem, evidenciado uma educação sólida. O vigário o defendeu em 1818, junto com os professores de música da capital, quando sua provisão inicial encerrou e sua renovação foi contestada, permanecendo no cargo até o fim da vida.[1]

Sua carreira profissional é mal conhecida, mas sabe-se que foi um mestre respeitado, versado no canto, na regência e no órgão. Registros da época o citam muitas vezes como o músico preferido para acompanhar procissões e outras solenidades civis e religiosas, também trabalhando para várias irmandades.[1][2] Contudo, sua origem escrava lhe causou uma série de dissabores, sendo alvo de constantes intrigas para removê-lo de sua posição. Depois de ter conseguido amealhar algum patrimônio, podendo dispor de dois escravos, casa própria e alguns itens de luxo como adornos e talheres de prata, faleceu na pobreza.[1]

Ver também

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Referências

  1. a b c d e f Lucas, Maria Elizabeth. "De escravo-peão a mestre de música: uma trajetória entre preconceito e cidadania na ordem escravagista da virada do século XIX". In: 8° Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Porto Alegre, 24-27/05/2017
  2. a b Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. EdiUFRGS, 4ª ed., 2006, p. 172