Isabel Freyre
Isabel Freyre (Beja, Reino de Portugal, c. 1507 - Toro, Espanha, c. 1536), também conhecida como Isabel Freyre de Andrade ou na ortografia moderna Isabel Freire de Andrade, foi uma nobre portuguesa a quem se atribuiu ser a principal inspiração para a personagem "Elisa" dos poemas de Garcilaso de la Vega.[1]
Isabel Freyre | |
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Isabel Freyre de Andrade Isabel Freire de Andrade | |
Nascimento | 1507 Beja, Reino de Portugal |
Morte | 1536 (29 anos) Toro, Espanha |
Cidadania | Reino de Portugal |
Progenitores |
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Cônjuge | Antonio de Fonseca, senhor de Villanueva de Cañedo |
Filho(a)(s) | Alonso de Fonseca Freire Antonio de Fonseca Freire Catalina de Fonseca Freire Guiomar de Fonseca Freire |
Biografia
editarNascida em Beja, no ano de 1507, D. Isabel Freyre de Andrade era filha de D. Guiomar Freyre de Andrade e de D. Bernardim de Almeida, sendo a mais nova dos dois filhos do casal e, por conseguinte, irmã de D. João de Almeida.[2] Pelo lado paterno era neta de D. João de Almeida, 2º conde de Abrantes e guarda-mor do rei D. João II, e de D. Inês de Noronha, e pelo lado materno de D. Nuno Freire de Andrade, descendente de D. Gomes Freire de Andrade, senhor de Bobadela, e de D. Isabel de Almeida. Era ainda tia de D. Francisco de Almeida e de D. Jerónimo de Almeida, ambos governadores de Angola.
Oriunda de influentes famílias da alta aristocracia e inserida na corte real portuguesa, em 1526, acompanhou D. Isabel de Portugal, filha do rei D. Manuel I de Portugal e de sua esposa D. Maria de Aragão e Castela, a Espanha, como sua dama de companhia, pela ocasião do seu casamento com Carlos I de Espanha e V do Sacro Império Romano-Germânico, filho de Filipe, o Belo da Casa Austríaca de Habsburgo e de Joana, a Louca da Casa Espanhola de Trastâmara.[3]
«Elisa soy, en cuyo nombre suena
y se lamenta el monte cavernoso,
testigo del dolor y grave pena
en que por mi se aflige Nemoroso
y llama 'Elisa'; 'Elisa' a boca llena
responde el Tajo, y leva presuroso
al mar de Lusitania el nombre mío,
donde será escuchado, yo lo fío.»
Garcilaso de la Vega
Considerada uma das donzelas mais belas da corte, durante o matrimónio do rei de Espanha, a nobre portuguesa captou não só a atenção do poeta e diplomata português Francisco Sá de Miranda como também dos poetas espanhóis Garcilaso de la Vega e Juan Boscán, criando-se um dos maiores mitos da literatura espanhola.[4][5] Apesar de Sá Miranda, Boscán e de la Vega nunca terem proferido publicamente sobre o seu amor ou revelado quem era a sua musa, enquanto o poeta português escrevia poemas dedicados à sua "Célia",[6] Boscán escreveu alguns sonetos para a "Doña Ysabel" e de la Vega escreveu outros tantos endereçados à sua "Galatea" ou ainda "Elisa", suposto anagrama para a dama portuguesa.[7][8] Segundo os historiadores e investigadores, outra suposta musa para de la Vega poderia ter sido D. Isabella Villamarina, princesa de Salerno,[9] ou ainda D. Beatriz de Sá, sua cunhada, descendente do fidalgo francês Maciot de Bettencourt e da princesa indígena Teguise Guanarteme, celebrada por vários poetas portugueses pela sua beleza, contudo ambas as teorias perderam força após ter sido conhecida a elegia fúnebre que Garcilaso de la Vega escreveu em memória de D. Isabel Freyre e terem sido publicadas novas análises literárias sobre as suas três églogas[10] comprovando que a presumível donzela seria a dama de companhia da rainha-consorte de Espanha.[11][12] Estando o poeta e militar espanhol de la Vega já casado quando conheceu D. Isabel, desconhece-se que tipo de relação existia entre os dois ou se o seu amor era correspondido, existindo várias versões e especulações.[13][14]
Acompanhando a rainha-consorte após a cerimónia e fixando-se posteriormente com a corte real espanhola em Toledo, entre outubro de 1528 e março de 1529, D. Isabel Freyre contraiu matrimonio com D. Antonio de Fonseca y Ulloa, El Gordo, regedor de Toro, futuro senhor de Villanueva de Cañedo, em Topas, filho de D. Gutierre de Fonseca e de D. Catalina de Ulloa, sendo herdeiro do morgado fundado pelo seu avô Alonso Ulloa de Fonseca Quijada, bispo de Ávila, Cuenca e Osma, de descendência portuguesa.[15] Do seu casamento estima-se que teve pelo menos quatro filhos:[1]
- Alonso de Fonseca Freire, casou com Juana Enríquez, natural de Zamora e membro da Casa de Alba, e herdou o título de senhor de Villanueva de Cañedo;
- Catalina de Fonseca Freire, casou com Pedro Enríquez, descendente da Casa de Alba e senhor de Quintana;
- Guiomar de Fonseca Freire, enveredou pela vida monástica no convento de Sancti Spiritus de Toro;
- Antonio de Fonseca Freire, terá falecido ainda criança.[16]
Apesar de existirem documentos da época que comprovam o seu matrimónio, devido ao seu mau estado ou a fracas traduções realizadas durante os séculos, sendo o seu nome erroneamente apontado em alguns documentos como Beatriz Frayla, considera-se incerto quantos filhos o casal teve ao todo ou os seus nomes correctos.[17]
Especula-se que D. Isabel Freyre tenha falecido após o quarto ou quinto parto, sendo sepultada no jazigo da família Fonseca, situado no mosteiro toresano de San Ildefonso, entre 1534 e 1536,[18] pouco antes de Garcilaso de la Vega também falecer, vítima de um ferimento mortal quando participava num ataque a um forte em Muy, próximo de Fréjus.[19]
Referências
- ↑ Braga, Teófilo (1885). Curso de historia da litteratura portugueza. [S.l.]: Nova Livraria Internacional
- ↑ Vega, Garcilaso de la; Morros, Bienvenido (2007). Obra poética y textos en prosa (em espanhol). [S.l.]: Grupo Planeta (GBS)
- ↑ Lemos, Antero Vieira de; Almoyna, Julio Martínez; Camões, Luís de (1971). A obra espanhola de Camões: estudo crítico. [S.l.]: Livraria Pax Editoria
- ↑ Magill, Frank Northen (1984). Critical Survey of Poetry: Foreign Language Series (em inglês). [S.l.]: Salem Press
- ↑ Laborde, Edward Dalrymple (1931). A History of Spanish Literature (em inglês). [S.l.]: W. Heinemann
- ↑ Miranda, Francisco de Sá de (1885). Poesias de Francisco de Sâ de Miranda: edição feita sobre cinco manuscriptos ineditos e todas as edições impressas. [S.l.]: M. Niemeyer
- ↑ Foster, David; Altamiranda, Daniel; Urioste, Carmen de (27 de dezembro de 2000). Spanish Literature: A Collection of Essays: From Origins to 1700 (Volume Two) (em inglês). [S.l.]: Routledge
- ↑ Heiple, Daniel L. (1994). Mars in the House of Venus: Garcilaso and the Italian Renaissance (em inglês). [S.l.]: Pennsylvania State University Press
- ↑ Morros, Bienvenido (10 de março de 2009). «La muerte de Isabel Freyre y el amor napolitano de Garcilaso. . Para una cronología de sus églogas y de otros poemas». Criticón (em espanhol) (105): 5–35. ISSN 0247-381X. doi:10.4000/criticon.12464
- ↑ Vega, Garcilaso de la (31 de agosto de 2010). Églogas (em inglês). [S.l.]: Linkgua
- ↑ Herbert, William (1842). Works of the Hon. and Very Rev. William Herbert: Horae pedestres, or prose works; excepting those on botany and natural history.-Attila, king of the Huns: Supplement to books 8, 11, 12 (em inglês). [S.l.: s.n.]
- ↑ Green, Otis Howard (1968). Spain and the Western Tradition: The Castilian Mind in Literature from El Cid to Calderón (em inglês). [S.l.]: University of Wisconsin Press
- ↑ Fernandez-Morera, Dario; Fernández-Morera, Darío (1982). The Lyre and the Oaten Flute: Garcilaso and the Pastoral (em inglês). [S.l.]: Tamesis
- ↑ López, Enrique Martínez (1981). el Rival de Garcilaso: esse que de mi s'está reyendo (em espanhol). [S.l.]: Imp. Aguirre
- ↑ Prat, Angel Valbuena (1953). Epoca medieval (em espanhol). [S.l.]: G. Gili
- ↑ Ocariz, Juan Flórez de (1674). Libro primero de las genealogias del Nueuo Reyno de Granada ... (em espanhol). [S.l.]: por Ioseph Fernandez de Buendia
- ↑ Sotomayor, Antonio Valladares de (1790). Semanario erudito, que comprehende varias obras ineditas, criticas, morales, instructivas, politicas, historicas, satiricas, y jocosas, de nuestros mejores autores antiguos y modernos (em espanhol). [S.l.]: B. Roman
- ↑ Suppan, Steven Robert (1990). Translatio Imperii Et Studii: the Project and Limits of Spanish Humanism (1492-1580) (em inglês). [S.l.]: University of Minnesota
- ↑ Serrano, María del Carmen Vaquero (2002). Garcilaso: poeta del Amor, caballero de la guerra (em espanhol). [S.l.]: Espasa Calpe