Isioma Daniel

jornalista nigeriana

Isioma Nkemdilim Nkiruka Daniel (nascida em 1981) é uma jornalista nigeriana. Um artigo seu de 2002 envolvendo o profeta islâmico Maomé desencadeou protestos de massa na Nigéria, que culminaram na morte de centenas de pessoas, e levou a uma fatwa ser emitida contra sua vida.

Isioma Daniel
Isioma Daniel
Nascimento 1981
Nigéria
Cidadania Nigéria
Alma mater
Ocupação jornalista
Religião cristianismo

Os protestos de 2002

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Isioma Daniel estudou jornalismo e política por três anos, na Universidade de Central Lancashire, graduando-se no verão de 2001.[1][2] Seu primeiro emprego como jornalista foi em Thisday, um diário sediado em Lagos.[2] Como repórter de moda, ela escreveu em 16 de novembro de 2002 uma nota sobre o concurso de beleza Miss Mundo, a ser realizado na Nigéria naquele ano. Tratando da oposição ao concurso por parte da comunidade muçulmana da Nigéria, ela fez o seguinte comentário:

"Os muçulmanos pensaram que era imoral trazer 92 mulheres para a Nigéria e pedir-lhes para se deleitar com a vaidade. O que será que Mohammed pensaria? Em toda a honestidade, ele provavelmente teria escolhido uma esposa dentre uma delas."[1]

De acordo com Daniel, a frase foi adicionada de última hora. Ela imaginou que seria "engraçada, suave" e "não a viu como algo a ser levado a sério".[3] No entanto, sua avaliação rapidamente mostrou-se errada, pois a publicação desencadeou tumultos religiosos violentos, que deixaram mais de 200 mortos[1] e 1.000 feridos, enquanto 11.000 pessoas ficaram desabrigadas.[1] Os escritórios do Thisday em Kaduna foram incendiados, apesar de o jornal ter pedido desculpas e feito uma retratação na primeira página.[1][4][5]

Daniel demitiu-se do jornal no dia seguinte à publicação de seu artigo.[1] Logo depois, temendo por sua segurança e preocupada com uma iminente investigação pelo serviço de Estado nigeriano deixou o país e foi para o Benim.[4]

Em 26 de novembro de 2002, um governo Islâmico de Zamfara, um Estado do norte da Nigéria, emitiu uma fatwa contra Isioma Daniel; nas palavras do vice-governador de Zamfara, Mamuda Aliyu Shinkafi, posteriormente transmitidas na rádio local:

"Como Salman Rushdie, o sangue de Isioma Daniel pode ser derramado. É obrigação de todos os muçulmanos onde quer que eles estejam a considerar a morte da escritora como um dever religioso."[1]

Enquanto o governo nigeriano denunciou o julgamento como "inconstitucional" e "nulo",[1] os líderes muçulmanos ficaram divididos sobre sua validade, alguns argumentando que a retratação e o pedido de desculpas significavam que a fatwa foi inadequada. Assim, Latif Adegbite, secretário-geral do Conselho Superior para Assuntos Islâmicos da Nigéria, rejeitou a pena de morte já que Daniel não era muçulmana e que o jornal pediu desculpas publicamente.[6]

Exílio na Europa

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Isioma Daniel, eventualmente, foi para o exílio na Europa, com apoio do Comitê para a Proteção dos Jornalistas e a Anistia Internacional.[4]

Veja também

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Referências

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  1. a b c d e f g h Astill, James; Bowcott, Owen (26 de novembro de 2002). «Fatwa is issued on Nigerian journalist». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  2. a b Daniel, Isioma (9 de dezembro de 2004). «Naivety... the root of all evil». Canadian Broadcasting Corporation. Consultado em 21 de julho de 2007. Cópia arquivada em 23 de maio de 2007  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "cbc_naivety" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  3. «Talkabout Africa exclusive: Isioma Daniel has no regrets» (Nota de imprensa). BBC. 13 de março de 2003. Consultado em 21 de julho de 2007 
  4. a b c Daniel, Isioma (17 de fevereiro de 2003). «'I lit the match'». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  5. «BBC NEWS | Africa | Nigerian paper's apology». news.bbc.co.uk. Consultado em 28 de dezembro de 2016 
  6. Weimann, Gunnar J. (1 de janeiro de 2010). Islamic Criminal Law in Northern Nigeria: Politics, Religion, Judicial Practice (em inglês). [S.l.]: Amsterdam University Press. ISBN 9789056296551