Júlio Sabino (em latim: Julius Sabinus; m. 78) foi um aristocrata gaulês da tribo dos lingões que esteve ativo no Império Romano à época da Revolta Batava de 69. Sob alegação que era um descendente do ditador Júlio César, ele tentou tomar vantagem do tumulto em Roma após o suicídio do imperador Nero (r. 54–68) para estabelecer um Estado gaulês independente.

Júlio Sabino
Júlio Sabino
Eponina e Sabino diante de Vespasiano (1802) por Alexandre Menjaud
Morte 78
Roma
Nacionalidade
República Romana
Etnia Língone
Cônjuge Eponina ou Peponila
Filho(a)(s) Dois de nome desconhecido
Ocupação Aristocrata

Sabino aderiu à Revolta Batava instigada em 69 por Caio Júlio Civil e formou uma coalizão com os líderes tréveros Júlio Tutor e Júlio Clássico, conseguindo vencer vários confrontos antes da revolta ser suprimida por Quinto Petílio Cerial. Sabino foi derrotado pelos sequanos e pelas legiões lideradas por Ápio Ânio Galo.

Ele escondeu-se com sua esposa Eponina ou Peponila por nove anos, mas seria posteriormente capturado e levado à capital imperial, onde foi executado em 78 sob ordens do imperador Vespasiano (r. 69–79). A história do casal, e principalmente a figura de Eponina, tornar-se-ia popular na França durante os séculos XVIII e XIX.

Contexto histórico

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Denário de Galba (r. 68–69) emitido em Roma

A aliança dos lingões ao poder central de Roma[1] permaneceu intacta durante a revolta de Júlio Sacroviro em 21 contra o imperador Tibério (r. 14–37) e durante a rebelião de Caio Júlio Víndice contra Nero (r. 54–68) em 68;[2] nesta os lingões teriam se aliado aos tréviros e remos na batalha de Vesôncio para auxiliar as tropas lealistas comandadas por Lúcio Vergínio Rufo.[3] A guerra civil deflagada com o suicídio de Nero, contudo, viria a abalar essa aliança, com os lingões não reconhecendo a ascensão de Galba (r. 68–69) como imperador.[4]

Este posicionamento fez com que Galba rompesse o acordo de fidelidade (em latim: foedus) e transformasse a capital (civitas) dos lingões numa colônia romana.[4] Após o assassinato do imperador, Otão (r. 69) concede cidadania romana aos lingões para garantir o apoio político deles,[5] que se aproveitam de Vitélio (r. 69) apesar deste favor.[6] Os lingões, em seguida, permitiram que a V Legião Cotovia, liderada pelo comandante da Germânia Inferior Fábio Valente que apoiava a nomeação de Vitélio como imperador,[7] passasse livremente através de seu território e alistasse as oito coortes batávias estacionadas ali.[8]

Biografia

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"Eponina e Sabino" (1802) por Nicolas-André Monsiau

A vida de de Júlio Sabino é relatada em três relatos ligeiramente distintos fornecidos pelos autores clássicos Plutarco,[9] Tácito[10] e Dião Cássio.[11] Ele era um oficial romano naturalizado que afirmou ser o bisneto de Júlio César, pois alegadamente sua bisavó teria sido amante do ditador durante a Guerra Gálica.[12] Com base nessa ideia, e devido sua vaidade, ordenou que seus apoiantes o saldassem como César.[10][13] Aproveitou-se da desorganização imperial para convencer os lingões a aderirem a Revolta Batava instigada em 69 por Caio Júlio Civil.[14] A coalizão de Civil e Sabino e dos líderes tréveros Júlio Tutor e Júlio Clássico venceu vários confrontos antes da revolta ser suprimida por Quinto Petílio Cerial.[15]

Após a derrota dos lingões de Sabino diante dos sequanos e as legiões de Ápio Ânio Galo (I Germânica, VIII Augusta e XI Cláudia),[16] o imperador Vespasiano (r. 69–79) retirou a cidadania romana da tribo que deveria então entregar 70 000 guerreiros a Sexto Júlio Frontino e [17] colocou-os sob supervisão direta da VIII Legião Augusta, que estava aquartelada em Mirebelo (que partiu para Argentorato em 90),[18] presumivelmente sob autoridade de Frontino.[19][20] Sabino fugiu para uma vila que lhe pertencia, incendiou-a para fazer parecer que teria morrido nas chamas, e escondeu-se em algumas câmaras subterrâneas que só eram conhecidas por sua esposa Eponina ou Peponila e alguns servos mais próximos.[13][21]

Eponina então viveu uma vida dupla por nove anos como sua viúva, inclusive precisando disfarçá-lo como escravo em certa ocasião quando precisou visitar Roma. Ela daria à luz a dois filhos sozinha e em segredo; Plutarco afirma que teria escondido sua gravidez usando uma pomada que fez inchar sua carne. Posteriormente, contudo, a tramoia tornou-se óbvia demais para continuar despercebida. Em 78, Sabino e Eponina foram presos e levados para Roma para serem questionados por Vespasiano. As súplicas dela para seu marido foram ignoradas pelo imperador, e Eponina então repreendeu Vespasiano, que respondeu ordenando sua execução ao lado de Sabino. Os filhos do casal, entretanto, foram poupados. Plutarco menciona que à época que escrevia sua obra um deles, chamado Sabino, visitou-o em Delfos, enquanto o outro havia sido morto recentemente no Egito.[21]

Referências culturais

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Gruta de Sabino

A versão francesa modernizada do nome de Eponina, Éponine, tornou-se familiar na França revolucionária, devido sua conotação de virtude conjugal, patriotismo e anti-imperialismo. Voltaire fala do "magnífico louvor à virtude de Eponina" feito por Plutarco.[22] Mesmo antes da revolução houve várias obras francesas sobre Sabino e Eponina. A tragédia de Michel-Paul-Gui de Chabanon intitulada Eponina foi realizada em 1762 e formou a base para Sabino, uma ópera em cinco atos composta por François-Joseph Gossec, premiado em Versalhes em 4 de dezembro de 1773.[23] Após a revolução, Eponina e Sabino (1796) foi realizada no teatro do Liceu.[24] A novela de Lisle de Salle Eponina levou à sua prisão durante o Terror, pois foi interpretada como um ataque ao Comitê de Salvação Pública.[25]

Houve várias pinturas do casal, incluindo trabalhos de Nicolas-André Monsiau e Etienne Barthélémy Garnier. Eles geralmente descrevem-os escondidos em uma caverna, em referência ao mito que uma caverna próximo a Langres foi o local onde Sabino escondeu-se. É ainda localmente conhecida como "Caverna de Sabino" (em francês: Grotte de Sabinus). Joseph Mills Hanson, que visitou-a brevemente após a Primeira Guerra Mundial, descreve-a como uma "caverna na rocha tendo duas entradas, a primeiro virada para sul, a outra para leste. O interior é muito irregular em linhas gerais, mas é talvez de 50 pés de profundidade, 20 de comprimento e sete de altura. Próximo a entrada leste está um pilar irregular, deixado em evidência pelo cortar da pedra circundante." Uma estátua da Virgem Maria foi colocada ali, junto com grafites deixados por soldados americanos na guerra.[26]

Referências

Bibliografia

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  • Clément, Catherine; Kristeva, Julia (2001). The Feminine and the Sacred. Nova Iorque: Columbia University Press 
  • Ditchfield, P. H. (2008). Books Fatal to Their Authors. [S.l.]: Echo Library 
  • Goguey, René; Redde, Michel (1995). «Le camp légionnaire de Mirebeau». Mogúncia: RGSM. 36 
  • Goguey, R. (2008). «Légionnaires romains chez les Lingons : la VIIIème Avgvsta à Mirebeau». Revue archéologique de l'Est. 58 
  • Hanson, Joseph Mills (1922). The Marne, historic and picturesque. [S.l.]: McClurg 
  • Hatt, J. J. (1988). «Sacrum Augusto : témoignage de loyalisme à l'égard de l'empereur romain chez les Éduens-Lingons-Séquanes dans les formules de dédicaces aux divinités». R.A.E. XXXIX 
  • Homo, L. (1949). Vespasien, l'empereur du bon sens. Paris: Albin Michel 
  • Kennedy, Emmet (1996). Theatre, Opera, and Audiences in Revolutionary Paris: Analysis and Repertory. Westport, CT: Greenwood Press 
  • Pitou, Spire (1983). The Paris Opera: An Encyclopedia of Operas, Ballets, Composers, and Performers, Volume: 1. Westport, CT: Greenwood Press 
  • Plutarco (século II). Sobre o Amor da Riqueza. [S.l.: s.n.] 
  • Smith, William (1870). Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. [S.l.]: Little, Brown and Company 
  • Ternes, Charles-Marie (1990). «Le discours de Cérialis aux Trévires et aux Lingons (Tac., Hist., 4, 73 sqq.). Une charte de la romanisation ?». Paris. Revue des études latines. 68: 112-122 
  • Thierry, Amédée (1828). «III». Histoire des Gaulois depuis les temps les plus reculés jusqu'à l'entière soumission de la Gaule à la domination romaine. III. Paris: A. Sautelet. pp. 374–406 
  • Troisgros, Henri (1994). Bourbonne-les-Bains et sa région : Histoire et tourisme. [S.l.]: Dominique Guéniot