João Alves Cerqueira
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Biografia
editarNascido em 1886 em Viana do Castelo, João Alves Cerqueira foi criado por uns tios devido à situação precária dos seus pais, Francisco Alves Cerqueira e Joana Parente. Estudou no liceu de Viana do Castelo e depois em Braga, onde concluiu o 5º ano. Aos 15 anos começa a trabalhar. Casou com Madalena Delgado e tiveram um filho, João Parente Cerqueira, que continuou os negócios do pai.
O Empresário
editarDepois de uma breve passagem pela firma inglesa Vaccum Oil, torna-se colaborador dos tios que se dedicavam ao transporte de mercadorias em carros de bois e ao comércio de sal. Quando os tios lhe passam o negócio, investe em dois navios veleiros para transportar sal de Setúbal e figos do Algarve. O negócio cresce rapidamente, e João Alves Cerqueira torna-se um dos principais empresários de Viana do Castelo. O seu prestígio de empreendedor e a sua probidade permitem-lhe conseguir contratos de representação das principais firmas nacionais que exportavam madeiras para a Inglaterra.
Em 1925, cria um escritório com dois empregados e torna-se ele próprio exportador de madeiras para as minas inglesas de carvão. O primeiro contrato é com uma firma importadora em Cardiff. Ao mesmo tempo, penetra no mercado espanhol através das minas asturianas, conseguindo contratos que se prolongaram durante trinta anos, e ainda no mercado alemão. Desse modo, torna-se o maior exportador nacional de madeiras.[1]
Em 1932, é convidado para administrar a Empresa de Pesca de Viana do Castelo – fundada sete anos antes. Nesse ano, depois do naufrágio de um dos seus dois únicos veleiros, a Empresa de Pesca convoca uma assembleia onde se discute a possibilidade de encerramento da atividade piscatória. Porém, João Alves Cerqueira consegue não apenas convencer os acionistas de que a Empresa de Pesca não deve encerrar, como ainda se deve expandir.[2]
Em 1937, João Alves Cerqueira encomenda aos Estaleiros Navais da CUF um lugre de aço com motor e quatro mastros que foi batizado de Santa Maria Manuela. Seguem-se, em 1939, a construção dos navios Santa Maria Madalena – em homenagem à esposa Madalena Cerqueira – e o São Ruy.[3]
Com o crescimento da Empresa da Pesca e a necessidade de mais navios, João Alves Cerqueira concebe o plano de construir um estaleiro naval em Viana do Castelo. Dessa forma, além de reduzir os custos de construção de novos barcos, impulsionaria o desenvolvimento da cidade. No entanto, para um projeto desta dimensão, no qual investirá todo o seu património e bens pessoais, necessitava de sócios. É então que se associa ao seu amigo de Lisboa, Vasco D’Orey. Em 1944, nascem os Estaleiros Navais de Viana do Castelo – ENVC. Naturalmente, as duas primeiras encomendas ao ENVC foram da Empresa de Pesca de Viana: o Senhor dos Mareantes e o Senhor das Candeias. A terceira encomenda foi o navio São Gonçalinho destinado à Empresa de Pesca de Aveiro.[4]
Em 1952, prosseguindo a diversificação dos seus negócios, João Alves Cerqueira investe em Angola criando a Sociedade Agrícola de Quibala que se dedicava ao cultivo do milho e do café e, depois, uma fábrica de farinha de carne de baleia.[5]
O Benemérito
editarAlém de um grande empresário, João Alves Cerqueira foi também um grande humanista. A riqueza e o poder nunca o fizeram esquecer os desfavorecidos.
Na Seca do bacalhau instituiu uma creche para as trabalhadoras não abandonarem os filhos – algo revolucionário na época. No Natal, distribuía bacalhau pelas famílias necessitadas, pois não concebia que nenhum vianense fosse privado desse prato na consoada. Quem tinha dificuldades financeiras ou necessitava de ajuda, ia falar com ele – não com as autoridades ou com a Igreja – porque toda a gente sabia que o Cerqueira ajudava os pobres. Pescadores cujos barcos tinham afundado, mães que não tinham dinheiro para dar de comer aos filhos e outros desvalidos receberam o seu apoio.
Um episódio que consolidou ainda mais a sua fama de defensor dos mais fracos foi a sua intervenção energética quando, da janela da sua firma, se apercebeu que os estivadores que descarregavam mercadorias de um barco estavam a ser maltratados por um marinheiro holandês embriagado. De imediato se levanta, corre para o local, agarra num tronco de madeira e dá umas pauladas no agressor. Nunca mais nenhum estrangeiro maltratou os estivadores vianenses.
Entre as instituições de solidariedade social que apoiou contam-se o Asilo da Infância Desvalida, o Lar de Santa Teresa, a Santa Casa da Misericórdia, a Congregação da Caridade, o Orfanato, a Conferência de São Vicente Paulo e a Sopa dos Pobres. Apoiou também os Bombeiros, a Cruz Vermelha e o Sport Clube Vianense, do qual era um adepto fanático. E é graças aos seus donativos, e ao pagamento dos salários dos operários, que se finaliza a construção do Templo de Santa Luzia de Viana do Castelo. Ofereceu ainda um sacrário em prata maciça e uma imagem do Sagrado Coração de Jesus em mármore. Na zona onde morava, a Abelheira, financiou o restauro da capela da Senhora das Necessidades onde foi colocada uma placa de homenagem em 1972.
Pelas referidas razões, foi escrito na Aurora do Lima de 10 de Janeiro de 1930, a propósito de os pescadores de Viana terem arriscado a vida para impedir que o navio Fernanda colidisse com o cais, o seguinte: «A atitude daqueles homens deve-se ao navio pertencer ao sr. João Alves Cerqueira, que tem na maioria dos nossos pescadores verdadeiros amigos. Manifestaram assim a sua gratidão a quem sabe ser amigo do seu amigo e é um grande protetor dos necessitados. O sr. João Alves Cerqueira tudo merece, que o digam os seus empregados e nós próprios»[5].
João Alves Cerqueira faleceu em 1966.
Para perpetuar a sua memória, foi dado o nome de avenida Alves Cerqueira a uma das principais vias da cidade. A escolha deste local resulta de atravessar a doca onde está ancorado o navio Gil Eanes e, do lado oposto, os edifícios da antiga Empresa de Pesca de Viana e da firma João Alves Cerqueira.
Referências
- ↑ Martins, Manuel de Oliveira (2013). Viana e a Pesca do Bacalhau. [S.l.]: CER
- ↑ «O Estaleiro da Saudade». Edição: Câmara Municipal de Viana do Castelo. 2020
- ↑ Martins, Moisés Lemos; Meira, Gonçalo (2004). Os Estaleiros Navais e a Sociedade Vianense. Viana do Castelo: A.D.C.T.E.N.V.C.
- ↑ Novais, Ana Maria Contente de Vinha (1993). Os Operários dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e a Agricultura. Viana do Castelo: Centro Cultural do Alto Minho
- ↑ a b «Nº 19». Aurora do Lima. 3 de março de 2006