João Martinho Flack
João Martinho Flack (Schaffhausen, Suiça, 1781 - Colônia Leopoldina, Bahia, 1860) foi um negociante e colono de origem suíça radicado no Brasil. É conhecido por ter sido o administrador da Colônia Leopoldina e da Colônia Frankental, ambas na Bahia.
Biografia
editarJoão Martinho Flack, João Martinho Flach ou, originalmente, Johann Martin Flach[1], teria nascido em 1781, na comuna de Schaffhausen, na Suiça. Seu pai era um moleiro[2], não se sabe, todavia, se era moleiro por ser dono de um moinho ou por ser funcionário de um moinho, deixando imprecisas as condições financeiras da família de Flack[3][4].
Ele teria migrado ao Brasil em 1809, estabelecendo-se inicialmente no Rio de Janeiro. Dedicava-se, neste primeiro momento, ao comércio de grosso trato, importando e exportando relógios, maquinários, peças de maquinários, café, peles, óleos vegetais e outras variedades de produtos. Adiquirindo para si considerável patrimônio.
Flach foi aos poucos se aproximando da família real, sendo financiador de diversos projetos da coroa[5]. De 1821 a 1828 há um grande fluxo de cartas do negociante com D. Pedro I e, principalmente, D. Leopoldina, revelando uma amizade profunda[4][6]. A partir de 1820 ele se constituiu como fundador de duas colônias suiço-alemãs no sul da Bahia[7].
Primeiramente, a Colônia Leopoldina, em que ele era administrador, e depois acabou adquirindo duas sesmarias no local[8]. O nome era uma homenagem da princesa Leopoldina, da Austria. Posteriormente ele fundou a Colônia Frankental, próxima geograficamente da anterior, ambas no sul da Bahia[9][7].
Colônia Leopoldina
editarAs duas sesmarias adquiridas na Colônia Leopoldina se tornaram duas grandes fazendas, a Helvetia 1ª e a Helvetia 2ª[9][10]. Todavia, Flach só se estabeleceu na região após a morte de D. Leopoldina, em 1826. A partir disso, a Colônia passou a dedicar-se à exportação de café[11]. No auge econômico da região ela contava com 40 a 50 fazendas, e era responsável por 90% da produção de café do Brasil em 1850’. A produção contava com cerca de dois mil escravizados africanos[7].
Flach era o maior produtor de café, e maior proprietário de escravizados. Sobre os seus domínios havia noventa cativos africanos. Ele era responsável por exportar, sozinho, 3.680 arrobas de café por ano, que extraíam de 145 mil cafeeiros[3]. Ele teria falecido na década de 1860. Em um documento de 1866 os seus bens estavam avaliados em 328:044$200. Ele detinha:
“Uma casa coberta de telhas, e paredes de tijolos contendo cozinha, armazém, botica, hospital e dois quartos; uma senzala [...] com trinta e oito portas; duas casinhas de jogo de bolas; um engenho coberto de telhas e paredes de tijolos compreendendo serras, pilões, casa de farinha, armazéns, moinhos para ventilar e despolpar [...]; uma máquina de descaroçar algodão com sua prensa de enfardar; um sino grande, objetos de armazém pequeno, objetos recolhidos na adega [...]; uma balança decimal, moinho para café, botica com medicamentos, moinho para debulhar milho, alambique de cobre, ferramenta de carpina e tenda de ferreiro”[3]
Com o seu falecimento os seus bens foram passados para o seu único filho legítimo, de nome João Flack. A administração do filho todavia corroborou com o processo de abolição, lento e gradual, na escravidão. A partir da lei do sexagenario, a produção apresentou uma exponencial queda. Em 1874, quando a fazenda já havia sido passada aos netos de Flach, ela foi vendida, e seus descendentes retornaram à Suíça[7].
Com a abolição da escravatura, em 1888, os novos proprietários também abandonaram a região[7], que tornou-se um quilombo[11].
Referências
editar- ↑ Doninelli, Christian Doninelli (9 de janeiro de 2017). «Helvécia, um vilarejo suíço da cor do café». Swissinfo.ch. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ «Der Schaffhauser Sklavenhalter». Schaffhauser AZ (em alemão). 13 de novembro de 2017. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ a b c Carmo, Alane Fraga do (2010). «Colonização e escravidão na Bahia: a Colônia Leopoldina, 1850-1888». Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ a b OBERACKER JR, Carlos H. «Vestígios suíços na história do Brasil» (PDF). Revista da História. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ «:::[ DocPro ]:::». memoria.bn.br. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ OBERACKER JR, Carlos H. (1895). «Comentários às Cartas da Imperatriz Leopoldina a João Martinho Flach» (PDF). Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. 93. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ a b c d e «Helvécia - Antiga Colônia Leopoldina da Bahia». www.bahia-turismo.com. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ Santos, Valdir Nunes dos (2017). «A dança bate-barriga em Helvécia (Bahia/Brasil) : uma performance afrobrasileira de coesão social». Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ a b Nacional (Brazil), Arquivo (2002). Fundo sesmarias: Inventário analítico. [S.l.]: Arquivo Nacional
- ↑ «IPA 2016 Winner / The Krull Brothers / Dom Smaz». photoawards.com. Consultado em 20 de julho de 2023
- ↑ a b Moreira, R. P. de J. (2019). A memória da escravidão e a construção da identidade dos grupos que compõem a comunidade quilombola de Helvécia (2000-2018) (PDF). Vitória da Conquista: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia