John Henrik Clarke
John Henrik Clarke (nascido John Henry Clarke, 1 de janeiro de 1915 – 16 de julho de 1998) foi um historiador e professor norte-americano e um pioneiro na criação do pan-africanismo, da africologia (estudo afrocêntrico da África e de sua diáspora) e instituições profissionais acadêmicas começando no final dos anos 1960.
Nome completo | John Henrik Clarke |
Nascimento | 01 de janeiro de 1915 (109 anos) Union Springs, Alabama |
Morte | 16 de julho de 1998 (83 anos) Manhattan, Nova Iorque |
Ocupação | Escritor, historiador, professor |
Primeiros anos e educação
editarNasceu com o nome John Henry Clarke no dia 1 de janeiro de 1915 em Union Springs, Alabama,[1] filho caçula de John (meeiro) e Wille Ella (Mays) Clarke (lavadeira, falecida em 1922).[2] Com a esperança de ganhar dinheiro o bastante para comprar suas próprias terras ao invés de trabalhar como meeiros, sua família se mudou para a cidade industrializada mais próxima, Columbus, Geórgia.
Contrariando os desejos de sua mãe, que o queria trabalhando como fazendeiro, Clark deixou a Geórgia em 1933 em um trem de carga e foi para o Harlem, Nova Iorque, como parte da grande migração de negros que saíram das zonas rurais do Sul em direção às cidades do Norte. Lá, ele focou no estudo e no ativismo. Ele rebatizou-se como John Henrik (inspirado no dramaturgo rebelde norueguês Henrik Ibsen) e adicionou um "e" ao seu sobrenome, soletrando-o como "Clarke".[3]
Posições na academia
editarClarke foi professor de Estudos Negros e Porto-Riquenhos na Hunter College, da Universidade da Cidade de Nova Iorque, de 1969 a 1986, onde ele trabalhou como presidente fundador do departamento. Ele também foi professor visitante de História Africana no Centro de Estudos e Pesquisa Africana da Universidade Cornell.[4] Além disso, fundou em 1968 a Associação de Estudos de Herança Africana e o Caucus Negro da Associação de Estudos Africanos.
Em seu obituário de Clarke, o jornal The New York Times observou que a ascensão do ativista ao posto de professor emérito na Hunter College foi "incomum... sem a ajuda de um diploma de ensino médio, muito menos de um diploma de doutorado." O jornal reconheceu que "ninguém disse que o Professor Clarke não era um original acadêmico."[5] Em 1994, Clarke obteve um título de doutor pela não-acreditada Universidade do Oeste Pacífico (hoje Universidade Califórnia Miramar) em Los Angeles, tendo recebido um diploma de bacharel da instituição em 1992.[6]
Carreira
editarNos anos 1920, a grande migração e mudanças demográficas levaram a uma concentração de afro-americanos no Harlem. Uma sinergia se desenvolveu entre os artistas, escritores e músicos entre outros que figuraram no Renascimento do Harlem. Eles começaram a desenvolver estruturas de apoio para grupos de estudo e oficinas informais para amparar recém-chegados e jovens.
Tendo chegado no Harlem aos dezoito anos em 1933,[5] Clarke se firmou como escritor e palestrante durante os anos da Grande Depressão. Ele se juntou a círculos de estudo como o Clube de História do Harlem e a Oficina de Escritores do Harlem. Ele estudou intermitentemente na Universidade de Nova Iorque, Universidade Columbia, Hunter College, New School for Social Research e na Liga de Escritores Profissionais.[6][7] Ele era um autodidata cujos mentores incluíam o intelectual porto-riquenho Arturo Alfonso Schomburg.[8] Entre 1941 e 1945, Clarke serviu como suboficial das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos, chegando ao posto de sargento.[6]
No período pós-Segunda Guerra, houve um novo desenvolvimento artístico, com pequenas prensas e revistas sendo fundadas e sobrevivendo brevemente. Escritores e editores continuaram com novas empreitadas: Clarke foi co-fundador do Harlem Quarterly (1949–51), editor de resenhas de livros do Negro History Bulletin (1948–52), editor associado da revista Freedomways e articulista especial do jornal de propriedade negra Pittsburgh Courier.[7]
Clarke deu aulas na New School for Social Research entre 1956 e 1958.[9] Viajando pela África Ocidental entre 1958–59, ele encontrou Kwame Nkrumah, pra quem ele havia dado aulas nos EUA,[10] e recebeu a oferta de trabalhar como jornalista no Ghana Evening News. Ele também lecionou na Universidade de Gana e em outros lugares da África, inclusive na Nigéria na Universidade de Ibadan.[11]
Tendo se tornado proeminente durante o movimento Black Power dos anos 1960, que começou a defender um tipo de nacionalismo negro, Clarke defendeu estudos sobre a experiência do afro-americano e o lugar dos africanos na história mundial. Ele desafiou as visões dos historiadores acadêmicos e ajudou a mudar a forma como a história africana é estudada e ensinada. Clarke foi um "intelectual dedicado a corrigir o que ele via como uma distorção e supressão sistemática e racista da história africana por intelectuais tradicionais."[5] Ele acusou seus detratores de terem visões eurocêntricas. Sua escrita incluiu seis livros e vários artigos acadêmicos. Ele também editou antologias de escritas por afro-americanos, bem como coleções de seus próprios contos. Além disso, Clarke publicou artigos de interesse geral.[5] Em uma polêmica especialmente acalorada, ele editou e contribuiu para uma antologia de ensaios de afro-americanos atacando o escritor branco William Styron e seu romance, As Confissões de Nat Turner, por seu retrato fictício do escravo norte-americano conhecido por liderar uma rebelião na Virgínia.
Além de ensinar na Hunter College e na Universidade Cornell, Clarke fundou associações profissionais para apoiar o estudo da cultura negra. Ele fundou junto com Leonard Jeffries e foi o primeiro presidente da Associação de Estudos de Herança Africana, que apoiou estudiosos das áreas de história, cultura, literatura e artes. Ele foi membro fundador de outras associações de apoio ao trabalho na cultura negra: a Academia Negra das Artes e Letras e o Conselho de Intelectuais Afro-Americanos.[7]
Vida pessoal
editarO primeiro casamento de Clarke foi com a mãe de sua filha Lillie (que morreu antes de seu pai).[11] Eles se divorciaram.
Em 1961, Clarke se casou com Eugenia Evans em Nova Iorque e juntos tiveram um filho e uma filha: Nzingha Marie e Sonni Kojo.[11] O casamento acabou em divórcio.
Em 1997, John Henrik Clarke se casou com sua companheira de longa data, Sybil Williams.[12][13] Ele morreu de um ataque cardíaco em 12 de julho de 1998 no Centro Hospitalar St. Luke's–Roosevelt[5] e foi enterrado no Cemitério Green Acres, em Columbus, Geórgia.[14]
Legado e Laureações
editar- 1985 – A Faculdade do Centro de Pesquisa e Estudos de Africologia na Universidade Cornell nomeou a Biblioteca John Henrik Clarke em sua homenagem.[15]
- 1995 – Medalhão Carter G. Woodson, Association Para o Estudo da Vida E História Afro-Americana.
- 2002 – Molefi Kete Asante nomeou Dr. John Henrik Clarke como um dos seus 100 Maiores Afro-Americanos.[16]
- 2011 – Immortal Technique incluiu um pequeno discurso de Henrik Clarke no seu álbum The Martyr, na faixa "The Conquerors".
Bibliografia selecionada
editar- A New Approach to African History (1967)
- Editor e colaborador, William Styron's Nat Turner: Ten Black Writers Respond (1968) (outros colaboradores são Lerone Bennett Jr., Alvin F. Poussaint, Vincent Harding, John Oliver Killens, John A. Williams, Ernest Kaiser, Loyle Hairston, Charles V. Hamilton e Mike Thelwell.)
- Editor e colaborador, com a ajuda de Amy Jacques Garvey, Marcus Garvey and the Vision of Africa (1974)
- The Boy Who Painted Jesus Black (1975)
- Editor, Malcolm X: Man and His Times (1991), uma antologia das escritas do ativista
- African World Revolution:Africans At The Crossroads (1991)
- Autor e editor, Who Betrayed the African World Revolution?: And Other Speeches (1993)
- African People in World History (1993) (primeiro da Black Classic Press's Contemporary Lecture Series)
- Christopher Columbus and the Afrikan Holocaust: Slavery and the Rise of European Capitalism (reimpresso em 2011)
- My Life in Search of Africa. [S.l.]: Third World Press. 1994. ISBN 978-0-88378-178-4
- Anna Swanston (2003). Dr. John Henrik Clarke: his life, his words, his works. [S.l.]: IAM Unlimited Pub. ISBN 978-1-929526-06-2
- Cheikh Anta Diop And the New Light on African History (1974) ISBN 978-1943138159
Referências
- ↑ "Dr. John Henrik Clarke", Race and History.
- ↑ i, w. gabriel selassie, "Clarke, John Henrik (1915-1998)", BlackPast.org.
- ↑ Adams, Barbara E. John Henrik Clarke: Master Teacher. New York: A&B Publishers Group. ISBN 978-1-61759-012-2
- ↑ Eric Kofi Acree, "John Henrik Clarke: Historian, Scholar, and Teacher", Cornell University Library.
- ↑ a b c d e Thomas, Jr., Robert McG. (20 de Julho de 1998). «John Henrik Clarke, Black Studies Advocate, Dies at 83». New York Times. Consultado em 21 de Janeiro de 2009
- ↑ a b c Andy Wallace, "John H. Clarke, 83, Leading African American Historian", Philly.com (The Inquirer), July 18, 1998.
- ↑ a b c "John Henrik Clarke" Arquivado em 2006-06-24 no Wayback Machine, Legacy Exhibit online, New Jersey Public Library - Schomburg Center for the Study of Black Culture; accessed January 20, 2009.
- ↑ Jacob H. Carruthers, "John Henrik Clarke: the Harlem connection to the founding of Africana Studies", in Afro-Americans in New York Life and History, Afro-American Historical Association of the Niagara Frontier, Inc., 2006; accessed May 25, 2009.
- ↑ Golus, Carrie, "Clarke, John Henrik 1915–1998", Contemporary Black Biography. 1999. Encyclopedia.com.
- ↑ "Dr. John Henrik Clarke, Professor Emeritus, Hunter College, CUNY", Sankofa World Publishers.
- ↑ a b c "Clarke, John Henrik(1915–1998) - Historian, writer, educator, Harlem: An Unconventional Education", Encyclopedia.jrank.org.
- ↑ Christopher Williams, "Clarke, John Henrik", in Henry Louis Gates, Evelyn Brooks Higginbotham (eds), Harlem Renaissance Lives from the African American National Biography, Oxford University Press, 2009, p. 118.
- ↑ Rochell Isaac, "Clarke, John Henrik", in Encyclopedia of African American History: Volume 1, Oxford University Press, 2009, p. 424.
- ↑ "Historical People", Green Acres Cemetery.
- ↑ "History of the John Henrik Clarke Africana Library", reprinted from Black Caucus of the ALA Newsletter, vol. XXIV, No. 5 (April 1996), p. 11; Cornell University Library, accessed January 20, 2009.
- ↑ Molefi Kete Asante (2002). 100 Greatest African Americans: A Biographical Encyclopedia. Amherst, New York: Prometheus Books. ISBN 1-57392-963-8.