José Martins Pinheiro Neto
José Martins Pinheiro Neto (J.M. Pinheiro Neto), KBE (São Paulo, 21 de agosto de 1917 — São Paulo, 21 de setembro de 2005) foi um jornalista e advogado brasileiro, formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ele fundou o Pinheiro Neto Advogados, uma das maiores firmas de advocacia da América Latina[1], que atualmente possui escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Palo Alto e Tóquio.
Conhecido por ser pontual, determinado e visionário, o advogado ainda é lembrado pela postura ética sem igual e seu jeito educado e objetivo de exercer a profissão. Para a comunidade jurídica, deixou um grande legado: ao fundar seu escritório, trouxe o formato advogado-firma para o Brasil, que até então era uma profissão individual.
A maneira com que conduziu a firma foi marcada pela dedicação, audácia e olhar para o futuro. J.M. Pinheiro Neto tinha uma visão clara sobre o que considerava ser o papel do advogado dentro do novo modelo de atuação. Em uma carta a seus sócios, quase 50 anos depois de ter fundado o escritório (em 5 de junho de 1988), ele escreveu: “o esforço somado de todos é o que constitui a firma, que por isso mesmo é maior do que qualquer de nós isoladamente – e, também, maior do que a soma isolada de cada um de nós”.
Trajetória e construção de um legado
editarJ.M. Pinheiro Neto começou a trabalhar como estagiário no escritório de seu pai, o advogado José Martins Pinheiro Júnior, quando estava no terceiro ano da Faculdade de Direito.
O advogado foi convidado por Cedric Gibbs, secretário honorário da BBC, a trabalhar na instituição em Londres. O convite foi prontamente aceito, porém na mesma época a Inglaterra declarou guerra às potências do Eixo. Por esse motivo, sua família não concordou com a ida e o impediu de embarcar no navio que sairia de Santos no dia 3 de setembro de 1939.[2]
Audacioso e sonhador, J.M. Pinheiro Neto determinou que iria mesmo assim. No dia 1º de janeiro de 1940, fugiu de casa e foi trabalhar em Londres como correspondente jornalístico na BBC durante a Segunda Guerra Mundial. Acompanhou de perto os bombardeios e o estrago causado pela guerra. Além de escrever crônicas, também atuou como locutor e foi considerado a voz brasileira na Segunda Guerra Mundial. Era pelo olhar dele que as principais notícias chegavam ao Brasil.
Em 1941, o jovem e talentoso advogado retornou ao Brasil. Ele concluiu a faculdade, estagiou no 4° Esquadrão de Cavalaria e casou com Cecília, sua namorada desde 1937, com quem viveu 55 anos e teve três filhos, Fernando Pinheiro, José Martins Pinheiro e Anna Cecília.
Com 25 anos de idade e ainda como correspondente na BBC, em 1942, fundou o escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados, na Rua José Bonifácio (região central de São Paulo). Na época, a firma era composta por ele, um colega, uma secretária e um office-boy. A rotina passou a ser ainda mais intensa, uma vez que precisava administrar o escritório, as finanças e a família.
Por falar alemão, inglês e francês, novas possibilidades de crescimento se abriram para ele. Desde o início empresas estrangeiras formavam uma parcela expressiva da carteira de clientes de Pinheiro Neto Advogados. A firma cresceu de forma orgânica e precisou se transferir para a Rua Maria Paula, onde permaneceu por menos de um ano até se mudar para o edifício do Banco de Boston, na rua Líbero Badaró. Lá o escritório permanceu até se instalar, em novembro de 1964, na Rua Boa Vista.
Em 1º de setembro de 1969, com 106 integrantes, Pinheiro Neto Advogados expandiu suas atividades para o Rio de Janeiro, instalando-se na Avenida Rio Branco – centro financeiro da cidade na época – com três advogados e uma secretária. Os clientes começaram a se multiplicar e, em 1974, a firma inaugurou seu escritório em Brasília.
Como J.M. Pinheiro Neto sempre teve um olhar voltado para o exterior, decidiu abrir um escritório em Londres, em 1978, por meio de uma associação com o advogado e sócio inglês J. Anthony Clare.
Em 1987, J.M. Pinheiro Neto recebeu o título de Comandante Cavaleiro do Império Britânico[3] (Honorary Knight Commander of the British Empire), título que lhe foi concedido pelo mérito de presidir a Câmara Britânica de Comércio e a Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, instituições que sempre incentivou.
J.M. Pinheiro Neto faleceu aos 88 anos de idade, momento em que o escritório tinha 62 sócios, cerca de 230 advogados e 200 estagiários, alocados nos escritórios de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília[4]. Em agosto de 2006 o escritório Pinheiro Neto mudou-se para a sua sede atual em São Paulo, à Rua Hungria, antiga sede do ex Banco Santos.
Reflexo de um visionário
editarPinheiro, como era chamado pelos mais próximos, era um homem muito dedicado ao trabalho e todo seu investimento era no escritório. Ele tinha um apreço muito grande pela leitura, sobretudo biografias e autores estrangeiros. Tamanha era sua paixão pela literatura que ele tinha uma biblioteca particular e no escritório[5], que até hoje é um dos maiores acervos jurídicos empresariais do Brasil e conta com 80 mil exemplares de livros e revistas disponíveis para consulta. Quando teve de se afastar do local onde ele passava a maior parte do dia, a decisão não foi tão fácil. Mas teve a visão de se afastar da firma em vida e deixar seus ensinamentos para que os sócios pudessem dar sequência àquilo que ele criou, perpetuando a cultura e os valores que construiu ao longo da carreira.[6] Em 21 de setembro de 2017, J.M. Pinheiro Neto completaria 100 anos de idade, no mesmo ano o escritório comemorava os 75 anos de existência. Mantendo a essência de seu fundador e mostrando cada detalhe dessa história inspiradora, o atual prédio do escritório em São Paulo conta com um memorial em sua homenagem, que possui a réplica da sala onde Pinheiro passava a maior parte do dia. O local encanta a quem passa por guardar cada detalhe da época e por trazer tantas lembranças de um homem que lutou para ter o que chamamos hoje de Pinheiro Neto Advogados.
[2] Fonte: J. M. Pinheiro Neto – O Advogado, de Rodrigo Leal Rodrigues, 2004, Green Forest do Brasil Editora, pág. 26.
[3] Fonte: J. M. Pinheiro Neto – O Advogado, de Rodrigo Leal Rodrigues, 2004, Green Forest do Brasil Editora, pág. 52.
[4] Veja imagem com o número de integrantes em 2005.
[5] Fonte: J. M. Pinheiro Neto - O Advogado, de Rodrigo Leal Rodrigues, 2004, Green Forest do Brasil Editora, pág. 153.
[6] Fonte: J. M. Pinheiro Neto - O Advogado, de Rodrigo Leal Rodrigues, 2004, Green Forest do Brasil Editora, pág. 174.