Kàjré
Kàjré é um machado cerimonial do tipo semilunar[1] que originalmente pertencia aos índios da etnia krahó, mas que em determinado momento passou a integrar o acervo do Museu Paulista.[2] Os índios reivindicavam de volta a posse do machado, num debate que durou anos, mas que acabou por ter um desfecho favorável às reivindicações indígenas e o artefato retornou ao povo de origem, voltando a ser usado regularmente em seus rituais.[2]
Descrição
editarA Kàjré é feita de pedra, em forma semilunar. A lâmina na parte convexa é levemente laminada. O objeto foi descrito como "bonito" e "bem acabado". Na parte côncava, a pedra é achatada, em formato retangular, com um cabo em cilindro na ponta, também feito de pedra. O peso estimado é quatro quilos.[3]
Uma característica do objeto é que a lâmina não está presa na ponta do cabo pelo qual se segura. As duas extremidades do machado estão livres; a lâmina situa-se no centro.[3]
Há fitas de couro presas ao cabo da peça, que formam uma alça. Nas extremidades, há também tiras trançadas, com uma cor vermelha e laranja.[3]
Histórico
editarRemoção da aldeia
editarO machado foi retirado em 1947[4] da aldeia de Pedra Branca, localizada no que hoje é o nordeste do estado do Tocantins, sendo então repassada ao Museu Paulista pelo antropólogo Harald Schultz.[3] Naquele ano, com a fundação da Seção de Etnologia do Museu Paulista, criada e dirigida por Herbert Baldus, Harald Schultz foi nomeado Assistente de Etnologia do Museu, função que desempenhou até sua morte em 1966. Ainda em 1947, junto com Baldus e com o apoio da FESPSP, retoma a trabalhar com os Kaingang e, depois, com os Terena, em São Paulo. Também em 1947, Schultz viaja para o Mato Grosso para dar início às investigações junto ao grupo Karajá, passando pelo norte de Goiás, onde contatou o grupo Krahô.[5]
Negociações
editarO início das negociações para reaver o machado se deu quando um indígena craô identificou o machado num catálogo do Museu Paulista.[4]
Devolução do artefato
editarNo dia 12 de junho de 1986, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que o machado sagrado krahô foi entregue pelo então reitor da USP, José Goldemberg, ao chefe Pedro Penon.[6] O mesmo jornal trazia ainda outra reportagem informando sobre a posição de Romero Jucá, que então era presidente da Funai, acerca da educação indígena.[6]
A devolução é considerada um marco de descolonização cultural.[2]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Krahô - Povos Indígenas no Brasil»
- ↑ a b c «Descolonização de obras em museus questiona a quem pertence a história»
- ↑ a b c d Melo, Jorge Henrique Teotônio de Lima (2010). Kajre: a vida social de uma machadinha krahô (PDF). [S.l.: s.n.]
- ↑ a b Hackbart, Patricia da Silva (2015). Repatriamento e Afirmação Político-Identitária de Comunidades Indígenas em Aripuanã/MT (PDF). São Paulo: [s.n.] 237 páginas
- ↑ «Antropologia Visual: Velhas Fronteiras Disciplinares, Novas Abordagens». Arquivado do original em 12 de agosto de 2013
- ↑ a b «Índios Krahô recuperam a machadinha | Terras Indígenas no Brasil»
Bibliografia
editar- Menezes, Gustavo. (2018). Sobre a máscara Sasquatch e a machadinha Kyiré: Resgate patrimonial no Canadá e no Brasil. Interfaces Brasil/Canadá. 18. 69. 10.15210/interfaces.v18i2.13960.