Línguas mixtecas

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As línguas Mixtecas ou grupo de dialetos mixtecos pertencem à família das línguas otomanguanas do México e se relacionam às línguas triques e cucaltecas. São faladas por cerca de meio milhão de pessoas.[1] A estimativa de quantos são os falantes e também os grupos de falantes mixtecos não é uma tarefa fácil, pois se trata de um complexo “continuum” de dialetos o que dificulta a real classificação linguística. Dependendo do critério para diferenciar as diversas línguas, pode haver até cerca de 50 idiomas nesse grupo mixteca.[2]

Mixtecas
Falado(a) em: México; USA
Região: Oaxaca, Puebla, Guerrero; Califórnia
Total de falantes: 550 mil
Família: Otomangueana
 Mixtecana
  Mixtecas
Escrita: Alfabeto latino
Estatuto oficial
Língua oficial de: México (Academia da língua mexteca
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: ambos:
mxv — Metlatónoc Mixteco
mih — Chayuco Mixteco e outros
Línguas Mixtecas - nº 10, verde azulado, centro-sul

História

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A origem geográfica dos falantes das mixtecas é possivelmente o vale de Tehuacán (Puebla).[3] Esse foi um dos locais onde se iniciou a agricultura do milho. Os milênios de presença de línguas otomangueana na região levantam essa possibilidade, pois ali havia muita atividade nessa domesticação do cereal, o que favoreceu que os habitantes do altiplano trocasse a vida de nomadismo pelo sedentarismo , levando ao desenvolvimento da civilização da Mesoamérica.[4] Campbell e Kaufman defendem a hipótes que as línguas otomanguanas tenham começado a se dividir em outros grupos por volta de 100 a.C. As dificuldades para caracterizar as relações entre os oito subgrupos dessa família linguística tornam também difícil o detalhamento de quando e como se desenvolveram as línguas em questão.

Distribuição

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Distribuição das línguas mixtecas no estado de Oaxaca, mostrando línguas vizinhas

A localização tradicional dos falantes das mixtecas é a região conhecida como La Mixteca, que ocupa áreas dos estados de mexicanos de Oaxaca, Puebla e Guerrero. Em função da emigração de pessoas dessa área, motivada principalmente pela extrema pobreza, as línguas mixtecas se espalharam pelas área de grandes cidadesdo México, principalmente no estado do México, na Cidade do México, em algumas áreas agrícolas como o vale de San Quintín, Baja California, em partes de Morelos e Sonora,e ainda nos Estados Unidos.

Escrita

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As línguas mixtecas usam o alfabeto latino sem as letras B, F, H, Q, W, Z; apresenta as formas Nd, Ng, Ñ e o I barrado.

O alfabeto latino adotada pela Academia da língua mixteca e mais tarde pelo Secretariado de Educação Pública (SEP), apresenta as seguintes letras:

Alphabet of the Mixtecan Languages (ndusu tu'un sávi)
Símbolo PA Exemplo Significado Pronúncia aproximada
a a andívi céu Similar ao Inglês a em father
ch chitia banana Como em Inglês ch em chocolate
d ð de ele Como em Inglês th em father
e e ve'e lar Como em Espanhol e em este
g ɡ g mais Como em Inglês g em go
i i ita̱ flor Como em Inglês iem machine
ɨ ɨ kɨni porco Como o Russo ы ou Romeno î
j x ji̱'in deve cair Como o jem Espanhol Mexicano
k k kúmi quatro c duro, como em Inglês cool
l l luu belo(a) Como em Espanhol l em letra
m m ña'm deve confessar Como em Inglês m em mother
n n kuná'ín deve cessar Como em Inglês n em no
nd nᵈ ita ndeyu̱ orquídea Pronúnciado de forma similar a um n seguido por um d leve não-nasal
ng ŋ ngo̱o assentar Como em Inglês ng em eating
ñ ɲ ñuuyivi mundo Similar ao Espanhol ñ em caña, mas sem que a língua toque o palato duro.
o o chiso cunhada Similar ao Inglês o em toe
p p pi'lu peça, pedaço Similar ao Inglês p em pin
r ɾ ru'u I por vezes é vibrante.
s s sá'a astúcia Como em Inglês s em sit
t t tájí deve enviar Como em Inglês t em tin
ts ts tsi'ina cãozinho Como ț em Romeno ou ц em Russo
u u Nuuyoo México Como em Inglês u em tune
v β vilu gato Similar ao Espanholv em lava
x ʃ yuxé'é porta Como S inicial Inglês em English shop
y ʒ yuchi poeira Como em Inglês ge em beige
' ˀ ndá'a mão Quando uma vogal é glotalizada a mesma é pronunciada como se terminasse numa glotal oclusiva. Não é raro que uma vogal glotalizada tenha uma vogal não-glotalizada logo depois da primeira.

Fonologia

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A fonologia das línguas proto-otomangueanas foi reconstruída pelos pesquisadores Robert Longacre e Calvin Rensch. São nove consoantes, quatro vogais e quatro tons.[5] Os grupos consonantais e os ditongos formados a partir dessa pequena quantidade de fonemas seria a origem dos fonemas dos subgrupos de línguas originados dessas proto-otomanguanas. As principais mudanças ocorridas na diversificação dos fonemas proto-otomangueanos em fonemas proto-mistecos são apresentadas a seguir.

Proto-Otomangueanas **t **k **kʷ **s **n **y **w **nt **nk **nkʷ **ns **nn **ny **nw
Proto-Mixtecas *t *k *y *w *ⁿd *ⁿɡ *ⁿɡʷ *ⁿɡʷ *l *m

Rensch revisou o trabalho de reconstrução de Longacre. A revisão do inventário fonológico provável e descrição de algumas das propostas de Rensh foi feita com base nos cognatos das línguas mixtecas. Com esse estudo, Longrace propôs a nova reconstrução com 16 consoantes, com as mesmas quatro vogais e os quatro tons.[6]

Reconstrução do sistema de consoantes proto-mixtecos
  Labial Dental Alveolar Postalveolar Palatal Velar Glotal
Obstruentes *t *ⁿd   *k *kʷ
*ⁿɡ *ⁿɡʷ
Fricativas   *x *xʷ *h
Aproximantes *l *j *w  
Nasal//Oclusivas *m *n    
Fonte: Rensch (1977): 59.

Fonemas

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É difícil uma apresentação simples dos fonemas mixtecos pelo fato de haver muita diversidade entre as línguas do grupo. Assim, análise sob prismas diferentes levaram a resultados diferentes. A fonologia dessas línguas parece decepcionar numa primeira vista por sua aparente simplicidade, mas se mostra bem mais interessante depois de melhor avaliada. a lista seguir apresenta tão somente as consoantes e vogais mais comuns, as compartilhadas pelas diferentes línguas mixtecas. Não estão aí incluídos sons usados em palavras de línguas estrangeiras.

Consonants of the Mixtec languages
Bilabial Interdental Alveolar Palatoalveolar Palatal Velar
surda sonora surda sonora surda sonora surda sonora surda sonora surda sonora
Plosiva p t k,
Africada
Fricativa δ s ʃ x
Nasal m n, nᵈ ɲ [j̃]1
Aproximante w [β] l j [ʒ]
Vibrante simples ɾ
1Mais comum e realmente uma aproximante palatal nasalizada
Vogais das línguas mixtecas
Anterior Central Posterior
Fechada i ɨ u
Média e o
Aberta a
+ nasalização e glotalização

Nem todas as variantes mixtecas têm o /s/ sibilante. Algumas não apresentam a fricativa interdental /ð/, outras não têm a fricativa velar /x/. Poucas apresentam a africada /ts/. Conforme alguns analistas, os sons /m/ e /w/ ([β]) são condicionados pela nasalização, como também o são as are /n/ e /nᵈ/, e ainda /ɲ/ e /j/ ([ʒ]).

Uma das principais características dos idiomas mixtecos é o fato de serem línguas tonais como ocorre com todas demais línguas otomanguanas. Mesmo com a grande significância dos tons, tem ocorrido muitas análises divergentes quanto a essa característica dentre as línguas.

. Algumas das mixtecas apresentam complexo Sândi tonais.[7] . Uma língua mixteca, a trique, tem um dos mais complexos sistemas tonais do mundo,[8] sendo que uma das suas variedades, o trique Chicahuaxtla, apresenta segundo alguns analistas dez tond pelo menos, mas há outros que identificaram dezesseis tons.[9]

A versão mais comum distingue pelo menos três tons diferentes: Alto, Médio, Baixo, os quais podem ser usado para marcar diferentes léxicos:

Kuu [kùū] Ser
Kuu [kūù] Morrer

Em algumas variantes mixtecas, o tom pode ser usado gramaticalmente uma vez que as vogais ou mesmo sílabas completas com as quais os tons eram associados se havia perdidos historicamente. Nos sistemas práticos de escrita a representação do tom pode ter formas diversas. Não deve haver geralmente uma carga alta de tom, embora em algumas das mixtecas o tom seja a única indicação para diferentes aspectos , como a indicação de afirmação em verbos negativos.

Amostra de texto

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Taka ma ñayi nguiakoi ñayivi ñatu na ja'a tnu'u ja kusa'a ndeva'ña-i, su'uva kajito va'aña-i, yuka ku ja jiniñu'u ja kukototna-i.

Português

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. (Artigo 1º - Declaração Universal dos Direitos Humanos')

  1. Censo 2000 – números baseados na população de cada grupo e nas percentagens de falantes mixtecos nos grupos conforme dados da “ Comisión Nacional para el Desarrollo de los Pueblos Indígenas” http://www.cdi.gob.mx/index.php?id_seccion=660, acesso em 28 Julho 2008)
  2. Conforme o “Summer Institute of Linguistics”
  3. Suárez, 1983: 153.
  4. Bellwood: 2005, 239.
  5. Rensch, 1966.
  6. Rensch, 1977: 59.
  7. McKendry (2001)
  8. Hollenbach (1984)
  9. Longacre (1957)

Bibliografia

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Em espanhol

  • Daly, John P. 1973. A generative syntax of Peñoles Mixtec. Norman, Oklahoma: Summer Institute of Linguistics of the University of Oklahoma.
  • Jiménez Moreno, Wigberto. 1962. Estudios mixtecos. Mexico City: Instituto Nacional Indigenista (INI); Instituto Nacional de Antropología e Historia (INAH). (Reprint of the introduction to the Vocabulario en lengua mixteca by Fray Francisco de Alvarado.)
  • Mixteco de Santa María Peñoles, Oaxaca. Mexico City: Centro de Investigación para la Integración Social. Series: Archivo de Lenguas Indigenas de Mexico.
  • Alexander, Ruth Mary. 1980. Gramática mixteca de Atatláhuca. Gramática yuhu sasau jee cahan ñayuu San Esteban Atatláhuca. Instituto Lingüístico de Verano. México. Series: Gramáticas de Lenguas Indígenas de México; 2.

Em inglês

  • Bradley, C. Henry. 1970. A linguistic sketch of Jicaltepec Mixtec. Norman, Oklahoma: Summer Institute of Linguistics of the University of Oklahoma.
  • Bradley, C. Henry & Barbara E. Hollenbach, eds. 1988, 1990, 1991, 1992. Studies in the syntax of Mixtecan languages, volumes 1-4. Dallas, Texas: Summer Institute of Linguistics; [Arlington, Texas:] University of Texas at Arlington.
  • Campbell, Lyle. 1997. American Indian languages: the historical linguistics of Native America. Oxford: Oxford University Press.
  • Josserand, Judy Kathryn. 1983. Mixtec Dialect History. Ph.D. Dissertation, Tulane University.
  • Longacre, Robert E. 1957. Proto-Mixtecan. International Journal of American Linguistics 23(4):1-195.
  • Macaulay, Monica. 1996. A grammar of Chalcatongo Mixtec, University of California Publications in Linguistics. ISBN 0-520-09807-2.
  • Macaulay, Monica & Joe Salmons. 1995. The phonology of glottalization in Mixtec. International Journal of American Linguistics 61(1):38-61.
  • Marlett, Stephen A. 1992. Nasalization in Mixtec languages. International Journal of American Linguistics 58(4):425-435.
  • McKendry, Inga. 2001. Two studies of Mixtec languages.‭ M.A. thesis. University of North Dakota.
  • Shields, Jäna K. 1988. [www.sil.org/acpub/repository/21773.pdf A syntactic sketch of Silacayoapan Mixtec]. In C. Henry Bradley & Barbara E. Hollenbach (eds.) Studies in the syntax of Mixtecan languages, vol. 1. Dallas: Summer Institute of Linguistics; [Arlington:] University of Texas at Arlington, pp. 305–449.

Ligações externas

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