Língua trácia
A língua trácia foi a língua indo-europeia falada na Antiguidade pelos trácios no sudeste da Europa.
Língua trácia | ||
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Falado(a) em: | Trácia | |
Extinção: | século V | |
Família: | Indo-europeu | |
Escrita: | Alfabeto grego | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
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ISO 639-2: | ine | |
ISO 639-3: | txh
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Distribuição geográfica
editarExcluindo o dácio, cujo status como uma língua trácia é contestado,[1] o trácio era falado por um grande número de pessoas no que hoje é o sul e o centro da Bulgária, partes da Sérvia, Macedônia do Norte, norte da Grécia (especialmente antes da expansão dos antigos macedônios), por toda a Trácia (incluindo a Turquia europeia) e em partes da Bitínia (noroeste da Turquia asiática).
Incluindo o dácio/gético, era falado na Romênia, norte da Bulgária, partes da Sérvia, da Moldávia, Ucrânia centro-ocidental, Hungria oriental e Eslováquia.
Fontes
editarPor ser uma língua extinta com apenas umas poucas inscrições a ela relacionadas, há pouco conhecimento sobre a língua trácia, mas várias características são conhecidas e consentidas. Algumas palavras trácias podem ser encontradas citadas em textos antigos[2] (esta lista exclui nomes dácios de plantas que todavia são às vezes incluídos):
- asa, palavra bessiana para o tussilago;
- bolinthos, "touro selvagem";
- búlgaro e macedônio vol, "um touro, bisão"; inglês bull, "touro".
- bria, "cidade, vila".
- brynchos, "violão";
- dinupula, *sinupyla, "abóbora selvagem";
- cf. búlgaro e macedônio dinya, "uma melancia"; lituano šúnobuolas, "abóbora selvagem"; albanês thënukël, "tipo de fruto de arbusto".
- genton, "carne".
- kalamindar, "plátano".
- kemos, "um tipo de fruta com folículos".
- ktistai, "trácios vivendo em celibato, monges".
- mendruta, um nome moésio para a beterraba ou alternativamente a designação do Veratrum nigrum.
- rhomphaia, "uma lança", depois o significado "espada" é atestado;
- cf. macedônio rofia, "um raio", "a espada de Deus"; búlgaro roféya, rufia, "um raio"; albanês rrufë, "um raio".
- skalme, "uma faca, uma espada".
- skarke, "uma moeda".
- spinos, "uma pedra que queima quando se derrama água sobre ela".
- torelle, "um lamento, uma canção fúnebre".
- zalmos, zelmis, "um esconderijo, pele";
- zeira, zira, "um tipo de sobretudo (roupa)".
- zelas, "vinho";
- russo zelye, "uma mistura fermentada".
- zetraia, "um pote";
- grego chutra (χύτρα), "pote";
- zibythides, "o nobre trácio, homens e mulheres";
- lituano zhibut, "fogo, luz"; macedônio e sérvio shibytsa, "uma vareta brilhante"; búlgaro e macedônio shibam, "bater, golpear, chicotear, açoitar".
Além disso, há muitas palavras e prováveis palavras extraídas de antropônimos, topônimos, hidrônimos, orônimos e outros elementos léxicos encontrados em fontes antigas e bizantinas:
- -disza, -diza, -dizos, "uma povoação fortificada";
- cf. eslavo zidati, sozidati, (po)dizati, "construir".
- -para, -pera, -paron, etc, "uma cidade".
Várias prováveis palavras trácias são encontradas em inscrições (a maioria delas escritas com o alfabeto grego) em edifícios, moedas e outros artefatos (ver inscrições abaixo).
Outra fonte do vocabulário trácio são palavras de etimologia desconhecida ou contestada encontradas no búlgaro e no macedônio assim como no romeno. O albanês é às vezes considerado como descendente do dácio ou do trácio, ou como descendente do ilírio mesclado com o daco-trácio; assim, o léxico albanês é outra fonte.
Palavras trácias no léxico do grego antigo também são propostas. Elementos léxicos gregos talvez derivem do trácio como, por exemplo, balios, "manchado, colorido", do PIE *bhel-, "brilhar". Julius Pokorny também cita o ilírio como uma possível fonte; bounos, "colina, monte".
Inscrições
editarApenas quatro inscrições trácias foram encontradas. Uma está em um anel de ouro encontrado em 1912 na cidade de Ezerovo, na Bulgária. O anel foi datado com sendo do século V a.C. No anel há uma inscrição escrita com o alfabeto grego que diz:
- ΡΟΛΙΣΤΕΝΕΑΣΝ / ΕΡΕΝΕΑΤΙΛ / ΤΕΑΝΗΣΚΟΑ / ΡΑΖΕΑΔΟΜ / ΕΑΝΤΙΛΕΖΥ / ΠΤΑΜΙΗΕ / ΡΑΖ / ΗΛΤΑ
- rolisteneasn / ereneatil / teanēskoa / razeadom / eantilezu / ptamiēe / raz / ēlta
O significado da inscrição não é conhecido e não se parece com qualquer língua conhecida. Estudiosos de trácio como Georgiev e Dechev propuseram várias traduções para a inscrição, mas são apenas conjecturas.
Uma segunda inscrição foi encontrada em 1965 próximo à vila de Kjolmen, no distrito de Preslav, datada do século VI a.C. Consiste de 56 letras do alfabeto grego, provavelmente um epitáfio tumular semelhante aos frígios:
- ΕΒΑΡ. ΖΕΣΑΣΝ ΗΝΕΤΕΣΑ ΙΓΕΚ.Α / ΝΒΛΑΒΑΗΕΓΝ / ΝΥΑΣΝΛΕΤΕΔΝΥΕΔΝΕΙΝΔΑΚΑΤΡ.Σ
- ebar. zesasn ēnetesa igek. a / nblabaēgn / nuasnletednuedneindakatr.s
Uma terceira inscrição está novemente em um anel, encontrado em Duvanli, no distrito de Plovdiv, perto da mão esquerda de um esqueleto. Data do século V a.C. O anel possui a imagem de um cavaleiro com a inscrição envolvendo a imagem. Está apenas parcialmente legível:
- ΗΖΙΗ..... ΔΕΛΕ / ΜΕΖΗΝΑΙ
- ēziē..... dele / mezēnai
ΜΕΖΗΝΑΙ provavelmente corresponde a Menzana, o "cavalo deus" messápio, a quem os cavalos eram sacrificados, comparável também ao albanês mes, mezi e ao romeno mânz, "potro", derivado do PIE *mend(i)-, "cavalo".
Estas são as maiores inscrições preservadas. As restantes são na maioria palavras isoladas ou nomes em vasilhames e outros artefatos. Além disso, elementos léxicos trácios têm sido retirados de inscrições em grego e em latim.
Em uma inscrição latina de Roma tratando de um cidadão da província romana da Trácia, encontra-se a frase Midne potelense; isto é interpretado como a indicação do lugar trácio de origem, Midne sendo visto como o equivalente trácio do latim vico (em latim: vicus), "vila". Se isto estiver correto, a palavra trácia tem um cognato próximo no letão (mitne, "uma residência"), uma língua báltica. Poderia ser associada também com o termo búlgaro para "local de residência", mitnitsa.
Classificação
editarO trácio era uma língua indo-europeia, uma língua satem. Os detalhes e sua afiliação e lugar dentro do indo-europeu não é claro (ver classificação do trácio).
Extinção
editarA maioria dos trácios foi finalmente helenizada (na província da Trácia) ou romanizada (na Mésia, Dácia, etc.), com os últimos remanescentes sobrevivendo em áreas remotas até o século V.[3]
Notas
- ↑ Isto é confirmado entre outros por Benjamin W. Fortson em seu Indo-European Language and Culture (Língua e Cultura Indo-européias), quando ele afirma que "todas as tentativas para relacionar o trácio ao frígio, ilírio, ou dácio... são... puramente especulativas" (p. 90)
- ↑ Duridanov, Ivan. «The Language of the Thracians»
- ↑ R. J. Crampton (1997). A Concise History of Bulgaria. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 4. ISBN 0-521-56719-X
Ver também
editarLeitura complementar
editar- I. I. Russu, Limba Traco-Dacilor / Die Sprache der Thrako-Daker, Bucareste (1967, 1969)
Ligações externas
editar- Thracian language
- «The Language of the Thracians» (em inglês). , an English translation of Ivan Duridanov's 1975 essay Ezikyt na trakite
- «Thracian glossary». (em inglês)