Lavra

vila e antiga freguesia de Matosinhos, Portugal

Lavra é uma vila portuguesa do Município de Matosinhos, sede da extinta freguesia homónima, que tinha 12km² de área e 10 033 habitantes (2011).[2]

Portugal Lavra 
  Freguesia portuguesa extinta  
Museu da Escola de Lavra - A Pesca
Museu da Escola de Lavra - A Pesca
Museu da Escola de Lavra - A Pesca
Símbolos
Brasão de armas de Lavra
Brasão de armas
Gentílico lavrense
Localização
Lavra está localizado em: Portugal Continental
Lavra
Localização de Lavra em
Mapa
Mapa de Lavra
Coordenadas 41° 16′ 00″ N, 8° 43′ 00″ O
Município (s) atual (is) Matosinhos
Freguesia (s) atual (is) Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo
História
Extinção Janeiro de 2013
Características geográficas
Área total 10,60 km²
População total (2011) 10 033 hab.
Densidade 946,5 hab./km²
Outras informações
Orago Divino Salvador[1]
Sítio http://www.perafita-lavra-santacruzbispo.pt/index.php

A freguesia de Lavra foi extinta em 2013 no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada às freguesias de Perafita e Santa Cruz do Bispo para formar a União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo.[3]

Por seu lado, a povoação de Lavra foi elevada à categoria de vila em 2003.[4]

Etimologia

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Tratando-se apenas de uma hipótese proposta pelo Dr. Alberto Sampaio, registada na revista Portugália, a palavra Lavra pode ter surgido de La-abra (que significa: a abra, a angra, o pequeno porto) tendo-se obtido labra e que posteriormente evoluiu para Lavra.[5]

História

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Os mais antigos vestígios de presença humana na freguesia são datáveis do segundo milénio a.C.. Trata-se de fossas escavadas no solo da Idade do Bronze, confirmando a importância da região, tanto na Pré-História como na Antiguidade Clássica e Idade Média.[6] Estes vestígios juntam-se a outros já identificados numa sondagem de 2004 junto à Igreja Paroquial que poderão remontar ao terceiro milénio a.C..[7] Existem ainda vestígios de antas, em particular junto à Igreja Paroquial e no lugar de Antela, que lhes toma o topónimo.[8][9] Já nas inquirições feitas na compilação das Memórias Paroquiais de 1758, se destacava a presença dessas sepulturas na região:[10]

Regista-se também a presença povoados fortificados dos períodos da Idade do Ferro e romano.[11][12]

Com a conquista da Península por Augusto e a divisão que impôs à Hispânia, Lavra ficou integrada na província romana de Terraconense. Pela primeira vez, o domínio romano, nas suas mais variadas vertentes, se impôs neste território. É uma realidade nova que se começa a construir num território que, durante séculos, fora vivendo em povoados dispersos e onde o coletivismo era a forma de organização interna dominante nesses mesmos povoados. Os romanos criaram a indústria do garum, da salga do peixe, a qual é conhecida pela arqueologia. Também pela toponímia local (ainda hoje visível nos vários lugares da vila), pode concluir-se que Lavra foi uma importante vila rural romana, chamada vila labra.[13]

No Catálogo dos Bispos do Porto, regista-se que no ano de 1287, a Igreja do Salvador de Lavra era pertença do Mosteiro de Santo Tirso, da Ordem de São Bento.[14] Certas fontes indicam inclusive a existência de um mosteiro desta ordem beneditina, o Mosteiro de S. Salvador de Lavra.[15]

Regista-se ainda que em 1623, a freguesia do Salvador de Lavra registava 510 pessoas em comunhão e 92 menores, sendo comenda da Ordem de Cristo.[16]

Lavra foi também importante no período de restauração do Liberalismo em Portugal, nomeadamente nas Guerras Liberais (1828 - 1834), sendo palco do desembarque do rei D. Pedro IV na Praia dos Ladrões, em Pampelido, que, depois desse acontecimento, a 8 de Julho de 1832, se passou a chamar Praia da Memória, conservando um obelisco em memória do desembarque.

A reforma administrativa de 6 de novembro de 1836, retirou Lavra, na altura constituída por 300 fogos, da administração de Leça do Balio e anexou-a ao concelho de Bouças (atual Matosinhos).[17]

A 17 de junho de 1856, o surto de cólera morbus que atacava o país deu entrada no concelho de Bouças, sendo a freguesia de Lavra uma das mais afetadas. Um dos casos registados que acabou por recuperar foi o do médico Manuel Domingues dos Santos. Os depósitos de algas e sargaços usados para adubo foram apontados como causa da propagação da epidemia na vila de Matosinhos, enquanto que em Lavra a presença de terrenos pantanosos facilitaria a presença de febres intermitentes como a febre tifoide que já tinha atacado a freguesia.[18]

A 3 de junho de 1945, quase um mês depois da rendição incondicional da Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial, o submarino alemão U-1277 foi afundado ao largo do Cabo do Mundo pela própria tripulação para evitar que este caísse em mãos inimigas. A tripulação abandonou a embarcação em barcos de borracha e chegou à costa com a ajuda de pescadores locais de Angeiras. Os tripulantes foram transferidos para o Forte de São João Baptista da Foz, no Porto, e posteriormente enviados para Inglaterra onde permaneceram prisioneiros durante três anos.[19][20][21]

Foi elevada a vila em 1 de Julho de 2003.

Geografia

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Era a freguesia mais a norte do Município de Matosinhos. Era banhada a oeste pelo oceano Atlântico e fazia fronteira, a norte, com o Município de Vila do Conde, delimitada pelo Rio Onda, com o da Maia a este e a sul com a freguesia de Perafita. Englobava os lugares de Angeiras,[22] Antela,[23] Avilhoso,[24] Cabanelas,[25] Lavra, Paiço, Praia de Angeiras e Pampelido.

O relevo é pouco acidentado elevando-se suavemente desde a linha do mar até ao interior. Existem alguns cursos de água que aqui desaguam sendo o mais importante o Rio Onda.[26]

População

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População da freguesia de Lavra[27]
1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
1 481 1 685 1 939 2 164 2 452 2 643 2 950 3 733 4 450 5 064 5 944 7 682 8 894 9 408 10 033
Distribuição da População por Grupos Etários
Ano 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos
2001 1 520 1 383 5 379 1 126 16,2% 14,7% 57,2% 12,0%
2011 1 515 944 6 051 1 523 15,1% 9,4% 60,3% 15,2%

Cultura

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Educação

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Atualmente, Lavra possuí três escolas de 1.º ciclo e uma de 2.º e 3.º ciclos,[28] sendo esta última a sede do agrupamento.

Património

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Bibliografia

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  • Ramos, António Francisco. Lavra. Apontamentos para a sua Monografia. Porto: Imprensa Portuguesa, 1943.
  • Sampaio, Alberto. Estudos Históricos e Económicos "As Vilas do Norte de Portugal". Lisboa: Editora Gráfica Portuguesa, Lda, 1903.
  • Rodrigo da Cunha (1623). Catalogo e historia dos bispos do Porto. II. [S.l.: s.n.] 
  • Corazzi, David. Diccionario de Geographia Universal, Tomo I. 1878. Google Books

Referências

  1. «Paróquia de Lavra». Anuário Católico. Consultado em 9 de março de 2019 
  2. «População residente, segundo a dimensão dos lugares, população isolada, embarcada, corpo diplomático e sexo, por idade (ano a ano)». Informação no separador "Q601_Norte". Instituto Nacional de Estatística. Consultado em 17 de Março de 2014. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2013 
  3. Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 17 de março de 2014.
  4. «Lei n.º 97/2003, de 26 de agosto». diariodarepublica.pt. Consultado em 22 de novembro de 2023 
  5. «LAVRA através dos tempos (Lavra Romana)» 
  6. LUSA (15 de julho de 2021). «Achado arqueológico prova presença humana em Matosinhos há quatro mil anos». Público. Consultado em 24 de julho de 2021 
  7. «Igreja Paroquial de Lavra». Portal do Arqueólogo 
  8. «Antela». Portal do Arqueólogo 
  9. «Anta». Infopédia 
  10. «Lavra, Maia». Torre do Tombo. 1758 
      Descripçaõ da freguezia do Salvador de Lavra, da Comarca da Maya no Wikisource em português.
  11. «Angeses». Portal do Arqueólogo 
  12. «Monte Castro». Portal do Arqueólogo 
  13. Ramos, António Francisco. Lavra. Apontamentos para a sua Monografia. Porto: Imprensa Portuguesa, 1943, p. 23. [S.l.: s.n.] 
  14. da Cunha 1878, pp. 101-102. «Na Era de 1325. anno de Christo 1287. deu o Bispo po D. Viçẽte liçença ao Abbade do mosteiro de Santo Tirso, pera que nas suas Igrejas do Saluador da Laura, S. Lourēço de Armes, Sāta Maria de Villar, o Saluador de Folgoza, & S. Martinho de Couellas, pudessẽ aprezẽtar Abbades adnutũ Regulares, ou seculares, os quaes gastariaõ as rendas destas Igrejas, por ordẽ do Abbade do mesmo mosteiro, (...).»
  15. SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (dir.); PINA, Isabel Castro; ANDRADE, Maria Filomena; SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva (2005). Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico. Lisboa: Livros Horizonte. 51 páginas. ISBN 972-24-1433-X 
  16. da Cunha 1878, p. 328. «O Saluador da Laura. Tem o fantissimo Sacramẽto. De comunhao 510. pessoas, menores 92. He Comenda de Chrifto Rende duzētos mil reis. Vigairaria.»
  17. «Nova organização dos distritos Administrativos do Reino : Decreto de 6 de Novembro de 1836». Arquivo Municipal do Porto. 24 de dezembro de 1836. pp. 181–185 
  18. Portugal Conselho de Saude Publica do Reino (1858). Relatorio da epidemia de cholera-morbus em Portugal: nos annos 1855 e 1856. [S.l.]: Imprensa nacional. 108 páginas 
  19. a b «U-1277, um submarino alemão afundado em Matosinhos». RTP Ensina 
  20. a b «Submarino de Angeiras U 1277». Portal do Arqueólogo 
  21. a b «Mergulho». CM Matosinhos 
  22. Corazzi 1878, p. 117.
  23. Corazzi 1878, p. 136.
  24. Corazzi 1878, p. 263.
  25. Corazzi 1878, p. 603.
  26. «LAVRA através dos tempos (LAVRA no Concelho de Matosinhos)» 
  27. Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
  28. «Escolas do Agrupamento». Consultado em 9 de março de 2019 
  29. «Angeiras». Portal do Arqueólogo. Consultado em 24 de julho de 2021 
  30. «Tanques Escavados nos Rochedos da Praia de Angeiras». monumentos.gov. Consultado em 9 de março de 2019 
 
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