Cricrió-seringueiro
Cricrió-seringueiro[2] (nome científico: Lipaugus vociferans), também chamado de bastião, biscateiro, capitão da mata, coniconió, frifrió, goela-d'água, gritador, pium, sabiá-tropeiro, seringueiro, sim-senhor, tem-tem, tropeiro, viruçu, vissiá ou vivió[3] é uma ave passeriforme da família dos cotingídeos (Cotingidae)
Cricrió-seringueiro | |||||||||||||||
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Indivíduos vocalizando
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1] | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Lipaugus vociferans (Wied, 1820) | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
Distribuição do cricrió-seringueiro
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Sinónimos | |||||||||||||||
Muscicapa vociferans (Wied, 1820) |
Distribuição e habitat
editarO cricrió-seringueiro é encontrado em florestas úmidas na Amazônia e em partes tropicais da Mata Atlântica na América do Sul.[4] É avistado do leste e sul da Venezuela (sudeste de Sucre, Delta Amacuro, Bolívar, Amazonas), Guiana, Suriname, Guiana Francesa e áreas de selva em toda a bacia amazônica (a oeste da borda dos Andes) do Equador, Colômbia e Brasil ao sul através do Peru até a Bolívia. Também é avistado na região litorânea do leste do Brasil entre Pernambuco e Espírito Santo.[5] É uma ave comum nas partes média e inferior do dossel em altitudes abaixo de cerca de 500 metros (1 600 pés), ou até mil metros (3 300 pés) de altitude na Venezuela e no sopé dos Andes.[1][6]
Descrição
editarO cricrió-seringueiro cresce até um comprimento de cerca de 25 centímetros (10 polegadas) e pesa cerca de 80 gramas.[6] Ambos os sexos têm plumagem cinza fosco (asas e cauda geralmente um pouco mais escuras) e as partes inferiores são cinza mais pálidas.[7] Os juvenis são cinzas, mas podem apresentar tons de canela a ruivo nas asas, e nas penas coberteiras e retrizes.[8][9]
Como seus nomes científicos e populares indicam, é uma das vozes de aves mais poderosas e conhecidas de toda a Amazônia.[10] Seu chamado, que se repete até quatro vezes seguidas, soa como ooo ooo-ah, às vezes com duas notas iniciais ooo.[9] Também faz chamados towu em série e canta um refrão de ouh-ahs culminando em squii. . . squi-ah.[8] É capaz de atingir até 116 dB, perdendo apenas à araponga-da-amazônia (Procnias albus).[11][12]
Comportamento
editarO cricrió-seringueiro se empoleira ereto no interior da floresta e periodicamente voam para apanhar grandes insetos ou frutos, por vezes com bandos mistos, mas quase sempre solitários. Apesar de sua música poderosa e distinta, pode ser muito difícil de ver.[9] Durante o período reprodutivo, os machos se reúnem em grupos de quatro a dez indivíduos em exposição às fêmeas, que nas partes mais baixas da floresta estabelecem uma separação de 40 a 60 metros entre cada um para que cada lek faça sua exibição. O ninho é uma pequena plataforma em um galho de árvore, com cerca de 7 metros de altura, e fica completamente escondido pela fêmea que ali pousa.[6]
Sistemática
editarA espécie L. vociferans foi descrita pela primeira vez pelo naturalista alemão Maximilian zu Wied-Neuwied em 1820 sob o nome científico de Muscicapa vociferans; a sua localidade-tipo era: "Fazenda Pindoba, norte de Caravelhos, Bahia, Brasil."[5] O nome masculino do gênero, Lipaugus, deriva do grego lipaugēs ("escuro, abandonado pela luz");' (bico).[13] e o nome da espécie vociferans, vem do latim "vociferans, vociferantis" (gritador).[14] Apesar do aumento das medidas e peso do norte para o sudoeste da serra e da presença de uma população isolada no leste do Brasil, as variações são consideradas insuficientes para merecer a descrição de subespécies geográficas. É monotípico.[5]
Conservação
editarO cricrió-seringueiro está se adaptando bem às áreas de assentamento humano, como jardins e parques, e é considerado de menor preocupação pela BirdLife International (BLI). Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN), consta como pouco preocupante.[1] Em 2005, foi listado como em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[15] em 2017, foi classificado como vulnerável na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia;[16] e em 2018, como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[17][18]
Referências
- ↑ a b c BirdLife International (2016). «Lipaugus vociferans». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016: e.T22700856A93800098. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22700856A93800098.en . Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 213. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022
- ↑ «Cri-crió». Michaelis. Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ «Screaming Piha (Lipaugus vociferans)». Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ a b c Suzuki, I.; Fearnside, N.; Tori, W.; Pareja, J. I. (2020). «Screaming Piha (Lipaugus vociferans)». In: Schlenberg, T. S. Birds of the World. Col: 1.0. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. doi:10.2173/bow.scrpih1.01
- ↑ a b c Hilty, Steven L. (2003). Birds of Venezuela. Princeton: Imprensa da Universidade de Princeton. p. 640-641, Pl.50
- ↑ Hilty, Steven L.; Brown, William L. (1986). A guide to the birds of Colombia. Princeton: Imprensa da Universidade de Princeton. p. 445, Pl.34
- ↑ a b Schulenberg, Thomas S. (2007). Birds of Peru. Princeton: Imprensa da Universidade de Princeton. p. 486
- ↑ a b c Ridgely, Robert S.; Tudor, Guy (2009). Field Guide to the Songbirds of South America: Vol. II, The Suboscine Passerines. Austin: Imprensa da Universidade do Texas. p. 762. ISBN 978-0-292-71748-0
- ↑ Nemeth, Erwin (1 de janeiro de 2004). «Measuring the Sound Pressure Level of the Song of the Screaming Piha Lipaugus Vociferans: One of the Loudest Birds in the World?». Bioacoustics. 14 (3): 225–228. ISSN 0952-4622. doi:10.1080/09524622.2004.9753527
- ↑ Podos, Jeffrey; Cohn-Haft, Mario (21 de outubro de 2019). «Extremely loud mating songs at close range in white bellbirds». Current Biology (em inglês). 29 (20): R1068–R1069. ISSN 0960-9822. PMID 31639347. doi:10.1016/j.cub.2019.09.028
- ↑ «This is the world's 'loudest bird'». BBC News (em inglês). Consultado em 25 de outubro de 2019
- ↑ Jobling, J. A. (2010). «Lipaugus, p. 228». Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Bloomsbury Publishing. pp. 1–432. ISBN 9781408133262
- ↑ Jobling, J. A. (2010). «Vociferans, p. 404». Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Bloomsbury Publishing. pp. 1–432. ISBN 9781408133262
- ↑ «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022
- ↑ «Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia.» (PDF). Secretaria do Meio Ambiente. Agosto de 2017. Consultado em 1 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de abril de 2022
- ↑ «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018
- ↑ «Lipaugus vociferans (Wied, 1914)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 17 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022
Bibliografia
editar- Sick, Helmut (1997). Ornitologia brasileira 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 664. 862 páginas. ISBN 9788520908167
- Ohlson, Jan I.; Richard O. Prum, Per G.P. Ericson (2007). «A molecular phylogeny of the cotingas (Aves: Cotingidae)» (requer pagamento). Molecular Phylogenetics and Evolution (em inglês). 42 (1): 25-37. doi:10.1016/j.ympev.2006.05.041
- Snow, David (1982). The Cotingas: Bellbirds, Umbrella Birds and Their Allies. Ithaca, New York: Cornell University Press. ISBN 9780565008338
- Pizo, Marco A; Silva, Wesley R.; Galetti, Mauro; Laps, Rudi (2002). «Frugivory in cotingas of the Atlantic Forest of southeast Brazil». Ararajuba. 10 (2): 177-185. Consultado em 7 de novembro de 2015