Lista de crises econômicas no Brasil

Esta é uma lista de crises econômicas, financeiras e monetárias brasileiras. A economia do Brasil sempre foi caracterizada por instabilidade. Esta lista elenca os períodos de desajuste econômico mais significativos e que tiveram impacto em todo ou em grande parte do território nacional.

A lista distingue a origem de determinada crise entre interna e externa. As crises internas tiveram início no território nacional, enquanto as externas foram consequências locais de crises que tiveram início em outro país. Porém, essa distinção é uma simplificação, já que várias crises têm fatores tanto endógenos quanto exógenos.

Crise Descrição Origem Chefe de Estado
Crise da independência Crise que atravessou o processo de Independência do Brasil, caracterizada por uma duradoura estagnação das exportações, e que só iria se resolver mais tarde com a ascensão do café como principal produto da economia nacional.[1] Interna Pedro I
Crise de 1857 A crise de 1857, também chamado de pânico de 57, teve como origem a queda nos preços internacionais das commodities. A crise teve fim em agosto do ano seguinte.[2] No Brasil, os preços do café (principal exportação brasileira à época do ciclo do café) caíram no mercado internacional. As vendas do produto caíram de 2,0 para 1,8 milhões de sacas no ano seguinte.[3] Externa Pedro II
Crise de 1864 Ao contrário das crises de 1857 e 1875, esta teve origem interna. Sua causa foi uma política econômica excessivamente recessiva adotada no início da década.[2][4] Um acontecimento que marca o auge desta crise foi a quebra da Casa Souto, um dos maiores estabelecimentos bancários da época, em setembro desse ano.[3][2] Interna
Guerra do Paraguai A Guerra do Paraguai, iniciada em dezembro de 1864 e terminada em 1870, foi muito custosa ao governo imperial, gerando grande endividamento interno e externo e uma crise econômico-financeira. A guerra gerou dificuldades que se alastrariam pelo resto do reinado de Pedro II e anteciparia o fim da monarquia.[3][2] Externa
Crise de 1875 Em 1873, estourou uma crise internacional, conhecida como o pânico de 1873 e considerada por muitos historiadores como a mais grave do século XIX. A crise chegou ao Brasil em 1875.[2] O governo retirou 20% do meio circulante do país. Vários bancos faliram. A crise foi ainda agravada pela Grande Seca no nordeste dois anos depois.[3] Externa
Crise do encilhamento Após a Proclamação da República, Ruy Barbosa, ministro da Fazenda, assinou um decreto, em 1890, que permitia que estabelecimentos bancários emitissem dinheiro. A razão para a medida era que a quantidade de dinheiro no país não era suficiente para atender às necessidades de expansão da agricultura e da indústria, além de haver mais trabalhadores assalariados a serem pagos desde o fim da escravidão. Com a medida, a quantidade de dinheiro no país triplicou de 1889 a 1891. Mas a euforia financeira gerada ultrapassou em muito a capacidade produtiva do país. Como consequência, houve uma grande quantidade de falências e um enorme processo inflacionário.[5] Interna Fonseca, Peixoto
Grande Depressão A Grande Depressão de 1929 teve graves impactos na produção de café no Brasil, que era o principal produto exportado. Nessa época, várias toneladas de café foram queimadas para controlar os preços e acabar com os estoques.[6] Externa Luís, Vargas
Crise econômica no início dos anos 1960 A partir de 1962, o país enfrentou baixas taxas de crescimento, chegando apenas 0,6% de crescimento em 1963.[7] De um lado, houve uma queda dos investimentos públicos e privados; de outro lado, a elevação do déficit público, causando a aceleração da inflação, que em 1961 era de 51,6% e passa a 80% em 1962, chegando a 93% em 1963.[8] Tudo isso leva a uma crise no balanço de pagamentos.[9] Interna Goulart,Castelo
Fim do padrão-ouro O fim do padrão-ouro em 1971 foi um evento que alterou a geografia econômica e política mundial. A partir desse choque, o Dólar americano seria o lastro de todas as economias mundiais, tornando todas as moedas fiduciárias e de cunho forçado, lastreadas apenas em títulos da dívida americana, deflagrando os choques do petróleo. Externa Médici
Crises do Petróleo Os preços do barril de petróleo se elevaram, deflagrando prolongada recessão nos Estados Unidos e na Europa, desestabilizando a economia mundial. No Brasil, a crise marcou o início do fim do "milagre econômico brasileiro", ocorrido durante a ditadura militar. A causa dessa crise mundial foi uma reação provocada pelo embargo dos países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e Golfo Pérsico de distribuição de petróleo para os Estados Unidos e países da Europa. Num contexto de déficit de oferta, com o início do processo de nacionalizações e de uma série de conflitos, como a guerra dos Seis Dias (1967), a guerra do Yom Kipur (1973), a revolução islâmica no Irã (1979) e a guerra Irã-Iraque (a partir de 1980), além de uma excessiva especulação financeira. Externa Médici, Geisel
Década perdida A década perdida refere-se aos anos 1980, nos anos finais e depois da ditadura militar. Foi uma época de estagnação do produto interno bruto do Brasil, inflação elevada e crise do endividamento externo.[10] Interna Figueiredo, Sarney, Collor
Hiperinflação Surto de inflação nos anos 80 e início dos anos 90.[11] Interna
Efeito tequila "Efeito tequila" foi como ficaram conhecidas as consequências, no Brasil, da crise econômica do México de 1994. O México havia novamente decretado moratória da sua dívida. Como consequência, os investidores retiraram suas aplicações não só do México, mas também de outros países da América Latina, entre eles o Brasil. A crise foi superada em poucos meses, após breve recessão.[2] Externa FHC
Efeito samba Forte movimento de queda do real em janeiro de 1999, quando o Banco Central abandonou o regime de bandas cambiais, passando a operar em regime de câmbio flutuante. Esse novo regime fez parte do tripé macroeconômico. Interna
Crise de 2007–2008 A crise financeira global de 2007–2008 teve início nos Estados Unidos. Os efeitos dessa crise levaram tempo para ser sentidos no Brasil. Contudo, houve uma desaceleração da economia nacional.[12] Externa Lula
Crise econômica de 2014 Também conhecida como a "grande recessão brasileira", foi uma profunda e duradoura crise econômica, sendo caracterizada por recessão por dois anos consecutivos (2015 e 2016) e por sua longa e lenta recuperação, a mais lenta da história do país. Suas causas são a política econômica da presidente Dilma Rousseff, conhecida como a nova matriz econômica; a desvalorização das commodities em 2014; e a crise política no país. Dentre essas três causas, apenas a desvalorização foi um acontecimento externo.[13] Interna Dilma, Temer
Crise causada pela Pandemia de COVID-19 Em 2020, ainda sob os efeitos da crise de 2014, o país entrou em nova crise devido à pandemia de COVID-19. Em março, foi prevista pela primeira vez uma retração no PIB do país para o ano devido principalmente à pandemia.[14] Externa Bolsonaro

Antes da independência

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Antes da independência, o Brasil era parte do mais vasto Império Português. Deste modo, não é fácil determinar se a origem de determinada crise foi interna ou externa. Também é difícil falar em crise econômica antes de uma economia capitalista firmemente estabelecida. De todo modo, algumas crises do período colonial são as seguintes:

Epidemia de sarampo entre os escravos em 1745 — Segundo a "lista dos escravos que se tomaram para o engenho de Sergipe do conde" no ano 1745, no Cartório dos Jesuítas,[15] houve um grande prejuízo em "todos os engenhos e escravaturas do Brasil", devido a "uma epidemia universal que chegou a todos vinda em um navio de negros da Costa da Mina, [...] a todos causou estragos perdas e despesas." (Entende-se: perdas e despesas para a economia.)[15]

Decadência da mineração ao fim do século XVIII — Crise causada pelo esgotamento das jazidas de ouro e de outros metais preciosos, encerrando o ciclo do ouro. Durante o período colonial, sempre houve um grande produto que era o centro da economia, como o ouro, e, antes dele, o açúcar. Após o fim do ciclo do ouro, faltava ao Brasil um grande produto para preencher a lacuna deixada pelos metais preciosos.[16] A crise que seria causada pelo esgotamento do ouro foi prevista pelo vice-rei Luís de Almeida Portugal Soares Mascarenhas (vice-rei de 1769 a 1778), que, com isso em mente, favoreceu o desenvolvimento da lavoura.[17] Durante a crise, o poder de compra da população era bem menor do que na fase áurea da mineração. "Entre 1750 e 1850, a economia brasileira não está só estacionada. Ela regride." (Conforme o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira.)[18] Foi uma crise longa, que só terminaria no século seguinte, durante o período regencial (1831-1840), com a ascensão do café.[16]

Nada ficou, no solo brasileiro, do impulso dinâmico do ouro, salvo os templos e as obras de arte. Em fins do século XVIII, embora ainda não se tivessem esgotado os diamantes, o país estava prostrado. A renda per capita dos 3 milhões de brasileiros não superava os 50 dólares anuais no atual [década de 1970] poder aquisitivo, segundo os cálculos de Celso Furtado, e este era o nível mais baixo de todo o período colonial.
Galeano, Eduardo (29 de setembro de 2010). As veias abertas da América Latina. [S.l.]: L&PM Editores 

Ver também

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Referências

  1. «A grande crise da Independência». desafios.ipea.gov.br. Consultado em 18 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2020 
  2. a b c d e f Siqueira, Alexis Cavicchini Teixeira de (2007). A história dos bancos no Brasil: das casas bancárias aos conglomerados financeiros. [S.l.]: COP Editora 
  3. a b c d «História - Império de crises». www.ipea.gov.br. Consultado em 16 de outubro de 2020. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2019 
  4. Conforme o livro citado acima (A história dos bancos no Brasil):
  5. «A evolução econômica da primeira república». Enciclopédia Delta de História do Brasil. [S.l.]: Editora Delta S/A. 1969. p. 1795 
  6. Comércio, Jornal do. «Crise acaba com era de ouro do café no Brasil». Jornal do Comércio. Consultado em 16 de outubro de 2020 
  7. Coutinho, Mauricio C. (dezembro de 2015). «SUBDESENVOLVIMENTO E ESTAGNAÇÃO NA AMÉRICA LATINA, DE CELSO FURTADO». Revista de Economia Contemporânea (3): 448–474. ISSN 1415-9848. doi:10.1590/198055271935. Consultado em 9 de fevereiro de 2021 
  8. Capelato, Maria Helena R. (10 de dezembro de 1973). «Resenha de: Da substituição de importações ao capitalismo financeiro». Revista de História (96). 594 páginas. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1973.132095. Consultado em 9 de fevereiro de 2021 
  9. Bugelli, Alexandre Hamilton (16 de maio de 2008). «A crise econômica brasileira dos anos 1960: uma reconstrução do debate». Consultado em 9 de fevereiro de 2021 
  10. Ometto, Ana Maria H.; Furtuoso, Maria Cristina O.; Silva, Marina Vieira da (outubro de 1995). «Economia brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida da população». Revista de Saúde Pública (5): 403–414. ISSN 0034-8910. doi:10.1590/S0034-89101995000500011. Consultado em 18 de outubro de 2020 
  11. «G1 explica a inflação». g1.globo.com. Consultado em 19 de outubro de 2020. No Brasil, a hiperinflação ocorreu nos anos 80 e início dos anos 90, [...] 
  12. Giselle Garcia (15 de maio de 2016). «Entenda a crise econômica». Agência Brasil. Consultado em 6 de fevereiro de 2018 
  13. Carvalho, Laura (2018). Valsa brasileira: Do boom ao caos econômico. [S.l.]: Editora Todavia S.A. pp. 144–145. ISBN 9788593828638 
  14. de Castro, Fabrício (30 de março de 2020). «Pela primeira vez, boletim Focus, do BC, prevê retração no PIB deste ano». Estadão. Consultado em 29 de abril de 2020 
  15. a b "Lista dos escravos que se tomaram para o engenho de Sergipe do conde" de Linhares , Cartório dos Jesuítas, mç. 15, n.º 25, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa, Portugal
  16. a b «A evolução cultural do império». Enciclopédia Delta de História do Brasil. [S.l.]: Editora Delta S/A. 1969. p. 1652 
  17. «No Tempo dos Vice-Reis». Enciclopédia Delta de História do Brasil. [S.l.]: Editora Delta S/A. 1969. p. 1544—1553 
  18. Pereira, Luiz Carlos Bresser (1998). Economia brasileira: uma introdução crítica 3ª ed. [S.l.]: Editora 34. p. 37