Jonas é um livro bíblico do Antigo Testamento, vem depois do Livro de Obadias e antes do Livro de Miqueias.[1][2] Segundo a interpretação tradicional seria um relato biográfico do profeta Jonas, na qual o Deus de Israel o terá mandado profetizar ao povo de Nínive, grande capital do Império Assírio, para persuadi-los a se arrependerem ou seriam destruídos dentro de 40 dias. O Livro de Jonas fala foi tido como o profeta Jonas, filho de Amitai, que profetizou no Reino de Israel Setentrional, no século VII, no reinado de Jeroboão II. (Jonas 1:1; II Reis 14:25).

Selo postal israelense com citação de Jonas 4:8. “e o sol lançou seus raios na cabeça de Jonas.” Pinturas baseadas em tópicos do livro do profeta, capítulos 1 e 4. 21 de agosto de 1963, idiomas hebraico e francês.

Relato bíblico

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Jonas é o personagem central do livro de Jonas, no qual Deus ordena que ele vá à cidade de Nínive para profetizar contra ela "porque a sua maldade subiu até a minha presença",[3] mas Jonas, em vez disso, tenta fugir da "presença do Senhor" indo para Jope e navegando para Társis.[4] Uma enorme tempestade surge e os marinheiros, percebendo que não é uma tempestade comum, lançam sorte e descobrem que Jonas é o culpado.[5] Jonas admite isso e afirma que se ele for jogado ao mar, a tempestade cessará.[6] Os marinheiros se recusam a fazer isso e continuam a remar, mas todos os seus esforços fracassam e acabam sendo forçados a jogar Jonas ao mar.[7] Como resultado, a tempestade se acalma e os marinheiros oferecem sacrifícios a Deus.[8] Jonas é milagrosamente salvo por ser engolido por um peixe grande, em cuja barriga ele passa três dias e três noites.[9] Enquanto estava no grande peixe, Jonas ora a Deus em sua aflição e se compromete a agradecer e a pagar o que prometeu.[10] Deus então ordena que o peixe vomite Jonas.[11]

Deus novamente ordena que Jonas viaje para Nínive e profetize a seus habitantes.[12] Desta vez, ele entra e entra na cidade, gritando: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída".[13] Depois que Jonas atravessou Nínive, o povo de Nínive começou a acreditar em sua palavra e proclamar um jejum.[14] O rei de Nínive veste um pano de saco e senta-se sobre cinzas, fazendo uma proclamação que decreta o jejum, o uso de pano de saco, a oração e o arrependimento.[15] Deus vê seus corações arrependidos e poupa a cidade naquele momento.[16] A cidade inteira é humilhada e está submissa pelo povo (e até pelos animais), que são cobridos de saco e cinzas.[17]

Descontente e enfurecido por isso, Jonas se refere à sua viagem anterior para Társis, afirmando que, como Deus é misericordioso, era inevitável que Deus se afastasse das calamidades ameaçadas.[18] Ele então sai da cidade e construiu para si um abrigo, esperando para ver se a cidade será ou não destruída.[19] Deus faz com que uma planta (em hebraico: um kikayon) cresça sobre o abrigo de Jonas, para lhe dar alguma sombra do sol.[20] Mais tarde, Deus faz com que uma lagarta morda a raiz da planta e ela murcha.[21] Jonas, agora sendo exposto a toda a força do sol, quase desmaia e pede a Deus que o mate.[22]

Mas Deus disse a Jonas: "Você tem alguma razão para estar tão furioso por causa da planta? " Respondeu ele: "Sim, tenho! E estou furioso a ponto de querer morrer". Mas o SENHOR lhe disse: "Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?"
— Jonas 4:9-11 (NVI)

 [23]

Considerações

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A Assíria, inimiga do povo de Israel de longa data, era império dominante aproximadamente entre 885 e 665 a.C.. Segundo o relato, parece evidente que a agressividade militar assíria era mais fraca durante o tempo de Jonas. Além disso, o Rei Jeroboão II foi capaz de reivindicar áreas da Palestina desde Hamate até o Mar Morto, como teria sido profetizado por Jonas.

Por outro lado, outros estudos[24][25][26][27][28][29][30][31][32] indicam que se trata de um escrito posterior ao Exílio na Babilônia, escrito no séc V AC (ou mesmo posterior), e que o livro de Jonas é considerado profético unicamente porque em 2Rs 14:25 se menciona um profeta com o mesmo nome.

Tal tese baseia-se no fato de que seu estilo e tema diferem muito dos outros livros proféticos, que em geral são escritos em verso. Enquanto os profetas ameaçam as nações pagãs, o livro de Jonas relata a conversão dos ninivitas e anuncia a misericórdia a esse que foi um dos povos mais odiados por Israel. Os profetas estão solidamente enraizados na situação político-social; Jonas parece estar solto no ar.

Portanto, o livro de Jonas seria um escrito sapiencial, não pertencendo ao gênero histórico, mas ao gênero parabólico,[33] uma espécie de novela para ilustrar o tema da misericórdia de Javé, que não é um Deus nacional, mas um Deus de toda a humanidade; ele quer que todos se convertam, para que tenham a vida (4:2).

O livro rompe com uma interpretação estreita da profecia contra as nações feitas por outros profetas, afirmando que profecias são condicionais, pois Deus quer a conversão das nações e não sua destruição.[34]

 
Jonas e a baleia. Pedra frontal (gevelsteen) de casa residencial em Haarlem, Holanda. Século XVIII.

A obra nasceu no pós-exílio, quando o povo judeu estava se fechando num exagerado nacionalismo exclusivista (cf. Esd 4:1-3; Ne 13:3), bem refletido na mesquinhez do justo Jonas. Por outro lado, os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos dos homens: Deus quer salvar também os inimigos, os pagãos de Nínive, capital da Assíria, modelo de crueldade e opressão contra o povo de Israel. Deus não quer que suas criaturas se percam (cf. Sb 1:12ss) e para ele ninguém está irremediavelmente perdido (cf. Ez 18:23.32; Lc 15).

A história do peixe tornou famoso o livro, pois os evangelhos celebrizam a figura e aventura de Jonas como sinal da morte e ressurreição de Jesus: assim como Jonas ficou três dias no ventre do peixe, Jesus vai ficar três dias no ventre da terra; depois ressuscitará, como Jonas voltou à luz do dia (cf. Mt 12:39-41 e paralelos).[24]

Acréscimo posterior

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Segundo a Bíblia de Jerusalém os versículos 3 a 10 do capítulo 2 foram acrescidos posteriormente.[25]

Ver também

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Referências

  1. Echegary, J. González et ali (2000). A Bíblia e seu contexto. 2 2 ed. São Paulo: Edições Ave Maria. 1133 páginas. ISBN 978-85-276-0347-8 
  2. Pearlman, Myer (2006). Através da Bíblia. Livro por Livro 23 ed. São Paulo: Editora Vida. 439 páginas. ISBN 978-85-7367-134-6 
  3. «"Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença".» (Jonas 1:2)
  4. «Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor.» (Jonas 1:3)
  5. «O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar, e caiu uma tempestade tão violenta que o barco ameaçava arrebentar-se. Todos os marinheiros ficaram com medo e cada um clamava ao seu próprio deus. E atiraram as cargas ao mar para tornar mais leve o navio. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido para o porão e se deitado, dormia profundamente. O capitão dirigiu-se a ele e disse: "Como você pode ficar aí dormindo? Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos". Então os marinheiros combinaram entre si: "Vamos tirar sortes para descobrir quem é o responsável por esta desgraça que se abateu sobre nós". Tiraram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.» (Jonas 1:4-7)
  6. «Visto que o mar estava cada vez mais agitado, eles lhe perguntaram: "O que devemos fazer com você, para que o mar se acalme?" Respondeu ele: "Peguem-me e joguem-me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês".» (Jonas 1:11-12)
  7. «Ao invés disso, os homens se esforçaram ao máximo para remar de volta à terra. Mas não conseguiram, porque o mar tinha ficado ainda mais violento. Então eles clamaram ao Senhor: "Senhor, nós suplicamos, não nos deixes morrer por tirarmos a vida deste homem. Não caia sobre nós a culpa de matar um inocente, porque tu, ó Senhor, fizeste o que desejavas".» (Jonas 1:13-14)
  8. «Então, pegaram Jonas e o lançaram ao mar enfurecido, e este se aquietou. Ao verem isso, os homens adoraram ao Senhor com temor, oferecendo-lhe sacrifício e fazendo-lhe votos.» (Jonas 1:15-16)
  9. «Então o Senhor fez com que um grande peixe engolisse Jonas, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites.» (Jonas 1:17)
  10. «Lá de dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor, ao seu Deus. Ele disse: "Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor. Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Eu disse: Fui expulso da tua presença; contudo, olharei de novo para o teu santo templo. As águas agitadas me envolveram, o abismo me cercou, as algas marinhas se enrolaram em minha cabeça. Afundei até os fundamentos dos montes; à terra cujas trancas estavam me aprisionando para sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da cova, ó Senhor meu Deus! "Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu a ti, ao teu santo templo. "Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia. Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do Senhor".» (Jonas 2:1-9)
  11. «E o Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme.» (Jonas 2:10)
  12. «A palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez com esta ordem: "Vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela a mensagem que eu vou dar a você".» (Jonas 3:1-2)
  13. «E Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive. Era uma cidade muito grande; demorava-se três dias para percorrê-la. Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída".» (Jonas 3:3-4)
  14. «Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco.» (Jonas 3:5)
  15. «Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. Então fez uma proclamação em Nínive: "Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos".» (Jonas 3:6-9)
  16. «Deus viu o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos. Então Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado.» (Jonas 3:10)
  17. «Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e animais.» (Jonas 3:8)
  18. «Mas Jonas ficou profundamente descontente com isso e enfureceu-se. Ele orou ao Senhor: "Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende. Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que viver".» (Jonas 4:1-3)
  19. «Jonas saiu e sentou-se num lugar a leste da cidade. Ali, construiu para si um abrigo, sentou-se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade.» (Jonas 4:5)
  20. «Então o Senhor Deus fez crescer uma planta sobre Jonas, para dar sombra à sua cabeça e livrá-lo do calor, e Jonas ficou muito alegre.» (Jonas 4:6)
  21. «Mas na madrugada do dia seguinte, Deus mandou uma lagarta atacar a planta de modo que ela secou.» (Jonas 4:7)
  22. «Ao nascer do sol, Deus trouxe um vento oriental muito quente, e o sol bateu na cabeça de Jonas, a ponto de ele quase desmaiar. Com isso ele desejou morrer, e disse: "Para mim seria melhor morrer do que viver".» (Jonas 4:8)
  23. Jonas 4:11
  24. a b Jonas Arquivado em 15 de fevereiro de 2010, no Wayback Machine., Edição Pastoral da Bíblia, acessado em 04 de setembro de 2010
  25. a b Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.252
  26. Tradução Ecumênica da Bíblia, Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p 925
  27. Jonas, segundo o Centro Bíblico Verbo, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  28. Jonas, segundo Schökel e Sicre, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  29. Jonas, segundo o SAB, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  30. Jonas, segundo Nelson Kilpp, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  31. Jonas, segundo Balancin e Ivo, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  32. Mês da Bíblia 2010: texto-base, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  33. Jonas, segundo Mesters e Orofino, Observatório Bíblico, acessado em 05 de setembro de 2010
  34. Bíblia de Jerusalém, cit., p 1.253

Ligações externas

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