Lupicino (conde dos assuntos militares)
Lupicino (em latim: Lupicinus) foi um oficial romano do século IV, ativo durante o reinado do imperador Valente (r. 365–378). Para além de sua atuação na luta contra os alamanos, ficou conhecido por ter auxiliado Valente na questão dos imigrantes tervíngios. Devido a forma como tratou os recém-chegados e também devido sua tentativa de assassinar os líderes deles Fritigerno e Alavivo num banquete, Lupicino deflagou uma revolta gótica generalizada pela Trácia que duraria anos.
Lupicino | |
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Nascimento | século IV |
Morte | século IV |
Nacionalidade | Império Romano |
Ocupação | Oficial |
Religião | Catolicismo |
Biografia
editarLupicino aparece pela primeira vez em 368, quando serviu com distinção na Escola dos Gentis (Schola Gentilium) contra os alamanos. Em data desconhecida nos anos subsequentes teria exercido a função de tribuno na Panônia conforme atestável em telhas oriundas da Panônia Inferior.[1] Em 376, é novamente mencionado, agora como conde dos assuntos militares na Trácia. Na ocasião, Valente havia partido para o Oriente para preparar-se para lutar contra o Império Sassânida e deixou Lupicino e o duque Máximo para lidar com os recém-chegados imigrantes tervíngios.[2]
Neste período, devido as incursões hunas, um enorme contingente tervíngio liderado por Fritigerno e Alavivo enviou ao imperador uma embaixada solicitando permissão para se assentar em solo imperial, o que foi consentido.[3][4] O imperador determinou que os godos seriam assentados na Mésia Secunda e Dácia Ripense e receberiam assistência romana durante a migração através do rio e antes de tornarem-se auto-suficientes. Por estar em guerra, Valente esperava poder recrutar boa parte dos tervíngios como soldados para fortificar as cidades orientais,[5] bem como esperava que os demais seriam assentados como fazendeiros e então pagariam impostos.[6] O plano, contudo, acabou frustrado.[7]
Os imigrantes atravessaram próximo de Durostoro (atual Silistra, na Bulgária)[7] e seu número excedeu enormemente a quantidade prevista, tornando insuficiente os suprimentos recolhidos, situação agravada pela demora de quase dois meses para a chegada da resposta imperial do Oriente. Outrossim, tirando proveito da consequente fome sentida pelos recém-chegados, Lupicino e Máximo conseguiram muito dinheiro com a venda de miúdas quantidades de alimentos e carcaças de cachorros pelo preço da escravização de crianças tervíngias,[5] inclusive aquelas de origem nobre.[8]
Como forma de controlar os contingentes tervíngios inquietos, Lupicino ordenou que as tropas da Trácia fossem direcionadas à escolta dos imigrantes para um acampamento nas cercanias de Marcianópolis (atual Devnja).[9] Ali, provavelmente no outono de 376[10] ou inverno de 376/377,[11] Lupicino convocou Fritigerno e Alavivo para um banquete reconciliatório. Durante a reunião um grupo de godos famintos atacou o sítio e o oficial romano, interpretando como um golpe, mandou seus homens matarem os guardas dos líderes tervíngios. Segundo Jordanes, Alavivo foi morto em meio a confusão enquanto Fritigerno escapava;[12] para Marcelino, Fritigerno conseguiu convencer Lupicino a deixá-lo ir sob pretexto de poder acalmar seu povo.[13] Fritigerno formou um exército com o qual começou a saquear vilas e fazendas próximas a cidade. Lupicino tentou pará-lo, mas foi derrotado.[2][14][15]
Referências
- ↑ Martindale 1971, p. 519.
- ↑ a b Penrose 2005, p. 268-269.
- ↑ Curran 1998, p. 95.
- ↑ Heather 2005, p. 152-153.
- ↑ a b Hughs 2013, p. 153-154.
- ↑ Frassetto 2013, p. 263.
- ↑ a b Wolfram 1990, p. 119-120.
- ↑ Wolfram 1990, p. 119.
- ↑ Hughs 2013, p. 154.
- ↑ Burns 1994, p. 26.
- ↑ Heather 2005, p. 164.
- ↑ Martindale 1971, p. 374.
- ↑ Lenski 2002, p. 328.
- ↑ Cameron 1997, p. 98.
- ↑ Gibbon 2008, p. 364.
Bibliografia
editar- Burns, Thomas S. (1994). Barbarians Within the Gates of Rome: A Study of Roman Military Policy and the Barbarians, Ca. 375-425 A.D. Bloomington, Indiana: Indiana University Press. ISBN 0253312884
- Cameron, Averil (1997). The Cambridge Ancient History. 13. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0521302005
- Curran, John (1998). Cameron, Averil, ed. The Cambridge Ancient History. Volume XIII. The Late Empire, A.D. 337—425. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-30200-5
- Frassetto, Michael (2013). Early Medieval World, The: From the Fall of Rome to the Time of Charlemagne. Santa Barbara, Califórnia: ABC-CLIO. ISBN 1598849964
- Gibbon, Edward (2008). The History of the Decline and Fall of the Roman Empire. 2. Nova Iorque: Cosimo, Inc. ISBN 1605201227
- Heather, Peter (2005). The Fall of the Roman Empire: A New History. Londres: Macmillan. ISBN 0-333-98914-7
- Hughs, Ian (2013). Imperial Brothers: Valentinian, Valens and the Disaster at Adrianople. Barnsley: Pen and Sword. ISBN 1848844174
- Lenski, Noel Emmanuel (2002). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4
- Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). «Lupicinus 3». The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press
- Penrose, Jane (2005). Rome and her Enemies: An Empire Created and Destroyed by War. Oxford: Osprey Publishing. ISBN 1841769320
- Wolfram, Herwig (1990). History of the Goths. Berkeley, Los Angeles e Londres: University of California Press. ISBN 9780520069831