Maria O'Neill
Maria da Conceição Infante de Lacerda Pereira de Eça Custance O'Neill (Lisboa, 19 de novembro de 1873 - Costa brasileira, 23 de março de 1932), conhecida como Maria O'Neill, foi uma escritora, poetisa, feminista, jornalista, teosofista e espírita portuguesa.
Maria O'Neill | |
---|---|
Nome completo | Maria da Conceição Infante de Lacerda Pereira de Eça Custance O'Neill |
Pseudónimo(s) | Lina Marville |
Nascimento | 19 de novembro de 1873 Lisboa, Portugal |
Morte | 23 de março de 1932 (58 anos) Costa Brasileira |
Nacionalidade | Portuguesa |
Ocupação | Escritora, jornalista poetisa, activista feminista, teosofista e espírita |
Magnum opus | Os contos da mamã |
Biografia
editarFamília e Origens
editarMaria O’Neill nasceu em Lisboa, a 19 de Novembro de 1873, filha de Carlos Tomás Torlades O'Neill, descendente do clã gaélico Clanaboye da dinastia O'Neill da Irlanda do Norte, e Maria Carlota Pereira Infante de Lacerda Pereira d'Eça, filha do general minhoto José António Pereira d'Eça, responsável pela criação do Asilo de Inválidos Militares de Runa,[1] sendo ambos oriundos de famílias abastadas com longas carreiras militares e proprietárias de terras e negócios, como a Casa Comercial Torlades, a Quinta dos Bonecos, a Quinta da Saboaria e a Quinta das Machadas em Setúbal. Era prima do escritor Eça de Queiroz.
Carreira Literária
editarAos 10 anos publicou a sua primeira obra de nome "O Morgado do Juncal",[2] e em 1908, o seu primeiro livro de poesia, "Nimbos", o qual continha o prefácio do poeta Raimundo António de Bulhão Pato. Durante a sua carreira literária publicou vários trabalhos, como "A Luta de Sentimentos", "Ilusão Desfeita", "Um Drama de Ciúme", "Amar é sofrer", "Um noivado feliz", "Salmos de Amor", "Vida Real", "Almas Femininas", "A Víbora", "Folhas Soltas", "O Colar de Vera" e "O Amor tudo consegue", entre outros, abrangindo um leque de géneros literários, entre romances, contos, tanto para adultos como para crianças, biografias e ainda artigos jornalísticos. Tal como Ana de Castro Osório, Virgínia de Castro e Almeida e Emília de Sousa Costa, Maria O'Neill publicou vários contos infantis, de carácter pedagógico, considerados dos melhores em língua portuguesa à época, sendo traduzidos para vários idiomas. Para além do seu nome, chegou a assinar obras sob o pseudónimo Lina Marville.
Para além da actividade literária, colaborou com diversos periódicos e revistas da época, nomeadamente nas edições de Brasil-Portugal[3] (1899-1914), Bem Público, Espiritismo, Actualidades, Alma Feminina (1917-1946), Serões[4] (1910-1911), Illustração Portugueza[5] (1903-1924), A Sátira[6] (1911), Correio da Europa, Intrasigente, Jornal da Mulher, O Soneto Neo-Latino, A Vida Elegante (1915), e Almanaque das Senhoras (1921-1924),[7] da qual foi directora de redacção. Registou referências elogiosas em O Comércio do Porto (1929), na Gazeta de Coimbra (1929), O Primeiro de Janeiro (1929), entre outros.
Casamento e Descendência
editarCasou-se em 1890, em Lisboa, com António de Bulhões (1870-?), com o qual teve quatro filhos: Maria Antónia, Luís, José António e Maria Francisca Pereira de Eça O'Neill de Bulhões. Era avó do escritor e poeta Alexandre O'Neill.
Ativismo, Feminismo e Espiritismo
editarTornou-se membro da Academia de Ciências de Lisboa, era vegetariana[8] e iniciou-se na Teosofia, uma escola mística ou movimento iniciático que propunha que todas as religiões surgiam a partir de ensinamentos de tronco comum, enquanto buscavam conhecimento sobre os mistérios da existência humana, o começo da vida e da natureza, tendo-se interessado posteriormente pelo espiritismo, ao qual dedicou até ao fim dos seus dias uma grande parte da sua existência.[9]
Participou no Primeiro Congresso Espírita Português (1925), tendo presidido à Mesa dos Trabalhos do Congresso, e posteriormente colaborado com a Federação Espírita Portuguesa. Fez parte da redacção da Revista de Espiritismo, em que sempre colaborou, e em 27 de Agosto de 1929, juntamente com mais quatro amigos, fundou o Grupo Espírita Perdão e Caridade,[10] tendo colaborado activamente para a fundação do Centro Espírita Perdão e Caridade, em Lisboa, no ano de 1932.
Em 1920, tornou-se num dos nomes mais emblemáticos do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), quando proferiu, na Associação dos Caixeiros, a tese “A ferocidade do egoísmo”. Nos seguintes anos participou em diversas iniciativas e conferências ligadas à organização feminista, tornando-se presidente da Comissão de Assistência Social (1922-1923; 1925-1929; 1931-1932), Trabalho (1924) e das Ligas de Bondade (1924). Participou ainda no Primeiro e Segundo Congresso Feminino e de Educação, sendo a autora das teses “Assistência e trabalho”, “As ligas de bondade” (1924) e “O voto às mulheres” (1928), e nos Congressos da Liga Portuguesa Abolocionista (1926 e 1929).[7]
Fim de Vida
editarEm 1930 viajou para o Brasil, onde realizou uma série de conferências sobre assuntos literários e espíritas. De regresso a Portugal, foi novamente convidada para regressar ao Brasil, em Fevereiro de 1932, para falar num novo ciclo de conferências sobre o espiritismo, contudo, o seu estado de saúde encontrava-se bastante debilitado quando desembarcou em Salvador, na Bahia, tendo decidido retornar com urgência a Lisboa. Faleceu em alto mar, a bordo do barco a vapor alemão "General Osório", dois dias após ter iniciado a viagem de regresso a Portugal, perto de Cabo Verde. O seu corpo foi sepultado no mar.
Obras
editar- Tudo perdido: poema dramático ..., 1910
- Um imitador de Sherlock Holmes: 10 contos, década de 1910
- O livro de Marieta, 1912 (com Henrique Marques Júnior)
- Luta de sentimentos: romance, 1912
- Um Drama de ciúme: (elles e ellas), 1913
- A Marqueza de Valle Negro (romance) 1914
- Por bom caminho: novela, 1914
- Alegrias, 1916
- Cartas da guerra: viva a França!, (jornalismo/não ficção) 1916
- Almas femininas, 1917
- Os contos da mamã, 1918
- Maurício e Beatriz, 1920
- O Colar de Vera, 1923
- A víbora: romance, 1930
Referências
- ↑ Cardoso, Nuno Catharino (1917). Poetisas portuguesas: antologia contendo dados bibliograficos e biograficos àcêrca de cento e seis poetisas. [S.l.]: Edição e propriedade do auctor
- ↑ Cardoso, Nuno Catharino (1917). Poetisas portuguesas: antologia contendo dados bibliograficos e biograficos àcêrca de cento e seis poetisas. [S.l.]: Edição e propriedade do auctor
- ↑ Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (1899-1914).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014
- ↑ Serões: revista semanal ilustrada (1901-1911) [cópia digital, hemeroteca Digital]
- ↑ Illustração portugueza (1903-) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Rita Correia (7 de fevereiro de 2011). «Ficha histórica:A Sátira. Revista humorística de caricaturas (1911)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 16 de Janeiro de 2015
- ↑ a b Esteves, João (21 de março de 2010). «Silêncios e Memórias: [0025.] MARIA O'NEILL [I]». Silêncios e Memórias. Consultado em 10 de março de 2019
- ↑ Instituto Camões: Alexandre O'Neill
- ↑ «Biografia de Maria O´Neill». biografias.netsaber.com.br. Consultado em 10 de março de 2019
- ↑ «Maria O' Neill | Fraternidade Espírita Cristã». Consultado em 10 de março de 2019
Ligações externas
editar