Mariano IV de Arborea
Mariano IV de Arborea ou Mariano IV de Bas Serra, (Oristano,1317 — Oristano, maio de 1376), foi um juiz-rei de Arborea que governou entre 1347 e a sua morte. Filho segundo de Hugo II de Arborea e da sua esposa Benedita, continuou e reforçou a herança cultural recebida do pai, dedicando-se à luta pela autonomia do julgado de Arborea, ampliando a sua ambição independentista para toda a Sardenha e modificou a sua tática de governo, afastando-se das guerras constantes entre Pisa e Génova que há muito afetavam a ilha sarda.
Mariano IV de Arborea | |
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Juiz-rei de Arborea | |
Retrato de Mariano enquanto jovem, na Igreja de San Nicola (Ottana) | |
Reinado | 1347 — maio de 1376 |
Consorte | Timbora de Rocabertí |
Antecessor(a) | Pedro III |
Sucessor(a) | Hugo III |
Nascimento | 1317 |
Oristano, Sardenha | |
Morte | maio de 1376 (59 anos) |
Oristano | |
Nome completo | Mariano de Bas-Serra |
Herdeiro(a) | Hugo (filho) |
Dinastia | Bas-Serra |
Pai | Hugo II |
Mãe | Benedita |
Filho(s) | Hugo Beatriz Leonor |
Biografia
editarOs legados políticos que ligavam Arborea e Aragão eram particulares, em resultado de dois factosː em primeiro lugar a licentia invadendi dada pelo Papa Bonifácio VIII a Jaime II de Aragão, que também lhe deu também o título de Rei da Sardenha, o que parecia totalmente injustificado, visto que os aragoneses possuíam muito território na ilha, que estava já habitada por outras casas nobres mais bem estabelecidas e enraizadas, como o julgado de Arborea, os senhorios pisanos de Gallura e Cagliari, as possessões da família genovesa Doria e, a norte da ilha, a cidade-estado de Sassari.
Por outro lado, foram os juízes de Arborea a ceder à ajuda aragonesa para combater a cada vez mais poderosa resistência militar pisana em Gallura e Cagliari. Nesta altura aconteceu uma espécie de equívocoː por um lado, os juízes de Arborea viam os aragoneses como simples aliados militares, o que poderia ajudar na conquista do resto da Sardenha, enquanto o rei de Aragão viu os Bas-Serra como senhores feudais que lhe podiam render vassalagem. Porém, na Sardenha não existia sequer um sistema de feudalismo, pelo que na realidade os sardos nunca se sentiram subordinados à Coroa de Aragão. Hugo II inicialmente pensou em ligar-se aos sistemas feudais que Jaime oferecia com a aliança, mas foi apenas uma maneira de evitar a guerra direta. [1]
Os reis de Aragão tentaram de várias maneiras manter os aliados arborenses, de Jaime II a Pedro IV. Por esta razão, este último esforçou-se para manter laços de parentesco com Arborea através de casamentos, e dando-lhes vários títulos nobiliárquicos, como o de Visconde de Bas. Esta situação era particularmente anormal, considerando que o título de visconde estava reservado à nobreza catalã. Mas tudo isto não chegou para tornar os arborenses vassalos. Sublinhou-se deste modo um racha latente entre a conceção de lealdade na mente do rei de Aragão e da ideia de livre julgado em Arborea. Em qualquer caso, as obrigações, mesmo parentais, entre Aragão e Arborea foram significativas. Talvez este ambiente entre ambas as cortes tenha sido um dos fatores que levaram Hugo II a mandar educar Mariano na corte de Afonso IV, conde de Barcelona.[2]
Assim, Mariano participou ativamente na coroação de Pedro IV de Aragão, filho de Afonso IV, em 1336, mas regressou a Oristano aquando da morte do pai. Sucedeu-lhe o filho mais velho e irmão de Mariano, Pedro III. Terá regressado a Aragão, pois ainda nesse ano, em Barcelona, desposou a catalã Timbora de Rocabertí filha do visconde Dalmácio de Rocabertí, da qual teria quatro filhos.
Conde de Marmilla e Goceano
editarEm 1339 Mariano foi reconhecido com o título de visconde de Bas, na Catalunha, e conde de Marmilla e de Goceano. Estes bens ( judicatum aditionale) foram dados a Mariano pela vassalagem prestada ao rei aragonês.
Quando foi conde de Goceano e ainda tinha o título de judex , restaurou o velho castelo (hoje ainda em bom estado), para defender a fronteira norte do julgado. Esforçou-se para tornar a agricultura florescente, o que mais tarde provou ser crucial nas décadas subsequentes de guerra e recuperação económica de todo o julgado, que estava num estado de crise por causa das guerras contra Pisa. Durante este tempo, ele emitiu um primeiro conjunto de normas jurídicas escritas, que principalmente regulamentavam a proliferação da agricultura, a fim de melhorar a produtividade.
Casamento e descendência
editarDa sua esposa, Timbora de Rocabertí, Mariano teve quatro filhos, dos quais três chegaram à idade adultaː
- Hugo (1337-1383) que lhe sucedeu;
- Beatriz (1343-1377), casada com o visconde Amalrico VI de Narbona;
- Uma menina, morta prematuramente em 1346;
- Leonor (1347-1404), casada com Brancaleone Doria e que viria a tornar-se regente do seu próprio país em nome dos filhos
Nasceram todos em Molins de Rei (Catalunha).[3] Com avinda do pai para Oristano cresceram em Goceano.
Uma carta enviada por Amalrico VI ao rei Pedro IV de Aragão, faz esclarecer o facto de que Beatriz era a segunda filha de Mariano, seguindo-se a Hugo III, e Leonor seria a filha mais nova. Isto no contexto da sucessão do julgado, que Amalrico defendia para o filho Guilherme (f. 1397). Como Leonor se encontrava na Sardenha nessa altura conseguiu reverter a situação em seu favor, isto é, possibilitou a sucessão dos seus próprios filhos.[4]
O neto de Beatriz, Guilherme II, sucederia no julgado em 1407, depois da morte do segundo e último filho de Leonor sem descendência, Mariano V.
Juiz de Arborea
editarEm 1347, com a morte do irmão Pedro III, Mariano foi proclamado juiz-rei pela Coroa de Logu.
Depois de ter mantido por perto de quinze anos a aliança com Arag̴ão segundo a linha diplomática desenhada pelo pai, Mariano resolve separar-se da política de Pedro IV, pois apercebera-se que este planeava colocar de forma gradual a Sardenha na órbita aragonesa. Por isso, seguidamente à conquista de Alghero pela parte aragonesa, que travava guerra contra os genoveses, em setembro de 1353 desencadeou um conflito destinado a durar até 1420, aquando da venda das prerrogativas arborenses a Aragão por Guilherme II de Narbona, e consequente extinção do julgado. Mas durante o governo de Mariano, Arborea controlou firmemente a guerra.
Mariano acumulava recursos financeiros com a aquisição de grãos de milho no mercado do Mediterrâneo, que revendia, o que felizmente fazia com houvesse sempre excesso para os tempos de fome.
Depois de um breve período de paz, em 1365, as hostilidades recomeçaram com derrotas graves para Aragão: Pedro de Luna liderou um exército sob as paredes de Oristano, ignorando os castelos na posse dos sardos, o que fez nascer uma guerra nacionalista. O exército da Catalunha e Aragão foi preso pelo ataque combinado de Mariano e de seu filho Hugo, que ganhou várias lutas.[5]
Mariano empenhou-se também como legisladorː Mariano si impegnò anche nel ruolo di legislatore: publicouo Código Rural, que foi retomado mais tarde pela sua filha Leonor e integrado na famosa Carta de Logu, com a intenção de desenvolver a produção agrícola moderna.
Ele também tinha relações com as grandes figuras do seu tempo, como Santa Catarina de Siena.[6] Os seus sonhos, no entanto, foram interrompidos pela morte em maio de 1376 por causa da peste que terá atingido o ponto máximo de proliferação, que no início do século XV terá sido a causa da morte da filha Leonor.
Referências
Bibliografia
editar- Raimondo Carta Raspi, Mariano IV d'Arborea, S'Alvure, Oristano 2001.
- Id., Storia della Sardegna, Mursia, Milano 1981.
- Alessandra Cioppi, Battaglie e protagonisti della Sardegna medioevale, AM-D, Cagliari 2008.
- Franco Cuccu, La città dei Giudici, vol. 1, S'Alvure, Oristano 1996.
- Mariano IV d'Arborea in "Dizionario Biografico degli Italiani", vol. 70, Treccani, Roma 2007.
- Bianca Pitzorno, Vita di Eleonora d'Arborea, Mondadori, Milano 2011.
- Giuseppe Pusceddu, Memorias de Marianu, Aipsa, Cagliari 2004.
- Laura Sannia, Dai "lumi" alla patria italiana, <Cultura letteraria sarda>, Mucchi, Modena, 1996.
Precedido por: Títulos investidos por Pedro IV de Aragão |
Visconde de Bas (de jure) Conde de Marmilla Conde de Goceano 1339-1376 |
Sucedido por: Hugo III |
Precedido por: Pedro III |
Juiz-Rei de Arborea 1347-1376 |