Markeli
Markeli (em búlgaro: Маркели; em grego: Μαρκέλλαι - Markellai; em latim: Marcellae) foi uma fortaleza medieval localizada na fronteira entre o Império Bizantino e o Império Búlgaro e suas ruínas estão hoje no município de Karnobat, na província de Burgas na Bulgária. Construído na Antiguidade Tardia, o castelo está localizado a 7,5 quilômetros da cidade. Diversas batalhas memoráveis entre bizantinos e búlgaros foram travadas ali, principalmente a Batalha de Marcela de 756 e a Batalha de Marcela de 792.[1]
Markeli Marcellae Маркели | |
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Fortaleza de Markeli às margens do rio Mochuritsa | |
Localização atual | |
Localização de Markeli na Bulgária | |
Coordenadas | 42° 38′ 15,48″ N, 26° 53′ 47,48″ L |
País | Bulgária |
Província | Burgas |
Área | 0,7 km² |
Dados históricos | |
Fundação | Antiguidade Tardia |
Abandono | século XII |
Império | Império Bizantino Império Búlgaro |
Cidade | Karnobat |
Notas | |
Escavações | 1986 |
História
editarA fundação e expansão do Primeiro Império Búlgaro no final do século VII fez de Markeli uma fortaleza estratégica no território ao sul da cordilheira dos Balcãs. Ela trocou de mãos diversas vezes e tanto búlgaros quanto bizantinos a utilizavam como ponto de partida para suas campanhas. Markeli passou para o controle búlgaro pela primeira vez em 705, quando toda a região de Zagora foi cedida à Bulgária pelo imperador bizantino Justiniano II.[2]
Em 755, os búlgaros, liderados pelo cã Tervel, saquearam a Trácia bizantina e chegaram até as portas de Constantinopla. No ano seguinte, já sob o comando do novo cã, Vineque, a Bulgária foi invadida pelo imperador Constantino V numa campanha retaliatória. O exército bizantino avançou pela Trácia e encontrou os búlgaros em Markeli, que, na época, era uma fortaleza fronteiriça. Os bizantinos se saíram melhor na batalha que se sucedeu[1] e, para evitar que a invasão continuasse, Vineque teve que enviar reféns para Constantinopla.[3][4]
Em 792, Markeli foi novamente o centro de uma grande guerra bizantino-búlgara.[1] A segunda batalha de Marcela ocorreu durante um prolongado período de agressões entre búlgaros e bizantinos, com o cã búlgaro Kardam e o imperador Constantino VI invadindo os territórios um do outro por repetidas vezes. Por conta de erros estratégicos, os bizantinos sofreram uma pesada derrota[5][6] e o imperador perdeu importantes estrategos. A tenda do imperador foi capturada juntamente com seu tesouro e seus cavalos.[7]
Em 811, as forças de Nicéforo I, o Logóteta, partiram de Markeli em sua fracassada invasão da Bulgária[1] que terminou com a morte do imperador na Batalha de Plisca.[8] A historiadora bizantina Ana Comnena escreveu que, em 1089, seu pai, Aleixo I Comneno, negociou o fim dos conflitos com pechenegues e cumanos em Markeli (Marcella), onde eles estavam acampados.[1][9] Markeli permaneceu habitada e guarnecida até pelo menos o século XII.[10]
Localização e descrição
editarMarkeli está situada perto do rio Mochuritsa (um grande tributário do Tundzha), na ponta ocidental do planalto de Hisar, que é parte do sudeste da cordilheira dos Balcãs. Esta localização foi escolhida para que a fortaleza guardasse o passo de Rish e o passo de Varbitsa. Era a primeira de uma série de fortalezas búlgaras ao longo da rota que levava à capital Plisca através das montanhas.[11] A região já era habitada antes da construção do castelo como pode se atestar pelos traços de assentamentos pré-históricos e da Idade do Ferro, além de tumuli romanos na área.
A pesquisa arqueológica da fortaleza se iniciou em 1986 e revelou que o castelo foi construído na Antiguidade Tardia (o início do período bizantino).[10] Foram utilizados pedras moídas com fileiras integras de tijolos e acredita-se que a obra tenha ocorrido no reinado de Anastácio I Dicoro (r. 491–518) ou Justiniano (r. 527–565), ou seja, no final do século V e início do VI. A muralha tinha dez metros de altura e estava atrás de um fosso de 3 metros de profundidade. A fortaleza toda, inclusive o dique do início do século IX, tinha uma área de 0,7 km2.[10]
As ruínas da igreja cristã (basilica) que foi desenterrada na parte oriental do castelo é tão antiga quanto as fortificações. Uma torre com poço estava localizada perto do rio para controlar o acesso à fortaleza e prover água para os defensores. Uma antiga ponte atravessava o rio perto desta torre e uma passagem subterrânea servia como rota de entrada ou saída para os habitantes.
Referências
- ↑ a b c d e Kazhdan, Alexander, ed. (1991), «Markellai», Oxford Dictionary of Byzantium, ISBN 978-0-19-504652-6, Oxford University Press, p. 1300
- ↑ Димитров, Божидар (19 de dezembro de 2005). «Крепостта Маркели спасява Плиска ("The Markeli Fortress saves Pliska")» (em búlgaro). Стандарт. Consultado em 27 de dezembro de 2009
- ↑ Curta, Florin (2006). Southeastern Europe in the Middle Ages, 500-1250. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 85. ISBN 978-0-521-81539-0
- ↑ Златарски, Васил (1970). Петър Хр. Петров, ed. История на българската държава през средните векове (em búlgaro). София: Наука и изкуство. p. 270. OCLC 405296440
- ↑ Louth, Andrew (2007). Greek East and Latin West: the church, AD 681-1071. [S.l.]: St Vladimir's Seminary Pres. p. 63. ISBN 978-0-88141-320-5
- ↑ Haldon, John F. (2002). Byzantium at war: AD 600-1453. [S.l.]: Osprey Publishing. p. 20. ISBN 978-1-84176-360-6
- ↑ Златарски, pp. 316–317.
- ↑ Златарски, pp. 330–331.
- ↑ Comnena, Anna. «Book VII: War with the Scyths (1087-90)». In: Elizabeth A. Dawes. The Alexiad of Anna Comnena. [S.l.]: Medieval Sourcebook
- ↑ a b c Curta, Florin; Roman Kovalev (2008). The other Europe in the Middle Ages: Avars, Bulgars, Khazars, and Cumans. [S.l.]: BRILL. p. 198. ISBN 978-90-04-16389-8
- ↑ Bury, J. B. (2008). History of the Eastern Empire from the Fall of Irene to the Accession of Basil: A.D. 802-867, Parts 802-867. [S.l.]: Cosimo, Inc. p. 339. ISBN 978-1-60520-421-5