Uma matriz
A
{\displaystyle A}
é dita ser semelhante à matriz
B
{\displaystyle B}
se, e somente se, existe uma matriz
M
{\displaystyle M}
invertível tal que:[ 1] [ 2]
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM\,}
[ 4] .
Observamos que a definição exige que
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
sejam matrizes quadradas de mesma ordem. Pois, caso contrário, a identidade acima não estaria bem definida, ou seja, este conceito de semelhança se aplica apenas a matrizes quadradas.
Relação de equivalência
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O conceito de matriz semelhante define uma relação de equivalência , i.e.:[ 1]
(Reflexividade ) Toda matriz
A
{\displaystyle A}
é semelhante a si mesma;
(Simetria )
A
{\displaystyle A}
é semelhante a
B
{\displaystyle B}
implica
B
{\displaystyle B}
semelhante a
A
{\displaystyle A}
;
(Transitividade )
A
{\displaystyle A}
é semelhante a
B
{\displaystyle B}
e
B
{\displaystyle B}
é semelhante a
C
{\displaystyle C}
implica
A
{\displaystyle A}
semelhante a
C
{\displaystyle C}
;
Demonstração
1. Como
A
=
I
−
1
A
I
{\displaystyle A=I^{-1}AI}
, temos que
A
{\displaystyle A}
é semelhante a
A
{\displaystyle A}
.
2. Se
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
, então
B
=
N
−
1
A
N
{\displaystyle B=N^{-1}AN}
com
N
=
M
−
1
{\displaystyle N=M^{-1}}
. Ou seja,
A
{\displaystyle A}
é semelhante a
B
{\displaystyle B}
implica
B
{\displaystyle B}
semelhante a
A
{\displaystyle A}
.
3. Se
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
e
B
=
N
−
1
C
N
{\displaystyle B=N^{-1}CN}
, então
A
=
P
−
1
C
P
{\displaystyle A=P^{-1}CP}
com
P
=
N
M
{\displaystyle P=NM}
. Isto é,
A
{\displaystyle A}
é semelhante a
B
{\displaystyle B}
e
B
{\displaystyle B}
é semelhante a
C
{\displaystyle C}
implica
A
{\displaystyle A}
semelhante a
C
{\displaystyle C}
.
Sejam A e B matrizes semelhantes, então:[ 1] [ 2] [ 5]
det
(
A
)
=
det
(
B
)
{\displaystyle \det(A)=\det(B)}
;
A
{\displaystyle A}
é invertível se e somente se
B
{\displaystyle B}
também o for;
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
possuem o mesmo polinômio característico ;
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
tem os mesmos valores próprios com a mesma multiplicidade;
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
têm o mesmo traço ;
A
k
{\displaystyle A^{k}}
e
B
k
{\displaystyle B^{k}}
são semelhantes para todo
k
∈
N
{\displaystyle k\in \mathbb {N} }
.
As matrizes de um operador linear de dimensão finita são semelhantes.
Propriedade 1.
Mostraremos que se
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
são matrizes semelhantes, então
det
(
A
)
=
det
(
B
)
{\displaystyle \det(A)=\det(B)}
. Com efeito, temos que existe uma matriz invertível
M
{\displaystyle M}
tal que
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
. Pelas propriedades do determinante segue que:
det
(
A
)
=
det
(
M
−
1
B
M
)
=
det
(
M
−
1
)
det
(
B
)
d
e
t
(
M
)
=
1
det
(
M
)
det
(
B
)
det
(
M
)
=
det
(
B
)
{\displaystyle {\begin{aligned}\det(A)&=\det(M^{-1}BM)\\&=\det(M^{-1})\det(B)det(M)\\&={\frac {1}{\det(M)}}\det(B)\det(M)\\&=\det(B)\end{aligned}}}
Propriedade 2.
Mostraremos que se
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
são matrizes semelhantes, então
A
{\displaystyle A}
é invertível se, e somente se,
B
{\displaystyle B}
também for. Com efeito, temos que existe uma matriz invertível
M
{\displaystyle M}
tal que
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
, ou equivalentemente,
B
=
M
A
M
−
1
{\displaystyle B=MAM^{-1}}
. Suponhamos que
A
{\displaystyle A}
seja invertível. Então, afirmamos que
(
M
A
M
−
1
)
−
1
=
M
A
−
1
M
−
1
{\displaystyle (MAM^{-1})^{-1}=MA^{-1}M^{-1}}
é matriz inversa de
B
{\displaystyle B}
. De fato:
B
(
M
A
−
1
M
−
1
)
=
M
A
(
M
−
1
M
)
A
−
1
M
−
1
=
M
(
A
A
−
1
)
M
−
1
=
M
M
−
1
=
I
{\displaystyle B(MA^{-1}M^{-1})=MA(M^{-1}M)A^{-1}M^{-1}=M(AA^{-1})M^{-1}=MM^{-1}=I}
e
(
M
A
−
1
M
−
1
)
B
=
M
A
−
1
(
M
−
1
M
)
A
M
−
1
=
M
(
A
−
1
A
)
M
−
1
=
M
M
−
1
=
I
{\displaystyle (MA^{-1}M^{-1})B=MA^{-1}(M^{-1}M)AM^{-1}=M(A^{-1}A)M^{-1}=MM^{-1}=I}
.
Isto mostra que se
A
{\displaystyle A}
é invertível, então
B
{\displaystyle B}
é invertível. A recíproca segue raciocínio análogo.
Propriedade 3.
Mostraremos que se
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
são matrizes semelhantes, então
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
possuem o mesmo polinômio característico. Com efeito, existe uma matriz invertível
M
{\displaystyle M}
tal que
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
. Por definição, o polinômio característico de
B
{\displaystyle B}
é dado por
p
B
(
λ
)
=
det
(
B
−
λ
I
)
{\displaystyle p_{B}(\lambda )=\det(B-\lambda I)}
. Daí, segue que:
p
B
(
λ
)
=
det
(
M
−
1
)
det
(
B
−
λ
I
)
det
(
M
)
=
det
[
M
−
1
(
B
−
λ
I
)
M
]
=
det
(
M
−
1
B
M
−
λ
M
−
1
M
)
=
det
(
A
−
λ
I
)
=
p
A
(
λ
)
{\displaystyle {\begin{aligned}p_{B}(\lambda )&=\det(M^{-1})\det(B-\lambda I)\det(M)\\&=\det[M^{-1}(B-\lambda I)M]\\&=\det(M^{-1}BM-\lambda M^{-1}M)\\&=\det(A-\lambda I)\\&=p_{A}(\lambda )\end{aligned}}}
Isso conclui a demonstração.
Propriedade 4.
Segue imediatamente da propriedade 3.
Propriedade 5.
Segue da propriedade 3, pois o traço de uma matriz
n
×
n
{\displaystyle n\times n}
é o coeficiente do termo de grau
n
−
1
{\displaystyle n-1}
do seu polinômio característico.
Propriedade 6.
Mostraremos que se
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
são matrizes semelhantes, então
A
k
{\displaystyle A^{k}}
e
B
k
{\displaystyle B^{k}}
também são para todo número
k
{\displaystyle k}
natural . Com efeito, existe uma matriz invertível
M
{\displaystyle M}
tal que
A
=
M
−
1
B
M
{\displaystyle A=M^{-1}BM}
. Por indução em
k
{\displaystyle k}
vemos que
(
M
−
1
B
M
)
k
=
M
−
1
B
k
M
{\displaystyle (M^{-1}BM)^{k}=M^{-1}B^{k}M}
. Ou seja,
A
k
=
M
−
1
B
k
M
{\displaystyle A^{k}=M^{-1}B^{k}M}
, como queríamos demonstrar.
Propriedade 7.
Seja
T
:
V
→
V
{\displaystyle T:V\to V}
um operador linear sobre o espaço vetorial
V
{\displaystyle V}
de dimensão finita com bases
B
1
{\displaystyle B_{1}}
e
B
2
{\displaystyle B_{2}}
. Sejam, então,
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
as matrizes de
T
{\displaystyle T}
nas respectivas bases
B
1
{\displaystyle B_{1}}
e
B
2
{\displaystyle B_{2}}
, i.e.:
[
T
(
x
)
]
B
1
=
A
[
x
]
B
1
,
∀
x
∈
V
{\displaystyle [T(\mathbf {x} )]_{B_{1}}=A[\mathbf {x} ]_{B_{1}},\quad \forall \mathbf {x} \in V}
e
[
T
(
x
)
]
B
2
=
B
[
x
]
B
2
,
∀
x
∈
V
{\displaystyle [T(\mathbf {x} )]_{B_{2}}=B[\mathbf {x} ]_{B_{2}},\quad \forall \mathbf {x} \in V}
onde,
[
x
]
B
1
{\displaystyle [\mathbf {x} ]_{B_{1}}}
denota a representação do vetor
x
{\displaystyle \mathbf {x} }
na base
B
1
{\displaystyle B_{1}}
com notação análoga para
[
x
]
B
2
{\displaystyle [\mathbf {x} ]_{B_{2}}}
.
Seja, agora,
P
{\displaystyle P}
a matriz de mudança da base
B
1
{\displaystyle B_{1}}
para a base
B
2
{\displaystyle B_{2}}
, i.e.:
[
x
]
B
2
=
P
[
x
]
B
1
,
∀
x
∈
V
{\displaystyle [\mathbf {x} ]_{B_{2}}=P[\mathbf {x} ]_{B_{1}},\quad \forall \mathbf {x} \in V}
.
Logo, temos:
[
T
(
x
)
]
B
2
=
B
P
[
x
]
B
1
⇒
P
−
1
[
T
(
x
)
]
B
2
=
P
−
1
B
P
[
x
]
B
1
⇒
[
T
(
x
)
]
B
1
=
P
−
1
B
P
[
x
]
B
1
⇒
A
[
x
]
B
1
=
P
−
1
B
P
[
x
]
B
1
{\displaystyle [T(\mathbf {x} )]_{B_{2}}=BP[\mathbf {x} ]_{B_{1}}\Rightarrow P^{-1}[T(\mathbf {x} )]_{B_{2}}=P^{-1}BP[\mathbf {x} ]_{B_{1}}\Rightarrow [T(\mathbf {x} )]_{B_{1}}=P^{-1}BP[\mathbf {x} ]_{B_{1}}\Rightarrow A[\mathbf {x} ]_{B_{1}}=P^{-1}BP[\mathbf {x} ]_{B_{1}}}
.
Como a última igualdade é válida para todo
x
∈
V
{\displaystyle \mathbf {x} \in V}
, concluímos que
A
{\displaystyle A}
e
B
{\displaystyle B}
são matrizes semelhantes.
Referências bibliográficas