Mercedes Comaposada
Mercedes Comaposada Guillén (Barcelona, 14 de agosto de 1901 — Paris, 11 de fevereiro de 1994) foi uma pedagoga, advogada e militante anarquista espanhola. Com uma importante participação na revolução social espanhola de 1963,[1] foi cofundadora da organização Mujeres Libres, junto com Lucía Sánchez Saornil e Amparo Poch y Gascón.[2]
Mercedes Comaposada | |
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Nome completo | Mercedes Comaposada Guillén |
Outros nomes | Mercedes Guillén |
Nascimento | Mercè Comaposada i Guillén 14 de agosto de 1901 Barcelona, Espanha |
Morte | 11 de fevereiro de 1994 (92 anos) Paris, França |
Nacionalidade | espanhola |
Ocupação | pedagoga, advogada, ativista anarcofeminista e anarcossindicalista |
Filiação | Confederação Nacional do Trabalho Mujeres Libres |
Biografia
editarInício de vida e carreira
editarMercedes Comaposada Guillén, nascida Mercè Comaposada i Guillén (em catalão), nasceu em Barcelona em 14 de agosto de 1901. Filha de Josep Comaposada, um sapateiro e socialista, foi criada em um ambiente militante e de cultura, aprendendo datilografia aos 12 anos.[1] Nenhum dado sobre sua mãe é conhecido. Comaposada abandonou a escola quando era muito jovem para começar a trabalhar como editora em uma produtora de filmes. Mais tarde, ingressou no Sindicato dos Espetáculos Públicos de Barcelona, pertencente à Confederação Nacional do Trabalho.
Pouco tempo depois ela foi para Madrid para continuar seus estudos em Direito, tendo como professores Antonio Machado e José Castillejo.[3] Nesta fase de sua vida, na qual ela também se formou como pedagoga para ensinar outras mulheres, ela conheceu Lucia Sánchez Saornil, com quem ela teve a ideia de criar um grupo de mulheres voltado ao âmbito do movimento libertário. Lucía e Mercedes "lecionaram em cursos de ensino fundamental para trabalhadores e trabalhadoras, promovidos pela CNT de Madrid nos anos 30. Elas viram a necessidade de realizá-los especificamente para as mulheres, dada a misoginia e os preconceitos existentes da época".[4]
Mujeres Libres
editarEm abril de 1936, juntamente com Lucía Sánchez Saornil e Amparo Poch y Gascón, fundou a organização feminista Mujeres Libres, que se tornaria, juntamente com a Confederação Nacional do Trabalho, a Federação Ibérica de Juventude Libertária e a Federação Anarquista Ibérica, umas das principais organizações do movimento libertário espanhol.
A organização cresceu rapidamente, alcançando mais de 20 000 trabalhadores e camponeses da zona republicana em 1938.[5] Um dos fatores que ajudaram o crescimento da organização foi o fato de Mercedes viajar pessoalmente para Barcelona com os estatutos da Federação Nacional em busca de um grupo de mulheres, principalmente membros da CNT e outras organizações como os ateneos e a Juventude Libertária, que formou o Grupo Cultural Feminino, para informá-las de que uma organização com os mesmos objetivos havia sido formada, pedindo que se juntassem a ela.[6] Um mês depois, em maio de 1936, foi publicada a primeira edição da revista Mujeres Libres, a revista anarcofeminista que emerge a partir da organização homônima. O objetivo desta publicação, que permaneceu ativa até 1938, foi, conforme declarado na primeira edição:
- "...para canalizar a ação social das mulheres, dando-lhes uma nova visão das coisas, impedindo que sua sensibilidade e seu cérebro sejam contaminados por erros masculinos." —Amparo Poch y Gascón
Outras mulheres, como Federica Montseny, Emma Goldman, Lucía Sánchez Saornil, Mary Giménez, Carmen Conde e outras colaboraram no processo de desenvolvimento das 12 edições restantes. Houve a participação de um único homem, Baltasar Lobo, um escultor que conheceu Comaposada em 1933 e que se tornou seu companheiro, trabalhando na revista como ilustrador.[3] Mais tarde, entre 1964 e 1978, Comaposada editaria novamente em outras cidades e com outras pessoas - principalmente mulheres.
Quando o golpe de Estado ocorreu em 18 de julho de 1936, ela voltou a Barcelona, onde se juntou a outro grupo de mulheres com o qual colaborou na criação de uma nova federação nacional.
Apesar de sua saúde frágil, ela nunca deixou de lado seu trabalho como educadora e sua colaboração com a imprensa libertária. Durante os primeiros anos da Segunda República Espanhola, ela colaborou em vários títulos da imprensa libertária. Escreveu especialmente para os periódicos Tierra y Libertad (editado pela Federação Anarquista Ibérica), Mujeres Libres (da qual se tornaria editora-chefe durante a revolução social espanhola de 1936) e Tiempos Nuevos, onde ela tinha uma seção que tratava de tópicos que iam de medicina à sexualidade.[1]
Após a derrota da Segunda República, ela foi forçada a se exilar em Paris junto com seu parceiro, Baltasar Lobo, sob a proteção de Pablo Picasso, para quem ela trabalhava como secretária. Além disso, ela realizava numerosas traduções de obras de autores espanhóis, especialmente Lope de Vega, e também era representante da obra artística de seu parceiro, Baltasar Lobo. Nas décadas de 60 e 70, ainda em Paris, ela continuou colaborando com artigos em Mujeres Libres, Tierra y Libertad e Tiempos Nuevo e, além disso, participou de outras revistas como Ruta y Umbral.
Mercedes Comaposada morreu em 11 de fevereiro de 1994 em Paris.
Obras
editarAlém dos inúmeros artigos que escreveu para a imprensa, Mercedes Comaposada publicou vários trabalhos, alguns deles sob o nome de Mercedes Guillén, nome que teve certa notabilidade no campo libertários.
- Esquemas (1937)
- Las mujeres en nuestra revolución (1937)
- La ciencia en la mochila (1938)
- Conversaciones cono los artistas españoles de la Escuela de París (1960, como Mercedes Guillén)
- Picasso (1973, como Mercedes Guillén)
Referências
- ↑ a b c «Mujeres en la Republica - Mercedes Comaposada Guillem». www.ciudaddemujeres.com (em catalão). Consultado em 10 de fevereiro de 2020. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2017
- ↑ Kaplan 2012, p. 207.
- ↑ a b «Mercedes Comaposada Guillen - Ateneo Virtual». www.alasbarricadas.org. Consultado em 11 de fevereiro de 2020
- ↑ «Mujeres, revolucionarias y anarquistas - Periódico Diagonal». www.diagonalperiodico.net. Consultado em 12 de fevereiro de 2020
- ↑ País, Ediciones El (10 de junho de 2005). «Pepita Carpena, luchadora libertaria de Mujeres Libres». El País (em espanhol). Consultado em 12 de fevereiro de 2020
- ↑ «Historia de la Agrupación Mujeres Libres.». Consultado em 12 de fevereiro de 2020
Bibliografia
editar- Kaplan, Gisela (11 de outubro de 2012). Contemporary Western European Feminism. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-415-63681-0
- Iñiguez, Miguel (2001). Esbozo de una Enciclopedia histórica del anarquismo español. Madrid: Fundación de Estudios Libertarios Anselmo Lorenzo. 425 páginas. ISBN 9788486864453
- Vega, Eulàlia (2010). Revolucionarias y pioneras: mujeres durante la República, la Guerra Civil y el Franquismo. Barcelona: Icaria Editorial. ISBN 8498882893
- Martha Ackelsberg (2006). Mujeres Libres: El anarquismo y la lucha por la emancipación de las mujeres. 3. Barcelona: VIRUS editorial. ISBN 978-84-88455-66-6
- Nash, Mary (1976). Mujeres Libres: España 1936-1939. Selección y prólogo de Mary Nash. Barcelona: Tusquets. ISBN 84-7223-704-4
- Liaño Gil, Conchita (1991). Mujeres Libres. Luchadoras libertarias. [S.l.]: Fundación Anselmo Lorenzo. ISBN 9788486864330