Miguel Muratore
Miguel Muratore (Porto Alegre, 26 de janeiro de 1871 – Caxias do Sul, 16 de maio de 1938) foi um político, comerciante e advogado brasileiro.
Miguel Muratore | |
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Nascimento | 1871 Porto Alegre |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | político |
Biografia
editarDescendente dos imigrantes italianos Teresa e João Muratore, em 1886 mudou-se para Caxias do Sul,[1] onde abriu uma padaria e depois uma fábrica de bebidas gaseificadas. Fortemente interessado pelo Direito, estudou de maneira autodidata e conseguiu um excelente preparo, abrindo uma banca de advocacia e tornando-se "o advogado da colônia italiana", como a imprensa o qualificou.[2] Foi membro da loja maçônica Força e Fraternidade, membro da comissão de obras da Catedral,[3] membro da Sociedade Príncipe de Nápoles, influente associação de mútuo socorro, diretor do Grêmio Literário Caxiense,[4] coronel da Guarda Nacional, "prócer do Partido Republicano",[5] um dos fundadores do Club Republicano Borges de Medeiros em 1900,[6] do qual foi vice-presidente em 1905,[7] conselheiro municipal de 1900 a 1904 e de 1912 a 1924,[8] secretário do Conselho em 1901[9] e presidente em 1916, 1917, 1921 e 1922.[10][11][12][13]
Desempenhou papel significativo junto à Associação dos Comerciantes, que agregava a nata do empresariado caxiense. Em 1912 foi um dos responsáveis pela reativação da entidade, que permanecera anos em recesso, assumindo desde a retomada uma posição na diretoria como membro do Conselho Fiscal,[14] e vindo a presidi-la entre 1918 e 1920.[8] A Associação por muitos anos foi a mais influente entidade civil da cidade depois da Intendência e do Conselho Municipal, dirigiu todos os rumos da economia local e tinha decisiva penetração nos assuntos do governo.[15] Nesta altura sua reputação já estava consagrada, e em homenagem que recebeu em 1918 foi louvado como personagem que "pelo trabalho honrado conquistou invejável posição de destaque na sociedade caxiense. Cidadão de uma envergadura moral sem jaça, com tenacidade e força de vontade foi alicerçando o pedestal em que se colocou, se tornando o protótipo dos que pelo labor conseguem a alegria e o prazer na riqueza que dá o descanso, e na posição que torna inatacável, servindo de exemplo aos fracos e tímidos".[2] No ano em que assumiu a presidência da Associação era também gerente da filial do Banco Pelotense,[16] permanecendo no cargo pelo menos até 1926,[17] e em 1928 era superintendente regional do Banco.[18]
Ainda em 1928 foi escolhido para a presidência da Comissão Executiva do diretório caxiense do Partido Republicano Rio-Grandense.[19] Mais tarde, acompanhando o general Flores da Cunha, passaria para o Partido Republicano Liberal, onde viria a desempenhar funções em nível estadual.[20] Em 12 de outubro do mesmo ano Flores da Cunha, então interventor do estado, o indicou como vice-intendente de Caxias, sendo Thomaz Beltrão de Queiroz o titular. Em 5 de outubro de 1930 Queiroz faleceu, e Muratore assumiu interinamente a Intendência. Poucos dias depois, em 24 de outubro, triunfou a Revolução de 1930, derrubando a República Velha, instituindo um Governo Provisório e operando uma grande reestruturação nos Poderes. Foi instalada em Caxias uma Junta Revolucionária e Governativa, da qual fez parte, e dois meses depois assumiu a Intendência definitivamente, também por nomeação de Flores da Cunha, quando os intendentes passaram a ser chamados de prefeitos, permanecendo no cargo até 30 de dezembro de 1935.[8][21]
Depois de uma série de administradores de origem luso-brasileira, sempre escolhidos pelo Governo do Estado, Muratore fez parte de um processo de consolidação do poder dos descendentes de italianos.[22][23] Destacam-se em sua gestão o estabelecimento da rede de telefonia, sendo o interlocutor do interventor do estado Carlos Dante de Moraes na primeira ligação realizada na cidade,[24] a criação dos distritos de Flores da Cunha[25] e Nova Milano e a mudança da denominação do segundo para Farroupilha, atendendo a pedidos dos moradores;[26][27] o incentivo e financiamento para a II Festa da Uva, fazendo a celebração passar de uma modesta feira local para a condição de um dos maiores eventos do estado, quando ela assumiu também um papel simbólico de grande relevo, que mantém até hoje,[8][28] a realização de um recenseamento em 1932, seguindo determinações do Governo do Estado, e o aumento das verbas destinadas à educação.[8] Incorporou à rede pública as escolas paroquiais criadas pelo padre João Meneguzzi,[29] criou o Corpo de Bombeiros,[30] instalou a iluminação pública no distrito de Nova Vicenza,[31] fundou o Grêmio Republicano Liberal Flores da Cunha[32] e foi um dos fundadores em 1931 e primeiro presidente honorário da Sociedade Artística e Cultural, que supriu uma lacuna na organização da vida musical, cultural e artística da cidade.[33] Fomentou a agricultura, uma de suas preocupações principais,[34] presidiu a Junta de Alistamento Militar, instituiu o Dia do Colono em 1933, a ser celebrado no dia 19 de fevereiro.[35] Em 1935 encerrou seu mandato e foi um dos nomes incluídos na lista tríplice para indicação pelo PRL com vistas à futura eleição municipal, mas o escolhido foi Dante Marcucci,[21] ao qual, na qualidade de presidente do diretório local do PRL, deu apoio irrestrito.[36]
Foi frequentemente elogiado na imprensa pela sua operosidade, em 1933 recebeu homenagem pelos "grandes e inestimáveis serviços prestados à comunidade caxiense",[37] e no mesmo ano o rei da Itália o agraciou com o título de cavaleiro. Na ocasião a imprensa voltou a enaltecer sua probidade e proficiência, listando algumas das obras que havia promovido, como a construção de duas usinas elétricas, a remodelação da Praça Dante Alighieri, a construção de pontes, abertura de ruas, instalação de saneamento e outras.[38] Em 1934 a Diretoria da Festa da Uva o aclamou presidente honorário pela sua dedicação aos interesses do município.[39] No ano seguinte recebeu "verdadeira consagração" no distrito de São Marcos em reconhecimento "dos seus merecimentos como cidadão e como homem público" e pelos "constantes benefícios que prodigalizou" para "aquele recanto caxiense que se via entregue à sua própria sorte, sem a mínima atenção dos anteriores dirigentes do município de Caxias",[40] e a comunidade local publicou um livreto, Vida Sãomarquense, dedicado a enaltecer suas qualidades pessoais e administrativas.[1]
"Figura de relevo na sociedade e na política da região colonial italiana",[41] Muratore dedicou seus últimos anos ao PRL como "influente prócer" e "prestigioso membro" da cúpula do diretório estadual, da qual fazia parte desde 1934.[20][42][43] Em 1938 foi um dos fundadores da Sociedade Cívica 10 de Novembro, mas já estava doente, falecendo em 16 de maio. Seu obituário no jornal O Momento destacou o "incontestável prestígio" e a ampla estima de que gozava e sua honrada carreira de "administrador honesto, probo e operoso", de "sentimentos verdadeiramente nacionalistas", que jamais havia se servido do poder para perseguir desafetos.[44] Na semana seguinte o jornal publicou outra nota fúnebre onde foram reiterados os elogios, chamado de "grande amigo do povo, trabalhador incansável, amigo de seus amigos, honesto como bem poucos, [...] homem de bem e pelo bem, direito e pelo direito".[45] No sexto aniversário de seu passamento suas realizações voltaram a ser comemoradas.[46] É lembrado ainda hoje pelo seu forte espírito cívico.[47] Seu nome batiza uma rua de Caxias do Sul.
Referências
- ↑ a b Vida Sãomarquense Arquivado em 6 de novembro de 2016, no Wayback Machine.. São Marcos, 1935
- ↑ a b "Homenagem". Città di Caxias, 27/08/1918
- ↑ Brandalise, Ernesto A. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884 - 1984). EDUCS, 1985
- ↑ "Correspondencias locaes: Caxias". A Federação, 24/09/1906
- ↑ "Estadoal". A Federação, 18/03/1924
- ↑ "Club Republicano Borges de Medeiros". A Federação, 02/10/1900
- ↑ "Centro Republicano Borges de Medeiros". A Federação, 09/09/1905
- ↑ a b c d e Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Geni Salete Onzi (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012, pp. 51; 55-56; 109; 117; 132-133
- ↑ Giron, Loraine Slomp. "Caxias Centenária: de Campo dos Bugres a Município (1875-2010)". In: História Daqui, 05/10/2013
- ↑ "Intendência de Caxias". A Federação, 27/12/1916
- ↑ "Visitas". A Federação, 02/03/1917
- ↑ "Varias". A Federação, 02/07/1921
- ↑ "Caxias, 10". A Federação, 25/09/1922
- ↑ "Factos e Notícias". Cidade de Caxias, 16/03/1912
- ↑ Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul: 100 Anos de História 1901-2001. Maneco, 2001
- ↑ "Enfermos". Città di Caxias, 08/01/1918
- ↑ "Vida Social". A Federação, 31/03/1926
- ↑ "Vida Social". A Federação, 10/05/1928
- ↑ "Notícias do Interior do Estado". A Federação, 09/11/1928
- ↑ a b "Reunião da Comissão Central do PRL". A Federação, 05/06/1934
- ↑ a b Tomazoni, Mário Alberto. Álbuns da cidade de Caxias (1935-1947): as reformas urbanas fotografadas. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2011, pp. 60-62
- ↑ Valduga, Gustavo. Paz, Itália, Jesus: uma identidade para imigrantes italianos e seus descendentes: o papel do jornal Correio Riograndense (1930-1945). EDIPUCRS, 2008, p. 205
- ↑ Monteiro, Katani Maria Nascimento. Entre o Vinho e a Política: uma biografia de Celeste Gobbato. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011, pp. 119-120
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- ↑ "Cel. Miguel Muratore".O Momento, 16/05/1938
- ↑ "O grande amigo". O Momento, 23/05/1938
- ↑ "Miguel Muratore". O Momento, 03/06/1944
- ↑ Andrade, Andrei & Bittencourt, Daniela. "O que fizeram nossos prefeitos". O Caxiense, 28/09/2012
Ver também
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Prefeitos de Caxias do Sul | ||
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Precedido por Thomaz Beltrão de Queiroz |
Miguel Muratore 5 de outubro de 1930 – 30 de dezembro de 1935 |
Sucedido por Dante Marcucci |