Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo e Brito
D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo e Brito Malafaya (Fundão, São Martinho, 05 de dezembro de 1794[1] — Penafiel, Quinta de Barbosa, 27 de maio de 1864)[2] foi um fidalgo e militar português do século XIX, último senhor da honra de Barbosa,[3] situada no termo de Penafiel, por carta régia de 14 de Outubro de 1826 (D. João VI).
D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde | |
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Último Senhor da honra de Barbosa | |
A torre da honra de Barbosa, fundada no séc. XII por D. Mem Moniz de Ribadouro, de que D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde foi o último senhor | |
Antecessor(a) | D. Luís Inácio de Ataíde Azevedo e Brito Malafaia |
Sucessor(a) | (Extinta) |
Nascimento | 1794 |
Morte | 1864 (70 anos) |
Pai | Francisco Vaz Guedes Pereira Pinto, senhor dos morgados do Arco (Vila Real), e de S. Miguel e Montebelo (Fundão) |
Mãe | D. Ana Joaquina de Ataíde, herdeira das honras de Barbosa e de Ataíde |
Título(s) | Senhor da Honra de Barbosa
Senhor do Morgado do Arco (Vila Real) |
Ocupação | Fidalgo, Militar |
Senhorio da honra de Barbosa
editarA honra de Barbosa, fundada por D. Mem Moniz de Ribadouro, era um dos mais antigos senhorios de Portugal, remontando à época da fundação da nacionalidade.[4]
Na segunda metade do século XV estava na posse da família Sousa (que descendia, por linhas femininas, da antiga linhagem dos Ribadouro), na pessoa de Fernão de Sousa, 1.º senhor de Gouveia do Tâmega, casado com D. Mécia de Castro,[5] da casa dos Ataídes, condes de Atouguia. Uma das filhas deste casal, D. Joana de Castro, veio assim a herdar a honra de Barbosa (bem como a honra de Ataíde, situada em Santa Cruz de Riba Tâmega);[6] da sua relação com D. João de Azevedo, bispo do Porto, nasceram 6 filhos, um dos quais, D. Manuel de Azevedo, antepassado de D. Miguel na 8.ª geração, teve o senhorio de Barbosa confirmado por carta régia de 29 de maio de 1543 (D. João III).[7][8]
Biografia
editarD. Miguel foi herdeiro de seu pai, Francisco Vaz Guedes Pereira Pinto,[9][10] senhor de uma grande casa da província de Trás-os-Montes, o chamado Morgado do Arco, com sede em Vila Real, fundado no ano de 1636[11] pelo bispo-eleito do Porto, D. Francisco Pereira Pinto.[12][13]
Nasceu no Fundão, muito provavelmente na atualmente chamada Casa dos Maias,[14][15][16] que, no final do século XVIII, era a cabeça dos dois morgadios (S. Miguel e Montebelo) administrados pela família Vaz Guedes Pereira Pinto na região.[17]
Como filho primogênito (teve várias irmãs, uma das quais, D. Augusta Cândida Emília de Ataíde, casou em 1824[18] com seu primo coirmão Miguel Pereira Pinto de Queiroz,[19] filho primogénito de Bento de Queiroz Pereira Pinto Serpe e Melo com Leonor Vaz Guedes Pereira Pinto, e deixou descendência),[17][20] também herdou da sua mãe, D. Ana Joaquina de Ataíde Azevedo e Brito Malafaya,[21] o referido senhorio da honra e quinta de Barbosa, que exerceu até à data de extinção dos senhorios em Portugal.[22][23]
Por parte de sua mãe, foi ainda herdeiro e representante de vários antigos vínculos, incluindo o morgadio instituído por Cristóvão de Brito (que era casado com D. Brites de Ataíde, irmã do 3.º conde de Atouguia) no ano de 1559,[24] a capela instituída pelo irmão deste, Lopo de Brito, 2.º capitão de Ceilão, e sua mulher, Iria de Brito Freire de Andrade,[25] o morgadio de Valbom, pertencente a outro Lopo de Brito, neto paterno do 2.º capitão de Ceilão, e sua mulher D. Maria de Alcáçova Carneiro[26] - esta última em representação dos Silvas, alcaides de Campo Maior e Ouguela[27] - o vínculo instituído por Urraca Lourenço da Cunha em 1269,[28] o vínculo instituído em 1574 por Francisca de Magalhães[24] - bisneta de Diogo Cão e sobrinha-bisneta de Fernão de Magalhães - e a quinta e honra de Ataíde,[29] senhorio do século XII e solar de origem da família do mesmo nome.
Em Ataíde, os seus ascendentes possuíram durante várias gerações um hospital, na ermida de Nossa Senhora da Natividade (atual capela do Pinheiro), junto à antiga torre de Ataíde, que administravam e sustentavam à sua custa.[30][31]
Participou na guerra contra os franceses, tendo assentado praça, voluntariamente, no regimento de Cavalaria 12,[32] como soldado cadete, no ano de 1811; nesse mesmo ano foi promovido a alferes, a que se seguiu, em 1813, a promoção a tenente, sempre do regimento de cavalaria n.º 12, onde fez as campanhas militares que ocorreram de 1811 a 1814.[33]
No ano de 1817, ainda servia, em Bragança, como tenente, tendo obtido a sua demissão em 1817.[33]
Subsequentemente, foi coronel e comandante do regimento de Milícias de Vila Real, cargo que ocupava em 6 de setembro de 1823 (o mesmo cargo que seu pai já exercera, no ano de 1804).[34]
Participou também na revolta anti - liberal, chefiada pelo seu primo segundo, o 1.º Marquês de Chaves e 2.º Conde de Amarante,[35] que teve lugar em Vila Real, em 23 de fevereiro de 1823.[33][36] E uma das propriedades que possuía - a acima referida e hoje denominada como Casa dos Maias, no Fundão - foi cedida pela sua família para servir de quartel do exército miguelista na guerra civil, no ano de 1829.[37]
Foi comendador da Ordem de Cristo.[38]
Segundo seus superiores no exército, era muito "instruído nas leis do país e militares";[39] teve alvará de moço-fidalgo da casa real, com tratamento de senhoria, em 29 de julho de 1825,[40] e recebeu a confirmação do senhorio da Honra de Barbosa pela acima referida carta régia de 1826.[3]
Foi também Presidente da câmara municipal de Penafiel, de 10.09.1846 a 22.02.1847.[41]
Casamentos e descendência
editarCasou duas vezes:
- A primeira vez, com D. Maria Ludovina de Melo Sampaio (1805 - 1837), filha de Lopo Vaz de Sampaio e Melo, da varonia dos Sampaios, senhores de Ribalonga, e de sua mulher Maria Vitória de Melo e Sampaio, senhora da casa de Gouvinhas;[17][42] com geração, nomeadamente o governador-civil de Angra do Heroísmo, Faro e Viana do Castelo, D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde.
- A segunda vez, com D. Maria Inocência Pinto de Sousa Coutinho, filha de Aires Pinto de Sousa Coutinho (filho segundogênito do 1.º Visconde de Balsemão), do conselho de Sua Majestade, capitão-general dos Açores, governador das Justiças e da Relação da cidade do Porto, etc., e de sua mulher Maria do Carmo de Mendonça Teixeira de Magalhães.; com geração, em cujos descendentes veio a recair (em 1924) a posse da atual quinta e torre (antiga honra) de Barbosa.[43]
Referências
- ↑ «PT-ADLSB-PRQ-PFND18-001-B7_m0360.tif - Livro de registo de baptismos paróquia de Fundão - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 26 de abril de 2023
- ↑ «PT-ADPRT-PRQ-PPNF28-003-0007_m0028.tif - Registos de óbitos -». pesquisa.adporto.arquivos.pt. Consultado em 15 de maio de 2022
- ↑ a b «(D.) Miguel Vaz Guedes de Ataide Azevedo e Brito. Carta. Senhorio da Honra Barbosa, na Comarca de Penafiel. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (2005). «A Honra de Barbosa. Subsídios para a sua História Institucional.PDF». Livraria Esquina, Porto. Cadernos do Museu de Penafiel: 18 - 27. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ «Carta de confirmação de D. Afonso V contrato de casamento entre Mécia de Castro, filha do conde de Atouguia e Fernão de Sousa, fidalgo da casa do duque de Bragança. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ «[Carta régia de D. Manuel I, em que delibera acerca de uma contenda entre os povos da comarca de Entre Douro e Minho e D. Joana de Castro, filha de Fernão de Sousa]». gisaweb.cm-porto.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ Arquivo Municipal de Penafiel, ms. C-16, p. 2v e 3.
- ↑ «Requerimento de D. Miguel Vaz Guedes Ataíde Azevedo Brito ... diligências nas Justificações do Reino - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ «Francisco Vaz Pereira Pinto Guedes. Alvará. Moço Fidalgo. 20.12.1778 - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 10 de outubro de 2020
- ↑ «Francisco Vaz Pereira Pinto Guedes. Alvará. Acrescentamento de Foro. 21.12.1778 - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 10 de outubro de 2020
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- ↑ «Father Francisco Pereira Pinto, Bishop-Elect of Porto, 31 October, 1640 [Catholic-Hierarchy]». www.catholic-hierarchy.org. Consultado em 17 de setembro de 2020
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A este mesmo tempo se achavão em Castella, e fora do Reyno, muy grandes Senhores e Fidalgos principaes, a saber: (...) Francisco Pereira Pinto, eleito bispo do Porto (...) os quaes todos se achavam em Madrid
- ↑ «Monumentos - Casa dos Maias, Fundão». www.monumentos.gov.pt (em inglês). Consultado em 19 de setembro de 2022
- ↑ Castelo Branco-Notícias, Diário Digital. «Fundão : Casa dos Maias classificada como de interesse municipal». diariodigitalcastelobranco.pt. Consultado em 19 de setembro de 2022
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- ↑ Teixeira, Júlio A, op. cit., p. 324 ('Escritura de anexação de vínculo que fazem Miguel Pereira Pinto Serpe e Melo e sua mulher, D. Augusta Cândida Vaz Guedes de Ataíde, Viseu, 05.02.1863')
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- ↑ «Cartório Notarial de Penafiel - 5º Ofício - Arquivo: ADPRT. Código de referência: PT/ADPRT/NOT/CNPNF05» ["Escriptura de transação e partilhas amigáveis entre ... Dom Miguel Vaz Guedes de Athaíde Brito Malafaia e seu Cunhado e irmãs, 9 de agosto de 1854", Arquivo Distrital do Porto, Regº Vinc., 5º, fls. 69, lavrada no tabelião Gaspar de Sousa Guimarães, de Penafiel.]. pesquisa.adporto.arquivos.pt. Consultado em 1 de novembro de 2024
- ↑ «Autos de justificação de Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo e Brito, como sucessor na administração dos vínculos que foram de sua mãe, Ana Joaquina de Ataíde Azevedo Malafaia, já falecida - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ «Autos de justificação de Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo e Brito, filho de Francisco Vaz Guedes e de Ana Joaquina de Ataíde - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ Castelo Branco e Castro Pereira de Mesquita, op. cit., p. 194: "D. Ana Joaquina de Ataíde Azevedo e Brito Malafaia, filha herdeira de D. Luís Inácio de Ataíde e Azevedo Brito Malafaia, senhor da Honra de Barbosa"
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- ↑ Costa, António Carvalho da (1706). Corografia Portuguesa, Tomo Primeiro (PDF). Lisboa: Valentim da Costa Deslandes. p. 130 ('Quinta & Casa de Ataíde, de que é senhor D. Manuel de Azevedo e Ataíde')
- ↑ Pereira, Esteves; Rodrigues, Guilherme (1904). Portugal : diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico. Volume 1. Getty Research Institute. Lisboa: Lisboa, J. Romano Torres. p. 848
- ↑ João Castello Branco e Torres e Manuel Castro Pereira Mesquita, op. cit., p. 294 ["D. Luís Inácio de Ataíde e Azevedo Brito Malafaia, senhor da Honra de Barbosa e Torre de Ataíde"]
- ↑ «Regimento de Cavalaria 12.». ahm-exercito.defesa.gov.pt. Consultado em 2 de junho de 2024
- ↑ a b c «Requerimento de D. Miguel Vaz Guedes Ataíde Azevedo Brito, solicitando a entrega da documentação aquando do seu pedido do título de Visconde do Fundão, 22 de julho de 1823 - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 25 de maio de 2021
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A 23 de fevereiro de 1823 ... em Trás-os-Montes, onde eram muito influentes, António da Silveira e seus parentes - entre os quais o sobrinho Manuel da Silveira, futuro segundo conde de Amarante e primeiro marquês de Chaves - protagonizaram um primeiro movimento militar a favor da 'restauração' do poder do rei
- ↑ «Casa dos Maias - Direção Geral do Património Cultural». Consultado em 7 de outubro de 2021
- ↑ João de Castello Branco Torres e Manuel Pereira de Mesquita, op. cit., p. 294
- ↑ DRC. «Direção Regional da Cultura - Ataíde (D. MIguel Vaz Guedes de)». Cultura Açores. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ «Miguel Vaz Pereira Pinto Guedes de Ataíde.Alvará. Tratamento de Senhoria. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020
- ↑ «Presidentes da Câmara Minucipal de Penafiel, 1741 - 2013» (PDF) Arquivo Municipal de Penafiel ed. 2013. p. 12
- ↑ Afonso, Ana Maria. «A Casa de Ribalonga no século XVII» (PDF). Arquivo Distrital de Bragança. Consultado em 19 de setembro de 2020
- ↑ Cardoso, Augusto-Pedro Lopes, "A Honra de Barbosa...", pp. 79 - 80