Monte de Teso dos Bichos
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O Teso dos Bichos é um montículo artificial de terra formado através do aterramento de uma área na Amazônia no período pré-cabralino (ou pré-colombiano),[1][2][3] localizado no sítio arqueológico de Camutins na ilha de Marajó (estado do Pará),[2][4][5] local onde haveria uma das mais elaboradas civilizações da Amazônia ancestral (indígenas marajoaras),[6][7][8] ocupando 2,5 hectares.[6][7]
Um teso é um pedaço de terra elevado construído para a habitação humana,[8][9] para proteção em períodos de cheia dos rios (a maré alta), que inundavam durante vários meses algumas áreas da ilha de Marajó.[8][2][3][10] Esses tesos foram erguidos pela cultura marajoara, uma sociedade de indígenas ceramistas e piscicultores que habitou a região aproximadamente entre os anos 500 e 1300 d.C. (antes da colonização portuguesa).[8] Estes compreediiam a situação climática e topográfica da região e, souberam usar os recursos naturais no entorno para sobrevivência.[8]
No sítio arqueológico de Camutins,[4][5] que se estende por 10 km ao longo do rio Amazonas, foram identificados cerca de 30 tesos,[10] onde o "Teso dos Bichos" é um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de construção.[8]
Antropogênese
editarUma das características marcantes da cultura Marajoara é o uso do "teso" (ou loma), grandes aterros artificiais com evidências de habitações. A grande escala dessas estruturas teria necessitado de uma quantidade de trabalho condizente com sociedades de organização complexa.[6][7]
Estimou-se que a civilização responsável pela obra teria uma população de 500 mil pessoas. Os habitantes dessa civilização pertenceriam à sociedade étinica tuxaua, senhores da foz do rio Amazonas. Haveria divisão do trabalho entre homens e mulheres, uma dieta rica em proteína (animal e vegetal) e refrescos fermentados (como o aluá).[6][11]
Sedimentação fluvial
editarEm outubro de 2009, um grupo de geólogos propôs que os tesos poderiam ser estruturas em grande parte naturais, formados inicialmente por processos semelhantes à formação fluvial de montes, e assim aproveitados e expandidos por atividade humana em camadas mais superiores.[12] Por terem necessitado de significativamente menos atividade humana para sua formação, representa não serem necessária uma sociedade muito complexa para sua criação.[12] Essa teoria invalidaria parcialmente a existência de sociedades complexas na Amazônia.[13] No entanto, arqueólogos responsáveis por escavações anteriores questionaram a metodologia da equipe, apontando colunas de sedimentos finas demais para averiguação da presença de artefatos e evidências de atividade humana despercebidas nas amostras, mas alguns admitem que essa nova teoria poderia contribuir para discussões acerca da falta de evidência de agricultura em larga escala na região - uma questão aberta de grande importância no estudo da sociedade marajoara.[13]
Ver também
editarReferências
- ↑ gentedeopiniao.com.br. «Os Tesos de Marajó». Gente de Opinião. Consultado em 21 de janeiro de 2022
- ↑ a b c Neves, Eduardo (2006). Arqueologia da amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. ISBN 9788571109193. OCLC 71308131
- ↑ a b Prous, André. (2006). O Brasil antes dos brasileiros : a pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. ISBN 9788571109209. OCLC 80946412
- ↑ a b Fausto, Carlos (2000). Os índios antes do Brasil, Descobrindo o Brasil. [S.l.]: Schwarcz, Companhia das Letras. ISBN 9788537803707
- ↑ a b Capucci, Victor Zappi (2008). Fragmentos de cerâmica brasileira. Col: Biblioteca Pedagógica Brasileira. Brasiliana. 5. [S.l.]: Editora Nacional. ISBN 9788504002119. OCLC 18948854
- ↑ a b c d Roosevelt, Anna Curtenius. (1991). Moundbuilders of the Amazon : geophysical archaeology on Marajo Island, Brazil. [S.l.]: Academic Press. OCLC 318175173
- ↑ a b c «IstoÉ Amazônia»
- ↑ a b c d e f «Teso dos Bichos e a complexa civilização que habitou a Ilha de Marajó». Mega Curioso. No Zebra Network (NZN). 19 de janeiro de 2022. Consultado em 21 de janeiro de 2022
- ↑ «Definição de teso, sa»
- ↑ a b Lopes, Reinaldo José Lopes (2017). 1499: O Brasil antes de Cabral 2 ed. [S.l.]: HarperCollins Brasil. ISBN 9788595081925
- ↑ Márcio Souza. «Breve história da Amazônia»
- ↑ a b Rossetti, Dilce de Fátima; Góes, Ana Maria; Toledo, Peter Mann de (2009). «Archaeological mounds in Marajó Island in northern Brazil: A geological perspective integrating remote sensing and sedimentology». Geoarchaeology (em inglês) (1): 22–41. ISSN 1520-6548. doi:10.1002/gea.20250. Consultado em 15 de setembro de 2020
- ↑ a b «Povos antigos não fizeram aterros no Pará, diz grupo». Folha de S. Paulo. 19 de outubro de 2009
Ligações externas
editar- Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM)
- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO
- Vídeo no YouTube
- Voz do Marajó
- Marajoara culture artwork, National Museum of the American Indian
- Marajoara.com, Researcher website with publications, artwork