Moritasgo[1] (em latim: Moritasgus) é um epíteto céltico para um deus de cura encontrado em quatro inscrições em Alésia.[2] Em duas inscrições, está identificado com o deus greco-romano Apolo.[3][4] Sua consorte era a deusa Damona.

Alésia era um ópido dos mandúbios célticos, nos dias atuais situado na Borgonha. Uma dedicatória ao deus alude à presença de um santuário na nascente curativa, onde peregrinos doentes poderiam se banhar em uma piscina sagrada. O próprio santuário, localizado próximo ao portão oriental do povoado, justamente fora dos muros da cidade,[5] era impressionante, com banhos e um templo. Além disso, havia pórticos, onde possivelmente os doentes dormiam, esperando por visões e curas divinas.

Numerosos objetos votivos[6] foram dedicados a Moritasgo. Estes eram modelos dos peregrinos e partes afligidas de seus corpos: estas incluíam membros, órgãos internos, genitais, peitos e olhos. Ferramentas de cirurgiões também foram encontradas, sugerindo que padres[7] também agiam como cirurgiões.[carece de fontes?]

Etimologia

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O nome Moritasgo, compartilhado por um governador do século I a.C. dos Sênones,[8] foi analisado variadamente. O sufixo -tasgus é compreendido por acadêmicos como derivado do radical proto-céltico *tazgo-,[9][10] *tasgos ou *tasko- 'texugo'.[11][12][13][14] O estudioso Xavier Delamarre propôs que o nome completo significa "Texugo do Mar", do gaulês mori 'mar' + tasgos (alternativamente, tascos ou taxos), 'texugo'.[15] O texugo europeu produzia uma secreção usada em medicamentos gauleses, daí uma conexão possível com um deus de cura.[16]

Bibliografia

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  • Bénard, Jacky (1994). Les agglomérations antiques de Côte-d'Or. [S.l.]: Anais Literários da Universidade de Besançon 
  • Bromwich, James (2003). The Roman Remains of Northern and Eastern France: A Guidebook. [S.l.]: Routledge 
  • Maier, Bernhard (1997). Dictionary of Celtic Religion and Culture. [S.l.]: Boydell & Brewer. ISBN 0851156606 
  • Parreira, Manuela; Castro, José Manuel de; Pinto, J. Manuel de Castro (1985). Prontuário ortográfico moderno: de fácil consulta, atento às dificuldades e dúvidas de quem escreve. [S.l.]: Edições ASA 

Ver também

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Bibliografia selecionada

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  • Dictionary of Celtic Myth and Legend. Miranda Green. Thames and Hudson Ltd. London. 1997.

Referências

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  1. Parreira 1985, p. 271.
  2. Bénard 1994, p. 251.
  3. CIL 13.11240 e 11241
  4. Maier 1997, p. 198.
  5. Bromwich 2003, p. 49; 133.
  6. Veja ex-voto e Milagro (votivo) para práticas cristãs análogas.
  7. Os druidas foram o sacerdócio dos celtas antigos.
  8. Júlio César, Commentarii de Bello Gallico 5.54.
  9. Mac an Bhaird, Alan. "Varia II. Tadhg Mac Céin and the Badgers". In: Ériu volume 31 (1980): 154 JSTOR 30008220 Acessado em 2 Dez. 2024.
  10. Grzega, Joachim. Romania Gallica Cisalpina: Etymologisch-geolinguistische Studien zu den oberitalienisch-rätoromanischen Keltizismen. Berlin, New York: Max Niemeyer Verlag, 2001. p. 240 (étimo "*tazgo-"). doi:10.1515/9783110944402
  11. Lambert, Pierre-Yves. La langue gauloise: description linguistique, commentaire d'inscriptions choisies. Éditions Errance, 1994. p. 199 ISBN 9782877720892.
  12. Katz, Joshua T. "Hittite Tašku- and the Indo-European Word for ‘Badger.’ In: Historische Sprachforschung 111, 1 (1998): 68-69 JSTOR 41288957 Acessado em 2 De\. 2024.
  13. Delamarre, Xavier. Dictionnaire de la langue gauloise. Éditions Errance, 2003. p. 291.
  14. Lacroix, Jacques. Les noms d'origine gauloise - La Gaule des dieux. Errance, 2007. pp. 93-94, 96. ISBN 978-2-87772-349-7
  15. Delamarre, Xavier. Dictionnaire de la langue gauloise. Éditions Errance, 2003. pp. 229, 292-293.
  16. Xavier Delamarre, Dictionnaire de la langue gauloise (Éditions Errance, 2003), pp. 229, 292–293, and D. Ellis Evans, Gaulish personal names: a study of some Continental Celtic formations (University of Michigan Press, 1967), p. 103. Para uma discussão avançada, veja Tasgécio