Luiz, o Visitante
Luiz, o Visitante (anteriormente Mr. Gângster[nota 1]), nome artístico de Luiz Paulo Pereira da Silva (Recife, 22 de julho de 1995), é um cantor, compositor e produtor musical brasileiro. Ficou conhecido no início da carreira pela canção "Recomeço", — um dos lançamentos do rap nacional que mais se destacou em 2012, — e pelo seu álbum Recomeço, que obteve mais de doze mil cópias vendidas no formato digital e por auto-distribuição física, em 2013.[1]
Luiz, o Visitante | |
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Informações gerais | |
Nome completo | Luiz Paulo Pereira da Silva |
Também conhecido(a) como | VSTT |
Nascimento | 22 de julho de 1995 (29 anos) |
Local de nascimento | Recife, Pernambuco Brasil |
Gênero(s) | |
Ocupação | |
Instrumento(s) | Vocal |
Período em atividade | 2009—atualmente |
Em 2014 ampliou sua notoriedade nacional com a canção "Bolsonaro, o Messias".[2][3][4] Após a canção gerar repercussão e polêmica na Internet como o primeiro rap de direita do Brasil, tornou-se a música mais executada durante os protestos contra o Governo Dilma Rousseff.[3] Em 2018, o artista alcançou o 6° lugar do chart "As 50 Virais - Brasil" do Spotify,[5] com a música "Meu Filho Vai Ser Bolsonarista"; canção que ficou amplamente conhecida durante as manifestações de extrema-direita, e a campanha presidencial de Jair Bolsonaro no ano de 2018.[6]
Luiz também é conhecido por suas posições extremistas, e por declarações consideradas reacionárias.[7] A revista internacional europeia, El Confidencial, destacou Luiz como um dos mais influêntes entre a juventude apoiadora do direitismo no Brasil.[3]
Segundo o jornal The Guardian, o artista também foi criador do subgênero do rap chamado "Destra rap", uma vertente do political hip hop voltado para causas direitistas e conservadoras, tendo sua ascensão entre 2016-2019.[6]
Início da vida
editarLuiz Paulo nasceu em Pernambuco,[8] filho de uma dona-de-casa e de um falecido aposentado. Cresceu na zona norte do Recife, a área mais pobre da cidade.[1] Estudou durante a infância e adolescência em escola pública nas favelas e periferias da cidade, época que alegava ter sofrido bullying por ser branco, em uma escola majoritariamente mestiça e negra. Luiz ainda não completou o curso superior de Psicologia.[4]
Carreira
editar2009-2013: Início, Mr. Gângster
editarIniciou sua carreira musical em 2009, lançando suas primeiras canções pela Internet.[1] Passou a ter seu trabalho reconhecido em 2012, após o lançamento de sua canção "Recomeço", que chegou a ser um dos raps mais ouvidos naquele ano.[1] Aproveitando a visibilidade obtida através de "Recomeço", lançou em 2013 seu primeiro álbum, também intitulado Recomeço. A canção homônima se tornou o primeiro single do álbum, que vendeu mais de 12 mil cópias em download digital e por auto-distribuição física.[1] Em 2013 lançou sua segunda música de trabalho, "Martelo dos Deuses", que se tornou o primeiro single do seu segundo álbum, a mixtape Feito em Marte.[1]
2014–atualmente: Subgênero Destra rap, Luiz, o Visitante
editarO dia 9 de agosto de 2014 marca o lançamento do primeiro rap de direita no Brasil.[4] Luiz, ainda com o nome artístico de Mr. Gângster,[9] lançou a canção "Bolsonaro, o Messias", sob forte crítica negativa dos demais rappers brasileiros, em razão do seu apoio a Jair Bolsonaro, comparando-o a um novo Messias — sendo que o segundo nome do homenageado também é Messias.[4][10] A canção foi lançada primeiramente no Facebook, na página de Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, alcançando mais de 5 milhões de visualizações em pouco mais de um mês. Após o sucesso na Internet, "Bolsonaro, o Messias" tornou-se a canção mais executada durante as manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff, o que a tornou conhecida em âmbito nacional.[3][11][4]
Idealizador do "Destra rap", um subgênero do rap, que aborda temas conservadores[12][13][6][14] e adota posições consideradas "reacionárias", Luiz tem tido grandes desavenças com outros rappers brasileiros,[4] sendo acusado por eles de apropriação cultural.[4][15] Acauam Oliveira, doutor em Literatura Brasileira, pela USP e estudioso da canção popular brasileira, considera a "destra rap" como "uma espécie de anomalia que surge no campo político e que passa para o campo da música, fruto da polarização ideológica que estamos acompanhando hoje". Segundo Oliveira, trata-se de "uma estratégia mais ou menos bem-sucedida da direita de parodiar estratégias e fenômenos da esquerda".[4] O destra rap, e o surgimento de rappers auto-declarados de direita e anti-revolucionários, tem sido alvo de críticas por boa parte do grupo midiático brasileiro.[16] O Jornal Opção se posicionou a respeito, afirmando que este fenômeno a ser revisto, é mais do que "um rapper branco, autodeclarado reacionário" [Luiz, o Visitante], mas que o "ascenso conservador, aliado a outros problemas político-culturais – apropriação cultural, racismo, falta de perspectiva emancipatória para os cidadãos da periferia –, teriam pavimentado a deglutição do rap pela direita, (...) e sua subtração do campo da esquerda."[16]
No dia 25 de setembro de 2015 hackers invadiram por três vezes o site oficial da Câmara de Vereadores de Concórdia, para publicar um grande texto enaltecendo o deputado federal Jair Bolsonaro e deixando no topo da página a letra da canção "Bolsonaro, o Messias". Não se sabe se o ato foi comandado pelo cantor.[9]
Em 2016 o rapper mudou seu nome artístico para "Luiz, o Visitante", e lançou outra das suas canções polêmicas "Se Essa Rua Fosse Minha", baseada na tradicional cantiga de roda homônima.[4][11][17][5] "Se Essa Rua Fosse Minha" homenageia o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932 – 2015), comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo, de 1970 a 1974, e o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça brasileira, como responsável pela prática de tortura a prisioneiros políticos, durante o regime militar (1964–1985).[18][19] Devido as ações da ala intelectual progressista em apresentar uma denúncia ao ministério público, pedindo a proibição da canção "Se Essa Rua Fosse Minha", por exaltar Ustra;[7][20] o rapper instiga ainda mais a revolta dos internautas que tiveram parentes presos ou torturados na Ditadura, com a canção lançada em seguida "Ustra Vive (Um Rap Reaça)".[4] Diferentemente da primeira canção que subliminarmente cita o Coronel Ustra, esta o cita de forma explicita, "as crianças são Ustra, as mulheres são Ustra, somos todos Ustra".[5][4] Após o lançamento de "Ustra Vive (Um Rap Reaça)", o rapper também provocou a fúria de muitos rappers brasileiros ao exclamar "Viva ao regime militar!", em sua canção,[11] mas logo se justificou afirmando:
“ | Falei de um jeito que foi pra chocar, mas não defendo a volta do regime militar. Defendo que foi necessário naquele momento, contra a tentativa de golpe comunista | ” |
No mesmo ano, Visitante lançou o single "O Velho Olavo Tem Razão!", canção que compara Olavo de Carvalho a Noé e nega a dívida histórica da escravidão no Brasil, afirmando que pessoas afrodescendentes são a maioria da população carcerária por escolha.[21] A canção também afirma que feministas cometem crime de atentado violento ao pudor, por protestos com seios de fora, e intitula o combate aos progressistas de "luta de paz".[21]
Numa entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo em 2017, Luiz conta que chegou a ser agredido fisicamente, na rua, por pessoas insatisfeitas com o conteúdo de suas canções.[4] Ainda no mesmo ano, o rapper lança "Super-heróis", e "Super-heróis (Remix)" com PapaMike. As canções são homenagens a polícia militar brasileira, que nega os abusos policiais, o racismo, e os tratam como heróis.[5] Um discurso inédito na cultura do rap, que gerou bastante revolta dos amantes da cultura hip hop. Um dos principais motivos foi o trecho de sua letra, peço desculpa a PM, pelo rap nacional. Muitos artistas não gostaram do rapper agir como porta-voz do rap, e alguns chegaram lhe atacar com canções diss, como no caso a canção "Carta ao Visitante" de Rica Silveira.[22][23]
Em 2018, numa demonstração de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, o rapper lança "Meu Filho Vai Ser Bolsonarista",[24] que entrou na tabela das 50 músicas virais do Spotify, na 6° colocação, e tornou-se uma das canções mais executadas durante as manifestações de direita e campanha presidencial que ocorreram naquele ano.[5]
Em um livro lançado em 2021, Guerra cultural e retórica do ódio: Crônicas de um Brasil pós-político,[25] o autor João Cezar de Castro Rocha cita as canções do rapper, "Meu Filho Vai Ser Bolsonarista", "O Velho Olavo Tem Razão", e "Se Essa Rua Fosse Minha", como uma forma resumida do discurso de ódio olavista, e que trazem discursos violentos de "eliminação do inimigo" do livro Orvil, — o livro secreto feito pelos militares da Ditadura de 1964.[17] E também criticou o rapper, que segundo o autor, não possui propriedades para exaltar o regime militar de 1964, pois não viveu a época.[17] O autor também se mostrou indignado com a canção "Se Essa Rua Fosse Minha", tratando o estilo destra rap como uma apropriação cultural propondo um "rap híbrido", também o comparando a rap gospel com fundamentalismo religioso.[17] Castro Rocha, em seu livro, também aponta "audácia" do rapper em reformular uma inocente cantiga de roda.[17] O autor classificou Luiz, o Visitante como um extremista, por ter propagado a ideia de, Carlos Alberto Brilhante Ustra, um torturador, ser um herói.[17]
Discografia
editarMixtapes
editarÁlbuns de estúdio
editar- 22-07-1995 (2019)
Coletâneas
editar- Valiant (2021)
Singles
editarTítulo | Melhores posições | Ano |
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BRA | ||
"Recomeço" | — | 2012 |
"Martelo dos Deuses" | — | 2013 |
"Bolsonaro, o Messias" | 10 | 2014 |
"Bolsonaro, o Messias 2" | — | 2015 |
"Se essa rua fosse minha" | — | 2016 |
"Super-heróis" | — | 2016 |
"Super-heróis (Remix)" (ft. PapaMike) | — | 2017 |
"Meu filho vai ser bolsonarista" | 6 | 2018 |
"Bolsonaro, o Messias 3" | 17 | 2018 |
"—" denota singles que não entraram nas paradas musicais ou não foram lançados no país. |
Notas
- ↑ O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira ainda mantém seu nome artístico anterior, "Mr. Gângster".[1]
Referências
- ↑ a b c d e f g «Luiz - Mr. Gângster - Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira». www.dicionariompb.com.br. Consultado em 21 de março de 2014
- ↑ «El Brasil de los jóvenes que apoyan a Bolsonaro». El Mostrador Diario del Chile. Consultado em 12 de agosto de 2022
- ↑ a b c d «De la feminista más popular del país a un rapero». www.elconfidencial.com. Consultado em 2 de Junho de 2018
- ↑ a b c d e f g h i j k l Amanda Nogueira. «O rapper recifense Luiz, o Visitante enaltece Ustra e Bolsonaro em suas letras». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de junho de 2017
- ↑ a b c d e Essinger, Silvio (28 de abril de 2019). «Quem são e como atuam os representantes do 'rap de direita' emergente no Brasil». Época. Editora Globo. Consultado em 28 de abril de 2019
- ↑ a b c «Luiz, O Visitante – a Recife-based MC considered the movement's godfather». www.theguardian.com. Consultado em 18 de junho de 2019
- ↑ a b Vieira, Hamilton (2017), EEBA - Resistências à Escatologia Política: narrativas, corpos e risos enunciando uma ciência outra. (PDF), ISBN 978-85-7993-464-3 4ª ed. , Pedro & João Editores
- ↑ «Rapper do Recife exalta Bolsonaro e PM em "Rap Reaça"». www.noticiasaominuto.com.br. Consultado em 8 de junho de 2017
- ↑ a b «Pela terceira vez no ano, site da Câmara é hackeado». www.radiorural.com.br. Consultado em 25 de outubro de 2015
- ↑ Teresa Abecasis. «Luiz, o Visitante, o primeiro rapper de direita no Brasil». Jornal Público. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ a b c d Levi Vasconcelos. «Rapper ganhou notoriedade nacional com música hit de diversas manifestações pró-impeachment». Jornal Bahia.ba. Consultado em 9 de junho de 2017
- ↑ «Rapero 'Luiz, O Visitante', lidera movimiento conocido como 'Rap de Derecha'». Europa Press. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ «"Mi hijo será un bolsonarista": así son los nuevos raperos que aúpan al presidente de Brasil». www.elespanol.com. Consultado em 18 de junho de 2019
- ↑ Notimérica. «Una derecha muy joven aflora en Brasil con el auge de Bolsonaro». www.notimerica.com. Consultado em 20 de julho de 2022.
Jornal da Espanha sobre notícias da América Latina
- ↑ «Autor de UstraVive, rapper louva Bolsonaro e diz defender moral e bons costumes». www.bahianoticias.com.br. Consultado em 2 de Junho de 2018
- ↑ a b «O rap e a polarização política no Brasil». Jornal Opção. Consultado em 20 de agosto de 2022
- ↑ a b c d e f de Castro Rocha, João Cezar (2021), Guerra cultural e retórica do ódio (Crônicas de um Brasil pós-político) (PDF), ISBN 978-65-89552-01-7, Editora e Livraria Caminhos
- ↑ Saiba quem é o coronel Ustra, homenageado por Bolsonaro em votação do impeachment. Portal EBC, 19 de abril de 2016
- ↑ Justiça de SP mantém sentença que aponta Ustra como torturador. Justiça manteve, em 2ª instância, sentença que liga ex-militar a tortura. G1, 14 de agosto de 2012.
- ↑ Krempel, Lucas (21 de Junho de 2017). «Rap: direita e esquerda travam 'duelo' com rimas pesadas em meio ao agitado cenário político nacional». A Tribuna. Brasil: A Tribuna de Santos Jornal e Editora. 23 páginas. ISSN 1415-3696
- ↑ a b Pereira, Rogério. Rascunho, edição n° 244, agosto de 2020. Editora e livraria Rascunho.
- Capitulo na versão web: «Um sistema de crenças que chegou ao poder». Jornal Rascunho. Consultado em 10 de agosto de 2022
- Revista na versão impressa (PDF): Rogério, Pereira (2020), Rascunho: jornal de literatura do Brasil 244 ed. , Editora e Livraria Rascunho
- ↑ «Rica Silveira - Obras - "Carta ao Visitante"». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 12 de agosto de 2022
- ↑ «Confira 'Carta ao Visitante', uma Diss de Rica Silveira para Luiz, o Visitante». Portal Bocada Forte. Consultado em 12 de agosto de 2022
- ↑ «Brazilian Rap Takes Aim at Right-Wing President». Billboard. Consultado em 16 de agosto de 2022
- ↑ «João Cezar de Castro Rocha e o livro 'Guerra cultural e a retórica do ódio', entrevista». estadao.com. Consultado em 19 de agosto de 2022
Bibliografia
editar- Vieira, Hamilton (2017), EEBA - Resistências à Escatologia Política: narrativas, corpos e risos enunciando uma ciência outra. (PDF), ISBN 978-85-7993-464-3 4ª ed. , Pedro & João Editores
- de Castro Rocha, João Cezar (2021), Guerra cultural e retórica do ódio (Crônicas de um Brasil pós-político) (PDF), ISBN 978-65-89552-01-7 1° ed. , Editora e Livraria Caminhos
Ligações Externas
editar- «Luiz, o Visitante» no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
- «Luiz, o Visitante» (em inglês) no Allmusic
- «Luiz, o Visitante» (em inglês) no Discogs
- «Luiz, o Visitante» (em inglês) no MusicBrainz