Casa Guilherme de Almeida
A Casa Guilherme de Almeida é um museu biográfico-literário localizado na cidade de São Paulo, no Brasil. Fundado em 1979, é um museu público estadual, subordinado à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, administrado em parceria com uma organização privada, com recursos provenientes do erário.[1] O museu está instalado na residência onde Guilherme de Almeida viveu de 1946 até o ano de sua morte (1969), conhecida como Casa da Colina, situada no bairro do Pacaembu.[2][3]
Casa Guilherme de Almeida | |
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Informações gerais | |
Tipo | Casa-museu (biográfico-literário) |
Inauguração | 1979 |
Diretor | Marcelo Tápia |
Website | www.casaguilhermedealmeida.org.br/ |
Geografia | |
País | Brasil |
Localidade | São Paulo |
Coordenadas | 23° 32′ 49″ S, 46° 40′ 26″ O |
Localização em mapa dinâmico |
O museu tem por objetivo conservar, organizar e expor o acervo bibliográfico, histórico, artístico e documental que pertenceu ao poeta e tradutor Guilherme de Almeida, bem como estimular e realizar pesquisas e estudos críticos sobre sua obra e divulgar a literatura e os autores nacionais em geral.[2] Também mantém o Centro de Estudos de Tradução Literária, responsável por organizar e ministrar cursos e outras atividades relacionadas à teoria e à prática da tradução.[4]
A Casa Guilherme de Almeida possui um acervo com aproximadamente 15.300 peças, em que se destaca sua ampla e diversificada biblioteca, bem como uma significativa coleção de obras de arte de grandes expoentes do modernismo brasileiro (como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Victor Brecheret), muitas das quais oferecidas ao poeta pelos próprios autores. A coleção também abarca objetos decorativos, indumentária, têxteis, comendas, numismática, jóias, discos e outros objetos que pertenceram a Guilherme e sua esposa, Belkiss Barrozo de Almeida (Baby de Almeida).[2]
História
editarGuilherme de Almeida
editarNascido em Campinas em 1890, Guilherme de Almeida seguiu, a princípio, a profissão do pai, Estevam de Almeida, graduando-se em direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1912. Paralelamente à sua atuação como jornalista (foi redator dos jornais O Estado de S. Paulo e Diário de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite e fundador do Jornal de São Paulo), iniciou sua carreira literária em 1917, com a publicação do livro de poesias Nós. Pouco tempo depois, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, criou a capa e auxiliou na manutenção da revista Klaxon.[5]
Guilherme de Almeida empenhou-se na difusão das ideias de renovação da arte e da literatura nacionais, como demonstram os livros Meu e Raça (1925), fiéis à temática brasileira e ao sentimento nacional. Entretanto, sua atuação política (foi ativo participante e combatente da Revolução Constitucionalista de 1932, ganhando o epíteto de "o Poeta de 32"), a estreita colaboração com o poder público (autor do Hino dos Bandeirantes e heraldista) e um progressivo retorno às matrizes clássicas da poesia e a preocupação com a perfeição formal (Camoniana, 1956; Pequeno Cancioneiro, 1957) levariam a crítica ulterior a relegar sua produção artística a um segundo plano, rotulando-o como "conservador".[5][6]
Não obstante, Guilherme de Almeida foi um poeta com amplo domínio da ciência do verso e da língua, bem como exímio tradutor (Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Sófocles, Jean-Paul Sartre, etc.). Foi membro da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Seminário de Estudos Galegos de Santiago de Compostela, do Instituto de Coimbra e da Academia Brasileira de Letras.[5]
A Casa da Colina e o museu
editarA Casa Guilherme de Almeida, considerada o primeiro museu biográfico e literário da cidade de São Paulo[7], funciona na antiga residência onde o poeta e sua esposa, Baby de Almeida, residiram por quase três décadas. O sobrado de aproximadamente 240 m2[2], situado na rua Macapá, no bairro de Perdizes, foi projetado pelo arquiteto Silvio Jaguaribe Eckman em 1944 e teve sua construção finalizada em 1946, mesmo ano em que o casal passou a habitá-lo. A opção do poeta por viver em um bairro até então pouco habitado e relativamente afastado do centro intrigava os amigos, mas era justamente o isolamento o que agradava Guilherme de Almeida, como pode-se inferir de uma composição inspirada no imóvel, por ele apelidado de Casa da Colina: "[...] O lugar era tão alto e tão sozinho que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim".[8]
Durante o período em que foi habitada por Guilherme e Baby, a Casa da Colina tornou-se uma espécie de refúgio intelectual, um ponto de encontro de importantes membros da comunidade artístico-literária paulistana, como os escritores Oswald de Andrade e António Botto, o escultor Victor Brecheret e os pintores Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti. Não raramente esses frequentadores ofereciam ao casal obras de sua autoria para decorar a residência, transformando-a em uma espécie de microcosmo da vanguarda paulistana.[6][7][8]
Após a morte do poeta, em 1969, o governo do estado, então representado por Abreu Sodré, adquiriu de Baby de Almeida todo o acervo bibliográfico, artístico, documental e histórico que pertencia ao casal, bem como a residência e seu mobiliário, já com a intenção de transformar o imóvel em um museu, preservando a decoração e a disposição originais das peças.[8] O museu, entretanto, só foi inaugurado uma década mais tarde, em 13 de março de 1979[9], durante o governo de Paulo Egydio Martins, e constituído juridicamente em 1º de junho de 1983, na gestão de André Franco Montoro, sob a denominação "Museu da Literatura - Casa Guilherme de Almeida" (ML-CGA).[2]
São objetivos do museu: a constituição, manutenção e divulgação de um acervo sobre a literatura brasileira e seus autores; a preservação da memória de Guilherme de Almeida, por meio da conservação, organização e exposição de seus pertences e do incentivo à realização de estudos críticos sobre sua obra; a promoção de atividades educativas e de difusão cultural relacionadas à literatura brasileira.[2]
Em setembro de 2006, devido a uma série de problemas estruturais, o museu foi fechado à visitação pública, tendo sido reaberto somente em 11 de dezembro de 2010, após uma reforma custeada pela Secretaria da Cultura. O museu foi equipado com elevador e adequado à recepção de pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida. Durante o período em que esteve fechado, o museu realizou atividades culturais em outros espaços, como a Casa das Rosas, na Avenida Paulista.[7] Seguindo a nova orientação de sua política cultural, o governo do estado transferiu a gestão do museu para uma organização social de cultura (associações privadas subsidiadas pelo poder público) denominada "Poiesis", também incumbida de gerir a Casa das Rosas, a Biblioteca de São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa.[1]
Em 24 de agosto de 2010, a Lei Municipal n° 15.258, de autoria de Chico Macena, nomeou como Praça Casa da Colina um logradouro do bairro do Pacaembu, localizado entre as ruas Tefé, Olavo Freire e Tácito de Almeida.[10]
Acervo
editarA Casa Guilherme de Almeida abriga um acervo composto por aproximadamente 15.300 itens, entre obras de arte, mobiliário, objetos decorativos, indumentária, têxteis, comendas, numismática, livros, documentos, hemeroteca, fotografias, discos, etc.[2]
É particularmente relevante a coleção de artes visuais (150 peças), composta por pinturas, esculturas, e desenhos de grandes expoentes do modernismo brasileiro, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Antonio Gomide e Samson Flexor. Destaca-se um bronze de Victor Brecheret intitulado Sóror Dolorosa (mesmo nome de um poema de Guilherme), exposta durante a Semana de Arte Moderna de 1922, uma cabeça de Baby, esculpida por William Zadig, e um busto de Guilherme, por Joaquim Figueiras. Há ainda um conjunto de brasiliana, destacando-se algumas litografias de Johann Moritz Rugendas.[2][7]
As coleções de mobiliário (68 objetos) e de artes decorativas (490 objetos) contam com diversas peças relevantes, destacando-se a prataria, originária do Brasil, de Portugal, da Holanda e da Inglaterra, em especial um bule do século XVII, incrustado de cristal de rocha lapidado e lavrado, que teria pertencido a Maurício de Nassau, além de porcelanas, tapeçarias, joias, etc.[7]
A biblioteca possui cerca de 5.500 livros, incluindo a quase totalidade da obra de Guilherme de Almeida, literatura brasileira, portuguesa e de outros países, publicações sobre cinema e artes em geral, livros jurídicos, publicações de interesse histórico e arquitetônico. Dentre os livros raros, encontra-se um volume em pergaminho do século XVII, um exemplar da quinta reimpressão de Ulisses de James Joyce e primeiras edições com dedicatórias de escritores como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Guimarães Rosa.[2][7]
No arquivo, encontram-se conservadas a hemeroteca, correspondências, álbuns, honrarias, mapas antigos, fotografias, agendas, manuscritos e outros pertences de de Guilherme de Almeida, bem como testemunhos de sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932.[2][11]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b «Casa Guilherme de Almeida». Poiesis. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ a b c d e f g h i j Comissão de Patrimônio Cultural da USP, 2000, pp. 438-439.
- ↑ raça de Guilherme de Almeida
- ↑ «Institucional». Casa Guilherme de Almeida. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ a b c «Guilherme de Almeida». UOL Educação. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ a b «Vídeo». Casa Guilherme de Almeida. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ a b c d e f «Governador reabre Museu Casa Guilherme de Almeida». SP Notícias. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ a b c Biondo, Viviane. «Museu do poeta de 32 vai reabrir em outubro». Estadão. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ «Sítios de Relevância Histórica e Cultural». Viva Pacaembu. Consultado em 23 de dezembro de 2010
- ↑ Lei homenageia Perdizes e o poeta Guilherme de Almeida
- ↑ «Acervo». Casa Guilherme de Almeida. Consultado em 23 de dezembro de 2010
Bibliografia
editar- Comissão de Patrimônio Cultural da Universidade de São Paulo (2000). Guia de Museus Brasileiros. São Paulo: Edusp. pp. 438–439