Nicéforo Cumno
Nicéforo Cumno (em grego: Νικηφόρος Χοῦμνος; romaniz.: Nikephóros Choumnos; c. 1250/55 – 1327) foi um estudioso e oficial bizantino do começo do período Paleólogo, um das figuras mais importantes no florescimento das artes e letras da chamada "Renascença Paleóloga".[1] Ele é notável por seu mandato de 11 anos como ministro chefe do imperador Andrônico II Paleólogo (r. 1261–1328), sua intensa rivalidade intelectual com o estudioso e oficial Teodoro Metoquita, e por construir o mosteiro da "Virgem Rápida em Ouvir e Responder" (em grego: Θεοτόκος Γοργοεπήκοος; romaniz.: Theotokos Gorgoepekoos) em Constantinopla.
Nicéforo Cumno | |
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Nascimento | c. 1250/55 |
Morte | 1327 |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | Oficial |
Religião | Cristianismo |
Vida
editarCumno nasceu entre 1250 e 1255 e eram originário duma família já distinta, que desde o século XI havia fornecido vários oficiais de alta posição.[2] Estudou retórica e filosofia sob o futuro patriarca de Constantinopla Gregório de Chipre (r. 1283–1289),[3] e após a conclusão de seus estudos entrou na burocracia imperial. Fez sua primeira aparição na história em c. 1275, com o baixo posto de questor, como chefe de uma embaixada ao cã ilcânida Abaca Cã (r. 1265–1285).[3] Embora sob Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282) também tenha abraçado a União das Igrejas, sob seu sucessor, o firmemente ortodoxo e pio Andrônico II Paleólogo (r. 1282–1328), abjurou. Em ca. 1285, compôs um panegírico em honra do imperador, enfatizando não apenas suas virtudes e realizações marciais, mas também sua oposição à união.[4]
Dai em diante, sua ascensão na hierarquia foi rápida: no começo de 1294, após a morte de Teodoro Muzalon, Andrônico II nomeou-o místico (conselheiro privado) e mesazonte (ministro chefe), enquanto em 1295, também recebeu o ofício de guarda do caníclio, tornando-se chefe da chancelaria imperial.[2][5] Como Jorge Paquimeres relata, o imperador cada vez mais ausentou-se de seus deveres administrativos para devotar-se a oração e jejum, deixando Cumno gerir eficazmente o governo do Estado.[6] A influência crescente de Cumno também levou-se a um confronto com o patriarca deposto Atanásio I (r. 1289-1293; 1303-1309), em cuja demissão em 1293 pode ter participado. A inimizade deles, que foi provavelmente originada nas tendências centralistas de Cumno e sua educação classicista e humanista, aprofundou-se e foi marcada pela troca de acusações mútuas de corrupção.[7]
Em 1303, após um casamento planejado de sua filha Irene com Aleixo II de Trebizonda (r. 1297–1330) falhar, e apesar da oposição da imperatriz Irene de Monferrato (r. 1284–1317), ele assegurou seus laços com a dinastia reinante pelo casamento dela com o terceiro filho do imperador, o déspota João Paleólogo (ca. 1286–1308).[8] No entanto, dois anos depois, foi demitido e substituído como mesazonte por Teodoro Metoquita.[2] Durante seu mandato, ele acumulou grande fortuna, especialmente propriedades na Macedônia, através de subornos, a venda de ofícios e impostos agrícolas.[9] Estas práticas comuns entre os burocratas dos Paleólogos, cuja administração corrupta foi especialmente onerosa aos assuntos imperiais.[10] Parte desta fortuna foi utilizada no estabelecimento e doação do Mosteiro da "Virgem Rápida em Ouvir e Responder" (Theotokos Gorgoepekoos) em Constantinopla.[9]
Em 1309-1310, Cumno serviu como governador da segunda maior cidade imperial, Salonica, mas depois retirou-se do ofício público. Durante os anos 1320, envolveu-se numa troca prolongada de polêmicas com seu principalmente rival político e intelectual, Teodoro Metoquita. Enquanto Cumno ridicularizou a falta de clareza de seu oponente, Metoquita atacou-o por seu desinteresse em medicina e sua ignorância em astronomia, que ocupou-se como a "mais elevada forma de ciência". Em ca. 1326, Cumno aposentou-se como monge, sob o nome monástico Natanael, para o Mosteiro de Cristo Filantropo na capital, que fora fundado por sua filha Irene. Lá, morreu em 16 de janeiro de 1327.[11]
Escritos
editarCumno foi um escritor prolífico, amplamente influenciado pelos clássicos, que ele havia estudado como um jovem pupilo.[12] Segundo o bizantinista francês Rodolphe Guilland, "por seu amor à antiguidade, apaixonado, embora um pouco servil e pela variedade de seu conhecimento Cumno anuncia o humanismo italiano e o Renascimento ocidental."[13]
Seus obras, vários dos quais permanecem não publicados, incluem peças retóricas, tais como um elogio a Andrônico II, bem como tratados sobre filosofia, especialmente sobre teoria elementar, meteorologia, cosmologia e teologia. Vários destes tratados frequentemente parecem ter sido compostos na ocasião dos encontros literários dentro da corte, às vezes com o imperador presidindo. De sua extensiva correspondência, 172 cartas sobreviveram.[9][14]
Em seus trabalhos filosóficos, Cumno prova-se um defensor "ardente e habilidoso" de Aristóteles.[13] No entanto, não abraçou o aristotelismo, mas em vez disso interessou-se em fornecer uma justificação filosófica rigidamente racional para as doutrinas da teologia cristã.[14] Em seus ataques sobre as teorias platônicas de substância e formas ou em sua refutação das teorias de Plotino sobre a alma, Cumno tenta provar os ensinamentos da teologia cristã.[15]
Família
editarTeodoro, o irmão de Nicéforo, também foi um oficial cortesão.[2] De seu casamento com uma esposa de nome desconhecido, Cumno teve vários filhos:
- João Cumno, paracemomeno (camareiro) e general.[2]
- Jorge Cumno, mestre da mesa e grande estratopedarca.[2]
- Irene Paleóloga Cumnaina, casada com o déspota João Paleólogo. Após sua morte em 1308, e tendo filho algum, ela tornou-se freira com o nome Eulógia, e fundou o Mosteiro de Cristo Filantropo em Constantinopla.[16][17] Apesar de ter se retirado para um convento, permaneceu muito ativa na vida intelectual da capital, mantendo uma grande biblioteca, comissionando cópias de manuscritos, bem como conversando e correspondendo com estudiosos.[18]
Referências
- ↑ Craig 1998, p. 161.
- ↑ a b c d e f Kazhdan 1991, p. 433.
- ↑ a b Angelov 2007, p. 59.
- ↑ Nicol 1993, p. 102.
- ↑ Angelov 2007, p. 72, 177.
- ↑ Nicol 1993, p. 102–103.
- ↑ Boojamra 1993, p. 98–99, 101–102, 125.
- ↑ Boojamra 1993, p. 99.
- ↑ a b c Kazhdan 1991, p. 434.
- ↑ Angelov 2007, p. 278–279.
- ↑ Kazhdan 1991, p. 433–434.
- ↑ Nicol 1993, p. 164.
- ↑ a b Vasiliev 1958, p. 700–701.
- ↑ a b Ierodiakonou 2008.
- ↑ Moutafakis 2003, p. 204–205.
- ↑ Necipoğlu 2001, p. 239–240.
- ↑ Nicol 1993, p. 152.
- ↑ Cavallo 1997, p. 137.
Bibliografia
editar- Angelov, Dimiter (2007). Imperial Ideology and Political Thought in Byzantium (1204-1330). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-85703-1
- Boojamra, John Lawrence (1993). The Church and social reform: the policies of Patriarch Athanasios of Constantinople. Bronx, Nova Iorque: Fordham University Press. ISBN 978-0-8232-1335-1
- Cavallo, Guglielmo (1997). The Byzantines (em inglês). Chicago, Ilinóis: University of Chicago Press. ISBN 0-226-09792-7
- Craig, Edward (1998). Routledge Encyclopedia of Philosophy. Abingdon-on-Thames, Oxfordshire: Taylor & Francis. ISBN 978-0-415-07310-3
- Ierodiakonou, Katerina (2008). «Byzantine Philosophy». Stanford University. Consultado em 3 de novembro de 2015
- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Moutafakis, Nicholas J. (2003). Byzantine philosophy. Indianápolis, Indiana: Hackett Publishing. ISBN 978-0-87220-563-5
- Necipoğlu, Nevra (2001). Byzantine Constantinople: monuments, topography, and everyday life. Leida e Nova Iorque: Brill. ISBN 978-90-04-11625-2
- Nicol, Donald MacGillivray (1993). The Last Centuries of Byzantium, 1261–1453. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-43991-4
- Vasiliev, Alexander A. (1958). History of the Byzantine Empire, 324–1453. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press. ISBN 978-0-299-80926-3